Chess escrita por Pan Alban


Capítulo 4
Retorno


Notas iniciais do capítulo

Olá!!!

No caítulo de hoje teremos uma grande passagem de tempo e, como podem ver pelo título bem original dessa que vos fala, haverá o retorno do Shika ;) Vamos ver como vai ser esse reencontro depois de tanto tempo?

Boa leitura e, mais uma vez, muuuito obrigada pelo carinho de vocês *-*



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3 anos depois
Ginásio do Ensino Médio

 

Temari sorriu nostálgica quando colocou o primeiro pé dentro daquele ginásio. Fazia quatro anos que não entrava ali, desde o último torneio de xadrez que teve um time e foi a vencedora. Seu nome estava na medalha em um canto humilde na galeria da escola, mas aquela vitória esquisita tinha um lugar de honra dentro da memória dela.

— Com saudades da escola, Temari? — Izumi chegou ao lado dela com três latas de refrigerante.

Temari sorriu soltando um riso anasalado e aceitou uma das latas geladas.

— Saudades é uma palavra muito forte. Itachi está ali. — e apontou para o homem que erguia o braço no canto superior esquerdo.

As duas foram andando até ele e Temari voltou a observar o lugar. Nunca havia ido para lá em dia de jogo, não era uma atividade que ela gostava de “perder tempo”, mas, fora a aglomeração de pessoas, o ginásio continuava o mesmo.

Estava agora com dezenove anos, no segundo ano do curso de Relações Públicas na universidade da cidade. Lá havia reencontrado seu antigo clube, Itachi no quarto ano de psicologia, Izumi também no quarto ano de Biomedicina. Konan e Nagato estavam em um relacionamento estranho com mais um cara na parada, Temari sempre achou que eles namoravam, mas negavam e agora diziam ter uma relação aberta. Ambos cursavam terceiro ano de filosofia e haviam conhecido Yahiko, o terceiro membro da relação, no curso.

Havia sido bom encontrar rostos amigos naquele lugar há dois anos. Era um grande passo que estava dando e aquela ansiedade maluca havia acertado seu estômago quando enfim seguiu para a vida universitária.

Sua cabeça era outra, suas metas haviam mudado e Temari havia pegado uma pequena lição do passado para determinar seu novo rumo. Um homem chamado Shikaku Nara, em poucas horas de conversa, havia acionado em Temari um gatilho que estava escondido atrás do medo da vida adulta.

Ela era uma líder, inteligente, perspicaz, altiva, respeitada. Ela gostava do controle, de poder comandar, de saber o que acontece e as pessoas pedirem sua opinião.

Depois de conhecer Shikaku Nara ela aprendeu a valorizar aqueles pontos que ele elogiou, trabalhar mais em seu emocional e buscar a excelência em tudo. Mas não havia sido somente ele que havia ajudado com o despertar de Temari. Também havia o garoto Shikamaru, o filho, o gênio, o sempre aborrecido e entediado, aquele que ensinou a ela como não ser uma pessoa acomodada, como não esperar que a vida fosse sempre perfeita e a sua mercê.

— Não lembrava de sermos tão barulhentos nessa idade. — Itachi tirou a mochila que usava para guardar lugar para elas enquanto os adolescentes gritavam e alguns dançavam com amúsica barulhenta que tocava alta demais no ginásio.

Temari fez uma careta concordando com ele e se sentou ao lado de Izumi. Agradeceu Itachi mentalmente por deixar a ponta do banco para elas e tendo apenas a barra de segurança como vizinha durante o jogo que iria começar.

Fazia quatro anos que ela não entrava ali e somente um motivo a trazia de volta àquele lugar: a final do jogo de futebol. Kankuro e Gaara estavam no time e foram discretos em dizer que a queriam lá assistindo.

Gaara não havia dito nada, mas ficava sempre por perto com aqueles olhos claros sempre a espreita, já Kankuro jogava indiretas ruins querendo saber o que ela faria naquele fim de semana e sempre falando sobre o jogo no café da manhã.

