Chess escrita por Pan Alban


Capítulo 3
O General


Notas iniciais do capítulo

Hello!!
Voltei rápido dessa vez! hehehehehe Capítulo ficou bem maior, vocês me digam se preferem capítulos mais curtos ou longos ;)
O capítulo tem esse nome por se tratar de uma peça de shogi, uma referência singela a um personagem que vai aparecer aqui ;)

Obrigada pelo carinho que to recebendo! Está sendo muito divertido escrever para vocês *-*

Boa leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/743400/chapter/3

Temari encontrou Gaara e seu pai sentados na mesa do café da manhã como todos os dias. Sua mãe já havia saído para trabalhar enquanto o pai permanecia tendo o seu emprego home office.

Rasa nunca foi um homem muito comunicativo e raramente puxava assunto com os filhos, mas aquele tipo de comportamento não era estranhado por nenhum deles. Ele fazia a sua parte de ouvir quando um deles queria falar, corrigir quando necessário e tomar café da manhã junto dos três todos os dias.

— Bom dia. — ela mostrou sua presença cumprimentando os dois silenciosos.

Gaara era a cópia de seu pai. Tanto pela aparência quanto pelo jeito taciturno. Então não foi surpresa quando tudo o que recebeu foi um aceno de cabeça de ambos. Gaara distraído com o celular e Rasa com o jornal.

Ela se sentou ao lado do irmão na mesa redonda e se serviu de café e torradas. As sobrancelhas dela estavam juntas, numa expressão um tanto tensa para quem havia acabado de acordar, mas o sonho bizarro que teve de um cervo encurralando e encarando ela de perto com aqueles olhos castanhos não saia da sua cabeça.

— Pai, um menino lá da escola vai se mudar então vai fazer uma festa na casa dele. O senhor leva a gente? — Kankuro se juntou à mesa trazendo o barulho que faltava naquela manhã.

— A Temari leva vocês. Ela precisa praticar.

Kankurou choramingou exageradamente e Temari deixou o sonho de lado para encarar um irmão e depois o outro.

— Posso levar vocês, não tem problema nenhum.

Kankuro fez menção de argumentar contra, mas os olhos ferozes da irmã mostravam claramente que ela não havia se esquecido da noite anterior, então ele se calou a contragosto e se afundou na cadeira com mau humor. Ela sabia que a culpa era de Gaara, mas era bom que Kankuro começasse a corrigir o irmão mais novo também para que os dois não acabassem em apuros.

— E onde vocês foram ontem?

A pergunta inocente de Rasa causou diferentes reações. Gaara tirou os olhos de celular pela primeira vez e olhou para os irmãos procurando resposta. Kankuro encheu a boca com pão para não responder e Temari sorriu sádica esperando que os dois se enforcassem sozinhos.

— Fomos até a praia — Gaara quem respondeu.

Rasa ergueu as sobrancelhas e dobrou o jornal dando atenção aos três e se servindo de mais café.

— Não foram até o cais, não é? Fiquei sabendo que teve briga de gangues ontem a noite.

Temari arregalou um pouco os olhos e mirou em Gaara. Ele fingiu não ser com ele e só resmungou uma concordância. Gaara estava indo longe demais e ela esperava que o susto que levou pudesse colocar algum juízo naquela cabeça.

Não conseguia acreditar que estava no mesmo lugar que duas gangues rivais brigavam, não conseguia nem conceber o quão perigoso era aquilo. Gaara tinha colocado ela e Kankuro em perigo.

Balançou a cabeça enquanto Kankuro dizia detalhes desnecessários de forma nervosa para o pai, uma mania dele que sempre entregava suas mentiras.

— Pai — decidiu interferir quando viu que Rasa prestava atenção demais em Kankuro — aquele bosque ao norte é propriedade privada?

A pergunta havia sido completamente aleatória, apenas para pôr fim ao monólogo de Kankuro, mas isso não excluía o fato de que ela estava mesmo curiosa.

— Por que a pergunta?

Ali ela percebeu que Rasa estava ciente da bola fora de Kankuro, quando perguntou desconfiado. Suspirou tentando parecer natural e moveu a xícara de café, por dentro ela estava xingando a idiotice do irmão do meio.

— Ontem levamos um coleguinha dos meninos — ela olhou para os dois irmãos desafiando qual deles iria se opor a forma infantil que ela os tratava. Nenhum dos dois disse algo — Ele mora dentro do bosque.

