Chess escrita por Pan Alban


Capítulo 8
Jogo para dois


Notas iniciais do capítulo

Olá!!!!

Pra quem me acompanhou em outras fics deve ter pego a referência do título hahahahah ♥
Gente, três semanas que não atualizo Chess??? É isso mesmo?? Quando que o tempo passou? aaaaaaah! Desculpem!!!! Socorro, só parem o mundo que eu preciso descer!
Esse mês de novembro tá sendo corrido, não? Nem responder os comentários eu consegui ainda!! Mas essa semana eu respondo tudo que está atrasado!
Este capítulo eu dedico à Hanaru ♥ Lindeza! Obrigada pelo carinho imenso e por surtar comigo *-*
Neste capítulo teremos uma grande evolução nos sentimentos de Temari e uma passagenzinha de tempo que será melhor explorada no próximo ;)
Boa leitura!!



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Temari prendeu os cabelos em determinado momento da noite. Sentia o rosto quente pelo sol que tomou durante o dia e também por causa das lembranças que a atormentavam desde que reparara em Shikamaru como um homem atraente. Aquilo era desconcertante e ridículo demais. Já havia prestado atenção em outros homens, claro, mas nunca um que fosse tão mais novo que ela, sempre mais velhos.

Ele era bonito, sim, era charmoso até, mas as atitudes dele, o jeito de pensar e a forma como falava conseguiam abafar o físico dele, só aqueles aspectos já eram interessantes, mas admirando todo o conjunto ela não sabia nem como reagir.

Depois que ela foi dar um mergulho no mar, ele voltou para o lugar que estavam antes e a aguardou para jogarem mais uma vez, mas foi diferente. Ela não conseguia mais pensar direito, sua atenção sempre corria para o corpo a frente dela, para o rosto masculino concentrado nas peças do tabuleiro procurando e encontrando aqueles traços sutis da beleza que ele mantinha neutra, quase imperceptível.

Ele, porém, não jogou tão impressionantemente como de costume, estava quieto, não tentara nem um contato visual com ela e nem engrenaram uma conversa consistente. Ficou um clima estranho e ela achava que era por culpa dela. Mas o que ela poderia fazer? Ainda estava afetada.

— Temari está bem distraída...

Ela piscou uma vez olhando para Izumi que tinha um sorriso curioso.

— Pensando… — suspirou e tomou um gole de seu refrigerante pelo canudinho. Uma cerveja cairia muito bem aquela hora, mas o carro estava com ela e não queria tirar a sorte de encontrar policiais no caminho.

— Relaxa um pouco. Como estava a praia hoje? Pensei em irmos lá, mas tinha uma lista para terminar. — Izumi resmungou.

Temari havia ido embora da praia logo depois da derrota que sofreu de Shikamaru na segunda partida. Poderia ter sido mais vergonhoso, mas parecia que nem ele estava muito disposto a jogar mais. Ela foi embora com a desculpa de que tinha que fazer trabalho e até esqueceu Gaara para trás, voltando sozinha para casa e tentando se distrair mesmo com trabalho até que chegasse a hora de encontrar os amigos na lanchonete que Izumi escolheu.

Shikamaru, entretanto, ficou em sua cabeça por mais tempo do que ela gostaria.

— Cheio de adolescentes — deu de ombros e Itachi riu um pouco — mas a água estava boa.

— Sasuke e Sakura estavam lá? — Itachi quem perguntou. Temari balançou a cabeça dizendo que sim e abocanhou umas batatas fritas. — Devem estar na casa do Naruto, então. — refletiu e olhou para Izumi.

— Sim, não lembra que iriam fazer uma “festinha”? — fez aspas com as mãos e Itachi fez uma careta estranha com aquilo. — Vamos torcer para ninguém sair grávida hoje.

Temari ergueu as sobrancelhas surpresa. Konan, silenciosa ao lado deles, tossiu engasgada.

— Como assim? Festinha? Eles não disseram nada. — Temari já pegava o celular para ligar para um dos irmão, fervendo de raiva.

— Você sabe, estão com os hormônios à flor da pele, os pais do Naruto são inocentes pra caramba e deixaram a casa para eles se divertirem. — Izumi respondeu balançando a mão.

— Merda… — o celular de Kankuro caiu direto na caixa postal e o de Gaara estava confiscado em casa. — Liga para o Sasuke, por favor?

Itachi tentou ligar para o irmão e para Sakura, mas também estava sem área.

