Os Segredos da Rua Baker 3 escrita por Lany Rose


Capítulo 10
Lembranças e Conversas Difíceis




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Sean andava preocupado com a esposa. Diana voltou a fechar-se em si mesma trabalhando cada vez mais. Essa era a sua tentativa de não pensar em Irene, sozinha e ferida, se recuperando na casa do Sigerson.

Apesar de Sean ter apontado a possibilidade de a cunhada estar tentando encontrar as provas contra ele em seu período naquele lugar, Diana ainda achava perigoso demais para a saúde mental da irmã.

—Se quiser ir vê-la, eu posso lhe fazer companhia.

—Meu amor, eu acho melhor você nunca pisar naquela casa. Eu vou hoje à tarde.

Na residência do Sigerson, Irene havia tido mais algumas sessões. No intervalo das duas sessões semanais, ela preferia manter-se deitada no quarto para descansar.

Irene estava sem as ampolas que Alex havia lhe arrumado para conseguir sair de suas alucinações. Sem esse remédio ela não se concentrava em nada enquanto acordada e ao dormir era despertada com a voz estridente de sua mãe gritando em seu ouvido. Ela precisava sair dali; precisava voltar para a 221B.

Deitada na cama de olhos fechados, sem querer dormir ou abri-los, Irene se mantinha quase sem se mexer, como se alguém não devesse perceber a presença dela ali. Com uma leve batida na porta, o mordomo da casa anunciou a visita de Diana. Após um resmungo quase inaudível, ela começou a levantar-se.

Diana a esperava em uma salinha de visitas já com um chá servido.

—Você pode beber o chá. Não tem veneno ou calmantes.

—Nunca se peca por excesso de cautela. Você me dizia isso.

Irene ainda parada na porta a analisava.

Diana conhecia aquele olhar muito bem. A irmã estava lhe tratando como um inimigo próximo. Irene andou em sua direção e sentou-se apontando para o sofá logo à frente.

—O que quer? Se for para me colocar contra o Sigerson mais uma vez... – Ela leva a mão à testa, pode parecer um gesto teatral, mas a verdade era que queria tirar o vulto da mãe de seu campo de visão. – Eu já estou exasperada com essas tentativas ridículas.

—Você está horrível. Ainda mais desgrenhada, com enormes olheiras, tão pálida... Ainda com aqueles pesadelos?

—Sim, por causa disso não tenho dormido adequadamente. Se era apenas isso... – Irene levanta.

—Não tenho ideia se esse é o melhor lugar, mas nós precisamos conversar.

—Não. – Irene levantou-se.

Diana a impediu de deixar o ressinto a segurando pelo pulso, nesse instante notou a temperatura dela um tanto elevada. Irene puxou o braço fazendo o contato físico entre as duas ser o mais breve possível e por essa razão Diana decidiu não comentar a respeito, pois poderia estar enganada.

—Nem que eu tenha que te seguir por toda a casa. Nós vamos conversar.

Irene virou-se para a irmã completamente irada.

—Você quer conversar? – Ela praticamente gritou depois de jogar a bandeja de chá no chão. Diana nunca a tinha visto dessa forma. – Vamos conversar! Você, irmã querida, não consegue perceber as coisas mesmo se eu as esfregar no seu nariz.

—Do que está falando?

—Eu não quero te proteger. Pretendo só olhar para essa sua cara se for extremamente necessário. Você é uma excelente cientista e, às vezes, preciso do seu serviço, mas fora isso, nós duas não temos qualquer ligação.

—Você me odeia tanto assim?

—Eu não te odeio, porque o oposto do amor não é o ódio. É a indiferença. E não me importo mais com você, Diana.

—Você é uma mentirosa. Como pode não se importar? – Ela baixou o tom de voz. – Se está ajudando o meu marido.

—O Sean não é culpado. Nunca rejeitei um caso sabendo da falta de culpa do meu cliente. Teu marido poderia ser deportado e até mesmo condenado à morte. Seria mais uma vítima da família Holmes. Eu não vou deixar isso acontecer de novo.

—De novo?

—O que você acha que foi o Bernard? E até mesmo o Morse? A mentira de vocês causou a morte deles.

—Você está ficando repetitiva. As mentiras foram para o seu bem. Foi para não acabar perdida na própria mente como pode acontecer agora.

