Torneio de Xadrez do Ensino Médio

Temari, com as mãos na cintura, olhou para o ginásio decorado para o evento que ela havia esperado aquele ano todo. Uma fileira de mesas com um tabuleiro de xadrez em cada, professores e alunos esquisitos andando de um lado para o outro afobados, uma faixa bem grande com o nome do evento em letras mal feitas por cima da tabela de basquete.

Não tinha interesse nos outros eventos escolares como havia tido por aquele desde que chegou a cidade.

Pensou que demoraria para se enturmar e realmente achou complicado achar pessoas que tivessem os mesmos gostos que o seus, teve aquela insegurança boba de que ficaria sozinha um bom tempo, em parte por sentir falta dos irmãos que estavam em outra escola, mas foi só se perder na primeira semana de aula e encontrar quatros pessoas jogando xadrez numa sala vazia que ela achou o seu grupo.

― Boa sorte, Temari ― Itachi passou de mãos dadas com Izumi.

― Vocês é que vão precisar de sorte. ― ela brincou e os dois sorriram com o desafio.

― A aposta ainda está em pé ― Izumi gritou já afastados por cima do ombro ― Os perdedores pagam o rodízio de hoje!

Temari ergueu os ombros com confiança. Ela era a melhor da escola, e esse fato deixou seu grupo extremamente extasiado. O clube de xadrez não era bem patrocinado e nem tinha visibilidade. Mesmo Itachi sendo o capitão do time de futebol e aluno popular do terceiro ano, não trazia a atenção que o clube queria ter. Ele havia começado a jogar por conselho de seu treinador para melhorar suas habilidades estratégicas, e foi ali que conheceu sua namorada há dois anos. Itachi era realmente muito bom, o único que Temari sentia real prazer em jogar contra. Era o único que trazia desafios, e era disso que ela gostava.

Izumi também estava no terceiro ano e era a aluna prodígio de biologia. A história dos dois daria um belo clichê americano, a nerd e o capitão do time. Entretanto, não havia drama ou rivais querendo a separação dos dois. Izumi era extrovertida, inteligente, e por vezes conseguia surpreender Temari com estratégias inusitadas, mas não era algo fora do comum.

Havia também Nagato e Konan, os dois góticos que gostavam de RPG sobre vampiros, filmes de terror independente, escutar deathrock e jogar xadrez nas horas vagas. Os dois eram bons, um pouco mais que Izumi, mas nada fenomenais. Participariam do torneio por conta, e somente por conta, de uma humilhação sofrida no ano anterior que nunca quiseram contar para ela. Ambos estavam sentados no canto mais escuro e afastado na arquibancada como dois morcegos em seus sobretudos.

Eram um grupo bizarro, ela admitia, mas era o grupo mais legal que ela conheceu naquela escola. E por causa deles, da boa recepção e a insistência para que ficasse, ela descobriu ser muito boa em estratégias. Ela era a rainha do xadrez.

Não haviam muitas pessoas por ali, alguns alunos de mais duas escolas rivais que participariam e uns amigos muito fiéis que iam até lá torcer em silêncio na arquibancada.

Ela tinha vontade de rir de como aquele bando de perdedores se sentiam o máximo falando sobre suas vitórias, sobre as jogadas que sabiam fazer, o tempo impressionante que levavam para dar o xeque-mate. Mas aquilo era só uma forma patética de amedrontar os adversários, ela sabia, e por isso seu sorriso debochado era a arma mais fatal contra aquele bando de idiotas que fingiam segurança.

― Hey, Tema! ― a voz de Kankuro a fez se virar com um sorriso de verdade para a arquibancada quase vazia. Ele agitava os braços chamando a atenção dela ― Acaba com esses retardados! Ganha tudo! Leva esse troféu pra casa!

Ela acenou rindo. Kankuro talvez não tivesse nem ideia do que iria ter ali e aproveitava a passividade dos jogadores de xadrez - que só respondiam a ofensa com olhares esnobes e sussurros entre eles - para ele parecer um retardado. Ao lado dele estava Gaara, com os olhos pintados e as roupas pretas, quieto com o olhar no canto em que Konan e Nagato curtiam a escuridão da vida.

Com surpresa, ela reparou mais quatro colegas junto dos irmãos. Um loiro hiperativo que ficava ensaiando dancinhas imbecis com Kankuro como duas líderes de torcida, o irmão mais novo de Itachi que sentava ao lado de Gaara com a mesma quietude, um gordinho comendo salgadinhos e um magricela com rabo de cavalo que quase dormia esparramado na arquibancada.

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A professora Kurenai pediu que os participantes fossem se sentando nas respectivas mesas enquanto um sorteio era feito para decidir os competidores. Haviam cinco de cada escola, no total 15 e Temari queria ver como iriam fazer com o participante que sobrasse.