— Deixa eles se divertirem. — Itachi comentou ainda que estivesse um pouco preocupado. — Já passamos por isso…

— Eu nunca fui descabeçada, Itachi. Eu tenho que ficar de olho nesses moleques porque só fazem besteira. — e dedilhou por seus contatos atrás de alguém que também estivesse lá.

Kankuro era um idiota de marca maior, ela podia vê-lo entrando em coma alcóolico ou experimentando algum tipo de droga só para parecer legal. E Gaara.. ela torcia para ele lembrar de usar camisinha. Argh, pensar que o irmãozinho podia transar era bizarro demais.

E ela não achou nenhum número que pudesse ajudar, até chegar na letra “S” e ver o nome do Shikamaru ali salvo. Não pensou duas vezes e discou. Izumi e Itachi a deixaram tentando conversar com alguém e puxaram assunto com uma Konan silenciosa. O telefone tocou três vezes quando ele atendeu.

— Shikama…

Não posso falar agora.

E desligou.

Havia um som alto no fundo, a respiração ofegante dele e a interrupção abrupta.

Ótimo! Agora além de pensar que Gaara podia estar transando, tinha certeza que Shikamaru também estava. E ainda bem que sua imaginação não era tão fértil, ou sua raiva fosse tão grande que barrasse ela naquele momento, mas ela não conseguia imaginar.

— Ok, vamos mudar de assunto porque esses moleques não vão estragar a minha noite. — Temari decretou guardando o celular na bolsa.

Mas nenhum dos três disse algo. Izumi e Itachi olhavam para Konan com expressões de surpresa, Itachi até tentava dizer algo balbuciando sem sucesso. Temari olhou para Konan sem entender e pela primeira vez viu lágrimas nos olhos delineados.

— O que aconteceu?

— Estou grávida.

 

♚♛

 

E o mundo dava voltas ao redor dela enquanto voltava para casa. Konan estava grávida e ainda não havia contado para o Nagato, apesar de ter um relacionamento com dois homens, ela dizia ter certeza e provas de que só Nagato podia engravidá-la. A conversa a partir de então ficou tensa e os três amigos ajudaram-na a tomar coragem para contar aos dois namorados e Itachi ficou a disposição para ajudá-la se precisasse na parte psicológica, não como profissional, mas como amigo.

Temari e Izumi deram seu apoio também. Temari não tinha muito tato para coisas inesperadas, mas Konan já a conhecia a tempo o suficiente para saber que podia contar com ela. Os próximos passos seriam delicados, e aquela criança que ainda nem formava um volume na barriga da mãe já tinha ganhado três “tios” defensores.

E os acontecimentos da praia eram um perfeito contraste sobre como Temari já não era mais criança, sobre como o seu mundo era diferente dos seus irmãos. Izumi e Itachi iriam se casar, Konan e Nagato teriam um bebê… O tempo estava passando rápido.

Chegou em casa e com surpresa viu Kankuro e Gaara sentados no sofá jogando videogame. Esticou o pescoço até a cozinha e não viu as chaves dos pais na parede, haviam saído e não era nem dez da noite.

— Pensei que estivessem em uma festinha. — jogou a bolsa no sofá e fixou o olhar nos dois para não perder nenhum sinal de mentira.

Kankuro resmungou algo e Gaara quase fez o mesmo pausando o jogo.

— A mãe do Naruto apareceu lá do nada com uns jogos de tabuleiro, salgadinho e refrigerante. — Kankuro contou emburrado e Temari foi aliviando segurando a vontade de rir — Como se a gente fosse criança! As gatinhas foram todas embora.

— Acho é bem feito. Não confio em nenhum dos dois numa festa assim.

— Você também não — Kankuro resmungou bravo e bufou — Qual é? Somos jovens, qual o problema?

— São jovens e idiotas. Imagina se um de vocês me aparece com uma menina grávida aqui em casa? Precisam aprender muitas coisas ainda.

— Ah não, você não vai ter aquela conversa sobre como as crianças são feitas, né? — Kankuro apontou na direção dela e Temari cruzou as pernas sorrindo de canto confirmando que era aquilo mesmo que aconteceria. Quem melhor que ela para conversar com os dois sobre aquilo? Seria constrangedor demais se fossem os pais. — Temari, se fosse para alguém aparecer grávida, já teria acontecido. Não somos burros. — E voltou as costas para o videogame. Gaara deu de ombros concordando e se virou também.

Temari foi compreendendo aos poucos, os olhos arregalando enquanto as palavras de Kankuro iam fazendo sentido. Diante dela, dois rapazes crescidos que davam mais força para o pensamento dela de que o tempo passava muito rápido.

