Chess escrita por Pan Alban


Capítulo 5
A fraqueza do Rei


Notas iniciais do capítulo

Hello!

Voltando com mais um capítulo de Chess! Agora as coisas começam mudar com esse casal hehehehe

Boa leitura!!



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Temari furava a azeitona com um garfo e levava até a boca concentrada no kindle em suas mãos, ali na pequena tela o livro que deveria ler para um dos tantos trabalhos para a próxima semana. O som do jogo de futebol na TV não a incomodava, não tanto quanto o barulho de reforma que o vizinho fazia bem abaixo da sua janela.

— Tema?

— Hmm — murmurou sem realmente estar prestando atenção no chamado de Kankuro.

Ele havia abaixado o som da TV, ela percebeu grata, e se mexeu no sofá até ela terminar o que estivesse lendo e olhasse para ele. Temari fez exatamente aquilo. Comeu mais uma azeitona e olhou para Kankuro, mas percebeu algo diferente da última vez que olhou na sala.

— Cadê o Gaara? — perguntou mais curiosa que irritada. O pai foi categórico em dizer que Gaara não poderia sair de casa por conta de um castigo por ter brigado com alguém na escola.

— Tá no jardim, relaxa — Kankuro apontou para a janela e ela viu o cabelo do irmão e a namoradinha de bicicleta passando a mão no rosto dele. Não tinha ideia dessa tal briga de Gaara, mas não era difícil concluir que era por causa dela. Temari não gostava daquilo. — Viu… então, — ele chamou a atenção dela e ela o percebeu um tanto sem jeito. Era sempre preocupante quando Kankuro agia daquela maneira. — Ficou sabendo que o Shikamaru entrou na universidade?

— Sim, eu vi ele lá. — ela respondeu terminando com a última azeitona. Enfim teria respostas, queria mesmo saber o que ele fazia ali sendo tão jovem. Jamais iria perguntar na cara de pau não tendo intimidade com o garoto, mas Kankuro era sua fonte ilimitada de fofoca e às vezes servia para algo. — Você pode me explicar como isso aconteceu? Ele tem a sua idade.

Kankuro coçou a testa e espremeu os olhos pensando na resposta. Então não era sobre aquilo que ia contar.

— Na verdade, ele tem a idade do Gaara, o que torna tudo mais humilhante — terminou a frase resmungando. Temari puxou as pernas no sofá e se ajeitou de forma mais confortável para mostrar atenção — Bom, o que eu sei é que ele estava numa escola especial. Algo militar, sei lá. Não perguntei nada porque… bom, você sabe — ele coçou a nuca desconfortável sem terminar a frase, mas ela entendia que era relacionado ao pai. Acenou com a cabeça para que ele continuasse. — Mas então, eu sei que ele não precisou fazer o ensino médio como a gente e já pulou para a universidade. — Temari se lembrava de Tenten e o rapaz que ela gostava. Ambos haviam feito provas para pular séries na escola, não era estranho pensar que Shikamaru havia feito algo parecido.

— Ok. O que quer então? — era melhor desistir, se desse mais corda era capaz de Kankuro emendar fofoca atrás de fofoca e ela tinha mesmo que acabar de ler aquele livro.

— Você é líder de alguma coisa lá, né? — ele perguntou incerto e Temari balançou a cabeça com paciência — Então você pode ajudar. A mãe dele conversou com o Naruto quando a gente foi lá e falou pra tentarmos manter o Shikamaru com a cabeça ocupada, sabe?

Temari balançou a cabeça lentamente. Aquele garoto tinha o rosto tão sereno, parecia estar tão entediado o tempo todo que o viu que não fazia ideia de como ele realmente poderia estar por dentro com a morte do pai.

— Você quer que eu o convide para fazer parte do CPU?

— Hein? Que porra é essa? — Kankuro começou a rir e a expressão serena de Temari se transformou em impaciência. Kankuro só tinha tamanho, ainda agia como um moleque barulhento e desnecessário. Não ia explicar para ele sobre o que era a sigla, seria tempo jogado fora.

— Fala logo.

— É… é — ele respondeu parando de rir. — Seja lá o que for isso aí. Na verdade, convites não dão certo com Shikamaru. Sasuke ia pedir ajuda para o Itachi, mas com o Shikamaru precisa ser uma pessoa mais… — Kankuro gesticulou na reta dela como se aquilo já bastasse.

— Mais? — ela o desafiou a falar. A sobrancelha loira se levantando a cada risinho que ele dava.