― Temari no Sabaku, mesa 7. ― Kurenai disse alto seu nome ao abrir o papel que tirou de uma caixa de acrílico.

Sorriu apenas para cumprimentar a garota asiática que se sentou na frente dela e logo focou-se no tabuleiro na sua frente. Ela estava com as peças brancas, então começaria primeiro. Um professor aleatório se juntou à elas como fiscal e parou ao lado da mesa. Ele pegou o relógio que controlaria o tempo delas e colocou na beirada da mesa ao alcance das mãos delas.

― Prontas?

Temari sorriu com os olhos no tabuleiro. Já havia montado três estratégias para o início dependendo da movimentação da adversária. Uma buzina soou alta em algum lugar e ela fez seu primeiro movimento e bateu rápida no relógio. Sorriu com o movimento previsível da garota a sua frente e em contrapartida começou a montar sua armadilha batendo ligeira, mais uma vez no relógio. A garota, parou para pensar na terceira jogada e quase perdeu o tempo que tinha. Temari já sorria vitoriosa, com certeza seria a primeira a acabar o jogo.

― Xeque-mate.

A voz preguiçosa e em mudança ao seu lado a fez virar o rosto para a mesa 8. A surpresa não poderia ser maior ao constatar que era o magricela que estava com seu irmão jogando contra uma garota morena que mal havia movido três peças.

A garota disse alguma coisa entre dentes olhando para o tabuleiro embasbacada e o garoto espreguiçou-se deixando um bocejo profundo de quem parecia não ter dormido a noite inteira e apagaria a qualquer momento.

Balançou a cabeça voltando para o seu próprio jogo quando ouviu a sua adversária bater no relógio. Ela não era tão ágil e estava caindo em sua armadilha, Temari iria usar a sua agilidade a seu favor. Mais duas jogadas e ela foi a segunda naquele lugar a soltar o fatídico xeque-mate.

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A segunda e a terceira partida foram contra dois garotos esquisitos que tentavam distraí-la com sons irritantes e jogadas mal feitas no que deveria ser uma armadilha, mas se mostravam tão incoerentes e ridículas que a sobrancelha erguida e o sorriso debochado saiam naturalmente enquanto os desarmava mostrando estar ciente do que acontecia no tabuleiro.

Haviam sido vitórias fáceis demais, mas ela nunca foi a primeira a acabar o jogo.

Durante os intervalos não foi até seus irmãos e manteve-se perto dos colegas de clube. Nagato e Izumi haviam sido derrotados na primeira rodada. Itachi parecia ser o único a estar se divertindo com tudo aquilo.

― Aquele é Shikamaru Nara ― Itachi respondeu ao olhar inquisidor de Temari ao garoto pequeno que era chacoalhado pelo loiro agitado na arquibancada. ― Ele é um prodígio, dizem ser um gênio.

― Eu odeio ele. ― Nagato resmungou sombriamente.

― Nagato e Konan foram derrotados por ele no ano passado ― Itachi continuou, o braço dele rodeava o ombro de Izumi que prestava atenção ao celular.

― Quantos anos ele tem? ― ela finalmente perguntou vendo a visível diferença do garoto com os outros participantes.

― Doze, Treze… Não passa disso. ― Itachi deu de ombros querendo rir da surpresa de Temari. ― Ele estuda com Sasuke.

― Ensino fundamental? Mas o que ele faz aqui?

― Ano passado o professor Asuma ― Konan tomou a frente apontando para o professor conversando com Kurenai no fumódromo ― perguntou se havia problema abrir uma exceção para um aluno mais novo.

― Foi unânime ― Itachi riu balançando a cabeça. O garoto olhou de canto para os cinco que o olhavam e desviou o rosto para o gordinho ao seu lado ― Ninguém imaginou o que iria acontecer.

― Ele foi longe ano passado? ― Temari não conseguia parar de olhar para a figura molenga sentada na arquibancada.

― Ele é o atual vencedor. ― Itachi respondeu com um suspiro ― Esse é nosso último ano, Konan, temos que levar o troféu.

― Isso já virou uma questão de honra.

E lá estava Temari vendo Itachi erguendo os ombros em um sinal de “fazer o quê?” Logo após sua derrota na semifinal para o garoto do fundamental. Aquilo era ridículo, Itachi era inteligente demais e jamais havia sido derrotado em tão pouco tempo por ela numa partida.

A curiosidade começou a aquecer a mente dela, assim como os incentivos e pedidos de vingança vindos de um amargurado Nagato e uma rancorosa Konan.

Havia conseguido chegar na final e poderia ser até engraçado olhar para aquele moleque mais baixo que ela, com olhos pequenos, um bico de tédio, ombros curvados, cabelo bem amarrado no alto da cabeça… Poderia ser engraçado se ela não pegasse tudo aquilo como uma provocação.

