Dust and Gold escrita por Finholdt


Capítulo 4
III. Forgotten what we're dying for


Notas iniciais do capítulo

Se as quebras de linha do tempo estiverem confusas, por favor me digam!



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Precisei de alguns momentos para me recompor, depois que desliguei o telefone. Não queria aparecer um desastre completo no hospital se pensava em tentar ser um ombro amigo para Damian. Ênfase em tentar.

Já podia imaginá-lo no hospital, esperando notícias de Tim enquanto latia ordens para os médicos e ameaças de que ele mesmo iria fazer a cirurgia já que eram todos incompetentes. Me permiti sorrir com o pensamento, mesmo que tenha sido um sorriso vazio, e continuei saltando até chegar perto do hospital, onde me escondi em um beco para trocar de roupas e colocar os óculos.

Mesmo com onze anos, eu era alto o bastante para não precisar me inclinar ou ter que ficar na ponta dos pés para ser visto pelo balcão, onde as enfermeiras estavam. O lugar todo estava uma loucura, com várias pessoas gritando instruções ou simplesmente gritando de dor. O hospital estava cheio e senti meu estômago se revirar de novo com tudo que eu estava sentindo e ouvindo. Naquele momento, decidi que odiava hospitais.

— Licença? Por favor, Tim Drake?

Nenhuma das enfermeiras atrás do balcão me deu atenção e cruzei os braços, irritado. Senti-me tentado em entrar lá eu mesmo e mexer naqueles documentos até ter o que queria, mas respirei fundo. Não é assim que se consegue as coisas, independente do que Damian diga.

— Licença! — Falei mais alto. — Timothy Drake?

Uma das enfermeiras pausou em suas idas pra lá e pra cá e me olhou, simpatizando. Decidi que não gostava daquele olhar ao mesmo tempo em que apreciava o gesto.

— Está em cirurgia ainda, é família?

— Uhh, meu pai está com o irmão dele.

A enfermeira piscou, corando. Huh, taí algo para ser comentado mais tarde no jantar de família. Não agora, claro, agora eu só pensava em abraçar os meus pais.

— Ah sim, o Sr. Kent. Quinto andar, meu bem, só pegar o elevador.

Agradeci rapidamente, mas não acho que ela tenha me ouvido, já voltando aos afazeres. Corri para o elevador e tive que me controlar para não acabar quebrando o botão sem querer ao apertar o equivalente do quinto andar. O caminho para cima durou uma eternidade e juro que eu poderia correr para cima e para baixo oito vezes pelas escadas.

O elevador se abriu silencioso e suspirei de alívio. Corri para fora, passando os olhos pelo local e tentando forçar a visão de raio-x. Infelizmente, eu ainda não tinha esse poder.

No entanto, não tive que procura-los por muito tempo, meu pai logo veio até mim com a expressão preocupada e os braços abertos. Não pensei duas vezes antes de pular nele, o abraçando apertado com braços e pernas. Tentei segurar, mas acabei chorando baixinho em seu ombro largo.

— Shh, shhh — Ele dizia, passando a mão nas minhas costas. — você tá bem, eu estou bem.

— M-mas... D-Damian...

Senti seus músculos tencionarem sob mim, ainda tentando transmitir conforto.

— Ele... Está ali, sentado. — Se afastou de mim o bastante para me apontar uma cabeça afundada nos joelhos, a calça jeans completamente manchada do que eu sabia ser sangue.

Afastei-me de meu pai, indo até meu amigo nos bancos. Ele encarava o nada a sua frente, os olhos verdes opacos e desfocados. Descansava o queixo nos joelhos, completamente imóvel. Uma bagunça de sangue seco e olhos injetados, meu melhor amigo parecia completamente acabado. Nem perto do que eu pensei como ele estaria.

— Damian? — Limpei as lágrimas de meu rosto e o chamei, hesitante.

— Ele está assim desde que cheguei. — Disse meu pai, parando ao meu lado. — Mal consigo ouvir sua respiração, parece que entrou em algum tipo de transe.

— Será que não é choque? Não devíamos, sei lá, sacudi-lo até ele voltar aos sentidos? — Perguntei desesperado.

Meu pai balançou a cabeça, triste.

— Não é choque, acho que é a forma dele de lidar com... Com tudo isso.

Senti um impulso forte em me inclinar para frente e abraçar o corpo de meu amigo, nem que fosse para ter certeza de que ele estava ali, comigo, mas me segurei. Damian odiaria qualquer tipo de contato que remetesse a conforto. Cruzei os braços com força, tentando me recompor.

