Para minha sorte, o hotel conta com uma pequena cozinha, e depois de pagar verdadeira fortuna por um pacote de sal, a fim de que o atendente não faça perguntas, retorno ao quarto e quando os grãos se desfazem na água, a pele morena toma tons azuis e aos poucos, escamas se formam e uma cauda surge. Seus olhos se abrem, num tom púrpura outra vez.

Na manhã seguinte, Lyrin se delicia com panquecas e mel, como uma criança faminta e se envergonha quando percebe que eu observo.

— Eu nunca comi nada assim.

— Coma, mas precisamos conversar sobre ontem.

— Quando alguém tenta te matar, tem direito de matá la é assim no nosso mundo. - Diz pegando uma estátua de alabastro em forma de pássaro.

— No seu mundo talvez, estou numa grande enrascada. - Digo

— Este mundo não é seu. Liberte-se. - Diz colocando o pássaro sobre minha mão.

Mais tarde estávamos na estrada, parte de mim dizia que tudo aquilo era uma loucura, que deveria entregar às autoridades, mas ao mesmo tempo nunca me senti tão vivo quanto ao lado dela, e se fosse verdade? E se eu não fosse uma aberração? Apenas estivesse preso ao mundo errado?