Eu poderia descrever aquele encontro de diversas maneiras. Um encontro épico, entre duas grandes figuras. O que eu não podia, entretanto, era escolher o herói e o vilão. Sherlock Holmes tinha as mãos nos quadris, a pose imponente, a sobrecapa voando com a brisa do amanhecer. Bem na frente dele, Jim Moriarty exibia uma gargalhada quase contagiante, de quem havia finalmente aberto o presente de Natal. Talvez esta comparação seja, no mínimo, cruel, dadas às circunstâncias. Mas vocês estão acostumados comigo, e com minhas narrativas recheadas de verdades. Portanto, eis o diálogo:

— Sentiu minha falta, não foi, Sherlock..? Confesse. Eu sei que sentiu.

— Não tanto quanto você sentiu a minha.

De longe, temo ter visto os dois compartilharem uma risadinha de satisfação. Talvez até uma alegria, um prazer puxativo. Sabe como é... Sherlock Holmes e Jim Moriarty são viciados em adrenalina. Mas eu também sou, então, como quem não quer nada, desisti do meu esconderijo e corri para a escadinha do navio, fazendo-me o mais silencioso e discreto possível.

— Ah, Sherlock... — Moriarty desfilou pelo convés, recheando os ares com o barulho de sua armadura — Eu cheguei a pensar que fosse mais esperto...

— Pelo menos, não componho em coberturas de bolo!