— Nunca ouvi falar. — Rasa disse depois de pensar um pouco e pedir a manteiga para Gaara.

— Ah, o Nara! — Kankuro comentou alto, animado. Temari quis estapear a própria testa, era para ele fingir saber quem estava com eles, e não parecer tão animado em descobrir finalmente quem era que estava com a sua irmã quando ligou para ela. Percebeu tarde o que havia feito e riu sem graça para Temari que o fulminava. — É da família dele. É bem legal lá.

— Família Nara — O pai testou o sobrenome e pareceu ignorar a extravagância do filho para o alívio dos três que sentiam as duras penas de não ensaiarem uma história antes — Acho que já ouvi sobre, mas nunca conheci nenhum deles.

— Então, acho que agora só eles moram aqui na cidade. Os pais do Shikamaru são militares, ou algo assim. — Kankuro comentou empolgado, Temari achou a informação interessante, mas rolou os olhos para a mania feia de Kankuro de fofocar.

— Interessante. Gosto que tenham amizades assim. — Rasa comentou olhando diretamente para Gaara e Kankuro riu dizendo que o irmão estava usando mais maquiagem que Temari.

Enquanto a discussão se seguia, ela pensava com humor em como aquele menino preguiçoso era influente, ou melhor, a falta de influência dele. Poderia até ser que ele andasse na linha, mas decididamente Shikamaru não era o tipo de pessoa que perderia o precioso tempo dele que poderia ser gasto olhando nuvens, por exemplo, para ensinar os amigos como se comportarem.

Ele tinha cara de quem não estava nem aí para o mundo, só vegetando.

Dava sono só de olhar para a cara dele, Temari pensou querendo rir. Era tão molenga que dava vontade de chacoalhar para ver se acordava, se bem que ela só o vira duas vezes e não tinha muito mais com o que comparar. Na verdade, o garoto era alguém estranho demais, e desde a noite anterior ela vinha criando uma certa curiosidade.

Olhou para Gaara que permanecia quieto e ainda na mesa.

— É verdade que ele é um gênio? Ou só exagero?

O ruivo ergueu os olhos claros pintados de preto na direção da irmã, Kankuro calou a boca para comer e Rasa voltou a ler o jornal. Gaara estudava junto com o irmão mais novo de Itachi, certamente estudava com Shikamaru.

— É o que dizem. Ele dorme durante as aulas e também durante as provas. — o mais novo ergueu os ombros e Temari não se surpreendeu com a informação — Mas em todos os testes práticos que envolvem lógica ele vai bem.

— Dizem que ele toca quinze instrumentos, que tem aquela memória que guarda tudo, sabem? — Kankuro se empolgou de novo contando as fofocas sobre o garoto. Temari achava aquilo um exagero, mas ouvia com atenção — Já ouvi dizer que ele corrigiu um professor quando tinha uns cinco anos e usou uma fórmula de ensino médio para mostrar estar certo. Ah! E ele resolve o cubo mágico em menos de quinze segundos.

Kankuro arregalou os olhos e balançou a cabeça como se aquela informação fosse o ápice da genialidade do menino, mas Temari só conseguia mesmo acreditar na parte que ele dormia e na do cubo mágico que não era nada de mais se a pessoa praticasse bastante.

— Ele parece ser bem esperto mesmo. — ela comentou sem interesse se levantando da mesa com sua louça.

— Ele é. — Kankuro deu uma risadinha pelas costas de Temari enquanto ela lavava a xícara que usou. — Ninguém vence ele no xadrez, nem os professores. Minha teoria é que ele entregou o jogo para você porque estava com preguiça.

Temari apertou a xícara na mão repetindo mais de uma vez que não havia sido aquilo, mas então Kankuro continuou:

— Aliás, é ele quem vai se mudar.

 

♚♛

 

Aquela sexta-feira havia passado rápido demais na percepção de Temari. Entregou seu trabalho de cálculo, almoçou com Tenten, ganhou dela nas duas partidas de xadrez, adiantou o trabalho de química que deveria entregar na segunda aproveitando uma palestra sobre drogas, foi liberada mais cedo com o restante da turma e aceitou o convite de Tenten para tomar um sorvete.

Gostava muito da garota. Conversava sobre tudo, tinha personalidade e uma boa mira com dardos, o que Temari achava muito legal. Tenten estudava um ano abaixo, apesar de ser dois anos mais nova, mas não tinha muitas amigas e então ficava com Temari com mais frequência.