—Se não fosse por essa mentira de vocês, eu não teria perdido O MEU TEMPO com o Morse. Eu teria visto claramente que ele não passava de um joguete. Concentraria toda a minha energia em conhecer o Sigerson e depois em destruí-lo. Sabe o que teria acontecido se não tivesse feito essa tentativa de “me proteger de mim” ? Eu não teria perseguido, ameaçado e matado pessoas para entrar em uma sociedade secreta na qual estou presa e tanto desprezo; não teria trincado costelas, quase sido esganada, levado tiros ou sido dopada; eu não teria faltado ao seu casamento; o próprio Morse estaria vivo, pois apenas o institucionalizaria em algum lugar. Junto com a mãe, talvez. Susan não teria passado o que passou; Alicia não teria passado o que passou; John não teria passado o que passou e, principalmente, - ela estava com lágrimas escorrendo pelo rosto – Bernard estaria vivo!

—Irene... Eu nunca pensei...

—Ele foi meu melhor amigo por anos, Diana. Sempre faço essa contabilidade e, agora, fico aliviada por ter a certeza que posso dividir a culpa. Não reclame por eu não querer mais tanto a sua presença ao meu lado. Foi apenas uma mudança de dinâmica. Prefiro ter o John comigo.

—Vocês fizeram as pazes? 

—É só uma questão de tempo. Se me der licença... – Ela apertou uma campainha perto da porta. – O Alfred – ela revirou os olhos –, tão clichê, irá acompanha-la até a saída.

Irene, ainda mais exausta que antes, subiu até o seu quarto. Ela resmungava consigo mesma como havia sido uma péssima escolha da irmã tê-la pressionado para seguir com aquela conversa naquele lugar.

Tudo bem! Posso converter ao meu favor. Pensou Irene.

Sean se sentiu aliviado ao vê a esposa cruzando a porta de sua casa, mas esse alívio durou apenas alguns segundos. A expressão no rosto de Diana mostrava como fora conturbado o diálogo com a irmã.

Os dois continuaram em silêncio enquanto ele preparava um chá observando Diana pensativa no sofá. Com a bebida pronta, ele decidiu se juntar a ela.

—Foi tão ruim assim?

—Foi o esperado. – Ela lhe mostrou um sorriso triste. – Irene cumprirá sua palavra na recuperação das provas contra você.

—O que aconteceu? Ela está bem?

—Não, ela não está. Mas, eu acho que o papai está certo. Irene precisa enfrentar seus demônios... Sozinha.

A cada sessão Irene ia mais fundo em sua mente e com isso ficava cada vez mais instável. Certo dia, Sigerson conseguiu conduzi-la em uma trágica lembrança: o dia em que Lilia foi raptada.

Acabou sendo tão perturbador que Sigerson não teve argumentos para mantê-la ali em sua casa. Nenhuma chantagem ou ameaça velada foi suficiente.

Irene precisava de ar. Comprou uma garrafa de uísque em uma lojinha e a tomou quase toda em um beco. Cambaleante, com a garrafa na mão, ela se viu indo em uma direção conhecida.

—Eu não sabia para onde ir. –Disse ao entrar na sala da lareira do único lar que realmente conheceu.

—Finalmente chegou da escola. Por onde realmente andou?

—Perdido em memórias de novo. – Ela vai até a poltrona ao lado.

—O que houve? – Perguntou Mycroft ao olha-la.

—Eu vi Lilian sendo sequestrada.

—Mas você tinha dito...

—Eu menti. Fugi dos agentes para voltar ao laboratório. Não é verdade que odiava aquele lugar. Eu amava! Minha mãe estava sempre sorridente lá.  Ela era poderosa e... Eu queria ser assim também. – Lágrimas começaram a rolar. – Na esquina vi uns homens a levando... Eu ia correr até ela, mas... Lilian começou a gritar para me deixarem em paz; para eu escapar daqueles homens. Fiquei paralisada, Mycroft. Vi minha mãe ser raptada e não fiz nada.

—Você era uma criança.

—Não é uma desculpa. Eu sabia que o medo dela era infundado; eu sabia que eles não tinham interesse em mim ou me pegariam como os sequestradores do Sherlock o fizeram. Eles me olharam e a levaram. E eu permaneci lá, parada, assistindo aquela cena sem ter a capacidade de dá um passo para ajudá-la.

Irene levou as mãos ao rosto, começou a chorar se sentindo culpada pelo sofrimento da mãe e por não ter conseguido agir.

—Irene...

—Desculpe, não sei o que está acontecendo comigo ultimamente.

Ela tentou sair, mas ele foi rápido o suficiente para impedi-la. Mycroft levantou e abraçou a sobrinha.

—Vamos comer pudim de leite e depois jogar um pouco.

—Qual o jogo? – Ela já enxugava as lágrimas.

—Vou queimar todo tipo de casca e incenso para você identificar cada um pelo cheiro.

—Meu jogo favorito! – Ela falou sorrindo.


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