Mas ela não queira acreditar. Aqueles pequenos projetos de catarrentos que ficavam correndo e gritando atrás dela querendo atenção, querendo impressionar... Dois molecotes briguentos que ela tinha que dar umas porradas quando começavam a brigar, que defendia dos grandalhões da escola e ajudava com o dever de casa. Eles eram seus irmãozinhos.

— Vocês dois não são mais virgens? — a sua voz saiu meio travada, meio falhada, meio desacreditada.

Já a risada dos dois foi forte, uma gargalhada que durou quase um minuto.

— Ai Tema… — Kankuro a olhou por cima dos ombros limpando o canto dos olhos — Você é realmente engraçada, sabe?

Gaara balançava a cabeça ainda rindo e olhando para a TV com o joystick na mão.

— Gaara, você também já...?

Temari jogou as costas no sofá, seus irmãozinhos crescendo na frente dela e ela não sabendo quando aquilo havia acontecido.

Ela só conseguiu ver as orelhas de Gaara ficando vermelhas e Kankuro rindo da cara dele.

— Claro que já, eu namoro. — respondeu resmungando e Temari quis morrer ali. — Mas me deixa em paz, eu nunca perguntei essas coisas sobre você.

— Porra! E eu nem quero saber! — Kankuro gritou ficando vermelho também — Nunca fale sobre isso na minha frente, não quero nomes, não quero nem imaginar uma coisa dessas. Que nojo! Por mim a Temari nunca teria beijado na vida se eu não tivesse visto ela atrás da escola com aquele cara. Meus olhos! Por causa daquele dia só fico com garotas que não têm irmãos porque penso no sofrimento deles...

Temari passou a mão pelo rosto ignorando o drama de Kankuro com uma lembrança de quatro anos atrás quando ele a pegou ficando com um primo do Itachi. O que estava acontecendo ao seu redor?

Levantou-se do sofá de uma vez, olhou para os dois sem saber o que falar, ambos já estavam de costas jogando novamente. Ela balançou a cabeça descrente e tentando aceitar que eles haviam crescido, assim como todo mundo ao redor dela e foi para o quarto.
De banho tomado, pijama no corpo e a cabeça mais leve, ela se jogou na cama e respirou fundo. Que dia…

Não iria estudar, decidiu, iria assistir um filme pelo celular até pegar no sono. Esticou-se para pegar o aparelho esquecido dentro da bolsa e a primeira surpresa foi ver uma ligação perdida de Shikamaru. Se viu sem vontade de retornar, não precisava mais falar com ele e estava mal humorada. Mas seu dedo a desobedeceu e deslizou pela tela ligando de volta.

Ok, ela só iria dizer que já tinha resolvido o que tinha para resolver, talvez ele estivesse preocupado ou arrependido de ter desligado daquela forma… quem sabe?

Chamou duas vezes e ela já queria se bater por estar ligando de volta quando ele atendeu.

Hey, desculpe desligar daquele jeito, não podia falar naquele momento. Precisa de alguma coisa?

Ele não parecia preocupado, assustado, arrependido ou qualquer outra coisa. A voz dele parecia mais grossa no telefone, ainda preguiçosa e arrastada, mas gostosa de se ouvir.

Temari se arrumou na cama incomodada com a linha de seus pensamentos.

— Não queria atrapalhar vocês, me desculpe. — soou mais sarcástica do que ela queria, mas já tinha ido — Só queria falar com meus irmão, mas já os encontrei.

Vocês? — ele se atentou ao detalhe e o tom dele mudou um pouco.

— Estava boa a festa lá no Naruto? Pena que a mãe dele chegou e atrapalhou tudo, não é? — riu um pouco, mas estava irritada.

Na verdade não sei, não estava lá. — ele respondeu e parecia desconfiado, um pouco cuidadoso ela percebeu. Então onde ele havia ido? Não que aquilo fosse de interesse dela, mas…

— Onde estava?

Como?

Temari bateu na própria testa. O que estava acontecendo com ela? Não queria nem saber o que ele tinha feito, era só uma amiga dele mas ainda assim não eram íntimos a esse ponto. E pelo jeito que havia falado ao telefone, ofegante, certamente que ele estaria com uma garota em um lugar mais calmo, sem ninguém por perto, ainda que tivesse música alta. Era a cara dele fazer aquilo, afinal ele era diferente, parecia não querer se expor como os amigos. Mas tudo isso era inútil, porque não dizia respeito a ela.

— Foi mal. Bom, obriga…

Está perguntando sobre a hora que não pude te atender? — ele a cortou e ela escutou som de tecido, como se antes ele estivesse deitado e agora houvesse se sentado.