As duas andavam lado a lado com seus sorvetes nas mãos, a mochila pesada nas costas e sem pressa alguma para chegar no ponto que se separavam. Tenten estava contando para Temari exatamente porque estudava numa série acima da que deveria.

— Bom, tinha esse menino, o Neji. Nós estudamos juntos desde o maternal, eu acho. Éramos melhores amigos, junto do Lee. Quando eu tinha uns 12 anos coloquei na cabeça que estava apaixonada por ele, foram anos difíceis — Tenten comentou com sarcasmo e rindo — Eu fazia de tudo para impressionar ele. Foi com ele que aprendi xadrez, você ia gostar de jogar contra o Neji. — Temari ergueu as sobrancelhas, mas continuou quieta deixando Tenten falar. Devia ser a primeira vez que falavam sobre meninos, e até que estava sendo legal, leve. — Aí Neji fez uma prova para avançar séries, sabe? Ele era muito inteligente. Eu fiquei bem mal, então tentei o mesmo ano passado e consegui entrar no ensino médio junto com ele.

— E aí? — Temari soltou sem perceber. Estava envolvida com a história e a pausa de Tenten para jogar o copinho sujo de sorvete no lixo atiçou sua curiosidade.

— Ele arranjou uma namorada mais velha. — Tenten deu de ombros.

— Mudou de escola por causa dele, então?

— Não por inteiro. Meu pai foi promovido e mudamos para o centro, então mudei de escola por ser mais perto, mas claro que queria me afastar. É bizarro, sério.

Temari sentiu pena de Tenten, ela era tão legal, tinha certeza que o tal Neji estava perdendo uma garota e tanto.

— E você ainda gosta dele? — perguntou com a intimidade que ela sabia que as duas tinham. Tenten suspirou erguendo os ombros e parou de andar quando chegaram na esquina que se separavam.

— É difícil esquecer da noite pro dia. Não incomoda mais como antes, mas ainda fica aquela dorzinha, sabe? — Temari assentiu apenas por assentir, não sabia mesmo como era aquilo e Tenten sorriu percebendo — Você já se apaixonou?

— Acho que uma vez quando eu tinha uns seis anos. Não lembro o nome do menino, mas roubei um beijo dele.

Tenten riu com gosto e Temari deu de ombros dando seu copo para Tenten atirar no cesto com sua pontaria impecável.

— Vai ser engraçado quando o cupido te acertar, Tema. Não consigo nem imaginar como você se comportaria toda boba de amor. — Tenten cantarolou rindo ainda mais da careta de Temari. — Precisa relaxar, amiga. O que vai fazer hoje a noite?

— Levar meus irmãos numa festinha, voltar para casa e estudar, talvez.

— Se for ficar em casa você me liga para fazermos algo.

Temari acenou pensando que poderia mesmo ser uma boa ideia, deixaria seus irmãos lá na casa do Nara, encontraria Tenten para fazerem algo e depois iria buscar eles. Mas seu pai mudou seus planos…

— Você vai ficar lá com eles.

— Pai, vai ter só os amigos deles.

— Aqueles dois andam aprontando e quero que você fique de olho.

— São crianças!

— Temari, não me faça perder a paciência com você também.

E ali estava ela, dirigindo com cara de poucos amigos com um Kankuro que não calava a boca reclamando das meninas que iriam ser afastadas pela presença de sua irmã mais velha e Gaara quieto olhando para fora no banco de trás.

— Por mim eu deixava vocês lá e ia embora, mas o pai disse que vai olhar o velocímetro. — Temari bufou entrando na estrada de terra. Havia umas fitas amarradas em algumas árvores, ela reparou, mostrando o caminho que ela já conhecia.

Ficar naquela “festa” era decididamente a última coisa que ela queria. Aquela obrigação ridícula de irmã mais velha a enfurecia. Tinha que perder parte de sua liberdade para educá-los?

— Um dia vocês dois vão me pagar caro por tudo isso.

Kankuro a imitou igualmente irritado e Gaara fingia nem ouvir nada. Ele era outro que não queria estar ali e tentou negociar com Temari para conseguir escapar, mas ela foi enfática: se um ia sofrer, os outros também iam.

