Solta o som - Rota Lysandre escrita por xHamiko


Capítulo 5
Questões pendentes




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No dia seguinte, Rosa estava de carona com os pais e passou na minha casa antes das aulas para fazermos a prova do figurino. Eles nos deixaram na loja do Leigh enquanto iam à joalheria. Minha amiga foi a primeira a experimentar o traje e bastou eu olhar para o vestido que ela usaria no coral da Cidade Esmeralda - cintilante, curto, cintado e rodado - pra ter certeza de que as outras garotas não ficariam tão bem naquele figurino quanto ela.

— Coração, você é incrível! - Rosalya se olhava no espelho enquanto um tímido Leigh sorria e lhe dava um beijo no rosto.

— Espero que também goste do seu. — Leigh se virou para mim.

— Eu já posso experimentar?

— Sim, está atrás daquele biombo. Avise-me se precisar de ajuda.

"Como se eu fosse pedir a ajuda do namorado da minha melhor amiga para me vestir." Pensei.

Pior que foi só eu ir para trás do biombo pra ver que não seria fácil pra eu colocar aquele tanto de roupa.

— Er... Rosa? Uma ajudinha aqui?

— Claro! — Ouvi a voz dela por trás das cortinas.

Rosalya me ajudou a colocar o vestido, a capa e o chapéu para eu finalmente voltar para onde Leigh estava.

E quando me olhei no espelho, meu queixo quase caiu.

O vestido ficou muito bem em mim. Era preto, na altura dos tornozelos, e tinha traços da era vitoriana com um toque de fantasia medieval. A capa, presa por um broche de camafeu, estava ajustada de tal modo que cobria a minha tipoia, e o chapéu pontudo ficava um pouco inclinado para o lado.

— Uau... Leigh, você é incrível!

Leigh sorriu satisfeito:

— Que bom que gostou. Esse estilo fica muito bem em você.

No mesmo momento a porta se abriu e a sineta de entrada tocou. Quando percebi que era Lysandre meu coração deu um salto.

— Leigh, você viu o meu... Oh.

Lysandre fechou a boca e abriu mais os olhos ao me ver. Eu espero que ele tenha me achado surpreendentemente bonita e não incrivelmente parecida com a Nina.

Sim. Eu ainda estava aborrecida com o que aconteceu ontem.

— Seu...? - Leigh continuava seu trabalho em ajustar meu vestido.

— Meu... Meu pendrive.

— Ah, sim, eu  vi hoje de manhã. Um momento.

Quando nosso estilista desapareceu por trás das cortinas, Lysandre nos cumprimentou:

— Bom dia - Em seguida olhou para mim sorrindo - Você está belíssima.

— O-obrigada.

— Eu preciso lhe contar o que aconteceu ontem. Sinto que lhe devo explicações.

— Sério mesmo? - Minha voz soou mais ácida do que eu planejava.

— ...

No fundo eu não queria ter falado nesse tom. Eu virei o rosto inconformada.

— Você parece aborrecida. - Lysandre comentou.

— Claro que estou aborrecida. Você me deixou plantada no parque. Sorte que Dake apareceu de bicicleta pra me ajudar ou eu teria que fazer todo o caminho de volta com o joelho detonado.

Ele franziu o cenho bem chateado:

— Você preferia que eu deixasse Nina correr em disparada daquele jeito? Até onde eu sei, você não tem esse grau de egoísmo.

Meu sangue ferveu. “Claro, Lysandre, faça a primeira coisa que lhe vem a cabeça e termine atropelado, com risco de vida! Ou melhor, se esqueça novamente quem eu sou!” Que vontade de jogar isso na cara dele. Eu podia! Eu…  Podia!

— Claro… — Minha voz estava engasgada — Pra que me mandar uma mensagem explicando o que aconteceu, não é mesmo?

Nem notei que Rosalya estava bastante pálida:

— E-ei, vocês dois... Acho que precisam de um tempo para...

— A situação era delicada. — Lysandre me encarava incisivo — Eu não tinha ideia de como lidar com a Nina. Ela não me ouvia. Não dava tempo de me preocupar com outras coisas.

— "Outras coisas"? Lysandre, eu só não queria ficar esperando que nem uma tonta!

— Eu achei que você entenderia! Você também some quando a situação exige!

— É diferente! Confesse que você nem se lembrou de mim! Se não fosse o Dake...