— Megera. Você sabe que é. — ele disse rápido desviando do pé dela aos risos. — Sério, força ele a participar. — E Kankuro voltou a ficar sério dando uma pausa para ver o jogo voltar do intervalo. Temari aguardou com o kindle na mão, pronta para retomar a leitura — Ele já era desanimado antes, mas agora… sei lá.

— Pode deixar. — ela respondeu apenas para mostrar que iria tentar.

Não gostava da ideia de forçar alguém a fazer algo, ainda mais forçar alguém a fazer algo ligado a ela como sua comissão. Pessoas forçadas tinham a tendência a não fazer bem feito, e ela odiava serviço mal feito. Mas tinha que tentar, iria puxar a orelha dele e não pegaria leve se aquilo poderia ajudá-lo.

 

♚♛

 

— Temari! Estava louca atrás de você. — Tenten apareceu afobada em suas roupas de ginástica.

Temari tirou os olhos da pasta que lia e olhou divertida para a situação de Tenten. Estava suada, descabelada e com o rosto vermelho.

— O que aconteceu? — começou a andar ao lado da colega pelo campus guardando a pasta dentro da bolsa.

— Você não vai acreditar. Tipo, nem eu estou acreditando. — a menina ainda tentava controlar a respiração enquanto falava.

— Quer uma água?

— Não, não. Tô legal. — Tenten respirou fundo e passou a mão pelos cabelos presos em dois coques no alto, ajeitando os fios que escapavam num caos. — O Neji. Ele está aqui! O Neji!

Temari ficou realmente surpresa, olhou para Tenten num pedido que desse mais informações, algo que não era nem necessário, a amiga só precisava tomar um pouco mais de ar para metralhar Temari falando sem parar.

— Ok, ok. O viu com o pessoal de direito passando na quadra que a sua turma estava? — repetiu a parte mais importante.

— Eu reconheceria aquele cabelão em qualquer lugar — Tenten riu nervosa.

— Tentar fugir não deu muito certo.

Tenten começou a resmungar coisas sobre não sentir mais nada por ele e tudo aquilo ser passado. Temari não jogava na cara a mentira deslavada por respeito ao estado emocional da menina, mas tinha vontade de rir da situação. Até mesmo Tenten sabia que estava mentindo, jamais teria agido daquela forma se não fosse nada de mais.

— Eu nunca vou me aventurar por outros prédios, entende… — Tenten começou a justificar a si mesma sobre o porquê de ainda não ter visto Neji até aquele dia, mas Temari parou de ouvir quando viu Shikamaru, quem ela estava procurando desde que chegou de manhã, encostado na parede, sozinho, olhando para o céu, uma mão no bolso do jeans e a outra segurando um cigarro entre os dedos.

Aquilo era inacreditável. Shikamaru fumava. Temari balançou a cabeça e soltou uma risada sem humor.

— Desculpa, tenho que conversar com aquele ali — apontou para o rapaz distraído. — Vamos almoçar juntas e você vai me mostrar o tal Neji.

Tenten suspirou e deu de ombros.

— Tô torcendo pra não ver ele por hoje. Vai lá, vou indo para o chuveiro.

Temari acenou com a cabeça numa despedida e rumou certa na direção do garoto. Ele parecia estar em outro lugar, completamente alheio às pessoas que passavam ali. Ela não conseguia imaginar como ele conseguia.

— Tenho certeza que não foi você quem comprou esses cigarros. — parou ao lado dele e não viu nenhuma reação de surpresa vindo dele. Ele não tinha nem idade para estar ali, imagine comprar cigarros.

Shikamaru desceu os olhos do céu e soltou fumaça pelo nariz e um tanto pela boca antes de jogar o cigarro no chão e pisar com a ponta do tênis. Temari acompanhou tudo com o olhar sério. Shikamaru a olhou por um momento e desencostou as costas da parede. Ela achou que ele fosse falar alguma coisa, mas ele simplesmente começou a andar.

Ela abriu a boca com o atrevimento dele em deixá-la falando sozinha, mas parou e pensou rapidamente que cigarros poderiam ser um dos tabus na vida de Shikamaru depois da morte do pai. Era melhor ignorar aquilo por enquanto.

— Hey, preciso falar com você — ela o chamou sem sair do lugar. Shikamaru não estava muito longe e parou no lugar quando a ouviu. Temari cruzou os braços e andou até ficar ao lado dele. Juntos seguiram para o prédio que estudavam — Primeiramente, que curso está fazendo?

Ela olhava para frente, mas viu pela visão periférica ele a olhar de canto.