Ela havia fingido não entender e achou muito bonitinha a forma que eles faziam para convidá-la sem convidá-la. Haviam momentos que eles a faziam esquecer um pouquinho o estresse universitário e se lembrar daqueles dois pirralhos que já passavam em muito a sua altura, mas que sempre seriam seus moleques. Aqueles que deixavam a coisa mais leve.

O irmão de Itachi também jogaria, o que não era uma surpresa. Assim como Naruto, Chouji e mais alguns garotos que todo fim de semana passavam por sua casa. Nenhum deles era uma surpresa, mas Gaara era.

Não demorou para eles serem anunciados e o time entrar aos gritos estridentes da torcida, mas dessa vez ela não achou ruim. Se levantou para poder vê-los e o sorriso foi automático quando reconheceu os cabelos vermelhos do caçula, logo pôde ver Kankuro agitando a torcida com Naruto ao seu lado.

Eles corriam pela quadra até o lado deles onde estava o banco de reserva e um bando de meninas com roupas de líderes de torcida. Gaara foi o primeiro a vê-la ali na arquibancada, e ela acenou animada quando percebeu que ele a procurava. O rosto do ruivo enrubesceu um pouco e aquilo foi muito adorável para Temari. Feliz, viu Gaara chamar Kankuro e apontar na direção dela. Kankuro soltou um tipo de grito de guerra e bateu no peito como um ogro. Ela balançou a cabeça batendo palmas e acompanhando os outros alunos.

— Tema — Izumi a chamou sorrindo — Aquela ali de cabelo rosa que é a Sakura, que te falei.

— Sua cunhada? — Temari viu a garota de cabelos curtos e coloridos entre as líderes de torcida. Ela pulava com pompons nas mãos, mas Sasuke não olhava na direção dela.

— Em breve. — ela sussurrou rindo para Temari.

Era uma história engraçada que um dia Izumi havia contado para ela. Sasuke no início do namoro entre Itachi e ela, não aceitava Izumi de jeito nenhum. Era apegado demais com o irmão e dizia sem vergonha alguma que Izumi ia tirar o irmão de perto dele. Havia sido uma vida até que ela conseguisse a confiança de Sasuke, e quando isso aconteceu ela conheceu Sakura. Havia pego a menina saindo furtivamente do quarto do garoto na madrugada e um dia se encontraram sem querer na rua e ficaram conversando. Izumi viu o antigo Sasuke voltando a tona e olhando estranho para Izumi mais uma vez. Ela achava aquilo engraçado, ainda mais porque ele não admitia o sentimento.

Temari ia continuar observando o pequeno Uchiha e a menina do cabelo rosa, mas outra líder de torcida chamou a atenção dela, uma alta e magra, de longos cabelos loiros e mais claros que os dela presos num rabo de cavalo e que gritava agudo o nome de Gaara. Não tinha certeza, mas sabia que a conhecia.

Gaara então tinha uma namoradinha, ela pensou se sentando e cruzando os braços com um sorriso de mãe orgulhosa do seu menino. Não sabia daquela informação e viu que talvez nem saberia tão cedo o vendo fingir ignorar a garota ficando de costas, mas as orelhas vermelhas não negavam o constrangimento.

Sem tirar os olhos das movimentações dos jogadores na quadra conversando com o treinador, Temari se aproximou de Izumi que gritava o nome do cunhado.

— Sabe o nome da loira? — e apontou para a líder de torcida que começava uma coreografia ensaiada.

Esperava que ela soubesse. Certamente Gaara não falaria e Kankuro talvez estivesse sendo chantageado para ainda não ter falado nada.

Izumi negou com a cabeça.