O casarão estava bem iluminado e os grandes portões estavam abertos. Diferente do que ela encontraria em uma festa de verdade, não haviam carros estacionados, mas sim algumas bicicletas. Havia somente um carro ali, uma caminhonete grande e cara demais. Não havia música alta, mas dava para ouvir alguém falando muito alto e depois barulho de água.

“Uma piscina, que ótimo” Temari pensou fechando a porta com brutalidade. Era o total oposto da euforia de Kankuro, ela só queria ver se aquela molecada a envolveria em alguma brincadeira com água. Não ia ser uma boa ideia.

Entrou olhando o jardim simples e a estradinha de pedra. A casa tinha uma arquitetura diferente, antiga, mas muito conservada, como se tivesse sido construída há pouco tempo mas com a intenção de parecer de outro século. A porta da entrada estava aberta e Temari não tinha muita certeza se era mesmo por ali que deveriam entrar, já que a bagunça parecia estar sendo feita atrás da casa.

— Oi, nós somos amigos do Shikamaru — ouviu Kankuro mais a frente dizer e então viu uma mulher parada na porta de entrada com avental e uma travessa nas mãos. Ela tinha um rosto jovem, mas um vinco na testa a deixava com expressão grave. O cabelo escuro era bem penteado para trás e os olhos castanhos passava por cada um, se demorando um pouco em Gaara e Temari.

Temari sentiu um pouco de medo de ser mandada para fora. Era nitidamente mais velha e Gaara tinha aquela cara de psicopata cheio de lápis no olho e roupas pretas. Mas manteve a postura olhando para a mulher com o queixo erguido tentando passar uma imagem responsável.

A mulher mexeu a cabeça uma vez e se virou olhando-os por cima dos ombros.

— Entrem, entrem — e voltando-se para dentro da casa gritou — Shikamaru! Vem receber seus amigos!

E aquela devia ser a mãe dele, Temari pensou se lembrando de quando ele a comparou com a mãe. Ela realmente parecia assustadora, e pelo jeito que falava e se movia devia ser a que mandava ali. Ela era rápida, fazendo mais de uma coisa a cada vez, dando ordens para uma moça que a ajudava a servir os amigos do filho e gritando por ele a cada minuto. Mesmo com essas características, ela era muito hospitaleira, sempre perguntando se todo mundo estava bem e não reclamando de nada e nem chamando a atenção até dos mais barulhentos.

Temari seguiu Kankuro para dentro da casa e conseguiu ver então Shikamaru aparecendo com as mãos no bolso e andando como se arrastasse. O cabelo estava preso como das outras vezes, a camiseta verde parecia úmida e a bermuda decididamente molhada. Ela sorriu um pouco quando ele a olhou com uma centelha de surpresa, logo voltando a ficar naturalmente patético novamente.

Ele cumprimentou os meninos com um aceno e nem perguntou o que ela estava fazendo ali sem convite, mostrou onde todos os outros estavam e foi andando ao lado de Kankuro na frente, balançando a cabeça enquanto o outro falava alto.

Temari se sentia um pouco deslocada entrando ali sem conhecer ninguém, ficou olhando a mobília bonita, os tapetes por todo lado, percebeu a falta de TV no que deveria ser a sala e também nos inúmeros troféus e medalhas dentro de um armário grande todo de vidro. Não sabia de quem eram aqueles prêmios, mas eram bem impressionantes.

— Shikamaru, você entrou com essa bermuda molhada? — a mãe dele surgiu do nada com mais uma bandeja cheia de salgadinhos fritos gritando com o filho que se encolheu na hora.

— Você que mandou eu vir, mulher — ele respondeu baixo, e Temari ficou esperando o esporro, mas pelo jeito a mãe não havia ouvido.

— Se sujar vai voltar passando pano, ouviu? Cadê o Shikaku? — E como surgiu, ela desapareceu.

Shikamaru não deu atenção e acenou com a mão para que seguissem ele. Aquela situação toda estava deixando Temari até bem humorada.

Do lado de fora era não pôde segurar a fascinação. Uma piscina grande adornada com um piso de tacos e pedrinhas brancas, um pergolado com colunas de madeira que cobriam sofás em tons de areia e vasos brancos com folhagens deixando o canto requintado, uma churrasqueira de tijolos sendo comandada por um homem loiro e de cabelos longos e cadeiras de praia para todos os lados. Temari deixou um assovio de apreciação enquanto os irmãos se enturmavam com os colegas que brincavam na piscina ou ao redor dela.