— Ciências Políticas. — a voz arrastada a fez olhar para ele e ver se estava entediado, mas Shikamaru só parecia… Shikamaru.

Balançou a cabeça gostando da resposta. Um ponto positivo ele não ser de uma área completamente fora do que ela precisava na Comissão.

— Ótimo. Preciso de mais uma pessoa na Comissão de Planejamento Universitário e você parece ter bastante tempo livre.

Ele andava muito devagar, Temari teve que se adequar aquilo para conseguir conversar, era desconfortável para alguém que estava sempre correndo de um lado para o outro.

— Não, obrigado. — ele virou um corredor e ela o seguiu.

A recusa dele a fez rir. Shikamaru parou e a olhou, era como se ela tirasse sarro dele naquela breve risada.

— Não é como se você tivesse uma escolha, garoto. Eu preciso de alguém como você naquele lugar, alguém com inteligência e disponibilidade. Se você está aqui agora — gesticulou para a universidade — e momentos antes estava fumando e olhando as nuvens, quer dizer que você tem os dois.

Temari sorriu de canto o desafiando com os olhos para retrucar. Aquela postura dela o fazia ter controle sobre os irmãos e as pessoas que precisavam de seu comando. Era o que dava força para a sua fama de megera.

Shikamaru suspirou e desviou os olhos para o chão.

— Eu não estou interessado. — e deu de ombros.

Temari umedeceu os lábios e olhou para os dois lados fingindo pensar antes de voltar os olhos para ele. Ele era mais alto, aquilo era uma droga, mas não um empecilho. Ergueu a cabeça e tirou qualquer humor que pudesse transmitir em seu rosto. Chegou mais perto, o viu dar um passo para trás e um breve lampejo de surpresa no rosto dele. Gostou daquilo.

— Eu não vou falar isso mais uma vez, ok? Um dia você me impressionou, faça jus a isso e não me decepciona agora. Você vai pegar essa cabeça — e apontou para o meio da testa dele, sua voz era baixa e o grave natural só a deixava mais ameaçadora. O viu engolir em seco — e usar para alguma coisa útil. — Se afastou um pouco e tirou um folheto de dentro da pasta que lia mais cedo e o entregou. Shikamaru pegou passando os olhos rapidamente pelo papel — Vai ganhar créditos para o seu curso e colocar em prática o que aprende na teoria. Te espero depois das seis na sala 3b, no primeiro andar. — terminou de forma profissional o vendo relaxar os ombros. — Alguma dúvida?

Shikamaru soltou um riso anasalado e negou com a cabeça.

— Quer que eu anote a sala e o horário? Eu não gosto de atrasos. — ela tirou uma caneta do bolso e o viu negar de novo com a cabeça.

— Eu vou lembrar.

— Ótimo. Até mais, então.

Temari não estava acostumada a ser a mais falante em uma conversa. Pensou rindo que Shikamaru talvez tivesse preguiça até mesmo para abrir a boca e falar. Seria uma terapia pegar no pé dele na Comissão.

Kankuro ficaria surpreso com a facilidade que ela havia conseguido aquilo. Até mesmo ela estava um pouco, seria realmente uma boa aquisição para o grupo se ele fosse o gênio que o pintavam. Entrou na sala de aula e desligou-se de tudo o que havia acontecido, no almoço não encontrou Tenten e preferiu comer sozinha enquanto acabava de ler seu livro.

A última aula chegou ao fim e ela teria só mais o compromisso com a Comissão antes de ir para casa. Verificou as horas no celular e xingou mentalmente aquele professor que estendeu mais 10 minutos de aula quase a fazendo se atrasar.

Não esperava encontrar todos os membros quando abriu a porta da sala 3b, mas aquilo já era ridículo. Apenas um deles estava sentado na mesa, distraído desenhando em uma folha de papel.

— Idate, cadê os outros? — O garoto pulou ao som da voz imponente de Temari e gaguejou um pouco antes de responder.

— A Shion disse que estava passando mal, o Sai vai se atrasar e a Shiho…

— Estou aqui. — uma moça loira apareceu por trás de uma das estantes da pequena biblioteca que haviam montado na sala. Ela estava como sempre, com os cabelos cheios de frizz arrepiados para todos os lados e os óculos redondos a deixando com cara de apavorada 24 horas por dia, entretanto a postura dela estava diferente.

