A Sky Full of Stars escrita por pnsyparkinson


Capítulo 1
'cause in a sky full of stars




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2016 - Londres.

O vento soprava frio por entre as ruas da movimentada Londres, fazendo com que os habitantes da cidade pegassem seus casacos e vestissem roupas quentes para encarar o dia que mal havia começado. Eram seis horas da manhã e uma jovem moça se remexia de forma constante em sua cama espaçosa, sentindo o ar gélido que passava pela janela ir ao encontro direto com seu corpo quente. Suspirou de forma pesada, cobrindo o rosto com uma de suas mãos enquanto criava coragem para sair do emaranhado de lençóis e ir até o closet buscar alguns cobertores quentes.

Nymphadora Tonks, ou apenas Dora, como gostava de ser chamada, era uma jovem de vinte e três anos completamente apaixonada pelas constelações e por seus mistérios, tal como era apaixonada por café quente, cachorros e flores. Costumava ser alegre, cheia de vida e uma pessoa totalmente colorida. Costumava, até perder seus pais em um acidente de carro no fim de dois mil e quinze, na véspera de natal.

Lembrava-se com carinho de quando sua mãe, Andrômeda, lhe preparava uma xícara de leite morno e falava sem parar sobre a origem dos nomes de sua família, só parando quando a garota ria ou a abraçava. Era uma rotina da família visitar o observatório localizado no centro da cidade e passar noites divagando sobre as formas que conseguiam enxergar no céu escuro. Ela sentia falta de ouvir seu pai resmungar sobre o quão fascinadas as mulheres da sua vida eram.

O vazio que preencheu seu coração ao receber a notícia de que seus pais haviam ido embora permanece intacto, aumentando com o passar dos dias. Dora, que antes mantinha seus cabelos sempre coloridos, agora mantinha o tom castanho.

O sol brilhava timidamente no céu e seu peito apertou, levantou-se da cama e calçou os chinelos indo em direção à cozinha. Era cedo demais para estar acordada e estava frio demais para sair da cama mas a garota apenas abraçou seu corpo miúdo e desceu as escadarias de mármore, sentindo mais uma vez a solidão lhe dar bom dia.

[...]

O caminho até a empresa dos Black foi tranquilo, o carro preto movia-se entre as ruas pouco movimentadas e vinte minutos após as oito horas chegou no local. A garota saiu do veículo após estaciona-lo em sua vaga pessoal e pôs os óculos escuros no rosto, batendo os saltos no chão duro até parar em frente as portas giratórias.

— Bom dia Nymphadora, seu primo lhe espera em sua sala. - disse a recepcionista, de forma amigável. Geralmente Dora apenas acenava com a cabeça e seguia seu caminho, mas dessa vez ela parou no lugar, enrijecendo os ombros antes de virar seu rosto para a jovem que agora lhe encarava assustada.

— Sirius me espera na minha sala. - falou Tonks, mordendo o lábio. - Sabe do que se trata, Olívia?

A jovem recepcionista negou, dando de ombros levemente.

— Ok, avise-o que estou subindo. - respondeu, bufando.

[...]

Nymphadora sabia que algo estava errado quando entrou em sua sala e seu primo estava sentado em sua cadeira, com os pés sobre a sua mesa. Relaxado demais para um assunto da empresa, quieto demais para ser algo banal.

— Os pés no chão, Sirius, essa mesa é cara. - resmungou a garota, largando a bolsa em cima da poltrona roxa de veludo que ficava perto da porta. - Devo a honra de sua ilustre presença por... - cruzou os braços, franzindo o cenho.

O fato é que Sirius e Nymphadora sempre foram melhores amigos, apesar da diferença de idade presente entre eles. O homem estava no auge dos seus vinte e sete anos, trabalhava na empresa da família assim como sua prima e estava noivo de uma doce mulher chamada Marlene. Sempre cuidou de Dora como se ela fosse sua irmã mais nova, sempre manteve por perto a sua pequena garotinha e também lhe serviu de porto seguro quando ela precisou. O problema começou quando sua menina resolveu trancar para si mesma o que estava sentindo, parou de responder suas mensagens, parou de sorrir e pintar seus cabelos, deixou seu cachorro Padfoot aos cuidados de James e ficou em casa por uma semana. Ela não compareceu ao velórios dos pais e não falou com ninguém, mesmo ele indo até sua casa todos os dias para ver se ela precisava de algo.

