Dust and Gold escrita por Finholdt


Capítulo 12
XI. All I see are kings and thieves


Notas iniciais do capítulo

Caraca, como eu demorei, pqp;
Em minha defesa, esse foi o capítulo mais difícil de escrever da história inteira. Eu acho extremamente difícil escrever cenas de batalha, ainda mais quando tem gente com poderes envolvidos. AAAAAAAA! Mas olha, eu acho que daqui pra frente a história vai engatar mais rápido.



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A primeira vez que vi... ele foi depois de vários anos desde o ataque na Torre Titã. Eu estava mais velho, mais esperto... E mais sozinho que jamais estive.

Foi uma tarde um pouco quente e meio tumultuada, com muitas crises para lidar ao mesmo tempo. Parando para pensar friamente agora, com certeza aquilo não foi uma coincidência.

Alarmes haviam soado em um dos edifícios da LexCorp, em Metrópolis. Era para ser algo simples. Meu pai estava lidando com uma emergência contra Metallo e pediu para o escanear o prédio. Ao menor sinal de perigo, eu deveria voar atrás dele.

É, até parece.

Seja como for, eu estava completamente despreparado quando escutei aquelas batidas cardíacas únicas, que jamais esqueci. Sem pensar ou sequer pedir por reforços, quebrei uma das janelas do edifício e disparei até ele.

Ele estava sozinho naquele dia. Sem ninjas, sem mãe maluca, apenas ele e suas duas katanas. Era um laboratório subterrâneo e havia guardas caídos com flechas cravadas em ombros, pernas e barrigas espalhados em cada corredor. Sem acreditar no que estava acontecendo, e sentindo como se eu estivesse em algum tipo de experiência fora do corpo, aproximei-me daquele estranho familiar.

Por cinco segundos inteiros, ninguém se mexeu. Parecia que ele também estava perplexo a me ver, como se a possibilidade nunca tivesse ocorrido a ele. O que, por favor, é muito ridículo. O que ele pensou? Que poderia roubar um dos caras mais influentes e perigosos de Metrópolis e nós não iríamos nos esbarrar?

No entanto, para a surpresa de ninguém, ele foi o primeiro a se recuperar do choque.

— Ah, Superboy. — Cumprimenta tranquilamente, como se fossemos velhos amigos. — Você sobreviveu afinal.

Raiva cega me atingiu como um soco, me deixando sem fôlego e surpreso comigo mesmo. Até o ver agindo como se nada tivesse acontecido, jamais tinha sentido tanto ódio por aquele homem.

— Não graças a você.

Recuso-me a chamá-lo pelo nome que aprendi a sentir tanto carinho ao pronunciar. A mensagem já estava mais que dada quando ele deixou aquele robin em meu quarto.

Ele sorriu, satisfeito ao ver meu rosto. A raiva fazia minha voz ficar trêmula, algo que ele também deve ter notado.

— Bem, o que posso dizer? Eu era jovem e imaturo, mas posso alegremente terminar o serviço agora. — Sua mão dispara para uma das katanas guardadas em suas costas e meus olhos acendem em alerta.

Há tantas coisas que quero perguntar. Quero gritar, exigir respostas, chorar e gritar mais um pouco. Por anos essa pessoa sumiu da face da Terra, quietamente agindo pelas sombras. Todos sabiam exatamente quem orquestrou os ataques terroristas, fornecia armas e vendia informações confidenciais das pessoas mais poderosas do planeta, heróis inclusos. Ele sempre foi vaidoso demais, desesperado pelo crédito de seus feitos. Depois daquele terrível artigo que fez meu pai ser demitido, mais e mais coisas estranhas e pavorosas aconteciam.

Então, os boatos.

Negociantes sussurravam de um rapaz bem aperfeiçoado, moreno de olhos verdes e com ódio pelo mundo no olhar. Um tal de Ibn  al Xu’ffasch, que ninguém ouviu falar. Até ouvirem. E desde que a primeira testemunha surgiu, não pararam de vir mais e mais. Como eu disse, desesperado pelo crédito. Ele fazia questão que soubéssemos quem exatamente era Ibn.

Não foi exatamente uma surpresa descobrir que ele estava ressurgindo do outro lado da lei, mas foi sim um choque a velocidade em que isso aconteceu. Por todo o mundo, havia pelo menos uma pessoa que o tinha visto agindo ou conversando. Como alguém tão jovem pode ser tão esperto? Como ele consegue manter tantos na palma da mão?

Mas mesmo sabendo no que ele havia se tornado, mesmo tendo testemunhas e informantes, nada, nada era como o ver pessoalmente pela primeira vez.

