Chess escrita por Pan Alban


Capítulo 7
Xeque do Pastor


Notas iniciais do capítulo

Hello!!!!
Falei duas semanas? HAHAHAHAH Eu corri adiantar esse capítulo para dar de presente de aniversário para uma das pessoas mais legais e talentosas que conheci no fandom ♥ Vanessa *-* Espero que goste do presente! Muitas felicidades, inspiração e nanquim!!!

Aos demais, boa leitura *-*



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Ele estava encurralado na parede e a olhava com olhos arregalados. Era uma satisfação sem tamanho. Temari aproximou-se mais e o encarou com tanta seriedade e altivez que o viu engolir em seco.

Ótimo.

— Então por trás desse sorrisinho fácil tem um babaca escondido pronto para atacar colegiais? — ele abriu a boca para falar, mas bastou um olhar dela para que se calasse — Você caiu demais no meu conceito, Sai.

— Você não tem nada a ver com isso, Temari — Ele tentou parecer mais intimidador, mas o sorriso ácido de Temari fez a voz dele falhar.

— O ruivo que te bateu é meu irmão mais novo, tenho mais um que é maior que você. Mas não falo isso para se preocupar com eles, não mesmo. Esse soco foi eu quem ensinou a ele na prática, além de muito mais — se aproximou mais um pouco, as pessoas passavam pelo corredor ignorando os dois, que mais pareciam amantes conversando baixinho. Temari inflou as narinas e ergueu o queixo, Sai nunca seria tão intimidador — Se não quer ter a dignidade suja por apanhar de uma mulher, sugiro que não pense em perseguir os meus irmãos, ou minha cunhada, ou qualquer um que tenha relação com eles.

— Você… na sua posição não deveria fazer ameaças.

— É só um aviso, Sai. — deu duas batidinhas no ombro dele e sorriu com o máximo de cinismo que tinha. Sai se assustou com o toque, mas fingiu bem estar completamente forte em suas pernas — Eu posso ser uma pessoa muito cruel.

E o deixou daquele jeito, grudado na parede e suando bicas. O sorriso agora era de satisfação, novamente. Duvidava dos meios “pacíficos” do tal amigo de Kankuro e duvidava ainda mais que Sai não tentaria retaliar. A breve conversinha que teve com ele poderia não ser o aviso necessário, mas por hora parecia o suficiente. Se ele tentasse algo, ela decididamente iria acabar com a raça dele.

O calor estava insuportável. Temari pegou seus livros e foi até a mesa abaixo do ar condicionado na biblioteca, mas, parecia que todo mundo teve a ideia de ir estudar e se refrescar na biblioteca, o ar não estava dando conta.

Abriu a mochila resmungando e tirou seu pequeno leque de lá, abanou-se com brutalidade até sentir que estava mais fresco e voltou a ler sem parar o movimento da mão.

Em sua cabeça calculou quanto tempo tinha para a próxima aula e quantas páginas poderiam ser lidas. Concluiu que poderia chegar até o final daquele capítulo com folga, isso se Shion não pulasse na cadeira em frente a ela e tirasse completamente a concentração que Temari penou para conseguir.

— Shiho disse que entrou um gatinho na comissão. Vi ele no grupo do whats, mas não tinha foto. — sussurrou olhando empolgada para Temari. — Quem é?

Temari suspirou cansada e fechou o livro com força.

— Foi a terceira reunião consecutiva que você falta e me aparece para perguntar sobre homem?

Shion não se abalou com a carranca de Temari, ou pelo menos fingiu bem. Encostou as costas na cadeira e suspirou pesadamente.

— Todas justificadas, mas semana que vem eu vou estar lá com certeza. — ela ergueu os ombros e Temari cerrou os olhos na direção dela.

— Não se preocupa com isso — sussurrou se inclinando um pouco na mesa. Shion era confiante demais para ver de primeira a ameaça na primeira sentença — Está expulsa.

— O quê? — Arregalou os olhos claros como se aquilo fosse uma afronta.

Temari arqueou uma sobrancelha a desafiando a falar algo, mas tudo o que Shion fez foi gaguejar, enfim percebendo quem Temari era.

— Preciso enumerar os motivos?

— Você não tem autoridade para fazer isso. — Shion era mimada, Temari conhecia, não ia dar o braço a torcer tão fácil.