— Hm — Temari a olhou com desconfiança. Balançou a cabeça e respirou fundo pensando se deveria esperar Sai e talvez Shikamaru, se ele fosse. Olhou novamente o horário e viu que haviam se passado cinco minutos depois da seis — Não apareceu nenhum garo…

— É, este aqui.

Temari sorriu ao reconhecer a voz molenga do rapaz que saia de trás de uma das prateleiras com o celular em mãos. Ele ergueu os olhos para Temari e cumprimentou com um aceno de cabeça antes de mostrar a tela do aparelho para uma Shiho agitada.

— Oh, sim. Este teste de decodificação é extremamente complexo. Ainda não me atrevi a tentar. — ela riu como se fosse uma garotinha e enrolou uma mecha no dedo, a ação a fez fazer um nó na mecha loira. — Você deve ser muito inteligente se está nesse nível...

E então Temari percebeu porque Shiho estava diferente. Ela estava tentando paquerar.

Temari balançou a cabeça contendo o riso e jogou a bolsa na mesa em que Idate ocupava. Tirou duas pastas, o notebook e um caderno para anotações enfileirando-os da forma que achava mais prática.

— Larguem isso e venham até aqui. — ela olhou os dois e teve pena de Shiho. Shikamaru nem prestava atenção nela enquanto ela quase se jogava em cima do garoto. Ele andou e puxou a cadeira ao lado de Idate, Shiho sentou-se ao lado dele na mesma hora. Temari ergueu uma sobrancelha de forma zombeteira para ele e Shikamaru rolou os olhos afundando-se na cadeira. — Bom, antes de começarmos vamos nos apresentar ao novo membro da comissão e falar sobre a nossa iniciativa. Meu nome é Temari Sabaku, sou estudante do terceiro período de Relações Públicas e atual presidente da Comissão. Idate?

— Idate Morino, sou estudante do quarto período de administração — o garoto sorria ao falar — Sou tesoureiro.

Shikamaru, Temari reparou, pareceu levemente interessado quando ouviu o sobrenome de Idate, mas não teceu nenhum comentário.

Shiho nem precisou ser chamada, aprumou-se na cadeira de forma nervosa e cutucou Shikamaru no ombro para que ele a olhasse, aquela era uma mania - ou tique - irritante que Temari abominava, mas era engraçada a paciência que ele parecia ter ao olhar para a menina que recolhia o dedo bem insegura. Temari segurava o riso dentro dela, era notável a falta de jeito de Shiho com o sexo oposto e ainda mais notável a falta de interesse que Shikamaru tinha com a pobre.

— Eu sou a Shiho, como você já sabe — riu de novo mexendo nos óculos de forma nervosa, e agora Temari teve vontade de dar um tapa na própria testa — tenho 19 anos, amo jogos de raciocínio lógico e matemática. Bom, estou no primeiro período de Ciências Políticas.  Na sua sala. — ela sorriu estranho e até Idate segurava o riso essa hora. — Sou primeira secretária. — acrescentou rapidamente.

Shikamaru parecia imperturbável, mas moveu a cabeça e sorriu com cordialidade para a menina. Temari queria saber o que se passava pela cabeça dele naquela hora, mas a resposta que queria veio com o olhar dele em sua direção, quase um grito de socorro.

— Isso foi… espirituoso, Shiho — Temari disse de forma irônica, mas a garota sorriu agradecendo. Desistiu da menina e suspirou — Se apresente, Shikamaru. — Então se virou para ele, tanto Idate quanto Shiho também o olharam e Temari percebeu que Shikamaru não gostava de atenção pela forma que se encolheu. Ele olhou para um ponto na mesa e depois subiu os olhos apenas para ela. Talvez fosse a forma que ele se sentia relaxado para falar, olhar para alguém que já conhecia. E deu certo.

— Shikamaru Nara. Ciências Políticas. Estou aqui porque quase apontaram uma arma na minha cabeça. —  lançou um olhar patético na direção dela, mas aquilo a fez rir.

— Deixe de ser dramático. Não vai dizer sua idade e os seus hobbies? —  o provocou e a cara de sofrimento que ele fez foi demais para ela que riu abaixando e balançando a cabeça para os seus papéis até encontrar o que desejava —  Ainda temos mais dois membros que você vai conhecer depois. Esta apostila é de integração à comissão. No geral, fazemos uma ponte entre a nossa universidade e as demais desta região. Tratamos com todos os tipos de eventos colaborativos e fazemos o esboço do planejamento para entregar para a reitoria. Aí você vai encontrar mais detalhes e qualquer dúvida pode ser tirada por qualquer um de nós. Alguma pergunta?