— Então é isso, é? — Consegui cuspir, tremendo de raiva. — Como você pode, Da-

— Tsc, tsc. Quatro anos se passaram e você ainda não entendeu o recado? Pensei que não tinha como eu ser mais claro que aquilo.

— Ah, você foi sim. Cristalino. Você matou o Damian!

Outro sorriso ferino, perigoso, rasgou seu rosto bonito.

— Vejam só, o fazendeiro entendeu o recado. Matei mesmo. E olha, foi bem feito.

Duas bombas explodiram do meu lado, me jogando para o outro lado do laboratório. Ele— porque eu ainda me recusava a chamá-lo de Ibn, em um ridículo protesto contra mim mesmo de que ainda havia esperança. – correu para a direção oposta e jogou três aparelhos para dentro de sua mochila.

— Talvez agora Luther entenda que eu não estou para brincadeira. Faça-me um favor, Superboy, e diga aquele imbecil que ninguém me passa a perna.

— Você não vai se safar dessa, Damian! — Gritei do chão, ainda atordoado pelas explosões e me levantando.

Em um segundo, uma das katanas foi cravada fundo pela minha barriga, atravessando meu corpo. Arfei, tentando respirar e vomitei sangue. Dizer que fiquei desesperado é o mínimo. Em todos os meus quinze anos de vida, aquilo jamais tinha acontecido comigo antes. Do outro lado da katana, ainda segurando o cabo enquanto esfaqueava, estava ele, com os dentes arreganhados e os olhos verdes brilhando de ódio.

— Ah, mas eu já me safei. E se me chamar por esse nome morto novamente, eu posso não desativar o emulador de sol vermelho na saída e simplesmente deixar você sangrar até morrer. Uma morte digna de um herói, não acha?

A katana foi subitamente retirada de dentro de mim e segurei meu estômago em pânico, tentando estancar o sangramento. Jamais tinha visto meu próprio sangue tanto e estava em todo lugar. Cai de joelhos imediatamente e pontos pretos dançaram em minha visão.

Isso é loucura.

Foi a última coisa que pensei antes de olhar para cima e ver Ibn usar o cabo da katana para me atingir na testa. Então tudo ficou escuro.

~*~*~*~

Então é isso, pensou Ibn debilmente, estou casado agora. 

Certamente era uma sensação esquisita. Olhou para a agora esposa, Mara, e ficou satisfeito em constatar que ela parecia tão atordoada quanto ele. Por mais que ela sempre viesse com as conversas de seu comprometimento com o casamento, Ibn supôs que ela nunca realmente pensou sobre o que é o matrimônio.

Ainda mais estranho era constatar que Ibn era o primeiro em toda a família a se casar. Talia quase casou-se com o pai uma vez, mas ela logo fugiu, levando o bebê em seu ventre - ele— escondido. O pai também chegou a tentar se casar uma vez com a Mulher-Gato, que também fugiu do casório. Depois teve o seu irmão Richard, que teve o casamento interrompido por uma invasão demoníaca e nunca mais conseguiu voltar para oficializar.

Infelizmente para ele, a euforia em saber que agora ele finalmente estava livre de suas correntes para a Liga foi curto. Sons de explosões ecoaram em todos os lugares.

Ibn suspirou internamente. É claro. Afinal, era pedir demais para o Superboy ter vindo sozinho.

Era Ra’s al Ghul havia dez segundos e já teria que lidar com uma crise, com a ilha sob ataque.

— Eu quero três esquadrões protegendo a ala leste e mais três com a oeste! O Punho do Demônio vai comandar a operação de ataque, leve quantos ninjas acharem necessários. — Ibn ficou satisfeito em ver que pela primeira vez, Mara não quis discutir e simplesmente saiu com o resto do Punho. — Vocês que sobraram, os de mais alto escalão vão proteger o Berço, o resto comigo.

— Mas meu senhor, devíamos dar prioridade a sua proteção- — Algum corajoso e estúpido ninja tentou protestar.

— Você está questionando minhas ordens? — Perguntou Ibn em tom leve, mas qualquer um conseguia ouvir a ameaça em sua voz.

— N-não, senhor.

— Ótimo. Então VÁ! VÃO!

Ibn virou-se e encarou a mãe e o avô, ambos em silêncio. Seria aquilo tudo um teste de ambos para Ibn? Um teste para avaliar o quão bem ele conseguiria comandar Nanda Parbat?

— Bem, já que estão aqui, pretendem juntar-se a mim na batalha ou vão só ficar olhando mesmo? — Perguntou com ironia.

