Efeito Borboleta escrita por deboradb


Capítulo 4
Momentos.


Notas iniciais do capítulo

Volteiiiiiiii rsrsrs
Eu dei uma demoradinha dessa vez, mas espero que o capítulo possa recompensar =)
Mais uma vez obrigada por todos os comentários, isso me deixa muito feliz! Porque é bom saber que estão gostando tanto quanto estou gostando de escrever ♥
Boa leitura...



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/743262/chapter/4

Não sei exatamente ao certo quanto tempo passamos abraçados e em silencio, cada um preso em seus próprios pensamentos, mas a única coisa que passava em minha mente era o quanto eu queria tirar toda aquela dor de Katniss. Seu sorriso era lindo demais para ficar a mercê do sofrimento, e eu estava disposto a fazê-la feliz. Por isso havia prometido a mim mesmo que jamais a abandonaria novamente, e que faria o possível e impossível para encontrar Johanna.

— Ok, chega de chororô. — sua voz desperta-me de meus pensamentos — Você poderia colocar a música agora? — pede; os olhos cinzentos bem mais brilhantes agora que os resquícios de luz solar refletiam-se neles.

— Você está bem? — pergunto preocupado, afastando uma mecha escura de cabelo do seu rosto.

— Estou sim. — ela sorri, mas o sorriso não chega aos seus olhos.

— Não minta para mim. — peço ao segurar suas mãos. Ela solta um suspiro derrotado.

— Ok, eu não estou bem. Só preciso ficar sozinha por alguns minutos... — penso em protestar, mas prefiro respeitar seu espaço.

— Tudo bem. — sorrio. Beijo sua testa antes de me levantar e ir até o aparelho de som, inserindo o CD no mesmo e dando play. Uma melodia suave de violão começa a ecoar pelo quarto, tornando o ambiente tranquilo e reconfortante.

— Você pode encontrar as ferramentas para consertar a câmera na garagem...

— Ok. Então... eu vou lá. — me dirijo até a porta, mas antes de sair volto-me para ela, que permanecia sentada me encarando — Eu volto logo, está bem? ­— ela me lança um sorriso entes de jogar o corpo para trás, acomodando-se na cama.

Fecho a porta atrás de mim e quando me viro, acabo trombando com alguém. Sorrio encarando a loirinha a minha frente, ela havia crescido bastante e estava ainda mais linda.

— Prim! ­— profiro sem conter a felicidade em vê-la.

— Oi? — seu cumprimento sai hesitante.

— Não se lembra de mim?

— Ahn... Não...

— Tem certeza snowflake? — seus olhos brilham enquanto um sorriso vai crescendo em seus lábios.

— Pee! ­— ela se joga em meus braços e aperto-a contra mim. Eu não sabia que a saudade era tão grande até tê-la ali, agarrada a mim. Eu havia sido tão idiota, como pude ficar tanto tempo longe das irmãs Everdeen? — Eu senti tanta sua falta, Pee.

— Eu também pequena. — desfaço nosso abraço para olha-la nos olhos — Olha como você está grande, e linda! — ela sorri envergonhada pelo elogio.

— Obrigada, você também está bonito, continua parecendo um príncipe. — seu sorriso murcha e sua face se torna séria — Por que você sumiu? Por que não ligou? — pergunta com os olhinhos tristes — A Niss ficou tão triste sem você, e eu também.

— Eu sei snowflake, eu fui um idiota por tão ter ligado, mas prometo que nunca mais vou abandonar vocês. — beijo sua bochecha e seu rosto se ilumina.

— Então você veio para ficar? — sua animação me faz rir.

— Sim, eu vim para ficar. — ela solta um gritinho e me abraça novamente — E então, como vai à escola? Existe algum garoto impertinente a quem eu deva bater? — ela ri enquanto nega.

— A escola vai ótima, e minha matéria preferida é a de artes... Por falar nisso, tenho que mostrar um desenho que fiz para a Niss.

— E se você mostrasse a ela mais tarde? É que agora ela não está se sentindo muito bem.

— O que ela tem? Aconteceu alguma coisa? — a preocupação toma conta de sua face.

— Não, ela só precisa ficar sozinha. Não é nada que você deva se preocupar. — sorrio para tranquiliza-la — Agora eu tenho que ir até a garagem pegar algumas ferramentas.

— Tudo bem, mas não vai sumir, hein?

— Prometo que não. — beijo sua testa e desço as escadas, enquanto ela vai para o seu quarto.