— Meu cargo. — ele parecia um pouco incomodado com a aproximação de Shiho que quase o tocava ombro no ombro.

— Ah, claro. Shiho, pegue a pasta de ingressão, por favor.

Shiho não reclamou, ela nunca reclamava, mas Temari percebeu o olhar tristonho quando teve que se afastar do rapaz. Já Shikamaru parecia aliviado.

— Nara, senta aqui do meu lado para ir vendo os processos. — Temari faria aquela gentileza por ele, a última coisa que queria era que ele desistisse por conta de uma garota um tanto sem noção.

E ela nunca viu Shikamaru se mover tão rápido. Puxou a cadeira ao lado dela e se sentou pesadamente. Ela sentiu o perfume dele com umas notas de nicotina, era muito bom, bom até demais, mas  conseguiu manter-se neutra.

— Boa noite, desculpem a demora. Já começaram?

Temari usou a entrada de Sai para se distrair do cheiro do menino, aquele tipo de coisa não deveria afetá-la, mas cheiro masculino era realmente um atrativo e tanto.

— Sente-se e.. Sai, o que aconteceu com a sua cara? — ela se espantou com o hematoma na lateral da mandíbula.

Idate soltou uma risada abafada e Shiho só se sentou chateada olhando a distância entre ela e o novato. Temari viu o olhar surpreso de Sai para Shikamaru e ao olhar para o garoto o viu olhando de modo duro.

— Nada de mais. O que ele está fazendo aqui? — Sai era uma pessoa calma, mas o tom de voz usado era completamente o contrário.

Temari olhou de um para o outro sem entender, mas compreendendo aquele clima estranho. Entretanto, não precisou se pronunciar, Shikamaru o fez na frente.

— Relaxa, cara. Aqui não é lugar para discutir o que acontece lá fora. — Ele dizia aquilo, mas Temari percebia que sua voz estava mais dura, assim como seus olhos sempre tão cansados agora bem vivos na direção de Sai.

— Senta, Sai. O que tiverem para resolver, resolvam depois. — Temari decidiu intervir.

— Eu não tenho nada para resolver com esse moleque.

E Temari estava pronta para segurar Shikamaru se ele pulasse para cima de Sai. Ela teria pulado se aquele tom tivesse usado consigo, mas Shikamaru nem se moveu, ou melhor, relaxou novamente na cadeira e quando Temari o olhou viu um pequeno sorriso que desestabilizou Sai.

— Me manda o relatório depois. — E Sai saiu da sala assim como entrou.

Temari respirou fundo e apertou a base do nariz com força.

— Preciso me preocupar com isso agora? — perguntou lentamente e até Idate ficou quieto.

— Não. — Shikamaru respondeu voltando à seu estado normal.

— Tudo bem — ela suspirou e o olhou mostrando que conversariam depois, ele assentiu levemente. Pegou a pasta das mãos de uma Shiho enrubescida e sem ação e dedilhou pelas folhas com olhar profissional. Parou em uma das últimas e tirou de lá uma ficha em branco. — Segundo secretário. — disse o cargo que ele exerceria e empurrou para ele — Preencha isso e seja bem vindo à Comissão de Planejamento Universitário. Bom, vamos começar com o campeonato de…

 

Uma hora depois eles finalizavam a reunião e iam embora satisfeitos, menos Temari que repetia na cabeça o tempo gasto com coisas desnecessárias e a falta de atenção de Shiho ao que deveria ser discutido. Falando nela, abraçava um livro sobre civilizações antigas e tentava chamar Shikamaru para comer algo. O garoto tentava ser educado, mas era nitidamente um amador naquilo.

Temari suspirou impaciente e foi até os dois.

— Shiho, ele tem 16 anos, vai atrás de alguém da sua idade. — Deixou Shiho de queixo caído murmurando o número sem acreditar e se virou para Shikamaru que quase escapava de fininho  — Você vem comigo.

— Que saco… — ele resmungou jogando a mochila nas costas e andando perto dela no corredor.

A única resposta de Temari foi um olhar feio na direção dele.

— Veio do quê? — perguntou assim que chegaram na parte externa da universidade.

Shikamaru apontou para uma caminhonete grande, a mesma que ela havia visto anos atrás na festa de despedida, o único carro na frente da casa. Algo em si se esmoreceu, certamente era a caminhonete do pai dele. Desviou os olhos e relaxou os ombros.

— Vai fazer o que agora?

Ele não respondeu de imediato e Temari teve que olhar para ele para perceber a estranheza na expressão dele.