Talia nem piscou, apenas pegou a espada cerimonial do casamento, e a ergueu, de prontidão. Já o avô o olhou com uma emoção estranha nos olhos e disse nada. Deu as costas e sentou-se no trono que agora pertencia a Ibn por direito.

— Vou aquecê-lo para quando você voltar.

Que assim seja.

Ibn, ladeado pela mãe e cinquenta ninjas, avançou para o pátio, onde vinha mais e mais explosões.

Foi um choque ver no centro de todo o caos logo Cassandra Cain, a Órfã.

Ela girava e pulava, atirando shurikens e adagas em qualquer um que metesse em seu caminho. Ibn mal teve tempo de gritar alguma ordem antes de um jato de ar forte o empurrasse para longe. De pé, a sua frente, estava ninguém menos que Wally West. 

— Oh, vejam se não é a imitação do verdadeiro Wally West. — As palavras foram ditas para ferir, e conseguiram. Ibn sempre soube do complexo de inferioridade que o Wally mais novo sentia pelo mais velho.

Ibn. — As palavras foram ditas com desprezo e Ibn teve prazer em saudá-las. Ele estava acostumado com o desprezo, cresceu nele. Precisava afastar a voz preocupada e as palavras doces de Kent.

— Ra’s al Ghul pra você. — Ibn retrucou enquanto avançava com a katana em punho.

Com o canto do olho,  Ibn pode observar a mãe lutar de igual para igual contra Cassandra. No entanto, todas as medidas de segurança da ilha estavam agindo contra os próprios ninjas. Ibn não podia perder a concentração enquanto lutava contra o velocista e ainda analisava o ambiente, caso contrário ele acabaria vacilando e libertando o Kent de suas amarras mágicas. E aquilo era última coisa que eles precisavam, adicionar um Super na lista de preocupações.

— Muito bem, West. — Ibn elogiou, sabendo que isso deixaria o West nervoso. — Vejo que continuou com os treinos depois que saí. Você quase dá um adversário decente agora.

— Cala a boca!

As katanas voavam enquanto Ibn tentava perfurar qualquer parte do corpo do velocista, mas infelizmente para ele, West também estava mais rápido. Ele usava sua velocidade como escudo toda vez que Ibn tentava acertá-lo e fazendo as katanas tiniram alto com o impacto.

Decidindo que ele decididamente não tinha tempo para isso, Ibn começou a dividir a atenção entre o que fazia as amarras mágicas permanecerem no lugar para começar a murmurar um novo feitiço de desaceleração contra o adversário. Algo sutil, mas útil, para ele não perceber os novos poderes de Ibn.

O efeito foi instantâneo. West começou a ficar mais lento, o que o deixou em pânico e desleixado em sua defesas contra as lâminas de Ibn. Em pouco tempo, Ibn conseguiu perfurar uma de suas katanas na perna direita do velocista, o que o fez urrar alto de dor enquanto caía no chão. Ibn se inclinou para o deixar inconsciente, mas logo mais explosões se fizeram ouvir, o distraindo.

Olhou para o corpo patético de West com uma de suas katanas ainda perfurando a perna do rapaz e decidiu que lidaria com ele depois. Sabia que a força de aceleração ia o fazer curar-se logo, mas contava que a katana ainda lá dificultar o processo. Correu em direção aos sistemas da Liga, surpreso em ver vários corpos inconscientes em seu caminho. Algumas armadilhas dispararam contra si, o surpreendendo. A pessoa responsável por hackear a ilha certamente tinha alguns conhecimentos básicos sobre a estrutura do lugar.

Chegando lá, foi com surpresa de que Ibn recebeu a presença de ninguém menos que Luke Fox, Batwing.

— Olá, Ibn. — Ele cumprimentou antes de o socar na cara.

Ibn foi lançado contra a parede, escorrendo em cima de um painel de controle. Sem hesitar, Ibn pegou a primeira caixa de metal que viu e atirou contra Fox, que desviou do projétil, assim como ele previu. Aproveitando da distração, Ibn avançou com sua katana restante. Fox percebeu e girou o corpo, desviando. A desagradável armadura azul o atingiu com raios elétricos, arrancando alguns grunhidos de dor dele. Outro soco veio de encontro a Ibn, dessa vez no estômago. O ar faltou por alguns segundos e Ibn atacou cegamente com sua arma, tentando atingir a irritante armadura.

Fox tentava lidar com ele ao mesmo tempo em que terminava de hackear as seguranças máximas da ilha, porém Ibn não ia permitir. Ele sabia o que tinha na segurança máxima da ilha e nem morto ele permitiria que Fox se apossasse de lá.