Cinco meses. Esse era o tempo que havia passado desde a véspera de natal e mesmo assim, Nymphadora continuava se isolando.

— Sempre fomos sinceros um com o outro e é exatamente isso que vou ser com você agora, Tonks. - explicou o moreno, cruzando os braços e jogando seu corpo na cadeira, a observando. - Fazem cinco meses e três dias que eles morreram, eu sei que dói, realmente sei, mas chega. - disse, calmo. - Você afundou e está afundando a cada dia e todos vêem isso, todos. Você não sorri, não conversa com quase ninguém e só responde minhas mensagens quando são sobre trabalho, você deixou Padfoot e até agora não o buscou, você está vivendo sozinha naquela casa enorme e eu sei que ainda não se desfez das coisas dos seus pais e isso te consome, te deixa sem ar e mesmo assim você guarda tudo para você. Chega! - exclamou a última parte, batendo as mãos na mesa fazendo com que a garota se assustasse.

— Você não pode... - respondeu ela, boquiaberta.

— Eu posso e eu vou, Nymphadora. Você é a minha irmãzinha, você não está sozinha por mais que sinta isso todos os dias e a dor é sua, eu sei disso, mas chega de sentir pena de si mesma dessa forma! Acha que tia Dromeda estaria feliz em te ver assim? Acha que Ted ficaria como ao ver a garotinha dele nesse estado? Quase não vejo a cor dos seus olhos por conta dessas olheiras, Dora, você está acabada.

— Eu... eu... - murmurou, olhando par ao chão. - Não consigo... eu..

— Vai me ouvir pelo menos uma vez na sua vida, doce. - disse Sirius, suspirando enquanto levantava e dava passos calmos em direção a sua prima. - Você precisa reagir e não ficar no modo automático. - pôs as mãos nos ombros dela, fazendo com que ela olhasse em seus olhos castanhos. - Demora mas você consegue, um passo de cada vez. Ok?

— Um passo de cada vez. - concordou ela, jogando seus braços sobre Black e abraçando-o forte. Ele sentiu a camisa molhar com as lágrimas dela, era um choro de alívio, ela estava se soltando e tudo que ele podia fazer era estar ali por ela. Como sempre esteve.

[...]

— Nós vamos fazer isso hoje? - perguntou Tonks, enquanto seguia ao lado de Sirius pelos corredores da empresa e arrancava olhares espantados de todos os que trabalhavam no local. - Estão todos nos olhando. - resmungou.

Sirius sorriu.

— Fazia um tempo que eles não viam você assim, priminha, sendo você. Ou quase você, precisa dar um jeito nesse cabelo. - comentou, brincalhão.

— Idiota. - a menina revirou os olhos, sorrindo e acenando para os presentes enquanto passava pelas portas em direção à saída.

— Respondendo sua pergunta, sim, vamos fazer isso hoje. Já comprei as tintas e chamei um caminhão de doações para recolher tudo. - confortou a garota, passando o braço por seus ombros.

— Obrigada Six, de verdade. - e ela sorriu.

[...]

A casa dos Tonks possuía um enorme gramado verde e dois andares, era de um tom azul pastel que contrastava com o jardim florido ao lado da garagem. "Pelo menos das plantas ela ainda cuidou", pensou Sirius enquanto ia com a garota até a porta de entrada.

Ela preparou o café e o moreno sentou na bancada, ambos suspirando quando decidiram começar a guardar as coisas do antigo escritório de Ted. Saíram da empresa ao meio dia e pegaram o resto do dia livre já que era sexta-feira, assim conseguiriam tempo o suficiente para arrumar o máximo de coisas possíveis. A morena ligou o rádio e escolheu sua seleção de músicas favoritas, pegando os utensílios de limpeza e subindo as escadas até a porta de madeira branca.