— Sr. Wayne? — Um médico apareceu e praticamente pulei da cadeira, meu pai também se levantando.

Damian nem se mexeu.

— Hm, Sr. Wayne? — Tentou de novo.

— Damian! Acorda! — Exclamei, ansioso e preocupado.

Ele apenas levantou a cabeça e dirigiu aqueles olhos mortos para o doutor que se remexeu, desconfortável.

—  Uh, certo. O Sr. Drake saiu da cirurgia e está na UTI. Houveram algumas complicações durante a cirurgia então não sabemos quando ele irá acordar. — Trocou o peso de um pé pra o outro, ainda incomodado. — Ou se irá acordar. Fizemos todo o possível pelo seu irmão, agora tudo que podemos fazer é esperar.

Damian assentiu com a cabeça, voltando a olhar para o nada. Meu pai foi para um canto conversar com o médico, mas não lhes dei atenção, um bolo gigantesco tinha se formado em minha garganta e eu lutava para não acabar abraçando Damian.

Senti mais lágrimas escorrendo e as limpei rapidamente, não queria que Damian me visse chorando assim quando tentasse o confortar. Infelizmente, esse pensamento não foi o bastante para conseguir segurar o soluço alto que saiu de mim.

Serviu para ele finalmente me olhar, ao menos, como se só agora reconhecesse minha presença ali. Seu olhar passou de surpresa para gélido em um instante, quase enojado.

— Por que você está chorando? Você mal os conhecia.

Fiquei tão chocado com o que ele estava dizendo que o fluxo de lágrimas até parou, enquanto meus olhos se arregalavam para ele, o queixo caindo.

— Só porque alguém morreu você subitamente finge que vai fazer a porra de uma diferença na sua vida? 

— Damian...

— Você me irrita.

Abaixei a cabeça, me encolhendo minimamente. Eu esperava algum tipo de retaliação dele, estamos falando de Damian afinal, mas não assim... Senti-me estúpido por um momento, envergonhado até. Então fiquei irritado comigo mesmo, por suas palavras terem me magoado bem mais do que ele provavelmente pretendia.

Meu pai decidiu que agora era uma boa hora para se intrometer, ficando entre nós, me protegendo.

— Está tudo bem aqui? Damian, sobre o Tim-

— Eu preciso ir. — Ele interrompeu, subitamente.

Parecia surpreso consigo mesmo por ter dito em voz alta, mas apenas balançou a cabeça, como dar ênfase.

— Mas Damian, e o T- — Tentei dizer

— Você ouviu o cara mais cedo. Não há nada a fazer e eu... Eu preciso fazer rondas.

Meu queixo foi ao chão, estava perplexo com a frieza que ele estava lidando com a situação.

— Não está falando sério.

— Não tenho tempo pra discutir com você, Kent. Fique se quiser, mas é inútil. Adeus.

Então ele entrou no elevador, sem nenhuma vez olhar para mim.

[x][x][x]

Cinco dias para os médicos declararem morte cerebral para Tim Drake. Seis dias para quatro homens degolados e um único vivo completamente espancado aparecerem no telhado da polícia de Gotham e confessar o ataque terrorista para os Waynes. Dez dias desde a última vez que alguém viu Damian.

Alfred só sabia que ele aparecia na caverna algumas vezes por causa da bagunça que ele deixava para trás, revirando equipamentos e saindo com o batmóvil.

Meu pai e Alfred assumiram a responsabilidade de lidar com os corpos para o funeral e os enterrar no cemitério Wayne com dignidade.

O choque de que perdemos quatro de nossos heróis mais populares de uma vez foi um baque forte demais na comunidade dos heróis. A cadeira do Batman na Torre de Vigilância continuava no lugar, com flores regularmente em cima e envolta.

Oficialmente, eu não era um Titã ainda, apenas honorário até ter idade o suficiente, mas isso nunca me impediu de aparecer na torre, nem que fosse para ver como estavam todos.

Mal. Mal era como eles estavam.

Estelar não conseguia voar desde o acontecido e sempre olhava para o nada triste quando achava que ninguém estava olhando. Mutano e Ravena estavam arrasados com a morte de Red Robin, enquanto Aqualad e Kid Flash não sabiam direito como reagir além de prestar suas condolências e falar como os respeitava desde antes terem poderes.