A ilha era o seu legado, o seu futuro. E ele vai lutar até o último suspiro por isso.

Argh!

Ibn conseguiu perfurar o centro da armadura. Não fundo o suficiente para atingir o homem que a vestia, mas o suficiente para os sistemas elétricos pararem de funcionar. Fox usou o cotovelo para o atingir, e conseguiu, arrancando uma tira de sangue de sua têmpora. 

Ibn retaliou com um chute certeiro, jogando Batwing longe do painel de controle. Preocupado, Ibn se deu o luxo de desviar sua atenção para as câmeras de segurança para ver se sua prioridade máxima estava segura. Havia dezenas de imagens piscando em alerta, ele conseguiu ver Órfã e Talia atracadas em sua batalha de espadas, cheias de cortes e sangue vazando para todo lado. Viu Kid Flash mancando mas com uma aparência bem melhor do que a Ibn o deixou enquanto lutava contra mais ninjas e - maldição, aquela era a sua katana!?. Frenético, Ibn procurava a única imagem que realmente importava-lhe.

Foi um erro.

Batwing aproveitou-se da óbvia distração de Ibn para lançar bombas magnéticas contra os computadores, explodindo tudo ali e lançando Ibn para o outro cômodo pelo buraco onde antes havia uma parede.

Pânico, gelado e paralisante, subiu pelas veias de Ibn.

— Seu tolo! Tem ideia do que fez?! — Berrou Ibn.

— Ah, sei sim. — Fox vangloriou-se, ignorando o nariz sangrando e o olho inchado. — Demorei para quebrar todos os firewalls da ilha, mas logo consegui descobrir o quê exatamente ativava a autodestruição daqui. Cálculo que temos 10 minutos para te levar em custódia antes do lugar todo fazer boom.

Dez minutos.

Todo o seu trabalho duro.

Todos aqueles anos-

Boom.

Ibn gritou. Um som desumano, animalesco. De fúria, desespero e acima de tudo: de medo.

Ele tinha que correr. Nada mais importava, ele tinha que protegê-los.

Ibn atirou todas as shurikens que havia em sua posse contra Batwing e correu, sem ver o resultado de seu ataque desesperado.

Ele sabia que todas as suas emoções estavam pulando acima uma das outras e sentiu a magia correndo, furiosa, pelos seus ouvidos. Cogitou em fazer um rápido feitiço de velocidade ou teletransporte mas sabia que precisaria de toda as sua força vital para isso.

~*~*~*~

Ibn caiu no chão mais uma vez, exausto. Ele sentia todos os seus membros gritar em protesto pela falta de consideração pelos seus próprios limites mas tentou ignorar isso. A mestra cega o ajudou a levantar e disse, naquele tom etéreo e frio:

— Já ocorreu-lhe que talvez você simplesmente seja incompatível para as artes místicas, jovem mestre?

— Não. — Retrucou secamente.

Ele não tinha esse luxo de “não ser compatível”.

— Ra’s al Ghul teve séculos para aprender todas as artes místicas sagradas do velho e novo mundo. O senhor deveria ter mais paciência.

— Já disse que não. — Ibn ficou em posição de batalha, silenciosamente desafiando a professora cega.

— Como o senhor quiser, então.

~*~*~*~

Ibn corria e ignorava todos os ninjas caídos ao seu redor. Ignorava os gritos e apelos que vinha do pátio, onde a maioria dos ninjas e sua mãe estavam. Ele só corria para onde o Punho do Demônio estava, protegendo a única coisa que importava para Ibn. Se mais alguém tiver chegado lá sem que Ibn conseguisse os alcançar… Não. Não! Ele não permitir-se pensar assim.

~*~*~*~

Ibn estava em posição de lótus, flutuando calmamente com os olhos fechados. Ele sentia a magia correndo pelos seus pontos chakras, escaldantes. Ele sentia o corpo inteiro quente, quente demais, porém ignorou isso. Ignorou tudo isso. Se ele sentisse a sua linha da vida queimando novamente, ele jogaria-se no Poço de Lázaro. 

Depois dos primeiros meses em que ele aprendia magia, a mestra deixou claro que para um mortal, aquilo era extremamente perigoso. Aprender e usar magia era algo que influenciava sua mortalidade, a encurtava. E ele deveria estar disposto a morrer por esses conhecimentos. De novo. E de novo. E de novo.

E foi o que ele fez. 

Inúmeras vezes ele ultrapassava seus próprios limites e acabava incendiando a si próprio, de dentro para fora. 