A discussão se encerrou quando Leigh abriu a porta e apareceu com o tal pendrive.

— Aqui está, você deixou cair depois que falou com aquela garota loira. — O estilista devolveu o objeto ao irmão — Tente tomar cuidado com as suas coisas.

— Então você ainda veio aqui depois de se falarem? — Eu o alfinetei.

Olhei melhor para Lysandre e percebi que ele estava realmente zangado. Só fez pegar o pendrive da mão do irmão, dar meia volta e ir embora sem nem se despedir de ninguém.

Leigh olhou para nós duas sem entender:

— Aconteceu alguma coisa com ele?

Rosalya ficou conversando com o namorado enquanto eu remoía os acontecimentos. Eu estava com tanta raiva que nem conseguia mais ver a beleza do vestido.

Quando chegamos a escola, minha amiga e eu pudemos conversar direito:

— Mas o que foi aquilo na loja? - Ela me ajudava a carregar minhas coisas - Eu nunca vi o Lysandre fazendo aquela cara...

— Não? Ótimo, então significa que só eu tenho a capacidade de deixá-lo zangado. Ele só faz essa cara quando eu estou por perto!

— Eu não quis dizer isso. Olhe, se quiser me dizer o que aconteceu...

Eu estalei a língua no céu da boca e acabei contando tudo, quase a beira das lágrimas. O passeio no parque, a correria da Nina, o tempo que fiquei esperando, a carona do Dake...

— Ah, puxa! — Rosalya estava com os olhos sobressaltados — Eu... Eu entendo. Se Leigh fizesse isso comigo eu ficaria inconformada. Mas vocês deveriam conversar.

— Ele não me escutou. Nem deu importância a como eu me senti.

— Mas aquilo nem mesmo foi uma tentativa de diálogo. Olha só, você precisa respirar. Vamos nos sentar juntas na aula? Assim você se distrai um pouco.

— Obrigada, Rosa.

Sentamos perto da janela na aula de geografia e entre as explicações do professor Faraize e as conversas com a Rosalya eu pude esvaziar as emoções negativas. No entanto meu pensamento continuava no Lysandre. Eu me recusava a olhar para ele durante a aula, mas isso não significava que eu queria deixar as coisas como estavam.

Finalmente, quando a hora do intervalo, conclui que Rosalya tinha razão. Deveríamos ter conversado.

— Você não almoça na cantina, certo? — Rosa perguntou pra mim.

— Não. Eu trouxe almoço.

— Então vou ter que lhe deixar sozinha. Eu adoro quando é dia de hambúrguer.

— Haha! Tudo bem, te vejo na aula de artes.

Na verdade, eu também tinha planos pro almoço. Procurar Lysandre.

Andar pelos corredores procurando pessoas aleatórias era minha maior habilidade nessa escola, mas graças a Ambre isso ficou bem difícil (pensando bem, eu nem a vi durante as aulas). O primeiro lugar que pensei em procurar foi na cantina, mas antes que chegasse à porta me deparei com o Armin.

— Oie, Dr. House! 

Eu ri sem querer:

— Eu acho que estou andando pior que ele. Por acaso você viu Lysandre na cantina?

— Não. E olha que é o tipo de cara que não passa despercebido. Por que não manda uma mensagem pra ele? É melhor do que ficar perambulando nesse estado.

— Digamos que eu não sei se ele vai me responder.

Armin desfez o sorriso de sempre e ergueu as sobrancelhas, mas logo voltou à costumeira expressão descontraída:

— Ha! Vocês brigaram! Parece que o Lysandre não é tão tranquilo quanto parece!

— Sua sensibilidade me toca, Armin.

— Não esquenta, ele vai vir atrás de você a menos que queira perder a namorada. Agora licença que eu esqueci meu console na sala.

E com essas palavras decididas, Armin foi embora.

Ele podia até ter razão, mas eu não quis ficar o resto do dia pensando na minha discussão com o Lysandre.

Tive a ideia de ir ao porão. Ele poderia estar conversando com o melhor amigo ou algo do tipo. Resolvi descer as escadas, mas no meio do caminho quase trombo com Castiel.

— Opa, garotinha! Cuidado. Eu não quero que você desça rolando.

— Oi, Castiel. Lysandre está com você?

— Não. E que ideia idiota é essa de ficar andando por aí desse jeito?

— Acredite, é por uma boa causa.

Ele cruzou os braços desconfiado:

— Você e o Lys brigaram?