Temari decididamente iria ficar longe da piscina, então foi se sentar embaixo do pergolado sozinha e sacou o celular para passar o tempo, mas ele desligou sem bateria assim que ela desbloqueou. Xingou mentalmente e olhou ao redor tentando se distrair com alguma coisa. Percebeu, nesta observação, que estavam lá o irmão de Itachi que ela nunca guardava o nome e reparou que o menino era mesmo bonitinho, faria sucesso quando mais velho; viu também o loiro chamado Naruto que sempre estava na sua casa com Kankuro e Gaara, ele berrava sem noção alguma se jogando na piscina e atormentava o Uchiha em particular.

Havia também um garoto gordinho que ela se lembrava de já ter visto antes e então reparou num homem também bem gordo sentado ao lado dele comendo churrasco na beira da piscina com os pés dentro da água. Sem dúvidas eram pai e filho.

Shikamaru andou até eles e se sentou ao lado do menino gordinho chutando a água com os pés enquanto ouvia o homem gordo dizer algo em meio a risos. Temari encostou no sofá observando a interação deles. Shikamaru sorria mais, parecia interessado no que eles diziam e ela podia apostar que nem era nada de mais, mas parecia ser o único a tirar algo além de indiferença daquela cara.

A próxima cena, entretanto, a pegou de surpresa, uma garota loira pulou nas costas de Shikamaru de repente o atirando na piscina. O gordinho ria descontrolado e os meninos gritavam. Temari rodou os olhos pelo lugar e percebeu que não haviam “garotas” como Kankuro imaginou, havia uma só e ela abraçava o Nara dentro da água.

Era uma cena estranha, ele não a empurrava mas também não abraçava de volta, ela o rodava dentro da água colada ao corpo dele enquanto o cabelo loiro e longo quase se enrolava neles.

— Posso me sentar com você?

Temari parou de olhar na piscina assim que ouviu a voz masculina ao seu lado, ergueu os olhos e não consigo esconder a surpresa. Se achava Gaara e seu pai parecidos, era porque não havia comparado Shikamaru com o homem que a olhava sereno.

— Claro. — Se moveu desconcertada no sofá ainda um pouco chocada com as semelhanças. As únicas diferenças mais perceptíveis eram as duas cicatrizes no lado direito do rosto, a barbicha e os olhos mais sábios.

— Shikaku Nara, pai do Shikamaru. — ele estendeu a mão para ela e Temari apertou com respeito. Ela pensou que era até inútil dizer de quem ele era pai, eram quase cópias. Shikaku sentou-se no outro sofá ficando de frente para a piscina — Já nos conhecíamos?

— Sou Temari no Sabaku, irmã de Kankuro e Gaara. Vim somente para acompanhá-los. — ela se apresentou em seu tom mais sério, aquele que costumava usar com pessoas mais velhas e quem impunham respeito. Aquele homem era as duas coisas.

Shikaku sorriu brevemente e assentiu com a cabeça olhando a movimentação na piscina.

— Suponho que sua sexta a noite foi estragada para ter que ficar de olho nesses marmanjos. — ele disse com um pouco de humor.

Temari puxou um sorriso azedo olhando para a mesma direção que ele. Kankuro e Gaara estavam em um tipo de luta na água com Naruto e o Uchiha. Os olhos de Gaara estavam ridiculamente borrados, mas nenhum deles estavam se importando com aquilo e continuavam a bagunça.

Não havia nada de “marmanjos” ali. Para Temari ainda eram um bando de crianças crescidas que achavam ter alguma maturidade.

— Não está sendo um sacrifício. — respondeu querendo aparentar gentileza, mesmo que os planos fossem outros. — A casa de vocês é muito bonita, aliás.

— Obrigado. — Shikaku se encostou no sofá mais a vontade e voltou a olhar para Temari. Ela se sentou com mais postura e colocou as mãos cruzadas em frente aos joelhos, de pernas cruzadas — Fizemos uma restauração recentemente, mas é uma casa de família que data de quase um século.

Temari mostrou-se verdadeiramente impressionada voltando a olhar a arquitetura do lugar. Ela tinha uma facilidade gigantesca em conversar com adultos ou pessoas mais velhas e gostava quando eles a tratavam como uma igual. Shikaku estava sendo cortês, muito receptivo e agradável.