Seu pai não gostava de vê-la naquele ambiente, segundo ele, sua menina deveria estar em lugares alegres e não enfurnada em uma sala cheia de papéis chatos. E por um tempo ela concordou, mas a responsabilidade as vezes bate na porta cedo demais.

Cuidadosamente encaixotaram tudo naquela sala e seguiram até o antigo quarto do casal, repetindo o mesmo processo. Pintaram paredes, desmontaram móveis e riram como antigamente. Ela se sentia mais leve, sabia que isso seria necessário uma hora ou outra e agora parecia o momento certo para desapegar. Seus pais ficariam felizes de vê-la seguindo em frente. 

[...]

— Estou cansada. - murmurou, jogando o corpo no tapete felpudo e fechando os olhos. Sentiu uma almofada bater em seu corpo e riu. - Babaca, não tenho forças pra levantar e jogar água em você agora, mas sinta-se molhado feito um cachorro.

— Falando em cachorro... não sente falta de ninguém? - questionou, sorrindo terno quando viu um sorriso triste no rosto da menina. - James não se importa de ficar com ele mais algum tempo, mas Padfoot sente sua falta.

— Sinto falta dele também, vou busca-lo amanhã. - levantou-se do tapete e olhou ao redor, a sala antes em tons pastéis, agora era de um azul vibrante. - Pizza?

Black riu e concordou rapidamente com um aceno. - Pizza.

O entregador chegou uma hora após o pedido com duas pizzas de queijo, era o sabor favorito dos primos desde que eram crianças. As noites de pizza eram uma tradição entre eles, mas haviam deixado de lado quando a vida adulta se fez presente. Ele estava sempre atarefado com a faculdade de administração e ela também, mal se viam e mantinham contato apenas por mensagens de texto e ligações de vídeo. Isso até o natal de dois mil e quinze, quando Nymphadora isolou sua vida em uma bolha.

— Uh, eu senti falta disso. - sorriu quando seu primo mordeu sua fatia de pizza, fazendo o queijo grudar em seu nariz. - Desculpe por te manter fora, sabe... da minha vida e... é. - deu de ombros, levando a taça de vinho até os lábios. Estavam sentados no chão da sala com as costas no sofá enquanto um programa qualquer passava na TV. - Precisei de um tempo sozinha, só não esperava que fosse tanto tempo assim.

— Tudo bem, Dora. Dei o seu espaço até ver que estava ficando um pouco fora de controle, sempre fui a voz da razão por aqui. - sorriu, vendo a garota negar. - Ok, nem tanto. - jogou as mãos para o alto em rendição.

— Six, você acha que a gente pode ir olhar o céu? Não faço isso desde... você sabe. - deu de ombros, mordendo o lábio. - Não precisa ser no observatório, só ir até o quintal.

— Claro, vou pegar um cobertor pra gente. - dito isso, Black deu um beijo na testa da garota e subiu as escadas até o segundo andar.

[...]

O céu estava lindo.

Brilhando e sendo receptivo, dando as boas vindas depois de tanto tempo.

Ficou observando até uma estrela cadente aparecer e ela ouvir uma voz doce e calma sussurrar.

"Faça um pedido."

Não poderia ter seus pais novamente e sabia disso, mas poderia ser feliz novamente e ansiava por isso. Um pedido simples e de coração.

Assim que abriu os olhos viu Sirius sorrindo para o céu, fazendo-a sorrir junto. Abraçou seu primo e melhor amigo, sentindo seu corpo estremecer com a risada dele.

— Senti falta disso, baixinha. - sussurrou o moreno, fechando os olhos ao sentir o vento da noite bater em seus corpos, puxando o cobertor até estar cobrindo ambos.

— Também senti, idiota. - sussurrou de volta, abafando um riso quando ele a olhou ofendido.

Nesse momento, ela percebeu que não estava sozinha. Nunca estaria.


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