— Eu tenho e se não tiver eu te expulso do mesmo jeito. Estou fazendo um favor para o grupo e para você, garota. Vai atrás de outra coisa que te interessa, na Comissão você não coloca mais os pés.

— Eu vou falar com um superior. Você se acha demais, Temari. — Shion elevou o tom da voz esquecendo-se estar na biblioteca, várias pessoas olharam para as duas com cenhos franzidos.

Temari respirou fundo e se levantou, apoiou as mãos sobre a mesa e olhou firme para Shion. A sua paciência era curta e atrapalhar a hora programada para estudo não ajudava muito na situação daquela menina.

— Me escuta bem, Shion, você não vai querer estender isso comigo…

— Temari. — E as duas olharam para o lado e Temari relaxou ao ver Itachi olhando para ambas com as sobrancelhas erguidas — Algum problema aqui?

— Nenhum problema, não é Shion? — Temari nem se abalava exteriormente, mesmo que por dentro quisesse explodir. Ficou em pé e cruzou os braços esperando uma resposta para sua pergunta retórica. O mais sensato para Shion seria sair dali calada. E, mesmo que desse uma lufada insolente, foi o que ela fez. — Ainda bem que você apareceu, eu ia acabar me exaltando.

— E não queríamos isso, não é? — Itachi riu colocando sua pasta com alças em cima da mesa e sentou na cadeira que Shion ocupava. Temari olhou feio para quem ainda a encarava antes de voltar a se sentar — Eu senti sua intenção assassina de longe.

— As pessoas abusam, Itachi… elas abusam.

Itachi riu tirando seu próprio livro para começar a leitura. Temari até tentou retomar de onde havia parado, mas o desfalque na comissão não a deixava em paz, eram dois desfalques em só dia.

— Preocupada com alguma coisa? — Itachi a olhou por trás dos óculos de leitura daquela forma tranquila e amigável dele.

Temari balançou um pouco a cabeça.

— Só estresse, você sabe, o de sempre. — puxou um pequeno sorriso dando de ombros e Itachi riu.

— Realmente é muito mais fácil te ver estressada do que sorrindo.

— Tenho mais motivos para matar alguém do que para distribuir sorrisos.

Itachi riu balançando a cabeça como se ela não tivesse mais jeito. Já ela, suspirou dramaticamente abrindo o livro mais uma vez para tentar ler, mas aquele não seria o dia que conseguiria concluir aquela leitura.

— Temari? Posso falar com você?

E ela realmente ficou surpresa quando viu Shikamaru ali olhando para Itachi e o cumprimentando com um aceno de cabeça. Ele estava cheiroso, foi a primeira coisa que reparou, a segunda foi a camiseta verde escura com a sombra de um cervo desenhado bem no centro.

— Shikamaru? É você o garotinho dos campeonatos de xadrez, não? — Itachi estendeu a mão para ele e Shikamaru a apertou ainda em pé. — Sou Itachi Uchiha.

— Sou — coçou a nuca com um sorriso pequeno — Sim, irmão do Sasuke. Lembro de você.

— Você é uma lenda, garoto. Por onde andou? Como veio parar aqui? — Itachi perguntou amigável mais uma vez.

— Senta aí. — Temari apontou a cadeira ao lado dele e Shikamaru a arrastou jogando sua mochila em cima da mesa, o movimento a fez sentir aquela leve fragrância de nicotina. Apertou os olhos na direção dele, e percebeu que ele fingia ignorar.

— Colégio militar — respondeu de seu típico jeito molenga, as sobrancelhas entortadas como se a lembrança fosse um pouco desagradável. Temari até deixou quieta a censura que o daria por estar fumando, a ideia dele tão novo acabando com a vida era inconcebível, e prestou atenção na história que tinha curiosidade em saber — E respondendo sua segunda pergunta, o ensino de lá é diferente — deu de ombros e Temari esperou por mais — entrei na faculdade mais cedo, então.

— Entendi. — Itachi sorriu impressionado, já Temari estava frustrada. Queria saber mais, mas parecia que Shikamaru não dava a mínima para os detalhes e para a curiosidade alheia.

— Ok, e o que você quer?

Ele a olhou e por um segundo antes de tirar um caderno da mochila e abrir em frente a ela. A letra dele era impressionantemente bonita, o caderno era completamente organizado, muito mais que o dela, e com anotações que se diferenciavam pelas cores das canetas. Era o caderno dos sonhos. Passou os olhos impressionada pelo que ele havia escrito e percebeu ser algo relacionado à um campeonato interescolar de engenharia.