― Vai Shikamaru, acaba com ela ― o loiro berrou e a voz dele fez eco tirando uma careta de desagrado até mesmo de Shikamaru que resmungou algo baixo.

― Ela é minha irmã, seu idiota! ― Kankuro berrou de volta.

O tempo que um dos professores usou para chamar a atenção dos dois, foi o tempo que Temari teve para encarar nos olhos aquele menino estranho. Ele não desviava, porém, parecendo estar no ápice do tédio, mostrando não querer mesmo estar ali, mas em qualquer outro lugar, de preferência dormindo.

Ela suspirou. Deveria estar focada, ele parecia meio sonolento e isso poderia ajudá-la de alguma forma a derrotá-lo rapidamente.

― Uma garota de novo? Que problemático… ― ele resmungou baixo, mas foi o suficiente para ela ouvir e juntar as sobrancelhas irritada.

― Como é?

O revirar de olhos dele foi o estopim.

― Prontos? ― Asuma tomou a frente colocando a mão no ombro de ambos.

Temari assentiu sem tirar os olhos do pirralho, ele bocejou e esticou os braços antes de assentir também. Temari fez o primeiro movimento com rapidez e o olhou maquinando só então o que faria com ele. Era difícil montar uma estratégia com raiva, então ela olharia o estilo dele e ficaria na defensiva até que surgisse uma brecha.

Shikamaru olhou o tabuleiro com preguiça e moveu com uma surpreendente agilidade o primeiro peão. Os olhos pequenos a olharam e ela sentia o desafio ser jogado em forma de deboche naquela expressão patética. Fez o segundo movimento com seu cavalo e bateu no relógio esperando para ver o que ele faria. Surpresa, o viu mover o bispo para perto de seu cavalo, numa casa que o sacrificava caso ela avançasse com o cavalo.

Temari olhou para o jogo tentando entender o que ele faria, mas a sua cabeça não conseguia montar nada e decidiu não cair na armadilha óbvia e protegeu seu cavalo com um peão.

O jogo continuou assim. Ela na defensiva procurando a estratégia que ele usava e ele movendo peças de forma que parecia aleatória e deixando o olhar preguiçoso como um combustível para a irritação dela.

“O que ele está fazendo?” era o pensamento que mais passava pela sua cabeça a cada movimento rápido do garoto. Moveu sua rainha e então percebeu pela primeira vez a postura dele mudar. Ao erguer os olhos viu os ombros eretos e as mãos juntas, os olhos antes quase se fechando estavam atentos ao jogo. Um sorriso de satisfação despontou de seu rosto.

Um movimento dele e o sorriso dela desapareceu.

― Xeque.

― Como… ― ela murmurou olhando o jogo com agitação. Seu rei na mira do bispo dele, aquele mesmo bispo que ele havia sugerido como sacrifício.

Shikamaru mordia o fino lábio inferior quando ela levantou os olhos espantados para ele. Seu tempo estava acabando e se ela não fizesse logo um movimento seria desclassificada de acordo com as regras do torneio. Temari piscou e voltou a olhar o tabuleiro, viu que podia sacrificar sua rainha para proteger o rei e logo montar outra estratégia de ataque contra a rainha dele. Assim o fez.

Ouviu o suspirar de Shikamaru e conseguiu respirar aliviada quando viu que havia conseguido fazer a única coisa que a defenderia. Olhou para ele tentando adivinhar qual seria a próxima jogada, mas os olhos dele haviam se fechado e as mãos se juntaram numa posição estranha, como se meditasse.

Temari não acreditava naquilo, o relógio estava rodando e ele naquela calma?

Shikamaru então abriu os olhos, olhou para o tabuleiro, sorriu um pouco, olhou para ela, sorriu mais e encostou as costas na cadeira com os braços para cima.

― Eu desisto.

― O QUÊ? ― o berro do loiro e de Kankuro foi o mais alto do coral que sucedeu após as palavras inusitadas do garoto.

A mesma pergunta gaguejava na boca de Temari.

― Temari é a vencedora. ― Asuma bateu no ombro dela, mas ela estava chocada demais o olhando voltar à cara de tédio para celebrar a vitória estranha.

Shikamaru suspirou cansado para ela vendo a pergunta implícita nos olhos esverdeados. Ele se levantou e apoiou as duas mãos na mesa, a voz baixa apenas para ela ouvir:

― Eu tinha mais vinte estratégias para acabar esse jogo, mas você consegue fazer umas jogadas inusitadas e o tempo que eu perderia remontando minhas estratégias seria problemático demais. Você foi uma boa oponente, merece.

Ele virou as costas e saiu com as mãos no bolso falhando ao desviar do tapa na cabeça que o loiro o deu ao saírem do ginásio.

Era para se sentir vitoriosa, mas Temari sentiu a humilhação subir por seu pescoço e queimar seu rosto.

― Quem aquele moleque pensa que é?

betado por Mrs. Fox