Minha vó dizia: um telefone que toca depois da meia-noite, boa coisa não é.

Ela estava certa.

Era seu nome no visor, deveria ser você do outro lado.

Mesmo magoada, eu quis ouvir sua voz, mas ao invés disso, era um estranho.

Eu fui sua última ligação. Eu era sua ligação de emergência.

Porque quando parti, você quis vir atrás, pegou o carro mesmo não podendo dirigir.

A consequência da sua escolha foi chocar-se contra uma mureta de contenção.

Você que não pode conter seus impulsos, teve a vida contida por uma barreira.

Disseram que você fez tudo isso propositalmente. Que você quis que algo te segurasse.

Eu conheço você. Sei que não estava enleada por tais ideias.

Foi um acidente. Está ouvindo? O acidente foi uma consequência. Você teve uma overdose. Eu só não sei se foram as drogas ou o excesso de dor.

Mas você é forte.

Só precisa de mais tempo. Eu queria mais tempo para você, com você. Mais tempo para abraçá-la, beijá-la, para ser seu silêncio confortável, seu absurdo sussurrado em tardes de domingo, sua mão a ser segurada em dias de caminhada. Eu queria mais tempo para ser sua, tanto quanto você foi minha.