Ela estava tão grande, nem parecia mais àquela garotinha que se enrolava toda com as palavras. A minha pequena snowflake. Eu havia dado esse apelido a ela quando a mesma nasceu. Era dezembro e o inverno estava mais frio do que nunca, a neve estava bastante intensa naquele ano. Katniss estava bastante ansiosa para ver a irmã no berçário e eu também. Estávamos há horas no hospital esperando pelo seu nascimento, mas havia valido a pena cada segundo. Prim era só um pacotinho fofo e rechonchudo, tão branco e lindo quanto um floco de neve.

Antes de chegar à garagem, paro para analisar um mural de fotografias, e meus olhos se prendem em uma de Katniss fazendo manobras no skate. Eu me lembrava daquela, ela estava sempre sorrido, agora nem tanto. Há também varias fotos de Prim, mostrando o seu crescimento ao longo desses cinco anos. Mas uma coisa chama minha atenção, fazendo meus olhos se desviarem do mural e se prenderem no móvel a minha esquerda. Aproximo-me da pequena mesa e pego as cartas que ali estavam para analisar, notando que são contas atrasadas de luz e de telefone. Suspiro triste, Katniss e sua família estavam passando por problemas financeiros, talvez isso explicasse o fato de ela estar no banheiro masculino conversando com Gale antes dele puxar uma arma e... Sacudo a cabeça para espantar esses pensamentos e deposito as contas sobre a mesa novamente. Meus passos são direcionados até a sala, onde analiso cada conto, vendo que a maioria dos moveis ainda eram os mesmos, principalmente o sofá, onde Katniss e eu fingíamos ser um navio pirata, mas que agora parecia mais um naufrágio. Sento-me nele e as lembranças veem como bombardeios em minha mente.

— Vamos, abra isso, medroso! — ordena, mandona como sempre.

— Espere um pouco. E eu não sou medroso! — fecho a cara.

— Prove! — sorri divertida — Você bebe primeiro, Peeta.

— Não acredito! — exclamo indignado — A ideia de pegar o vinho foi sua, Katniss!

— Tanto faz... — revira os olhos — Dê-me essa garrafa. — entrego-lhe a garrafa de vinho e ela prontamente toma um gole.

— E aí? — pergunto curioso.

— Saboroso. Bem saboroso. — responde enquanto toma outro gole.

— Ei, eu quero um gole! — reclamo, tentando tomar a garrafa de sua mão, mas ela se afasta.

— Foi mal, isso não é para crianças. — lança-me um sorriso debochado.

— Não seja gananciosa! Deixa um pouco para mim! — tento pegar a garrafa novamente e quando ela afasta a mão para me impedir, acaba derramando uma boa quantidade do vinho.

— Caralho, o carpete! — pragueja.

— Tem vinho em todo o lugar! O que faremos? — pergunto um pouco desesperado.

— Meus pais estão vindo, cubra isso...

Aquelas lembranças me traziam um misto de saudade, alegria e tristeza. Naquela época éramos felizes e nem nos dávamos conta disso. Resolvo explorar um pouco mais, então abro a porta da varanda e vou para o quintal. Meus olhos acabam se prendendo no antigo balanço, já bem desgastando pelo tempo. Sento-me nele e mais memórias veem a tona.

— O que realmente você quer fazer quando crescer? — pergunto enquanto empurro-a no balanço.

— Eu não sei... Talvez eu monte uma banda de Rock. — ela dar de ombros — E quanto a você?

— Viajar. Seria ótimo. Explorar o mundo. Ir para bem longe daqui...

— Longe de mim? Muito obrigada, cara. — suas palavras saem cheias de sarcasmo.

— Você poderia vir comigo, Katniss! Preciso de uma guarda-costas para as nossas aventuras. — ela ri, fazendo um sorriso surgir em meus lábios.

— Eu seria como a Lara Croft, mas de verdade. Isso seria super legal.

— Isso! Teríamos carros, barcos e aviões para fugir internacionalmente! E nenhum adulto nos diria o que fazer.

— Conte comigo. — ela vira-se para mim e sorri — O que você faria enquanto eu o protegesse?

— Talvez tirar fotos das nossas aventuras. Eu adoraria ser um fotógrafo. Como se isso fosse acontecer... — as últimas palavras sem em um sussurro.

— Do que você está falando? — ela finca os pés no chão, consequentemente fazendo com que o balaço pare e se aproxima de mim, olhando-me atentamente — Peeta, você é um fotógrafo. Suas fotos poderiam estar em um museu. E algum dia estarão. Eu acredito em você...