Sempre que eu entrava na Torre Titã e não via sinal de Damian eu sentia meu estômago afundar de preocupação. Ninguém tinha notícias dele ou ao menos o viu há dias. Todos estavam preocupados com isso, dava pra ver, mas ninguém comentava nada, tentando lidar com o luto primeiro antes de fazer algo precipitado. Afinal, não tínhamos nem uma dica de onde Damian poderia ter ido.

Foi por pura sorte que o achei na caverna embaixo da Mansão, em uma das minhas frequentes visitas a Alfred e os bichinhos de Damian. Ele pareceu surpreso a me ver e logo voltou a me ignorar, andando pela caverna como se eu nem estivesse ali. Estava com sua roupa de Robin completamente imunda e a cara horrível, como se não tivesse dormido direito há dias.

— Ei! Damian! Onde diacho você estava? Estávamos todos morrendo de preocupação!

— Fora. Cuidando de coisas importantes, esqueça isso e caia fora, Kent. — Respondeu sem nem me olhar, ainda revirando tralhas ou mexendo no batcomputador principal.

— Está pedindo o impossível! Damian, olha pra mim! Onde você estava?

— Fora, já disse. Sei que ninguém pensou nisso antes, mas alguém tinha que deixar claro pra escória de Gotham que só porque os Waynes estão mortos não significa que eles possam fazer o que bem entender. Estava dando um álibi para Batman e os outros.

— O quê? Damian...

— Eu não tenho tempo pra isso, Kent. Batman precisa fazer uma aparição na quinta avenida, e o Capuz Vermelho no Beco do Crime. Asa Noturna precisa pular alguns telhados em Bludhaven e Red Robin — Seus lábios tremeram e ele os apertou em uma linha fina, recuperando o fôlego —...Red Robin precisa de uma silhueta com os Titãs.

Senti meu coração se partir ali mesmo, vendo meu amigo se exaustar a esse nível tentando estar em todos os lugares ao mesmo tempo.

— Damian... — Tentei dizer. Queria colocar senso em sua cabeça dura e mostrar que ele não podia fazer isso consigo mesmo, no entanto não sabia o que dizer.

— Agora não, Jon. Volte quando o seu pai retornar minhas ligações.

Pisquei, confuso. Meu pai?

— Como assim meu pai? O que você quer com ele?

— Não tenho tempo de segurar sua mãozinha e te introduzir para o mundo dos adultos, Kent. Cai fora e só volte quando tiver algo útil pra contribuir.

Ele nem ao menos me olhava, andando de um lado pro outro na caverna, pegando os uniformes e os enfiando numa mala que carregava.

— Damian, para! Por que não chama o resto da família pra te ajudar?

Damian parou de repente, se virando para mim e me olhando com a expressão de mais completo ultraje que já vi.

— Porque não é da porra da conta deles! Meu pai os considerava família Deus sabe porque mas eles não são! EU sou família! E EU vou cuidar dos assuntos pendentes da MINHA família!

Comecei a ficar irritado, com ele, comigo, com a situação.

— Os chama de família, mas nem se dignou para ficar com Tim até o final! Fala que é família, mas nem cuidou do funeral! Fala que é família, mas a verdade é que você só liga pra si mesmo!

Um batarang voou tão perto de meu rosto que senti um fino corte em minha bochecha se formar, escorrendo um filete de sangue.

— Cale a boca do que não entende e saia daqui. Se não o próximo vai ser bem no meio da sua testa!

Eu já tinha me arrependido do que tinha dito, mas era orgulhoso demais para dizer algo, ainda furioso com Damian e seu descaso pelos sentimentos alheios. Funguei, decidido que não iria mostrar fraqueza e caminhei até ele, vendo minha própria raiva refletida em seus olhos verdes.

— Já falei pra cair fora, será possível que você é tão imbecil que não entende comandos básicos mais?!

Então, contra toda a lógica e instintos de sobrevivência que adquiri ao longo do tempo, enrolei Damian em meus braços e o abracei forte. Ele congelou contra mim, provavelmente se perguntando se eu era ousado ou simplesmente burro.

Provavelmente os dois.

Mas não o larguei, me inclinei em sua direção e afundei meu rosto em seu pescoço e o prendendo no lugar.

— Kent. Me solta. Estou falando sério. Qual o seu problema?

Mas não soltei.