— Hm, nada.

— Temos que conversar sobre o que aconteceu com o Sai lá dentro.

— Ok — ele suspirou e ajeitou a mochila no ombro. Parecia pesada.

Temari olhou a hora no celular e pensou muito antes de falar alguma coisa. Ela deveria ir embora e seria o que ela faria em qualquer outra ocasião, mas a caminhonete estava bem na frente dela a lembrando constantemente que havia alguém ali que escondia muito numa armadura de indiferença. Aquilo era de cortar o coração, até mesmo o rígido que batia no peito de Temari.

— Olha, que tal isso? — ela o chamou ignorando completamente a sua agenda da noite. respirou fundo e olhou para Shikamaru, ele parecia curioso, levemente curioso. Teve um lampejo rápido em como ele não aparentava a idade que tinha. Desviou os olhos para distrair daquele pensamento idiota e falou sem pensar — Shogi. Me ensina a jogar e me conta o que aconteceu.

— Shogi? — os olhos dele chegaram a brilhar, assim com os do pai quando perguntou na beira da piscina se ela conhecia. Ela sorriu um pouco e assentiu, se lembrava do jogo e do tanto que pesquisou depois, mas nunca havia conhecido alguém para ensiná-la. Shikamaru logo ficou meio incerto, olhando para o chão como se digladiasse uma terrível questão em sua mente. Temari já começava a se arrepender daquele pedido tosco, ela não tinha obrigação nenhuma de ajudar, mais do que já fez, mas ele voltou a falar, ainda de cabeça baixa — Tem problema ir até minha casa?

Negou com a cabeça mostrando em suas feições o quanto aquilo era absurdo.

— Você vai ter que me levar para a casa depois, garotão — ela bateu no ombro dele e deu uma piscada — Kankuro está com o carro.

— Ok.

E parecia um dejavu estranho estar no carro dele enquanto ele dirigia por aquele caminho em direção à casa dentro do bosque. “O que ela estava fazendo ali?” era a pergunta que mais repetia em sua mente depois de avisar Kankuro que voltaria de carona mais tarde, mas Shikamaru era um garoto que a deixava curiosa, e ao mesmo tempo com um sentimento de proteção, como se fosse seu irmão mais novo. Gostava de ter as coisas sob controle, e aquela era a justificativa que usava nela mesma para ir até a casa dele aprender um jogo que havia só ouvido falar para não deixá-lo sozinho.

— Foi o Gaara quem bateu nele. — Shikamaru disse de repente. — No Sai.

Temari tirou os olhos da janela e o olhou surpresa demais. Nem conseguiu falar algo na hora, na sua cabeça só desenhava Gaara e Sai numa briga no meio da rua. Então aos poucos as peças começaram a se encaixar na cabeça dela e teve que esfregar o rosto para não deixar escapar uns palavrões quando se deu conta de que era aquela briga, que ela nem queria saber antes, que motivava o castigo de Gaara.

— Só me fala que não foi por causa de mulher. — Temari apertou os olhos irritada.

— É mais problemático que isso. — Shikamaru suspirou e logo começou a tocar uma música no carro, uma música de batida calma e sem letra. Temari abriu os olhos e o viu voltando a mão direita no volante. — Sai quis sair com Ino. Ino não aceitou. Sai tentou usar seu status de universitário. Ino ainda o rejeitou. Gaara chegou socando. Foi isso.

— Puta merda, moleque imbecil — Temari passou a mão pelo cabelo loiro e soltou o ar pela boca. Gaara era menor que Sai, podia ter apanhado muito. — E onde você entra na história?

— Empurrei o Sai antes dele revidar. O Gaara é pequeno, ia apanhar — deu de ombros e Temari quase riu, era exatamente o que ela estava pensando.

— Que babaquice — Temari comentou para si mesma censurando a atitude de Sai. Com certeza ouviria a versão de Gaara e depois de Sai, mas aquele resumo conciso de Shikamaru fazia muito sentido.

— Você parece estar menos violenta que antes — ele comentou aleatoriamente e ela se virou com uma interrogação na cara. Shikamaru sorriu nostálgico ainda com os olhos na estrada, já adentravam a propriedade Nara. — A última vez que andei em um carro com você, foi depois de me salvar de uma tentativa de assalto, lembra?

— Claro que lembro — Temari sorriu da mesma forma sentindo o cheiro de eucalipto — Você não queria bater nela por ser uma menina.

Ele estalou a língua e ela riu. Shikamaru voltou a sustentar um sorriso pequeno no rosto.