— De muito bom gosto. Estava mesmo curiosa sobre a propriedade, não fazia ideia de que era particular. — Temari mantinha o nível da conversa como uma adulta, até que viu Gaara caindo dos ombros de Kankuro e quase batendo a cabeça na beirada da piscina. Ela se levantou na mesma hora e ralhou — Ou vocês brincam direito ou afogo os dois, ouviram?

Temari ouviu a risada do homem quando voltou a se sentar e ignorou Kankuro reclamando e os outros meninos zoando.

— Desculpa por isso. — ela suspirou rolando os olhos.

— Não se preocupe, deixe-os se divertir. Vou te contar sobre a propriedade Nara.

E Temari ouviu tudo com extrema atenção, viajando para cem anos atrás quando o primeiro Nara fechou aquela área após comprar a propriedade com o intuito de acabar com a caça exacerbada que havia. Shikaku contava com datas, locais e detalhes que somente alguém que já havia contado aquela história diversas vezes poderia se lembrar. Não era uma história fantástica, mas era bem contada e servia para passar o tempo.

— Então ainda há cervos aqui? — aquela informação havia chamado a atenção de Temari.

— Sim, há poucos mas dá para vê-los de dia.

Temari resmungou sua falta de sorte por ser noite, seria muito legal para ela se embrenhar naquelas árvores e ver alguns animais selvagens. Seria uma aventura e tanto.

— Yoshino, minha mulher — Shikaku apontou por cima do ombro com um sorriso um pouco travesso. Temari olhou para a janela que ele apontava e viu a mulher de costas indo de um lado para o outro — pediu para que eu viesse falar com você. A incomoda pensar que alguém não está sendo bem tratado na casa dela.

— Ah, não se preocupe. Eu realmente estava bem — Temari se apavorou com aquilo. A última coisa que queria era chamar atenção, ainda mais dos donos da casa. Entretanto, estava contente por ter tido a oportunidade de conhecer Shikaku Nara — Eu agradeço a atenção.

Shikaku moveu uma mão de forma preguiçosa mostrando que não era nada de mais.

— Fiquei com medo de vir aqui e ter que conversar com uma adolescente, mas você é muito madura, Temari. — Shikaku confessou muito relaxado e com mais humor que antes. Temari sorriu agradecendo, constrangida pela primeira vez — Você tem perfil de liderança. Executa algum cargo assim em algum clube da escola?

Temari estava sem graça. Chamá-la de madura e líder por um homem mais velho e tão instruído quanto Shikaku parecia ser surreal, estava sendo o suprassumo da sua vida. Nunca havia se sentido tão lisonjeada, e estava treinando na sua cabeça como responder aquilo sem denunciar seu pequeno surto interno.

Primeiro agradeceu com uma leve reverência só com a cabeça, depois perdeu seu olhar no nada para escolher as palavras que usaria. Não queria parecer alguém desinteressante, uma mera adolescente de 16 anos. Queria parecer madura e impressionar.

— Confesso que não me envolvo com os clubes da minha escola, os incentivos para grupos intelectuais é bem baixo — respondeu morrendo de medo de estar sendo muito metida, mas Shikaku a olhava expressando leve interesse, precisava melhorar aquilo — Mas já fui líder do extinto clube de xadrez.

— Então você joga xadrez? — Um brilho perpassou pelos olhos do homem e Temari sorriu confiante assentindo. Shikaku pareceu ponderar algo por um momento olhando para os lados e depois para ela mais uma vez — Já que você não gosta de piscina, quer jogar uma partida? Só tenho Shikamaru como oponente aqui. — justificou fingindo tédio.

— Seria divertido. — ela respondeu sincera.

Não tinha ideia de como seria o jogo entre pai e filho, mas já havia visto Shikamaru jogar e pela cara de Shikaku ele devia perder para o filho e talvez achasse que poderia jogar de igual com ela.

Ela sorriu confiante quando ele saiu para buscar o tabuleiro. Se tudo corresse bem, ela até poderia desafiar Shikamaru e fazê-o ir até o fim daquela vez, última vez antes de se mudar. Procurou ele com os olhos e acabou surpresa quando o viu a olhando ao lado de Shikaku, ele desviou os olhos pequenos que se arregalaram com o flagra. Ela ficou curiosa sobre o que falavam, mas decidiu que deveria suprimir isso junto do divertimento que a cena causou.

Shikaku voltou pouco depois com um antigo tabuleiro e colocou no meio do sofá que ela ocupava. Temari o ajudou com as peças ficando com as brancas.