Ibn tinha um objetivo, o objetivo. Aquilo era a coisa mais importante de todas, mais até do que si próprio. E para alcançar isso, ele deveria tornar-se Ra’s quando completar 21 anos. Para isso, ele deveria tornar-se um mestre das artes místicas além das marciais. E por isso ele morreria. 

De novo.

De novo.

De novo.

E de novo.

~*~*~*~

O Berço estava sendo protegido pelo Punho do Demônio, exatamente como Ibn havia comandado. Mara estava gritando ordens e lutando com toda a sua força contra aqueles heróis. Ibn sentiu-se banhado pelo alívio com tanta força que poderia ter perdido a estabilidade das pernas. Nunca antes ele sentiu-se tão grato pela prima, agora esposa.

Maldição, de onde vieram tantos?! Fox deve ter desligado de propósito as câmeras que ligavam o Berço, para Ibn não saber quantos haviam de reforço. 

Um pensamento frio, aterrorizante, subiu pela coluna de Ibn, de que todos eles invadiram por ali, que o Berço foi o primeiro lugar da ilha a ficar vulnerável e que se ele tivesse agido como o avô agiria naquele tipo de situação, o Berço ficaria totalmente desprotegido.

Arsenal, Moça-Maravilha, Cyborg, Jessica Cruz… Esses eram só o que Ibn conseguiu contar antes de sentir um projétil o atingir violentamente pelas costas. 

Superboy.

No desespero, Ibn deve ter acabado soltando-o sem pensar.

— Escuta, estamos em maior número — Ele olhou ao redor, como se não pudesse acreditar que eles realmente estavam em maior número. — e ninguém mais precisa se machucar. Você é o Ra’s agora, se você render-se, tudo vai ficar bem.

— Idiota. — Sibilou Ibn, furioso. — Nada disso importa, o lugar inteiro vai explodir em três minutos.

Ibn parou para analisar sua situação. Não era nada boa - estava sem suas katanas, sem shurikens e nada nas vestes de casamento que poderia ser útil em uma batalha contra os super heróis mais poderosos da Terra. Sabendo que não devia, sabendo que isso apenas encurtaria ainda mais sua própria existência miserável, Ibn acendeu a magia novamente pelo corpo, sentindo-o esquentar em cada ponta de seus membros. Ele inspirou fundo e sentiu cada grama de suor em seu corpo, cada rajada de vento que batia contra seu corpo.

Ele agitou os braços em movimentos circulares, sentindo o ar obedecer os seus comandos e atirou os braços em direções opostas. O esquerdo empurrou Superboy para longe de si, longe daquilo tudo, enquanto o direito lançava todos que estavam lutando em frente o berço para os ares, além da praia. Pelo som, a maioria caiu no mar.

Enfim a sós, Ibn deu um passo vacilante em direção ao Berço e quase caiu. Maldição, ele usou mais do que devia, bem mais.

Calculava que faltava um minuto e meio. A vantagem de já ter sido um herói é que ele sabia exatamente o que eles fariam agora. Estavam todos berrando instruções nos comunicadores, para saírem dali e levar em custódia todos que conseguirem. Ibn andou mais um pouco e caiu. As pernas não respondiam.

Inferno, ele amaldiçoou, vai ser me arrastando então.

Podia imaginar a indignação de Superboy, sobrevoando a ilha e tentando chegar até Ibn novamente. Podia ouvir seus colegas gritando para deixar pra lá, que o lugar todo ia explodir de qualquer forma e que Ibn não valia a pena.

Ibn deu uma risada sem humor, ainda se arrastando até a porta do Berço. Ele certamente não valia a pena.

Já perto o suficiente, contra todo o seu bom senso de autopreservação, Ibn novamente inspirou fundo, acendendo seus pontos chakras. Ele sentia seus limites tornando-se cinzas, sentia o seu corpo protestando violentamente com o que Ibn pretendia fazer, mas nada disso importava. Ele tinha que proteger o Berço da explosão e sabia que não havia tempo. Exalou e sentiu a barreira de proteção formando-se pelo edifício. Era a maior barreira que Ibn já tinha criado em toda a sua vida, mesmo nos treinos, a sua antiga mestra havia aconselhado-o diversas vezes a não fazer nada maior que proteção pessoal. 

E daí se ele fosse queimar-se por inteiro e que não havia ninguém para jogá-lo no Poço depois? E daí se ele morresse? A única coisa que importava, a única era o Berço.

Desculpe, Jon.

Então todo o legado de Ibn, tudo aquilo que ele suou e sangrou para conquistar, foi pelos ares.


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