— Não é da minha conta, só fiquei curiosa. Não precisa responder.

Eu estava dirigindo. Minha mãe tinha cortado o dedo enquanto fazia o jantar e eu estava indo buscar ela para levar ao hospital.

Temari se sentiu a pessoa mais idiota do mundo. Bateu na testa novamente.

— Ela está bem? Foi muito profundo?

Precisou levar dois pontos, mas ela está bem.

E os dois ficaram em silêncio. Temari estava com vergonha e não sabia o que ele poderia estar pensando sobre sua pergunta repentina. Era melhor ele não criar suposições ridículas como um interesse nele, não era aquilo, ela só estava irritada por não conseguir falar com os irmãos e ter o telefone desligado na cara dela. Era aquilo. Mas agora sentia vergonha. Muita.

— Eu ouvi som alto, achei que estivesse lá.

Ele respirou fundo e ela escutou som abafado de tecido novamente. Ele teria se deitado?

A música é um dos artifícios que uso para me acalmar. Ela tinha me ligado falando que precisava ir ao hospital e eu… — ele respirou fundo novamente e ela puxou o lençol fino até o queixo, os braços se arrepiaram com o som da respiração dele contra o microfone. Então ele riu um pouco rouco — Bom, a música também funciona com mulheres problemáticas. Aprendi com meu pai.

A mudança brusca de assunto fez Temari quase agradecer, mas ela queria saber como ele estava. Shikamaru quase havia desabafado sobre seu estado de preocupação, já havia sido um passo considerável na relação deles, mas claro que ele não faria algo assim até o fim. Entretanto, aquela segunda informação a deixou atenta.

— Está falando de mim?

Claro.

A resposta curta dele cheia de certeza e com pontas de riso a deixou perplexa, ainda que tivesse vontade de sorrir. Bocejou sem conseguir segurar e ele ouviu.

Vou deixar você dormir. Hmm…  — Temari aguardou o que ele dissesse, até um pouco ansiosa — Boa noite.

Ela suspirou, não sabia o que esperava, mas esperava que ele dissesse algo.

— Boa noite. — sorriu para o escuro e pensou em algo que queria ouvir — Temos que marcar aquela revanche no shogi, hein, preguiçoso?

Ele riu do apelido e ela se virou na cama, se ajeitando melhor. Um sorriso que ela não tinha ciência brincando sutil em sua boca.

Só aparecer, problemática.

 

♚♛

 

2 meses depois

 

Temari saiu da segunda prova naquele dia com a cabeça doendo. Era a última semana de provas e havia estudado muito para não precisar voltar para recuperar nota. Depois daquilo, um mês e meio de férias que ela nem sabia como iria aproveitar, só não queria pensar em Relações Públicas ou qualquer coisa relacionada à universidade.

Andava pelos corredores quase vazios até a sala de reunião da Comissão de Planejamento, tinha que ir embora rápido porque tinha um compromisso saindo de lá. Iria apenas deixar as suas coisas lá e pegar as assinaturas de presença dos integrantes. Um grupo que começara o ano com 10 pessoas, diminuira para 6 e agora somente 4 davam conta do serviço. A chegada de Shikamaru, porém, havia mostrado que era desnecessário mais gente na comissão. Eram poucos, mas eram eficientes.

Abriu a porta sabendo estar um pouco atrasada, mas ninguém iria reclamar. Idate, como sempre, estava sentado desenhando na mesa central, mas perto da janela estavam Shikamaru e Shiho sentados um em frente ao outro na pequena mesa de leitura com um tabuleiro de xadrez na frente deles.

Pouca coisa havia mudado naqueles dois meses, uma delas era a vaidade estranha de Shiho que vez ou outra aparecia com um brilho labial, brincos que irritavam suas orelhas e blusas com decote que não apareciam quase nada por sua falta de peito, mas o interesse por Shikamaru não havia mudado, talvez até mesmo aumentado ao ponto dela tentar chamar a atenção dele. Sem sucesso, claro.

— Boa tarde, Idate. Foi bem nas provas? — sorriu para o garoto que ergueu a cabeça assustado.

— Fui nada. A inteligência ficou toda com meu irmão — riu maroto erguendo os ombros, ele realmente não se importava com aquilo. — E você?