— Eu fiz um esboço com base no que você disse para a organização do evento. — e ele começou a apontar os detalhes que havia pensado, mostrou a análise SWOT* que havia feito e as descrições de cada ameaça, oportunidade, fraqueza e força diante daquilo. Ele falava daquele jeito calmo, com a voz controlada, mas o seu olhar era sério, dando anos a mais em seu rosto de menino. Temari não sabia nem o que falar, ele sozinho havia feito o que o grupo inteiro deveria fazer. E quando ela o questionou sobre porque ter feito aquilo sozinho, ele simplesmente respondeu — Estava entediado.

E ela riu balançando a cabeça como se nenhuma palavra fosse o suficiente para expressar a surpresa dela. Ele pareceu ficar tímido com aquilo, desviando os olhos um pouco enrubescido e coçando o ombro.

— Para quê uma Comissão cheia de imprestáveis se eu tenho você? Caramba. Mas, temos que discutir alguns pontos que podem ser melhorados. E para de se coçar que eu lembro daquele formigueiro.

Ela voltou a rir com a careta que ele fez, se aproximou sussurrando para não atrapalhar os outros e apontou os pontos que deveriam ser alterados ou melhor detalhados. A presença do pobre Itachi foi esquecida completamente.

 

♚♛

 

Se tinha algo que Temari detestava mais que o calor era praia. Moravam naquela cidade há mais de cinco anos e raríssimas vezes havia ido a praia, diferente de Gaara e Kankuro que já conheciam cada espaço de chão ali. O bom é que o lugar não estava cheio, o ruim é que o pé já se enchia de areia.

Kankuro havia se adiantado para cumprimentar os amigos que se reuniam abaixo de um guarda-sol gigante, enquanto Gaara andava ao lado da irmã sem dizer nada, a camiseta já estava sobre o ombro e ela já olhava aquela brancura toda vendo se precisava de mais protetor solar. Já Temari usava uma short levinho e uma regata por cima do biquíni, estava tão quente que um mergulho não faria mal algum.

Estavam quase todos os amigos dos irmãos que ela conhecia ali. Podia ver Naruto, Sasuke, a namoradinha de cabelo colorido, Chouji, uma mocinha de cabelo preto que ela não conhecia, alguns garotos que ela não lembrava o nome e...

— Meu ursinho! Estou tão feliz que você pôde vir!

Ino.

Temari encarou com estranheza aquilo, a menina era muito grudenta, pelo visto. Correu até o Gaara e se jogou em cima do pobre. Ela estava somente de biquíni e a Temari viu o rosto de Gaara ficando gradativamente vermelho a cada segundo que se dava conta daquilo. Soltou um riso anasalado e assoviou chamando a atenção de Kankuro.

— Onde vai colocar esse guarda-sol?

E a atenção dos garotos foi imediatamente para ela. Até mesmo as meninas olharam, elas tinham um pouco de fascínio na imagem de Temari, ainda mais a morena. Os meninos estufavam os peitos magrelos e sorriam com presunção na direção dela, alguns até passavam a mão pelo cabelo tentando seduzi-la, aquilo era normal e ela já ignorava, menos Kankuro.

— Bando de urubus. — veio resmungando na direção da irmã com o guarda-sol — Onde você vai ficar? Perto do Shikamaru? — perguntou com um bico.

— Posso ficar perto do seu amigo? — ela o cutucou achando graça na carranca dele. Queria só ver como ele ficaria quando ela arrumasse um namorado, seria irritante, mas por enquanto era engraçado.

— Do Shikamaru eu não ligo, ele é de boa. — respondeu ainda resmungando.

— Sim, vou fazer companhia para aquele preguiçoso. Ele já chegou? — seguiu o irmão para perto do grupo que já se espalhava. Os que já a conheciam a cumprimentaram, os outros olhavam por cima dos ombros ou acenava com a cabeça. Ela cumprimentava todos, não se sentia confortável no meio deles, mas não desprezava como já vira muitos dos colegas fazer.

— É, ele tá dormindo. — apontou para a direção de dois pés que começavam a aparecer no meio da roda. Chouji parecia velar o sono do amigo. — Agora a gente pode jogar vôlei e ter o Chouji no time.