— Shikamaru me disse que você o derrotou no ano passado.

Temari ergueu a cabeça com surpresa.

— Não o derrotei, ele desistiu antes de acabar. — a verdade saia amarga da boca. A vontade de jogar de novo para vencer de maneira limpa ainda matutando em sua cabeça.

— Ele contou. Não me admira que ele tenha feito algo assim. Shikamaru raramente lida com desafios. — Shikaku disse displicente, como se fosse algo comum enquanto terminava de arrumar as peças.

Temari não queria admitir para si mesma, mas era o terceiro elogio sabendo da suposta e quase declarada genialidade do garoto que os olhava interessado de longe ainda entre os amigos e a loirinha que falava em parar. Ele parecia estar louco para assistir o jogo.

— Talvez ele tivesse ganhado se fosse até o fim. — ela o defendeu sem pensar.

— Suposições não trazem vitórias. — Shikaku respondeu de imediato olhando para o filho. Temari ergueu as sobrancelhas gostando do que ouviu, tinha que anotar aquilo em algum lugar. — Já ouviu falar de shogi?

Temari nunca havia ouvido falar sobre aquilo e balançou a cabeça negando. Shikaku fez uma careta de pesar.

— Uma pena. Pode começar.

E Temari soube que não deveria ter saído da cama naquele dia. Ela não havia sido derrotada, havia sido massacrada. Se Shikamaru havia sido complicado de se entender, o pai dele era imensuravelmente mais. Ela ainda estava atordoada com a rapidez nas jogadas e nas emboscadas que ele criava sem pensar quase nada, coisa de segundos.

Perdeu de forma tão boba que se sentiu o ser mais insignificante, como se tudo o que houvesse vivido no xadrez fosse uma grande mentira. Nem se atreveria a desafiar Shikamaru depois daquele baque.

— Você é realmente muito boa. — ele repetiu depois da quarta partida. Ela riu um pouco sarcástica e balançou a cabeça.

— Isso foi vergonhoso.

— Não foi, você realmente sabe montar ótimas jogadas. Um pouco mais de controle emocional e pode chegar ao nível profissional, com certeza. — ele disse guardando as peças no tabuleiro dobrável. Yoshino havia desistido de assistir a partida na segunda e havia voltado para a cozinha.

— O senhor é profissional?

— Eu? — Shikaku riu e balançou a cabeça — Não. Eu trabalho usando isso — e bateu na própria cabeça — Xadrez é um exercício para o cérebro como musculação é para o corpo, no meu caso.

— Obrigada pelo jogo, foi um aprendizado. Mas minha cabeça já está rodando — ela se levantou rindo sem graça. — Onde fica o banheiro?

Shikakau olhou para uma direção onde deveria ser o banheiro externo e fez uma careta quando o gordinho saiu de lá batendo na própria barriga satisfeito.

— Use o lá de dentro — ele se levantou deixando o jogo em cima do sofá — Suba as escadas, última porta do corredor.

Temari entrou na casa e foi tomando o caminho que Shikaku disse enquanto pensava curiosa sobre o emprego do homem. Se lembrou de Kankuro dizer que ele era militar, assim como a esposa. Os dois não pareciam militares, Yoshino era rígida, mas parecia uma dona de casa comum e Shikaku mais tinha jeito de motoqueiro com aquele colete de couro, a cicatriz e o cabelo comprido do que um militar. E também havia o filho que não parecia ser alguém que viveu em um ambiente com pais militares, ele era tão desinteressado pela vida.

Temari balançou a cabeça não querendo mais pensar na vida dos outros, reparou então que o corredor estava vazio, sem tapetes ou decoração. Provavelmente já haviam encaixotado tudo e deixado somente a parte social mobiliada por conta das visitas.

Entrou no banheiro e demorou mais tempo que o necessário, olhando no espelho e tentando arrumar o cabelo rebelde nas marias chiquinhas além de repetir inúmeras vezes na sua cabeça como Shikaku jogava. Aquilo era surreal e certamente ela iria passar a noite em claro tentando copiar o que ele havia feito.

Ia chamar os irmãos para irem embora. Tiveram bastante tempo para se divertirem e se despedirem e pensar nisso a deixava com um pouco de pena por ter conhecido eles por tão pouco tempo. Podia se ver facilmente passando longas horas conversando com Shikaku e jogando xadrez com alguém impressionantemente inteligente. Era só o que faltava o pai também ser um gênio, o que ela não duvidaria se dissessem. A diferença era que Shikaku era humilde, diferente do filho que parecia caçoar dela enquanto jogava.