— Itachi deve saber, ele conhece todo mundo. — e se virou para perguntar ao namorado. Temari voltou a olhar a quadra e viu o time se organizar. Chouji, o maior de todos, tanto em altura quanto em largura, tomou o gol e bateu as mãos enluvadas com força. — Ino Yamanaka. É filha de um professor do Itachi. Por quê?

Temari só balançou cabeça mostrando ser só curiosidade e voltou a olhar a menina. Seria divertido provocar Gaara, dizer que sabia a razão dele ter aposentado os lápis de olho e entrado para o time de futebol, a razão de sair mais de casa com os amigos da escola ao invés dos punks perigosos que andava antes. Nesse momento ela sentiu o quanto estava longe dos irmãos, sem saber nada sobre eles.

O jogo começou e mesmo sem entender nada de futebol ela sabia que o time dos irmãos era superior. Naruto era rápido demais, ele e um garoto com cabelo de cuia. Sasuke era habilidoso e sempre chegava até o gol. Kankuro era forte e conseguia parar o atacante adversário antes que chegasse até Chouji, e quando não conseguia o goleiro fechava o gol mostrando uma agilidade espantosa.

— Muralha! Muralha!

A arquibancada gritava junto das líderes de torcida. Temari assistia com um sorriso discreto o gordinho concentrado no jogo. Ele era realmente incrível e ela tinha quase certeza que aquela conversa ouvida por trás da porta tinha a ver com aquilo. Fazia muito tempo que não se lembrava da noite na casa dos Nara na festinha de despedida, na conversa entre Chouji e seu segundo maior desafio no xadrez, Shikamaru. Naquele momento ela parou e pensou consigo mesma onde ele estaria, como estaria. Seus irmãos nunca mais falaram nada sobre ele e a curiosidade sobre a família foi indo com o tempo, mas a grandiosidade de Chouji naquela hora refrescava a memória sobre o dia em que ela ouviu a coisa mais madura saindo da boca de um garoto de treze anos.

O grito ensurdecedor da arquibancada acordou Temari do torpor nostálgico que estava e Izumi e Itachi comemoravam ao lado dela. Na quadra, Sasuke corria pelas laterais e os amigos corriam atrás querendo pular nas costas dele, ele correu até as líderes e levantou a de cabelo rosa no colo deixando um beijo nos lábios dela antes de voltar para o meio do campo. Ela riu com a gargalhada do casal ao lado dela e achou engraçada a cena que sucedeu, a pobre garota hiperventilando sendo atacada pelas amigas.

Era uma graça aquele amor juvenil, Temari pensou. Gerações podiam mudar, mas aquele tipo de coisa sempre existiria.

O jogo se tornou mais trancado e ela começou a perder um pouco do interesse quando Gaara foi para o banco dos reservas. Passou o olho pelo lugar vendo as roupas que os adolescentes usavam, o corte de cabelo, os acessórios… Não havia muita diferença entre as idades deles e dela, mas ela achava haver um abismo vendo a discrepância gritante entre a sua geração e aquela. Até que seus olhos voltaram a algo que quase passou despercebido, ou melhor, alguém.

Na porta do ginásio, escorado na parede com os braços cruzados, o cabelo preso no alto da cabeça, o rosto sereno com olhos pequenos dirigidos à quadra e um pequeno sorriso no rosto.

Ela teve que olhar duas vezes e forçar sua memória para não ser enganada. Até esqueceu o jogo e ignorou completamente o estardalhaço da arquibancada com outro gol, ela tinha que ter certeza no que seus olhos viam.

E a certeza veio em segundos, quando a líder de torcida apareceu no campo de visão de Temari e pulou por cima do garoto que ela observava abismada. Ele deu um passo para trás com  impacto, mas a abraçou de volta e sorriu, girando-a uma vez antes de colocar no chão. Logo Chouji também apareceu lá e o abraço, foi ainda mais demorado.

— Vamos comprar cachorro-quente, quer algo? — Izumi perguntou já em pé. O primeiro tempo do jogo havia acabado, mas Temari nem havia ligado. Agora o time inteiro cercava o garoto que estava ali quieto assistindo.