Temari olhou aquilo sem acreditar. O pessoal conversava e alguns até gritavam, mas Shikamaru parecia imperturbável em seu cochilo. Ele estava estendido em uma toalha cor de rosa de praia, um braço cobria os olhos. Ele usava uma camiseta branca com um símbolo no canto esquerdo desconhecido para ela e bermuda verde, a metade aparente da perna dele mostrava o tanto de sol que ele não pegou ali.

— Vão lá, vou ler um livro até ele acordar. — ela colocou suas coisas no chão e armou a cadeira de praia. Colocou os óculos na cara enquantos a molecada corria até a beira água, alguns para nadar, outros para jogar vôlei de praia ou algo parecido.

Mas ela não leu nada, observava por trás dos óculos a interação dos adolescentes, mas principalmente de Gaara e Ino. Ela parecia ser muito exagerada, mas tinha uma atenção ao Gaara que parecia mesmo genuíno. Estava feliz por seu irmãozinho, ele mostrava estar feliz mesmo que de forma contida. Kankuro ainda era um bebezão, chutando areia nos outros e jogando os amigos na água.

Rolou os olhos com a encenação de maturidade do irmão do meio e olhou para o ser desacordado do lado dela. Ele dormia tão profundamente que parecia estar em sua cama no meio da madrugada, no ponto alto do sono, a boca estava até semi aberta. Era engraçado ver aquilo. Olhou mais atentamente para o símbolo na camiseta e conseguiu ler as iniciais embaixo de um brasão: EPM. E abaixo das siglas os dizeres: Estratego.

Não era difícil concluir que aquela camiseta era parte do uniforme da escola militar que ele estudou, mas queria entender o que significava aquelas siglas, o que ele teria feito lá, qual a diferença na estrutura e como havia chegado à universidade tão novo usando como argumento que ensino de lá era diferente.

Ele acordou quando ela ainda o olhava. Não abriu os olhos de repente, muito pelo contrário, espreguiçou-se esticando todos os membros, bocejou demoradamente e esfregou os olhos antes de abrí-los com uma careta de desagrado com o sol.

— Bom dia, preguiçoso. — Temari sorriu quando ele se assustou com ela ali do lado. Ela pousou o livro na barriga fingindo estar lendo antes e o olhou se sentar e aos poucos despertar. — Sabia que dormir desse jeito de dia acaba com seu sono a noite?

— Tsc. Faz tempo que chegou? Que horas são? — Ele se esticou até um celular no meio dos outros e viu as horas, resmungando que havia dormido pouco.

— Francamente. — Temari balançou a cabeça e acompanhou os olhos dele na direção dos amigos — Quer ir lá jogar um pouco? Fico aqui de olho…

— Não. Aliás, trouxe o xadrez. — E Temari, pela primeira vez, viu o sorriso convencido de Shikamaru. Ele ainda estava sonolento, mas tinha a capacidade de dar um sorriso daqueles e a acender para um embate. — Deixa só eu acordar primeiro.

E ela daria o tempo que ele precisava. Ela estava empolgada para jogar contra ele mais uma vez, ainda mais um jogo que ela sabia e tinha quase certeza que poderia acabar com ele agora. Ela havia treinado, pesquisado, estudado. Estava louca para a revanche, e por isso o queria 100%.

Levantou-se vagarosamente da cadeira e sentu-se de pernas cruzadas sobre a toalha cor de rosa. Shikamaru estava em pé procurando algo para beber no cooler ao lado do guarda-sol dele.

— Refrigerante? — perguntou ainda mexendo no cooler.

— Não, obrigada. — ela precisava de toda a atenção no jogo, não teria nada para distraí-la e não deixaria que ele a distraísse também. Não, nem aquele sorrisinho convencido de quem já contava com a vitória antes de jogarem.

Ele era muito esperto, certamente já tinha percebido que ela perdia a paciência fácil e aquele tipo de provocação a deixava irritada, então se concentraria e daria sua melhor cara de sonsa enquanto estivesse jogando. Seria indiferente a tudo que ele fizesse.

— Está pronta?

Isso se ele não tivesse tirado a camiseta.

— Estou. — desviou os olhos para o cooler e sem querer voltou para o peito dele. Era malhadinho…. — Acho que quero um refrigerante, sim.

— Sério? — ele resmungou jogando a latinha dele para ela e indo buscar uma para ele.