— Eu sou a irmã inteligente. — respondeu erguendo um ombro e Idate riu concordando. Ela jogou a bolsa em cima da mesa e viu Shikamaru a olhar de canto antes de fazer seu movimento no jogo. Apenas acenou uma vez com a cabeça, Shiho nem a olhou, metade do batom já estava no seu dente depois de tanto morder o lábio pensando. Temari mandou um olhar divertido na direção de Idate sobre os dois ali jogando, e o rapaz olhou para trás sem entender e sorriu balançando a cabeça voltando a desenhar. Temari andou até eles, Shiho enfim reparou sua presença e deu um sorriso nervoso. — Como está indo?

Perguntou apenas por perguntar. Só de olhar rapidamente o tabuleiro conseguia ver que Shikamaru tinha três formas de ganhar rápido, talvez até mais se quisesse se esforçar, mas ele parecia não querer terminar o jogo tão rápido. Ela parou ao lado dele e apoiou uma mão nas costas da cadeira, ergueu uma sobrancelha o questionando quando ele preguiçosamente levantou a cabeça para olhá-la. Shikamaru fez uma careta pequena, querendo dizer que não estava levando a sério, ela sorriu de canto.

— Ele é bom — Shiho disse voltando a atenção ao jogo — Acho que logo acabamos aqui. — terminou com uma pontada de esperança.

— Não faça isso. — Temari a parou antes que ela tocasse na peça. Shiho pulou assustada no lugar e Shikamaru ergueu uma sobrancelha para ela. Temari se posicionou ao lado de Shiho e deu o comando — Mova o cavalo para o lado do bispo dele.

— Mas, aí…

— Faça.

Shiho fez o movimento e Shikamaru mudou sua postura, um sorriso de compreensão desenhando nos lábios finos. Ele moveu a torre ameaçando a rainha dela, então Temari inclinou-se diante do cruzar de braços dele a desafiando.

— Proteja a rainha com o peão.

Shiho se atrapalhou e quase tocou a peça errada, então Temari se adiantou e moveu o peão o olhando com provocação. Shikamaru moveu a torre e levou o peão dela, cruzou os dedos sobre o queixo e esperou no mesmo tom que ela.

Temari analisou o tabuleiro e quis dar um tapa na cabeça oca de Shiho, era quase impossível vencer. Quase. Moveu o único peão que ainda sobrevivia forte e ele levou sua rainha. Inocente. Temari aumentou o sorriso e posicionou o cavalo onde queria, sem que a torre dele pudesse interferir.

— Xeque.

— Sacrificou sua rainha?

Shikamaru riu sem acreditar. Os ombros antes caídos se levantaram e a postura mudou, os olhos se fecharam e as mãos se juntaram em uma posição que ela já havia visto antes. Curiosa o observou pensar, achando engraçado tê-lo feito chegar a esse ponto, o de se isolar do mundo para criar estratégias diante de um desafio. Ela gostava de ser um desafio para ele em especial.

Então ele abriu os olhos e ela sentiu um leve frio subir por sua coluna. Ele estava pronto.

Os olhos amendoados estavam vivos, brilhando astutos e sábios por uma vitória que ele já previa, o sorriso pequeno que não era de deboche, mas de agradecimento por proporcionar um pouco de diversão.

Não demorou nada para ela receber o fatídico xeque-mate, mas não ficou chateada ou com sede de revanche, Shiho já havia estragado todo o jogo de qualquer maneira.

— Hey, preguiça, vai desfazendo esse sorrisinho, só ganhou porque eu não comecei a jogo.

— É, eu sei. — ele se levantou como um velho e jogou a alça da mochila por cima do ombro. — Shiho, você é uma ótima oponente.

Temari então se lembrou da presença da outra ali, afundada na cadeira por trás dos óculos grossos.

— Acho que não sou não. — riu um pouco sem graça e Temari segurou a vontade de revirar os olhos. “Coitadismo” era a atual arma que Shiho usava com Shikamaru, não dava certo do jeito que ela achava, mas sempre tinha uma resposta dele, mais por ele ser uma pessoa legal do que por sentir algo por ela.

— É sim, podemos jogar mais vezes quando voltarmos das férias.

— Seria ótimo. — ela sorriu brilhante e Temari, então, revirou os olhos dando as costas para os dois.

— Assinem a folha de presença e estarão liberados da comissão. — Colocou a folha na frente de Idate que assinou sem sair do lugar voltando a desenhar o que quer que fosse.

Shikamaru se aproximou junto de Shiho e Temari viu uma cartelinha de comprimidos cair na sua frente na mesa. Ela ergueu os olhos para Shikamaru que bateu na própria têmpora duas vezes e desviou os olhos para a folha assinando-a. Ela deveria estar com cara de quem estava morta de dor de cabeça para ele perceber tão fácil.