Temari balançou a cabeça sem desviar a atenção curiosa da pequena aglomeração.

Izumi seguiu os olhos de Temari e logo Itachi também percebeu e fez o mesmo. Temari nem precisava da confirmação de Itachi, mesmo notavelmente mais alto - até mesmo em comparação aos seus amigos - o rosto mais quadrado, o cabelo maior, o corpo decididamente mais forte... Ela não conseguiria esquecer o nome daquele garoto.

Shikamaru Nara estava ali.

 

♚♛

 

— As provas começam daqui três semanas e eu já estou em desespero — Izumi sugou seu milkshake e mexeu o conteúdo na taça com o canudinho — Estou sonhando com genomas dançantes e risonhos. Entrar no ginásio hoje me deu uma saudade do “Azão azinho”.

Temari concordou com um balançar de cabeça e suspirou mexendo seu sunday com a colher de forma despreocupada.

— Bem vindos a vida adulta, meus amigos.

Temari ergueu os ombros para Itachi e Izumi que estavam na frente dela. O casal sorriu cansado e aquele breve momento foi o suficiente para Temari conseguir compará-los com as versão do passado. Itachi estava com olheiras surreais e Izumi havia perdido um pouco da doçura que exalava 24 horas por dia, às vezes seu lado perverso aparecia e era o pobre Itachi quem sofria. Mas aqueles eram fracos sintomas da vida universitária, eles haviam se salvado de coisa pior. No caso de Temari, apenas sua paciência havia ficado mais curta e seu estresse mais alto. Horas de sono? Aquilo havia virado uma raridade.

— Hmm, Tema. — Izumi a chamou de forma um pouco cuidadosa. Temari ergueu os olhos de seu sorvete e viu o rosto um pouco enrubescido de Izumi e Itachi sorrindo com a mão por cima da dela na mesa. Franziu as sobrancelhas não entendendo e esperou que Izumi respirasse fundo, rise um pouco desviando os olhos e então olhasse para Itachi. Temari nunca se sentia desconfortável perto dos dois, mas pela primeira vez se sentiu uma penetra, e nem sabia o que estava rolando. — Bom, — Izumi voltou a olhar para ela e Itachi também — Você aceita ser minha madrinha?

Temari gaguejou um pouco juntando as peças na sua cabeça. A única resposta óbvia ainda não fazia sentido. Os olhos verdes arregalavam-se mais a cada segundo de compreensão e o casal soltou uma risada encantada.

— A pedi em casamento ontem — Itachi cruzou a mão com a da namorada mostrando a nova aliança no dedo delicado dela. Temari abriu a boca para o objeto — Achei que você ia perceber assim que visse, mas a sua dedução está um pouco afetada, hein?

— Eu... eu não sei nem o que dizer — Temari riu atrapalhada olhando de um para o outro. — Caramba, parabéns. É claro que eu aceito. Quando vai ser isso? Nossa…

A surpresa dela ainda os fazia rir. Izumi constrangida e feliz, e Itachi orgulhoso.

— Daqui dois anos. Os dois estarão formados e com a casa construída. — Itachi respondeu parecendo relaxado pela primeira vez em muito tempo.

— Já estamos convidando você para ser madrinha para não criar um evento no mesmo dia, bem antecipado. Eu sou noiva — ela sussurrou a última sentença ainda perplexa e Temari voltou a rir junto de Itachi.

— Isso é surreal. — Temari comentou balançando a cabeça lentamente.

— Não é? — Izumi concordou virando o rosto de Itachi para o seu e recebendo o beijo dele de forma carinhosa. Eram um casal bonito de se ver, talvez um dos poucos que faziam Temari repensar seu descrédito ao amor.

E conversaram sobre os detalhes do casamento que ainda estavam somente nos planos e sobre as possíveis situações que passariam casados. Temari se divertia com a visão deles, mais calada e ouvinte, pensando consigo mesma em como eles tinham sorte de terem se encontrado.