Temari precisava pensar rápido. Ela não contava com o seu corpo reagindo daquela maneira ao dele, se lembrando imediatamente de quando o abraçou. Não, ela não se lembrava e nem tinha tido noção de como era abraçá-lo, mas tinha agora uma vaga ideia de como seria. Foi súbito, uma descarga de sensações bizarras oferecidos por um corpo trabalhado de um rapaz inteligente. Ela estava mesmo curiosa para ver direito, mas não contava que ficaria um tanto desconcertada e até tímida.

Que merda era aquela?

Só precisava olhar e ver que não tinha nada de mais, olhar certinho. Debochar. Isso, precisava mostrar para ele e para si mesma que um corpo bonito não influenciava em nada. Nadinha.

— Com essa cara de molenga não te imagino puxando ferro — riu um pouco apontando para o dorso do rapaz que olhou a si mesmo por um momento parecendo não entender o que ela falava, então revirou os olhos para ela se sentando de pernas cruzadas, assim como Temari. — Muito exercício físico na escola militar? — arqueou uma sobrancelha e tomou um gole de sua bebida, tentava mostrar que seu maior interesse estava na escola e que um comentário aleatório sobre seu porte era para chegar ao assunto em questão.

— Sim. Tinham testes físicos, psicológicos… — ele enumerou cansado como se já tivesse dito aquilo milhares de vezes.

Shikamaru abriu o tabuleiro dobrável entre eles e esvaziou o saquinho contando as peças. Temari o ajudou a organizar. Parecia que ele não ia falar mais nada, mas ela precisava dar mais margem para sua curiosidade sobre a escola, tirar o foco do abdômen sequinho e quase trincado dele, aquilo era mais aparente quando sentado. Até mesmo Gaara que era quase uma tripa tinha uma barriguinha saliente quando se sentava, mas Shikamaru não.

Ok, foco.

— Essa camiseta é de lá? — perguntou organizando as peças brancas que usaria. — Prefere jogar com as pretas? Me lembro que joguei com as brancas da última vez. — questionou se lembrando que havia começado, assim como o pai dele.

— Indiferente para mim — ele ergueu os ombros e a esperou terminar de colocar as brancas no lugar. De canto, Temari viu os braços levemente musculosos dele, pouca coisa que já mostrava um treino ali. — E sim, é do uniforme. — Pegou a camiseta e estendeu para ela.

Temari terminou de colocar as peças e pegou a camiseta na mão, olhando de perto o emblema bordado ali, agora sim parecia algo mais militar, mas mesmo assim não conseguia entender as siglas e a palavra.

— E o que quer dizer isso? — apontou as siglas e logo a palavra. Shikamaru pegou a camiseta de novo e jogou para o lado. Ele já olhava o tabuleiro enquanto ela esperava uma resposta, mesmo estando ciente de que já deveria estar pensando em suas jogadas.

— EPM, Escola Preparatória Militar. Estratego era a minha divisão de treinamento, éramos do centro de comando, estratégias… — explicou de forma rasa, como sempre fazia.

Temari aceitou aquela resposta por enquanto, tinha que prestar atenção no jogo. Ela fez a primeira jogada ansiosa para o que ele faria, saudosa do jogo que tiveram. Assim como ela, ele moveu um peão para duas casas adiante e aguardou, rápido. Pensando no pai dele, ela fez a próxima jogada movendo seu bispo, ergueu os olhos para ele e o viu sorrir um pouco, bem pouco. Moveu um peão aleatório.

Ele sabia o que ela estava fazendo?

Temari moveu sua rainha para o lado de seu peão e então escutou o riso curto dele. O olhou temendo o inevitável, mas Shikamaru ergueu os olhos de forma vagarosa, com um brilho sábio e tão charmoso que ela teve que desviar. Então ele moveu o peão em frente ao rei e relaxou os ombros sorrindo para ela, não aquele sorriso convencido de antes, mas um divertido.

— Xeque do pastor? Era o favorito do meu velho, você não vai me pegar nessa.

Temari estalou a língua, mas não pôde deixar de sorrir com aquilo.

— Ele ganhou de mim assim da última vez que joguei com ele. — ela murmurou olhando para o tabuleiro, pensando na próxima jogada, como o pegaria. Mas um estalo em sua mente a fez erguer os olhos mais uma vez, a última vez que ele se lembrara do pai havia desabado.

Shikamaru percebeu o olhar dela mudar em sua direção, preocupação. Ele mexeu-se incomodado e ergueu os olhos quase a contragosto.