— Humhum. E eu não gosto desse climão.

— Isso explica ele estar mais aéreo que o normal hoje. Mas não ligue pra isso, uma hora ele vai lhe procurar pra conversar.

— Como pode ter tanta certeza?

Castiel abriu um sorriso sugestivo e piscou pra mim:

— Porque ele sabe que a fila anda. - Em seguida foi embora.

...Ok, por essa eu não esperava.

Mal saí do porão e quase me esbarrei no Kentin. Por sorte nós dois tivemos reflexo e não nos colidimos.

— Desculpe, eu não lhe vi. - Ele estava constrangido.

— Tem nada não. Você viu o Lysandre por aí?

— Não. Por acaso ele marcou algo com você e lhe deixou na mão?

— Na verdade eu preciso conversar com ele.

— Vocês discutiram?

Por acaso parece tão óbvio assim? Eu já procurei várias pessoas pelos corredores, o que tinha de diferente dessa vez?

— Sim, Kentin. Eu quero por um ponto final nisso.

— Ponto final? Então você vai terminar?

— Que?! Não, não. Bem, não. Eu só quero conversar.

— Ah. — Ele desviou o olhar tímido — Não se preocupe. Ele pode estar lhe evitando, mas vai aparecer pra fazer as pazes.

— Você acha mesmo?

— Bem... Era o que eu faria no lugar dele.

Kentin foi embora me deixando pensativa. É verdade que havia lógica no que ele falava. Entretanto, eu queria me livrar desse sentimento de angústia o quanto antes.

Entrei na biblioteca e lá dei de cara com Nathaniel:

— Oi, Nath. Não vai almoçar?

— Eu preciso fazer umas contas. E você?

— Estou procurando o Lysandre. Você o viu?

— Sinto muito. Eu não presto muita atenção nele.

— Ok, eu vou tentar outro lugar.

— Você não quer falar com ele na aula? Eu sei que você gosta de correr pelos corredores, mas nesse estado não parece uma boa ideia.

— É que... Quanto mais rápido eu falar com ele, melhor.

— Ah. — Ele corou e desviou o olhar sem jeito — Está tudo bem entre vocês dois?

— Não muito.

— Vocês... Vocês vão se entender.  Senão talvez ele não seja o rapaz certo pra você.

Não foi muito consolador.

Saindo da biblioteca, eu tive duas opções. Procurar no andar de cima ou no jardim. Lysandre gosta do jardim e provavelmente teria ido me procurar lá se quisesse mesmo me ver. Mas e se não for o caso e ele tiver subido as escadas? Significa que preferiu ficar sozinho, longe de mim. Será que era uma boa ideia ir atrás dele?

Dane-se. Desde a vez que ele perdeu a memória e fiquei noites em claro sofrendo porque não tive coragem de dizer que éramos namorados, decidi que nunca mais deixaria que um sentimento ruim continuasse me martirizando em silêncio.

No fim das contas, subi as escadas. Se não o encontrasse no andar de cima, ia almoçar por lá mesmo. A próxima aula seria de artes e eu não estava afim de subir aqueles degraus novamente.

Foi lá que eu o encontrei.

Na sala de artes ele estava sentado a uma das mesas, escrevendo distraidamente em seu bloco de notas enquanto comia sem vontade um quiché.

— Ei...

Ao ouvir minha voz, ele olhou para mim surpreso.

— Sinto muito, Lysandre. Eu exagerei.

— Por que subiu as escadas?

Foi como se um balde de água gelada tivesse sido jogado na minha cabeça. Meu namorado realmente não queria me ver.

Franzi os lábios e o cenho, quase desistindo daquela conversa:

— Eu subi porque achei que seria uma boa ideia procurar você pra pedir desculpas, mas pelo visto eu estava errada.

— Não foi isso o que eu quis dizer. Olhe o seu estado. Se queria conversar era só me ligar. Eu iria até você. 

— Como eu ia saber? Você ficou tão zangado comigo...

— N-não. Eu não estava zangado com você. — Lysandre desviou o olhar constrangido — Eu... Só fiquei com ciúmes quando você citou o nome daquele sujeito.

Ergui as sobrancelhas surpresa. Por essa eu não esperava:

— Ciúmes? Só porque ele me ajudou?

— Eu sei, foi estúpido da minha parte. Eu vim aqui colocar as ideias no lugar, achei que você não queria mais me ver.