— Vejo vocês amanhã? — Temari perguntou colocando a bolsa no ombro quando o carro de Kankuro estacionou em frente a sorveteria.

— Acho que só quarta — Itachi respondeu pelos dois — Estágio.

— Então, até.

Entrou no carro ainda surpresa com a notícia do casamento deles. Colocou o cinto sorrindo para si mesma e só então olhou para Kankuro. Percebeu a falta do mais novo ali, o que não foi uma surpresa, e viu que era a hora certa para começar um ataque ela estava querendo fazer desde o jogo mais cedo.

— Cadê o Gaara?

Kankuro parecia distraído, então demorou um pouco para responder.

— Casa do Naruto.

— Hmm — Temari olhou pela janela sentindo-se leve — Pensei que estivesse com Ino.

Nem precisou olhar para Kankuro, o sorriso sapeca foi crescendo enquanto olhava para fora com o carro em movimento. Uma exclamação de Kankuro foi tudo o que ela precisou  para confirmar o que estava pensando.

— Puta merda, Temari. Como descobriu?

Ela riu como se Kankuro fosse muito inocente, um tipo de pressão psicológica que ainda funcionava com ele.

— Eu observo. Por que ele não me contou? Por que você não me contou? — reformulou a pergunta sem estar mesmo brava. Encarava um Kankuro contrariado ainda com seu sorriso diabólico no rosto.

— Porque ele não quer você zoando. — Kankuro defendeu o irmão com honra, Temari riu ainda mais.

— Vocês são dois idiotas, eu não ia fazer nada.

— Sei… E por quê essa cara de besta?

— Nada. Aliás, você jogam muito bem. — ela aproveitou para parabenizar. Aquilo não era algo que eles faziam entre eles, mas precisava compensar a falta que deveria estar fazendo para eles. Kankuro abriu um sorriso orgulhoso —  Vai ter festa de comemoração do título ou algo assim?

— Vai, mas você não está convidada — Kankuro quase cantarolou, repentinamente empolgado. — Você espanta as garotas, e… — mas ele se calou fazendo a curva.

Temari segurou a risada, ela sabia o que era o resto da frase. Desde que entrara na faculdade e os amigos do irmão começaram a gostar de meninas, ela havia virado um alvo de apreciação. Era ridículo aquele bando de moleque ajeitando a postura e tentando parecer legal quando ela estava perto, às vezes chegava a ser engraçado. Fazia bem para o seu ego de solteirona que não tinha tempo para se relacionar com ninguém. Ela não ligava de verdade, mas Kankuro parecia o mais afetado. Havia criado ciúmes da irmã e a defendia até mesmo com socos - como uma vez ela descobriu - se ouvisse qualquer elogio indecente à ela.

Uma universitária chamava muita atenção em festas de pessoas do colegial, mas esse nem era um motivo para ela não pensar nem em ir em um lugar assim.

— Queria saber se você é pegador como faz parecer. —  Ela provocou rindo do exagero do irmão ao gaguejar tentando se defender.

Kankuro estacionou o carro em frente a casa mas não desceu.

— Avisa a mãe que a gente volta só amanhã. Vamos estar lá na casa do Naruto.

— A festa não começa só a noite? — Temari sabia que nenhum deles tinha  preocupação em perder aula no dia seguinte.

Kankuro suspirou e passou a mão pelo cabelo castanho de forma pesarosa. Temari abriu a porta do carro e aguardou estranhando a mudança repentina no clima. Kankuro parecia mais velho naquele momento e ela tratou de escutar com seriedade.

— Bom, antes vamos fazer uma reunião lá no… Lembra do Shikamaru? — Olhou para Temari que assentiu, a imagem do rapaz escorado na parede voltando a sua mente — Ele voltou. Então vamos lá…

Temari entendia quererem ficar com o amigo para conversarem, mas havia algo de errado.