— Garotas deveriam ser dóceis. Qual o problema com vocês? — ele brincou e Temari revirou os olhos.

— Não se fazem mais homens fortes como antigamente, alguém tem que fazer o trabalho sujo.

Ele não a respondeu, apenas sorriu um pouco mais e manteve-se em silêncio com a suave melodia no fundo. Temari gostava daquele som, involuntariamente mexia os dedos no ritmo, nenhum pouco incomodada com a falta de diálogo.

Quando chegaram, Temari tinha um plano pronto na cabeça. Cumprimentaria a mãe dele, jogaria duas ou três partidas e depois iria embora, deixaria apenas aquela imagem de que ele poderia contar com ela para jogar assim como fazia com o pai. A perspectiva de que ele dormiria feliz a deixava feliz. Era bom fazer algo assim pelas pessoas de vez em quando. Entretanto, não fora levada para dentro da casa, como pensou, e sim diretamente para os fundo onde havia o mesmo pergolado, os mesmos sofás, a mesma churrasqueira e a mesma piscina.

Shikamaru tirou a blusa de moletom e jogou sobre um dos sofás e andou até um interruptor perto da churrasqueira. Temari viu que Shikamaru havia feito muito mais que estudar naquela escola especial, aparentemente havia passado por um treinamento físico que o diferenciava de mais de 60% dos garotos da universidade, e 99% dos garotos do colegial. Ele ainda era magro, mas tinha os ombros mais largos, o trapézio acentuado e músculos desenhados em suas costas onde a camiseta estava um pouco grudada até ele a arrumar.

— Sua mãe? — ela perguntou rumando sua atenção para outro lugar.

— Tratando dos cervos — ele respondeu naturalmente, mas aquilo acendeu algo em Temari. Os cervos que ela nunca havia visto e lembrava-se da curiosidade que sentiu depois da história de Shikaku. — Daqui a pouco ela…

— Shikamaru, já chegou? — a voz de Yoshino apareceu entre as árvores antes da própria mulher aparecer.

Temari olhou para a mulher que parecia muito mais velha do que da última vez que a viu, mas ainda bonita. Usava galochas e avental, uma combinação bizarra que nela parecia fazer sentido. Assim que a viu ali, entretanto, Yoshino pareceu muito surpresa e abriu a boca olhando do filho para a garota. Temari sentiu-se desconfortável, sabia bem o que estaria passando na cabeça da mulher, mesmo que aquilo fosse impossível.

Shikamaru resmungou algo se sentando no sofá.

— Vamos jogar shogi. — ele avisou retirando uma caixa de madeira antiga e entalhada com palavras japonesas na tampa debaixo do sofá branco. Yoshino fez uma expressão estranha, algo entre a surpresa absurda e alívio extremo.

Temari ainda se sentia deslocada ali. Deveria mesmo ter ido para casa.

— Fica a vontade…

— Temari.

— Fica a vontade, Temari. Vou… vou fazer um lanche. — Yoshino se animou e quase correu para a cozinha.

— Meu Deus, diga a ela que não precisa. Não vou demorar — Temari se sentou na outra extremidade do sofá olhando o tabuleiro parecido com xadrez, mas com alguns detalhes diferentes, então as peças com formatos iguais e apenas seus nomes em cima de cada as diferenciando.

— Não tente parar dona Yoshino. — Shikamaru sorria um pouco distribuindo as peças pelo tabuleiro de forma lenta, Temari se concentrou nas peças, fazia tempo que não jogava xadrez e vendo a disposição delas percebeu que era parecido, algum tipo de variação. Shikamaru limpou a garganta uma vez e voltou a falar, em tom baixo, calmo — O objetivo do jogo é igual ao do xadrez, capturar o rei adversário, mas as regras e as peças são diferentes. Este é o rei — ele apontou uma das peças e Temari balançou a cabeça mostrando estar atenta, Shikamaru prosseguiu — ele se move como no xadrez — e movimentou a peça para uma casa ao lado em todas as direções a partir da posição inicial. Temari assentiu novamente. Shikamaru começou a falar sobre as outras peças e movimentá-las ilustrando, falava com paciência, num tom que relaxava quem ouvia. Ao final, Temari estava bem alimentada de sanduíches e até se sentia um pouco sonolenta, mas ansiosa para começar a jogar.

— Então não tem rainha? — ela perguntou estalando os dedos e esticando a coluna mostrando estar pronta.