Eu estava prestes a me aproximar dele, mas parei quando o vi ficar de pé para vir até mim.

— Eu sinto muito por ontem. — Ele acariciou de leve meu rosto — Quando consegui alcançar Nina já estávamos na frente da loja do meu irmão, e era como se ela não entendesse uma única palavra do que eu dizia. 

— Imagino. Eu a conheço um pouco.

— Ainda assim você ficou muito aborrecida.

— Esqueça isso. Eu só estou com... Alguns assuntos mal resolvidos. Eu sei que você estava preocupado com a Nina. No seu lugar eu faria a mesma coisa.

Lysandre segurou meu rosto com as duas mãos, me induzindo a olhá-lo nos olhos. Sua expressão me hipnotizava.

— Não precisa me dizer o que a perturba se não quiser. Mas talvez eu possa fazer algo.

Acho que guardei muita coisa em mim porque de repente as palavras não conseguiam se manter na minha garganta.

— É que eu... — Relutei em confessar, mas parecia impossível continuar me contendo. Respirei fundo e tentei de novo — É que eu não gosto de me sentir esquecida por você.

Pronto. Confessei. Eu baixei a cabeça para não ter que ver a expressão que ele fez. Não tive coragem. Mas, inesperadamente, senti o braços de Lysandre me envolverem calmamente num abraço reconfortante.

— Desculpe, eu não quis dar essa impressão. — Senti-o acariciar meus cabelos e o ouvi falar tão mansamente que meu corpo relaxou — Eu realmente devia ter dado um jeito de avisar.

— Lys...

Larguei a bengala para puxá-lo pela nuca.

Nos beijamos de uma forma envolvente, como se estivéssemos a anos sem nos ver. Senti seu braço contornar minha cintura e a outra mão passear das minhas costas à minha nuca numa carícia capaz de deixar minha mente estonteada e minhas pernas bambas. Por instinto, passei o braço em volta do seu pescoço, me entregando cada vez mais às minhas emoções.

O momento era intenso, e poderia até ser mais romântico se estivéssemos num lugar mais reservado. Afinal bastou ouvirmos o ranger da porta se abrindo para voltarmos à realidade e nos afastarmos.

Rosalya e Alexy haviam chegado e quando nos viram abraçados daquele jeito mostraram o mais cínico dos sorrisos, me deixando totalmente constrangida.

— Isso é uma reconciliação? - Rosalya brincava - Ou é um “eu te odeio, mas quero te agarrar”?

Mesmo vermelha, eu decidi entrar no jogo dela:

— Eu acho que a última opção faria sentido se eu namorasse o Castiel.

Meus amigos começaram a rir, mas Lysandre ficou pensativo. Na verdade, meu comentário o deixou inquieto:

— Você já esteve atraída pelo Castiel?

Eu quase engasguei:

— Q-que!?

— Tudo bem, é natural que você já tenha se interessado por outros garotos antes de...

— Não, não. Lys, pera. Eu só acho o Castiel bem tsundere. Ele diz que algo o irrita, mas na verdade ele gosta, entende?

— Hn. Gosta até demais.

Não sei por quê, mas Rosalya e Alexy estavam se segurando para não rir na frente do meu namorado.

Minha barriga roncou alto:

— E-eu preciso comer.

— Oh, puxa! Já almoçamos! - Rosalya exclamou - E você, Lys-fofo?

— Mal comecei. — Ele olhou para mim sorrindo — Você gosta de quiché? Eu preparei o suficiente pra nós dois.

Minhas bochechas coraram. Será que ele tinha planejado almoçar comigo antes de brigarmos? Ok, não importava, eu estava com tanta fome que deixei qualquer teoria de lado e me sentei junto com ele. Rosalya e Alexy se juntaram a nós.

— Por acaso leram o jornal da Peggy hoje? - Alexy mostrou um exemplar enquanto eu comia metade do meu salgado numa única mordida — O artigo principal fala de você e da Ambre.

Eu apenas arregalei os olhos enquanto continuava mastigando.

— Pensando bem eu não a vi mais nas aulas. - Lysandre comentava.

— É, mas nós a vemos nos ensaios. A escola deu uma suspensão para ela, mas fez essa exceção. A polícia está investigando o caso, mas nada aconteceu a ela. Não sei por quê. — Meu amigo ficou emburrado — Eles não pensaram duas vezes antes de prenderem o Armin, mas a Ambre quase lhe matou e não está respondendo nada.