E como de costume foram juntos para o estacionamento conversando sobre as maiores banalidades possíveis. Todo dia arrumavam assuntos completamente aleatórios para discutirem até chegarem ao carro deles, aquilo era quase uma terapia para os neurônios de Temari.

— Então uma pessoa conseguiria viver um mês sem comer? — Temari questionou já dentro do estacionamento — E sem dormir?

— Eu morreria em dois dias se não dormisse minhas dez horas diárias.

— Dez horas, Shikamaru? Fracamente! — Ele ergueu os ombros e ela riu balançando a cabeça. — Liberdade, enfim. — ela suspirou parando ao lado do carro e tirando as chaves do bolso.

— Sim. Bom, aparece em casa quando der, minha mãe não para de falar de um bolo que você prometeu fazer com ela. — Shikamaru revirou os olhos e Temari sorriu assentindo.

Temaaaaaari! — Tenten apareceu correndo pelo estacionamento e parou ao lado de Shikamaru que acenou uma vez com a cabeça ao cumprimento sussurrado e sem fôlego dela.

— Te ligo. — Ele disse se afastando das duas e entrando na caminhonete mais a frente.

— Precisando de carona? — Temari perguntou abrindo a porta do motorista com um sorriso no rosto. Tenten assentiu ainda ofegante e se sentou no carona pousando a bolsa no colo. — Férias?

— Ainda nem consigo acreditar. — Tenten passou a mão pela testa e jogou a franja curta para trás. — E você?

— Férias. — seguiu a caminhonete de Shikamaru até a saída do campus e ambos buzinaram pegando direções diferentes. — Vai viajar?

— Vou nada, mas… — se ajeitou no banco sorrindo para Temari — Vou sair com Neji.

— Não acredito que ainda estão enrolando desse jeito. Se fosse comigo…

— Hey! Nem vem! Você e o garotão ali estão num rolo mais enrolado que o meu.

E Temari demorou um pouco para entender o que Tenten dizia, mas quando entendeu olhou para a amiga como se tivesse nascido uma segunda cabeça ali.

— Tá maluca? O Shikamaru e eu?

— É. Vocês dois só andam juntos, fazem quase tudo juntos e parecem conversar só com os olhos. A tensão é assustadora. — Tenten fingiu sentir medo esfregando os braços e riu da careta de Temari.

— Somos muito amigos. Eu jamais sairia com um cara como ele.

— Oxi, por quê não? — Tenten questionou e Temari não soube o que responder na hora, mas usou a curva que fazia como justificativa para sua demora.

A resposta era óbvia, mas não entendia porque Tenten não conseguia ver aquilo. Era ridículo pensar que os dois tinham alguma coisa só por andarem juntos e pensarem igual.

— Ele tem a idade do meu irmão mais novo. E é muito mole, muito passivo. Não gosto.

— Mas você entraria em atrito com um homem que fosse muito incisivo, não? Você é esquentadinha…

— Esqueça isso. — decretou olhando feio para frente, aquela conversa era sem pé nem cabeça — Você está mudando de assunto.

— Não estou não. Na real, eu acho que fazem até um casal bonito…

— Ah, cala a boca.

Tenten riu e Temari revirou os olhos querendo rir. Queria ver a reação de Shikamaru se ele tivesse ouvido algo como aquilo. Um casal? Jamais.

— Só estou dizendo.

— Ok, deixando sua falta de noção de lado, me fala sobre esse encontro aí.

— Bom —Tenten deu uma risadinha sem jeito, meio malandra meio envergonhada e Temari a olhou com estranheza quando estacionou na frente da casa da amiga — Eu chamei o Lee também, um amigo de infância que temos em comum.

E Temari deu um ardido tapa na própria testa.

— Eu desisto de você, Tenten.

— Ah, o que você faria então? — ela cruzou os braços sobre a malha de ginástica e Temari deu de ombros.

— Se eu quero alguma coisa, eu pego para mim. Não tenho medo de rejeição, um “não” já temos de qualquer forma. Eu não sou mulher de esperar uma iniciativa, eu a tomo. Só não estou com alguém porque ninguém me interessa.

— Ou porque quem te interessa é novinho demais e seu orgulho não deixa? — Tenten cutucou abrindo a porta do carro e correndo para fora antes de Temari acertar um tapa em seu braço.

— Para de viagem e chama logo esse Neji para fazer alguma coisa só os dois. — bufou impaciente, não estava brava, mas já começava a irritar um pouco aquela insinuação de Tenten.

— Ok, vou ver como vai ser esse “encontrão” e talvez eu chame. Até mais!