— E não era para você estar feliz?

Kankuro batucou o volante incomodado. Não era do feitio dele falar sobre assuntos sérios, e aquilo o fazia travar, como se quisesse fugir e deixar a responsabilidade para outra pessoa. Mas ele não iria fugir.

— Ah, é um pouco foda a situação. Ele não vai na festa… er… ah cara, é foda….

— Fala logo.

— Eles voltaram porque o pai dele morreu.

 

♚♛

 

Temari prendeu o cabelo em um coque no alto da cabeça, e distribuiu os livros e o caderno por cima da cama. Não era nem nove da noite, mas já estava com seu pijama, sua xícara de chá quente e o celular no silencioso para acabar a lista de exercícios para o dia seguinte.

Abriu a página do livro onde conseguiria a primeira informação. Deslizou o lápis sem encostar na página procurando o trecho que continha a resposta. Encontrou, leu, releu, olhou para o teto, leu mais uma vez. Não adiantava.

Levantou da cama e foi até a janela. Os olhos foram direto para as estrelas, como se buscasse algo ali, talvez a explicação que esperava encontrar. Era a primeira vez que lidava com a morte de alguém que conhecia, mesmo que houvesse sido pouquíssimas horas, Shikaku havia sido alguém marcante na vida dela e a suposição de que ele simplesmente não existia mais era surreal.

Tomou um gole do chá quente e suspirou assoprando a fumaça até o vidro que embaçava.

Em sua cabeça tinha a imagem do homem, não de forma cem por cento fiel, mas o que ela se lembrava dele. Agora não importava mais a sua fisionomia, ele estava morto.

— Morreu? O que aconteceu? — ela havia perguntado para Kankuro no susto.

— Não sei. Seria tenso perguntar, né?

Seria doença? Uma acidente?

Aquilo não saia da cabeça dela, as causas, os motivos, os porquês. E o principal: o que ele deixava para trás.

Lembrou-se da esposa, uma mulher rígida que comandava tudo com precisão. Como ela estaria?

Lembrou-se do filho, aquele garoto inteligente que observava de mais e falava de menos. Como ele estaria lidando com aquilo?

Ela que nada havia com aquela família estava desorientada tentando entender os mistérios da vida e da morte. O buraco que as pessoas deixavam, a saudade, aquele sentimento de esperar que ela pudesse aparecer a qualquer momento e ela jamais voltaria.

Tentou se colocar no lugar da família, mas só tentou. Só de pensar em algo semelhante, seus olhos encheram-se de lágrimas e o peito apertou. Não conseguia imaginar, não queria mesmo imaginar o que era aquilo.

Não havia uma ligação entre eles, nem mesmo um fio de amizade, somente talvez o xadrez como recordação e uma forma de puxar assunto. Temari passou as costas da mão pelos olhos úmidos e respirou fundo tomando a sua decisão. Agora sim ela conseguiria se focar na lista, porque havia acordado com ela mesma que no próximo fim de semana colocaria Gaara e Kankuro dentro daquele carro e juntos iriam visitar a família.

 

♚♛

 

Temari andava pelo corredor até a sala da primeira aula. O celular na cara analisando sua agenda para aquele dia e a chateação começando logo cedo com gente tendo que remarcar os compromissos. Apertou o celular na mão para não soltar um palavrão.

— Idiotas. Bando de vagabundos. — resmungava desviando dos apressados enquanto guardava o celular na bolsa pendurada em seu ombro.

Viu pelas horas que ainda tinha mais de meia hora até o início da primeira aula, parou no corredor e calculou mentalmente quanto tempo levaria para ir até a cafeteria para comprar um cappuccino antes da aula. Talvez desse tempo e não perdesse a primeira lista de chamada, concluiu. Depois das mensagens que teve que ler desmoronando todo seu milimétrico planejamento, queria se afogar em cafeína bem doce para passar aquela raiva e reorganizar sua agenda inteirinha para aquela semana.