— Hm. - Eu engoli antes de continuar falando - Eles tinham provas contra o Armin, mas não tem nenhuma contra a Ambre. Tudo que temos é a confissão dela e com certeza ela não vai admitir nada na frente da polícia. O Nath também não vai dedurar a própria irmã. Ele pode ter falado pra diretora, mas não vai confirmar nada se a polícia perguntar.

— Ele deveria. - Lysandre falava contrariado.

— Lys, eu não ia morrer caindo daquela altura.

— Mas poderia ter quebrado a perna ou acontecido algo muito pior.

— Nath é meu amigo. Eu não vou exigir esse tipo de coisa dele. 

Os três suspiraram vencidos.

— Ta, mudando de assunto. - Rosalya abriu um grande sorriso - Alexy e eu queremos ir ao shopping amanhã. Vocês estão livres?

Lysandre sorriu:

— Eu não gosto desse tipo de passeio, você me conhece. Além disso a Sweetie Rock fará o último ensaio antes das finais.

— Eu não sei se serei um peso morto. - Admiti - Não posso andar pra cima e pra baixo nessas condições.

— Claro que Alexy e eu pensamos nisso, bobinha. - Rosalya continuou - Vamos só em algumas lojas. Alexy quer passar na Julien e eu preciso comprar uma roupa de banho nova.

— O que houve com seu antigo maiô? Ele é tão bonito.

— Eu quero surpreender o Leigh com algo mais ousado.

Meu rosto pegou fogo. Eu não sabia que ouvir Rosalya falar aquilo com o Lysandre presente fosse tão constrangedor.

— Por favor, Rosa… - Lysandre também estava desconfortável - Estamos falando do meu irmão. Eu não gosto de imaginar a intimidade de vocês dois.

— Oh. Desculpe, Lys-fofo. Eu pensei que você já estava acostumado a nos ver em situações embaraçosas.

Lysandre cobriu o rosto vermelho com uma das mãos enquanto Alexy caia na risada. No fundo eu agradeci pelo foco da conversa ser o fato do Leigh ser irmão do meu namorado, e não de estarmos falando de roupas de banho provocantes.

A aula de artes não demorou a começar e confesso que quando o dia acabou eu me sentia bem mais leve na hora de ir pra casa.

 

~ o ~

 Na manhã seguinte eu me encontrei com Alexy e Rosalya no shopping. Nosso amigo tomou a frente e nos levou direto para a sua loja de roupas favorita:

— Ok, ok vamos falar de coisa séria. Primeira parada, loja Julien! Eu preciso fazer umas comprinhas.

— Eu também preciso de um traje pra usar no show. - Lembrei.

— Ok, mas vamos pra Julien primeiro!

Acompanhamos Alexy e assistimos ele experimentar a metade do estoque. E não era o único a se divertir por lá. Rosalya passeava de um canto para o outro elogiando modelos de calças masculinas e dizendo quais ficariam melhor no nosso amigo. Quando Alexy se enfiou no provador com uma pilha de roupas coloridas, eu me encostei num quiosque de vidro e fiquei esperando.

Distraidamente, meu olhar bateu em vários acessórios distintos. O que mais me chamou a atenção foi um bonito relógio de bolso prateado, com números em algarismos romanos e uma libélula talhada em alto relevo.

Interessada, passei a olhar o objeto mais atentamente.

— O que foi? - Rosa se encostou ao meu lado - Achou algo legal?

— Sim. Olhe esse relógio.

— Ah, sim. Relógio de bolso. Leigh adora esse tipo de coisa. Ele tem uma coleção.

Talvez isso signifique que Lysandre também tem uma coleção, já que os irmãos tem os mesmos gostos.

— Você também quer usar um? - Ela me perguntou.

— Não... É que eu pensei no Lysandre, mas ele já deve ter muitos desses.

Rosalya passou a olhar o mesmo objeto que eu com ar pensativo:

— Olha, é uma peça bonita, mas não é de um material nobre. Se fosse seria uma fortuna. Se você quer comprar um presente pra comemorar o mesversário de vocês precisa ser algo especial.

— Comemorar o que!?

— Mesversário. Comemorar os meses de namoro é uma tradição entre alguns casais.

Eu abri a boca prestes a perguntar por que alguém comemoraria isso, mas tendo em vista que Lysandre se esqueceu de quem eu era no nosso primeiro mês de namoro, resolvi deixar pra lá.