— Eu já chorei tudo que tinha pra chorar aquele dia. Tá tudo bem. — sussurrou engolindo em seco e olhando novamente para o tabuleiro. Temari moveu a cabeça e fez sua jogada — Presta atenção aqui.

Temari raramente estava na posição de quem precisa se chamada atenção, aquele papel geralmente era dela. Mas ele tinha razão, esfregou o rosto e se focou no tabuleiro, viu o movimento dele e tentou definir qual seria sua estratégia.

— Quem tá ganhando? — Kankuro apareceu ao lado de Temari de repente pingando água salgada na irmã. — Shikamaru?

— Cala a boca e sai daqui.

Kankuro riu gritando para os amigos na água que Shikamaru estava ganhando vendo a reação da irmã. Ela balançou a cabeça irritada e ouviu novamente a risada dele, só foi olhá-lo para ver aquele sorriso convencido de novo, aquela cara de quem sabia que ia ganhar.

Ela inflou um lado das bochechas e ele aumentou o sorriso, passando do deboche para verdadeira graça. Ele cruzou os braços olhando-a e tentando não rir, ela sabia que aquela mania dela de inflar uma bochecha era infantil, mas não era algo que ela controlava, simplesmente saia. Ela tinha que afetar ele de alguma maneira também, aquilo não estava sendo justo. Fez o seu movimento montando algo na cabeça, sem muita segurança.

— Anda logo. — fechou a cara e Shikamaru riu um pouquinho antes de ficar sério novamente olhando para o tabuleiro.

Aparentemente havia feito algo certo, Shikamaru demorou um pouco olhando o jogo e analisando se aquele ataque ao bispo dele era uma armadilha ou se realmente era o que ela queria. Temari o esperou pensar e tomou mais um gole do seu refrigerante, olhou ao redor e quase nenhum dos meninos estava por ali, Gaara era um dos desaparecidos.

— Onde foi todo mundo? — perguntou mais para si mesma, mas Shikamaru respondeu.

— Casa nova do Naruto. — e apontou por cima do ombro uma casa ao longe onde ela conseguia ver movimentação.

Ela havia se esquecido daquele detalhe, achou a construção bem bonita, mas ela tinha que se focar em acabar com Shikamaru. Tirou seu leque da bolsa e começou a se abanar, pensava melhor refrescada. Então o viu mover o cavalo e sua visão rapidamente captou o que ele queria fazer. Encurralar sua Rainha.

— Desgraçado. — comentou entredentes e ele puxou um sorriso de canto presunçoso. Aquilo dava nos nervos.

Ele cruzou os braços em frente ao corpo mais uma vez, salientando mais o trabalho feito na escola militar e a distraindo. Era nítido que a intenção dele não era seduzi-la, se ela tivesse sorte ele nem tinha reparado os olhos dela passando por ele, ou talvez ainda fosse ingênuo demais nesse quesito como os idiotas amigos dos irmãos… E aquilo foi a luz que ela precisava.

Moveu a rainha escapando da armadilha que ele a colocava e deu um sorriso grande demais, sádico demais.

— Está calor, né? — e puxou a regata com as duas mãos mostrando o biquíni verde escuro, a cor dos seus olhos, para um garoto que tentou, tentou de verdade, disfarçar. Mas não conseguiu fugir do olhar perspicaz de Temari.

Ela havia abalado ele.

Agora sim jogariam como iguais, ou melhor, ela teria a vantagem. Garotos tendiam a ficar mais afetados com um corpo feminino que o contrário, ainda mais garotos naquela idade com os hormônios a flor da pele. Shikamaru era bonito? Era sim, ela não negaria. Tinha um jeito de olhar e um sorriso despretencioso charmoso demais para alguém da idade dele, era realmente incômodo, mas ele ainda era um menino e ela uma garota mais velha com o corpo já desenvolvido e que sabia que era bonita. Jamais usaria seus atributos físicos para ganhar algo, mas naquela hora cada um deveria usar as armas que tinham para ganhar a batalha, aquilo era quase uma guerra e ela era uma estrategista.

— Sua vez. — Piscou e viu que ele fazia de tudo para não olhar para seu decote, era adorável e empolgante vê-lo daquele jeito. Poucas vezes o via fora da cara de tédio, agora nem que ele quisesse disfarçar ela acreditaria que ele não estava abalado. — Hum, péssima jogada. — ela sorriu movendo sua rainha para o lado do rei dele — Xeque.