Temari acenou saindo com o carro direto para o shopping. Olhou as horas no celular e viu que estava dentro do horário marcado com Izumi e Itachi, iriam assistir um filme e Itachi disse que iria apresentar um cara para ela. Fazia tempo que não ficava com ninguém e aceitou sair em casal para ver no que dava. Não tinha ideia de quem poderia ser a pessoa, mas precisava passar em um banheiro antes para trocar de roupas e dar uma arrumada na maquiagem quase imperceptível.

As férias haviam chegado enfim, e ela queria tirar aquele peso acadêmico das costas e se divertir como uma jovem adulta que era. Torcia internamente para que os amigos não levassem um homem estranho para conhecer, não conseguia disfarçar a cara de ranço se não gostasse da companhia. Terminou de passar o batom no banheiro fresco do shopping e enviou uma mensagem para Izumi perguntando onde estavam.

Eles já sabiam que ela poderia se atrasar por conta da universidade, então a cumprimetaram com surpresa vendo que havia chegado bem na hora. Izumi parecia radiante diante de um encontro duplo com Temari, já Itachi um pouco silencioso com aqueles olhos de estudante de psicologia.

— É bom você não estar me analisando, Itachi. — Temari apontou o dedo na direção dele e Itachi sorriu.

— Não estou. Ah, ele chegou.

E Temari achou irônico ser exatamente aquele cara, aquele mesmo que Kankuro a pegou beijando atrás da escola: Shisui Uchiha. Ele a reconheceu e sorriu de forma encantadora. Temari tinha que admitir que havia crescido e virado um homem muito bonito, ainda com aquele sorriso de menino e todo meigo.

— Temari! Que surpresa boa. Como você está? — ele a cumprimetou com um beijo no rosto e ela sentiu um perfume familiar. O mesmo do Shikamaru. Ergueu as sobrancelhas com agrado, aquele perfume era mesmo muito bom, mas a diferença é que Shikamaru sempre tinha um pouco de nicotina misturado, o de Shisui era mais… puro.

— Faz tempo que não te vejo, estou muito bem e você?

Itachi ficou surpreso por já se conhecerem e os deixou conversando indo ao lado com a noiva segurando em seu braço. Temari não havia achado nada mau a escolha, e até podiam, de repente, fazer um remember dos velhos tempos. Shisui era uma graça, não havia mudado mesmo, sempre sorridente, olhando com atenção enquanto ela falava, sempre muito cavalheiro e oferecendo-se para pagar a pipoca.

Mesmo com tudo isso, Temari começou a se cansar. Foi se lembrando de como ele era e de que não havia mudado muito. Ele parecia meio inseguro e falava um pouco afobado, como se quisesse agradar ela a todo custo. Aquilo, depois de um tempo, era irritante.

E não tinha mais assunto com ele quando o filme acabou e ela preferiu conversar com Izumi quando sentaram numa choperia. Era tudo muito agradável e a conversa ficou melhor quando Itachi desistiu de deixá-los conversando sozinhos para incluir todo mundo no assunto.

— Nos conhecemos no clube de xadrez no último ano, não? — Itachi se lembrava de como havia conhecido Temari quando Shisui perguntou.

— Sim, aquele ano ela ganhou o troféu. — Izumi sorriu e Temari balançou a cabeça com a caneca de chopp na boca.

— Não foi uma vitória justa, lembram? Shikamaru desistiu, mas depois eu tive minha revanche e digo a vocês que venci. — respondeu orgulhosa e Shisui se mostrou interessado.

— Além de linda é inteligente ao ponto de jogar bem xadrez? Nunca soube jogar. — riu se lembrando com Itachi de zoar o primo por jogar.

Izumi sorriu travessa com o começo do flerte, mas Temari teve vontade de rolar os olhos para ele. Tentativa fraca.

— Não precisa ser inteligente, tem que ser esperto para jogar xadrez. Shikamaru me ensinou a jogar shogi, conhecem? — todos balançaram a cabeça em negativa — Pensa em um jogo genial? Aquele garoto é impressionante.

Itachi riu um pouco concordando, Shisui moveu-se um pouco na cadeira e Izumi olhou estranho para Temari, ela ergueu os ombros sem entender a reação dela.

— Shikamaru é realmente impressionante. Tem te ajudado muito na Comissão? — Itachi perguntou atencioso e Temari estalou a língua.