Fechou a porta do banheiro com cuidado e dava passos leves para não fazer eco quando ouviu uma conversa em um dos quartos que tinha a porta quase fechada. Não pararia para ouvir, mas estava tudo tão silencioso e sem os móveis que as vozes ficavam mais altas.

— … ela disse isso. Que eu não vou conseguir uma namorada sendo tão gordo.

Temari se aproximou curiosa, franzindo as sobrancelhas com o absurdo que ouvia. Certamente era o gordinho que estava na beira da piscina que se lamentava ali dentro.

— Tsc.

— E disse que as mulheres fazem dietas para ficarem magras porque os homens gostam delas em forma, o mesmo valia para o oposto.

Temari não conseguia acreditar no que ouvia. Materializou a loira que estava com eles mais cedo falando aquilo. Balançou a cabeça com desânimo e perca de fé na humanidade.

Já ia saindo quando ouviu uma risada sarcástica.

— Cara, ela não faz ideia, faz?

Temari olhou pela fresta da porta e viu Shikamaru de perfil balançando a cabeça com um sorriso pequeno. O gordinho estava sentado com uma expressão desolada e olhava de olhos brilhantes para o amigo. Shikamaru continuou:

— Os homens não gostam tanto de garotas magrelas como ela pensa. As mais apreciadas são as mais “fofinhas”. E o mesmo vale para o oposto, certo Chouji? Tenho certeza que Ino ficaria duas vezes mais popular se ganhasse um pouquinho de peso. — E então ele inflou as bochechas e o gordinho começou a rir balançando as pernas. Temari não conseguiu segurar o sorriso com aquilo.

— Shikamaru, você é tão engraçado quanto é esperto. — Chouji disse se levantando e abrindo os braços — Eu sempre soube que você era mais do que mostra. Você é melhor que o Sasuke ou outro popular.

— Ora, eu sou apenas eu. — Shikamaru desviou o rosto envergonhado e Temari se aproximou mais da porta, o sorriso ainda em seu rosto.

— Bom, você vai para uma escola especial agora e com certeza vai entrar na faculdade primeiro que todos nós.

— Eu vou esperar você, Chouji. Vamos estudar juntos.

— Com as minhas notas e sem você é capaz de eu repetir de ano. — Chouji parecia pequeno e o bico que se formou deu pena até em Temari.

— Você precisa só se manter na média, não precisa de mais que isso. Se fossemos concorrer à uma bolsa esportiva na faculdade, com certeza você ganharia de mim. — Shikamaru tirou as mãos do bolso e gesticulou no ar — Como eu disse, eu sou apenas eu. E você é você. É estúpido pensar quem é melhor que quem quando cada um é bom em alguma coisa. — Shikamaru se aproximou do amigo e colocou a mão em seu ombro — Por isso, não ligue para o que os outros disseram sobre você, ok? Tudo o que precisa fazer é se sentir confortável e investir no que você gosta de fazer.

— Você é um cara legal, Shikamaru. — Chouji apertou Shikamaru num repentino e choroso abraço — Vou sentir sua falta.

— Também vou sentir a sua.

Temari se sentiu deslocada se afastando e pensando com ela mesma. Naquela mesma noite ela havia aprendido duas coisas:

1 - Comodidade estava longe dos seus planos depois das derrotas que sofreu tendo confiança de que era boa no xadrez, ela iria crescer sempre em tudo que fizesse.

2 - Shikamaru era surpreendente muito mais do que ela havia julgado dele.

Era uma pena ter conhecido aquela família no último dia deles ali.




betado por Mrs.Fox


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Essa última cena entre Shikamaru e Chouji aconteceu no episódio 107 no clássico. É maravilhoso esse diálogo e aí mostra a maturidade que Shikamaru deixa bem escondido servindo de coadjuvante para seus amigos ♥

Shikaku ♥ Amo esse homi TT Saudades, aliás TT
O próximo capítulo vai ter passado um bom tempo, alguém tem que voltar, não é mesmo? E aí o romance vai começar a ser trabalhado ;)
E não esqueçam de dizer se preferem capítulo mais longos ou mais curtos ;)

Até o próximo!!! Beijão!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Chess" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.