— Não, Lysandre e eu não estamos comemorando nada.

— Então está procurando um presente de reconciliação?

— Isso existe?

— Sim. Normalmente são caros e dados pelos rapazes. Eu acho completamente superficial e brega.

— Haha! Nisso concordamos. Não, eu não planejo comprar nada. Só vi isso e me lembrei dele. É que tem asas de libélula na tatuagem do Lysandre.

— Ah, a sagrada tatuagem. Acho engraçado alguém fazer uma nas costas, mas não gostar de tirar a camisa.

— Leigh também tem uma?

— Ta maluca? As únicas espetadas que ele aguenta são das agulhas de costura.

Acabei rindo da revelação. É verdade que Leigh parece mais delicado que o irmão.

Eu olhei mais uma vez para o relógio. Não era grande coisa, mas realmente me lembrava o Lysandre. No fim das contas decidi levá-lo.

Mais tarde fomos numa loja de roupas femininas onde Rosalya me ajudou a escolher um traje para o show.

 

~ o ~

 

A noite havia chegado, junto com a final do concurso de bandas.

Eu tive que prometer que sairia cedo para os meus pais me deixarem ir porque eles agiam como se eu tivesse quebrado uma perna ao invés de ter sofrido uma simples luxação. Ok, ta certo que a queda doeu pra caramba, e andar era bem cansativo, mas não era o fim do mundo.

Assim que desci do carro, vi os integrantes da Sweetie Rock ao longe. Lysandre estava falando algo para Nathaniel enquanto Castiel ria e descansava a mão no ombro de uma nervosa Íris. Eu estava prestes a me aproximar deles quando fui abordada por Kim e Viollete.

— Ah, sim! Chegou a nossa Elphaba manca! - Kim me deu um tapa nas costas que quase me fez capotar pra frente.

— Nós já íamos entrar. - Viollete falou timidamente - Agora que você chegou, podemos ir juntas.

— Eu adoraria, meninas, mas eu preciso fazer uma coisa. - Olhei instintivamente para o meu namorado.

Nesse exato momento ele também olhou para mim e trocamos um sorriso.

— Hm... - Kim me lançou um sorriso suspeito - Eu fico pensando se ele compõe as músicas pensando em você.

— O-ora, claro que não! Ele é um poeta. Está acostumado a escrever letras românticas. Nunca precisou de uma musa inspiradora.

— Mas ele já lhe escreveu algo?

Eu corei ao me lembrar de quando compartilhamos um momento íntimo no quarto dele:

— J-já.

— Ops. Ele está vindo. Vamos, Vio.

As duas se afastaram a medida que meu namorado se aproximava. Ele estava vestindo roupas que misturavam o rock moderno com os anos 90. Não faziam nem um pouco o seu estilo, mas o deixavam irresistível.

— Oi?

— Oi. Sabia que você está muito charmoso nesse visual?

— Eu espero que você não prefira essa versão porque esse traje me deixa bem desconfortável.

— Não, não prefiro. - Eu abri a bolsa e tirei um saquinho de veludo de dentro - Eu trouxe uma coisa pra você.

Lysandre ficou instantaneamente pálido:

— Pra mim? - Ele estava em pânico - E-eu esqueci alguma data especial?!

— Hein? Não, não. Eu vi isso e achei a sua cara. Não é nada grandioso, então não crie expectativas.

Ainda surpreso, ele pegou a pequena sacola e tirou de dentro o relógio de bolso. Seu rosto ficou um pouco enrubescido:

— É lindo.

— Eu também achei. Tem uma libélula, assim como um dos pares de asas da sua tatuagem. Por isso me lembrei de você.

Ele me sorriu:

— Então você lembra?

— Eu entrei num armário para vê-la. Acha mesmo que eu iria esquecer?

— Você sabia que a libélula é símbolo de renovação?

— Já ouvi falar, mas foi por causa de um filme.

Ele embrulhou novamente o presente e acariciou meu rosto com as costas dos dedos:

— Obrigado.

Lysandre tocou meu queixo e logo senti os lábios dele sobre os meus.

Algo dentro de mim dizia que o que aconteceu entre nós dois no passado não iria mais me perturbar como antes.

Ficaríamos bem.

 

Continua


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Notas finais do capítulo

Bem, o próximo capítulo será o último (e a história acabou ficando mais longa que o previsto)

Abraços!



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