— Sua peça favorita — ele comentou com um sorriso, Temari o olhou surpresa, mas ele mantinha os olhos no tabuleiro. — Eu lembro da forma que você joga. — ele respondeu a pergunta muda erguendo os olhos preguiçosos na direção dela — Prepara terreno para que ela passe e o adversário tenha medo. Você joga usando o terror psicológico como aliado. Combina com você.

Temari soltou um riso surpreso, ela não esperava aquilo.

— Só jogamos uma vez, como pode saber isso? E eu nem considero tanto aquele jogo. — adicionou deixando clara sua insatisfação. Não se lembrava de como haviam jogado, apenas da desistência dele depois de quase pegá-la num xeque-mate.

Shikamaru cruzou as pernas por cima do sofá e deu de ombros.

— Eu observei os seus outros jogos, me lembro do seu estilo — ele se calou um segundo e se mexeu desconfortável olhando o tabuleiro. — Bom, vamos começar?

Temari o encarou impressionada. Gesticulou para que ele começasse.

— Diga-me uma coisa — ela perguntou vendo o primeiro movimento dele. Fez o seu com mais lentidão, ainda insegura diante do novo jogo e tentando se lembrar das regras de cada peça — Você tem aquela memória fotográfica? — perguntou vendo a próxima peça dele se movimentar sem pressa.

— Memória eidética? Sim. — Shikamaru respondeu capturando uma peça dela. Temari xingou baixinho.

— Se lembra de cada detalhe de tudo que já viu? — nunca havia conhecido alguém daquele jeito.

— Mais ou menos. Consigo guardar informações que já vi ou ouvi com mais precisão. Por quê a pergunta?

— Porque você fala coisas como se tivessem acontecido ontem.

Ela mesma precisava de um grande estímulo para se lembrar de algo, e na maioria dos casos não se lembrava de detalhes. Invejava a capacidade de pessoas como Shikamaru.

— É.

E permaneceram em silêncio. Ela não falava por estar concentrada no tabuleiro, fazendo de tudo para não errar e segurando a careta toda vez que ele a corrigia. Ela sabia que ele estava pegando leve, certamente ele já teria acabado com ela assim como fez no xadrez, e valia lembrar que xadrez ela jogava muito bem. Aquele jogo novo estimulava o orgulho de Temari, ela tinha que aprender e ganhar.

Apenas o barulho das peças era ouvido, o arrastar da madeira na madeira. Um som relaxante, que parecia fortalecer a concentração e combinava com o cheiro refrescante de eucalipto.

Quase quinze minutos haviam se passado e Yoshino não havia voltado mais, quinze minutos e Shikamaru capturou seu rei com o cavaleiro. Temari estalou a língua frustrada e já começava a arrumar as peças para começar a segunda partida. Sabia que não venceria, mas já tinha um pouco mais de confiança, já conseguia compreender o jogo.

— Viu, — ela o chamou terminando de enfileirar seus peões — Aquela jogada que você fez com o… —  foi ao erguer a cabeça que ela se calou. Ele havia dobrado um joelho na frente do corpo e um dos braços estava estendido sobre ele, e ali era escondido o rosto.

Ela não soube o que fazer e a situação ficou pior quando ouviu um soluço vindo dele. Os ombros de Shikamaru começaram a tremer e o choro baixo alcançou o ouvido dela. Temari ficou sem jeito, não era de sua natureza ser uma pessoa carinhosa ou que soubesse como confortar alguém. Ela se sentia impotente.

Olhou para a casa e viu Yoshino na janela com uma mão trêmula tampando a boca. Voltou a olhar para Shikamaru e percebeu que ele tentava se acalmar, respirando fundo ainda com o rosto escondido, mas os soluços voltavam e o desarmavam. Temari nunca havia visto um homem chorar. Gaara e Kankuro, principalmente Gaara, choravam muito quando crianças, mas nunca depois de grandes.

Ela abaixou os olhos para tentar pensar se deveria dizer algo, se deveria sair. Então ela viu as peças de shogi, os nomes de cada entalhados em sua superfície. Seu coração se apertou e o tabuleiro foi ao chão quando ela se inclinou para abraçá-lo.

Era a primeira vez que ela via uma fraqueza real em Shikamaru.

 



betado por MrsFox


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Notas finais do capítulo

É só eu que fico toda chorosa quando Shikamaru chora? TT Aaaah meu bb ♥ TT
O próximo capítulo terá um pouco de comédia para quebrar esse clima ruim TT
E Shiho... coitada da Shiho HAUSHUAHSUAHUSHAUSA

Semana que vem tem mais ;) Um beijão!



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