— Xeque Mate. — ele disse apertando os olhos e Temari olhou assustada para o tabuleiro achando que ele havia feito o xeque mate. — Não, na verdade você conseguiu um xeque mate. — Shikamaru mirou os olhos no tabuleiro e apontou para o seu rei — Não havia como eu escapar de você, se eu movesse ele para cá haveria o seu cavalo, para esse lado eu ia escapar do xeque mate por duas rodadas, sua rainha ia dizimar toda minha retaguarda… — suspirou olhando-a nos olhos — No fim, eu estava preso de qualquer maneira.

— Só te sobra se entregar, então? — ela sorriu fingindo ter tido aquela mesma visão que ele, mas nem ao menos tinha noção de que havia pego ele daquele jeito. Havia mesmo dado certo desestabilizá-lo.

— Às vezes é a única forma de sobreviver. — ele deu de ombros reorganizando as peças — Não é covardia se entregar, aprendi que por vezes é corajoso aceitar a derrota.

— Mas numa situação real seria a sua morte, tipo, numa guerra. — ela argumentou colocando suas peças no lugar também.

— Não é uma situação real. — ele a olhou novamente e ergueu as sobrancelhas considerando a resposta — Meu pai sempre dizia que o xeque do pastor podia ser usado na vida. Sabe?

— Como assim? — Temari deixou de lado sua provocação e prestou atenção realmente interessada.

— Bom, antes eu não entendia muito bem. — ele umedeceu os lábios e ergueu os olhos preguiçosos para ela, diretamente em seus olhos. — Mas o básico do xeque do pastor é conseguir chegar ao objetivo, o Rei, em quatro jogadas. Ele dizia que qualquer objetivo poderia ser chegado em quatro passos.

— Qualquer um? — Temari tentou parecer cética, mas pensava naquilo com cuidado.

— Qualquer um. — Voltou seus olhos para o tabuleiro — Independente do quão problemático seja. — e ele riu um pouco sem humor.

Temari pensou naquilo um instante. Se Shikaku havia dito algo daquele jeito, era bem capaz de ser verdade. Ela teria que desenhar para ilustrar seu objetivo e os quatro passos até ele para ver se havia entendido direito. Aquilo era algo realmente impressionante de se pensar e seria ainda mais se desse certo.

Conseguiiiiiiiiii… — Ino, para acabar com o fio de pensamento de Temari, apareceu berrando ao lado deles. Ela olhou feio para a loira que corria com Gaara e Naruto ao lado dela rindo. Temari não havia entendido o que tanto comemoravam, até mesmo os outros que vinham atrás e riam olhando para eles.

— Devolve isso, Ino.

Então ela entendeu quando Shikamaru se levantou resmungando. Ela entendeu. E sua boca abriu-se um pouco, só um pouco. Ino havia tirado o elástico que prendia o cabelo dele e agora Shikamaru andava com o físico definido e os cabelos médios e lisos balançando com a brisa do verão, aquela cara de desânimo, tédio puro, totalmente alheio a fascinação daquela garota de 19 anos que nunca havia parado para pensar em como ele seria de cabelo solto, ou como ele parecia muito mais homem daquele jeito, ou em como ele ficava muito, muito, muito atraente.

— Que merda, Temari. Os caras estão te secando! — Kankuro apareceu na frente dela chutando a regata dela que estava no chão.

— Vai tomar no meio do seu cu, Kankuro. Eu ando do jeito que eu quiser, moleque. Tenta me controlar mais uma vez e eu te afogo, ouviu? — e ela tirou o short que usava e decidiu dar um mergulho enquanto Shikamaru, de costas, voltava a prender os cabelos. Ela precisava de um pouco de água fria.

 

 

betado por MrsFox


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Notas finais do capítulo

*SWOT: é uma ferramenta de análise geral que eu usava nos tempos de escritório/faculdade hahahaha São siglas em inglês para Força (S), Fraquezas (W), Oportunidades (O) e Ameaças (T).

yeeeeeeeah! Temos um interesse físico aí?? hehehehe AH CONFESSO QUE MINHAS PERNAS ATÉ TREMEM EM PENSAR NO SHIKA DE CABELO SOLTO SOS

Espero que tenham gostado *-* Volto em breve! Juro que respondo todo mundo loguinho ♥

Um grande beijooo!



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