— Ele é um preguiçoso. Leeeento. Mas quando se propõe a fazer o planejamento eu nem preciso me preocupar. Odeio ter que falar duas vezes, e acho que ele já entendeu isso. — riu consigo mesma se lembrando do jeito que ele resmungava quando ela o perseguia com ordens. — Mas ele entende tudo muito rápido, é um garoto e tanto. Ele tem o dom de saber o que eu quero sem eu pedir, pensamos igual e isso ajuda demais na comissão… — Calou-se com o olhar divertido de Itachi em sua direção, o atônito de Izumi e o desconfortável de Shisui. Limpou a garganta constrangida. — Hmm, e está estudando onde mesmo, Shisui?

Tinha que se lembrar que estava em um encontro, mesmo que o rapaz em questão já tivesse levado toda a sua cota de paciência com aquele jeito cuidadoso e todo príncipe. Mesmo respondendo as perguntas dela, ele praticamente gaguejava e não conseguia sustentar o olhar dela por muito tempo, bebia muito rápido e aquilo só piorava mais a situação enrolando a língua e rindo em momentos aleatórios.

Entretanto, ele havia ficado um pouco mais desinibido, e os pedidos de socorro com os olhos eram ignorado pelo casal de noivos que só observavam divertidos a interação dos dois.

— Gosto dos seus olhos, e do jeito que anda. Tenho um fraco por mulheres que andam como você. — Shisui disse muito perto e Temari já estava segurando a vontade de empurrá-lo. Se antes agradecia ter sido Shisui o cara que Itachi queria te apresentar, agora sentia completamente o contrário. — E você? O que gosta em um homem?

— Bom senso — respondeu ácida e Izumi segurou o riso. Shisui sorriu de canto achando estar tendo sucesso e Itachi já ia entrando na conversa para salvar Temari, mas ela não se calou aí. — Gosto de homens que tenham bom senso, que entendam quando estão sendo inconvenientes e que eu não precise dizer tudo o que eu quero pois ele já vai saber, gosto de homens inteligentes, espertos, à frente dos outros, aqueles que surpreendam, que me tragam desafio e não sejam um capacho entregue numa bandeja de prata. E gosto de costas largas. — terminou sorrindo sarcástica olhando por cima da camiseta folgada no corpo magricela.

Deixou-o falando sozinho e olhou brava para Itachi e Izumi que sussurravam entre eles dando risada. Não havia mentido sobre os seus gostos, e realmente não havia pensado sobre aquilo outras vezes, as coisas só foram saindo e era bom Shisui ver que não se encaixava.

Pegou o celular para ver a hora e mostrar para o rapaz que estava entediada quando uma mensagem a fez sorrir.

“Ocupada mais tarde?”

Era Shikamaru, duas horas atrás. Respondeu sem se importar em estar sendo grosseira com as companhias. O que era de Itachi e Izumi estava guardado.

“Estava. Por quê?”

Imediatamente ele ficou on, mas demorou uns segundos antes de abrir a conversa e ela ver os dois tracinhos ficarem azuis.

Ele digitou. Pausou. Digitou.

Temari estava curiosa.

“Ia ver se queria fazer algo”

Ela ergueu as sobrancelhas surpresa.

“Jogar shogi”

E murchou. Iria rir se ele a chamasse para sair, e riu de si mesma pensando que ele a chamaria. Era Shikamaru afinal, ele jamais faria algo como aquilo. As coisas que Tenten disse estava deixando ela doida, riu novamente e começou a digitar. Não havia problema nenhum sair com Shikamaru, como amigo, claro.

“Estou no meio de um encontro” e mandou uma piscadinha.

Sorriu esperando a resposta dele tirando sarro de sua cara ou algo parecido, mas ele visualizou e não respondeu nada por um tempo grande. Temari já estava estranhando e Shisui quase exigia sua atenção ao lado quando ele respondeu.

“Desculpe atrapalhar, depois nos falamos.”

E ficou offline.

Temari se sentiu mal, e nem sabia explicar para si mesma o porquê. Mas enquanto fingia ouvir o que Shisui falava e depois ouvia as desculpas de Itachi e Izumi pelo fracasso da missão “Desencalhar a Temari”, ela só pensava a mesma coisa: Teria sido mais divertido jogar shogi com Shikamaru.




betado por MrsFox e Mirys


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Notas finais do capítulo

Costas largas, hein? hihihihi danadinha
Alguém mais percebeu que temos uma ciumenta aqui??? HSUAHUSHAUSAH Pena que ela ainda não percebeu, mas as pessoas percebem, Temari hihihihih E esse final com Shikamaru não fazendo a garcinha que ela esperava???? hmmmmm
No próximo teremos uma referência que eu simplesmente AMO!!! Volto mais rápido dessa vez ;)
Um grande beijo!