— Me solta agora! — Ele me lembrava de Goldie, a gata que minha mãe tinha, se esperneando todo pra sair dos meus braços. O pensamento me fez rir e sorri conta sua pele. — S-solta!

— Você tem o direito de ficar triste, Damian. — Murmurei em seu ouvido.

O senti tremendo sob mim e apertei o abraço ainda mais, tomando cuidado para não o esmagar. Suas mãos foram para os meus braços e eu estava preparado para ele tentar me arranhar ou apelar para força bruta tentando escapar, no entanto, ele fez nada disso. Enrolou os dedos em minha jaqueta, puxando o tecido enquanto apertada o punho.

Então, começou a soluçar.

Meu ombro começou a ficar molhado e imitei meu pai quando era ele me consolando, passando a mão em minhas costas e murmurando promessas vazias de que estava tudo bem.

Seus joelhos falharam e fomos para o chão, ainda abraçados enquanto ele chorava tudo o que segurava desde aquele dia.

Quando eu chorava, minha mãe dizia que era barulhento. Que exigia atenção naquele minuto e me mexia muito. Damian era diferente, completamente silencioso, salvo por alguns soluços abafados. Eu sentia que ele queria gritar e gritar, mas por algum motivo ele próprio se impedia.

Talvez a raiva tenha passado e tudo que restava era a dor. Talvez ele simplesmente não soubesse como chorar de verdade.

~*~*~

Ibn al Xu’ffasch andava por Nanba Parbat silenciosamente, apenas observando os ninjas do avô treinando e os servos correndo de um lado por outro. Ponderou por um minuto ver como estava o Punho do Demônio e irritar a noiva, mas logo descartou a ideia. Ela provavelmente o iria obrigar a treinar com eles numa desculpa de tentar derrota-lo em combate e não estava com saco para isso.

Não, tinha coisas mais interessantes para refletir.

Seu avô e mãe não olhavam com bons olhos a rixa pessoal que ele tinha com Superboy, preocupados de que o bom escoteiro o faça mudar de ideia ou algo absurdo do gênero. Pfft, até parece. Não, ele não queria lidar com a família se interferindo em seus planos.

Ele podia pegar uma de suas ilhas, pensou, para usar como cenário. Tirando uma, todas as suas ilhas pessoais eram desertas desde que seus... Seus irmãos se sacrificaram por ele, tantos e tantos anos atrás. Suspirou, tristonho. Sentia falta dos monstrinhos, sempre sentiu.

Não, não... Era arriscado demais usar mais uma de suas ilhas para seus planos pessoais. Teria que ser um lugar sem qualquer laço com a Liga dos Assassinos.

Mas onde?

Avistou Golias voando sobre a ilha e sorriu. Sabia que podia contar com o amigo independente para onde quer que fosse, só que dessa vez não queria o envolver. Era pessoal.

Respirou fundo, agora na praia. Sabia que havia pelo menos cinco ninjas o seguindo desde que saiu de seu aposento pessoal e não se importou. Nunca se importou, estava mais do que acostumado ser avaliado onde quer que fosse.

Encarava a água e o seu imenso azul enquanto montava seu pequeno quebra cabeça. Ele tinha pouco tempo. Depois do casamento, sua pouca liberdade será consumida de vez e ele não poderá mais fazer seus joguinhos pessoais. Sua lealdade estará completamente com a Liga, marcado a sangue. Todos os seus planos próprios, jogados ao alto.

Calma, calma. Ele ainda tinha aproximadamente três meses. Tempo o suficiente para brincar.

Soltou o ar que notou estar prendendo devagar. Não estava exatamente confortável com a ideia, mas por enquanto era o melhor plano que tinha.

Iria invadir algumas das ilhas pessoais dos Waynes e usá-las como base de operações.

Kent certamente não estará esperando por isso, nem mesmo pensará em procura-lo por ali novamente. Teria que construir um aparelho que apenas a audição kryptoniana pegaria, mas isso não era o problema. Teria que dar um jeito no Superpai.

Fechou a cara, automaticamente apertando os punhos ao pensar em Superman. Desgraçado... Ibn nunca irá perdoá-lo. Era tudo culpa de Clark Kent e Ibn estava mais do que disposto em quebrar Jon no processo de suas brincadeiras para ensinar uma pequena lição ao Homem de Aço.

Uma vez, anos atrás, Jon gritou que ele o estava assustando. Hoje, Ibn sorri com a lembrança.

É. É bom mesmo que ele tenha medo.


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