As pessoas achavam que estavam no colegial, só podia! ela pensava repetidas vezes andando em linha reta até seu alvo, as pessoas que desviavam dela nesse momento.

— … esse é o seu prédio, chamamos de prédio da Administração, mas engloba…

Temari quase atropelou o reitor e quase o xingou não o reconhecendo de primeira. O velho e baixinho senhor percebeu o quase acidente e se interrompeu olhando severo para a loira que relaxava a carranca e ensaiava um sorriso de desculpas.

— Temari.

E não foi da boca do reitor Onoki que saiu seu nome. Deixou o senhor baixinho de lado para olhar de onde vinha aquela voz familiar e encontrou a última pessoa que pensaria encontrar ali. Precisou erguer um pouco a cabeça e foi impossível não esconder a surpresa.

— Você?

Os olhos pequenos e cansado, os ombros relaxados, as mãos dentro dos bolsos da calça de maneira casual demais, o cabelo preso no alto e a aquela mesma e velha expressão de tédio.

— Shikamaru. — ele disse aborrecido. A voz estava mais grave, perfeita para o adolescente quase homem na frente dela.

— Eu sei seu nome. —Temari aumentou o tom de voz e ele ergueu uma sobrancelha sorrindo um pouco. Temari ficou constrangida e olhou para o reitor bigodudo que assistia a cena lá de baixo. — O-o que faz aqui?

Limpou a garganta fazendo a primeira pergunta idiota que apareceu na sua cabeça. Só achava que não podia sair dali daquele jeito depois de quase atropelar o reitor em pessoa e responder daquela forma um tanto grossa.

— Senhor Onoki… — Shikamaru a ignorou e olhou para o velhinho que repentinamente sorria. — Não quero tomar seu tempo, ficarei grato se Temari puder mostrar a minha sala.

— Só Onoki para você, meu rapaz — o velho deu dois tapinhas no braço de Shikamaru com um sorriso escondido por trás do bigode. O garoto forçou um sorriso e Temari continuou travada observando aquilo. — Vá com a mocinha, vai ser bom você já ia se enturmando. Vá até minha sala se tiver qualquer problema, tudo bem? Te espero lá para jogarmos uma partida de xadrez, qualquer hora. — e jogou uma piscada para Shikamaru que assentiu coçando a nuca com um pouco de constrangimento.

Temari viu o pequeno senhor sair e o seguiu com os olhos parada no meio do corredor até ele sumir. Voltou a olhar para frente e viu Shikamaru olhando o celular por um momento, estalar a língua e erguer os olhos para ela. Temari não sabia nem o que falar, se sua cabeça estava trabalhando bem, ainda, aquilo queria dizer que aquele garoto, que tinha a mesma idade que seu irmão caçula, estava estudando ali.

— Desculpe te colocar nisso — ele disse de forma mole relaxando ainda mais os ombros. Os olhos desinteressados saíram dela e foram pelo corredor longo — Já vi onde fica minha sala, mas obrigado por me salvar do reitor.

— Ahn… sem problemas. — respondeu incerta.

Ele estava mesmo estudando ali.

Raramente Temari ficava sem saber o que falar. Mas estava tão confusa e com tanta informação nova na cabeça que se limitou a balançar a cabeça e acenar uma vez com a mão antes de sair dali.

Improvisar nunca foi seu forte.



betado por Mrs.Fox


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Notas finais do capítulo

Shikaku se foi TT No que isso influenciou na vida do Shikamaru?
E eles estão maiores e juntos na universidade hehehehe agora comecemos o show hihihihih

E tem gente que me perguntou se vou trabalhar outros casais, e siiim, eu vou hihihi mas vai ser desse jeitinho bem secundário, ok? Não consigo largar meus casaizinhos hahahahahaha

Até semana que vem, gente linda ;*



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