Enxugo uma solitária lágrima que escorreu por minha bochecha sem que eu percebesse. Há momentos na vida que optamos por não lembrar, mas a algumas lembranças que jamais podemos esquecer. Katniss acreditava em mim, e eu como um estúpido idiota a abandonei.

Suspiro pesadamente e ponho-me de pé, finalmente seguindo em direção à garagem. Quando chego à mesma, vasculho algumas coisas, porém não encontro as ferramentas. Mas eis que avisto uma pasta em cima do armário - provavelmente do padrasto de Katniss -, e como um bom curioso, retiro-a para ver. Ao abri-la encontro varias fotos, e entre elas algumas de Madge. Porque ele teria fotos dela? Estreito os olhos para ler a frase no canto de uma das fotografias. “Madge Undersee. Ela sabe de algo!” Coloco a pasta de volta no lugar, com incessantes perguntas em minha mente. Continuo vasculhando e ao abrir uma porta do armário, acabo encontrando um mapa da Academia Blackwell, mapa esse que estava marcando com diversos pontos vermelhos, indicando locais onde câmeras de segurança seriam instaladas. Minha cabeça dá um nó, confusa.

Fotos da Madge... Mapa de Blackwell... Pontos de câmeras... Será que o padrasto de Katniss é o... segurança Haymitch?

As coisas estavam ficando mais estranhas que o normal. Primeiro tenho um sonho maluco de um tornando invadindo a cidade. Depois descubro que posso voltar no tempo. E agora descubro que o padrasto da Katniss supostamente possa ser o Haymitch? Eram muitas coisas para um único dia!

Abro a outra porta do armário, encontrando uma TV, e quando dou play, imagens de toda a casa aparecem. Mas o quê...? O padrasto de Katniss instalou câmeras na casa, e até mesmo nos quartos? Sério mesmo? Esse cara tem um sério problema com confiança! O que só aumenta minhas suspeitas de que ele possa ser o Haymitch. Será que a Katniss e a Clara sabem disso? Provavelmente não. Fecho a porta do armário ainda descrente e abro uma gaveta, finalmente encontrando um estojo com as ferramentas necessárias para concertar minha câmera, e ao retirar o estojo da gaveta, acabo avistando um cartão com a foto de Haymitch. Eu sabia! Cara quanto azar, porque justo ele tinha que ser o padrasto da Katniss?

Volto para o quarto e a encontro na mesma posição, o som ainda estava ligado, e agora soava uma melodia um pouco melancólica.

— Encontrou as ferramentas? — pergunta, se apoiando nos cotovelos para olhar-me, assinto — Que bom. Você pode sentar na minha escrivaninha para concertar a câmera.

Ela volta a se deitar enquanto eu sento-me a mesa. Retiro minha câmera quebrada da mochila e preparo as ferramentas, porém algo martela em minha cabeça, fazendo-me virar para encará-la.

— Você... está se sentindo melhor? — seu rosto inclina-se em minha direção e ela sorri.

— Estou sim, não se preocupe. — sorrio de lado e volto minha atenção para a câmera.

Perco a noção do tempo enquanto tento concerta-la, entretanto, todas as tentativas foram falhas. Suspiro derrotado soltando a chave de fenda sobre a mesa.

— E então? — pergunta se aproximando.

— Eu não consigo concertar essa coisa. — apoio a cabeça na mão, frustrado.

— Essas são suas fotos novas? — pergunta, analisando as fotografias espalhadas na escrivaninha.

— Sim, eu tirei hoje.

— Deixe-me ver... — ela pega a foto da borboleta — Espere... eu já vi isso antes. Não creio! Quando você tirou essa foto?

— Hm... — as palavras ficam presas em minha garganta.

Você tirou essa foto, puta merda! — ela leva às mãos a cabeça — No banheiro hoje... você disparou o alarme! É por isso que o Gale ficou com raiva de você... Faz todo o sentido. Você salvou a minha vida... — seus olhos me encaram com uma mesclagem infinita de sentimentos — Conte-me a verdade, Peeta.

— Eu estava lá... Escondido no canto. — digo em tom baixo, sentindo meu coração afundar no peito com as lembranças de seu corpo ensanguentado no chão.

— Caramba! Você é um ninja?

— Um ninja teria cortado a cabeça do Gale fora. Eu só tirei a foto de uma borboleta...

— Isso foi... muito foda, Peeta! Se você não estivesse lá eu teria... teria... — sua voz falha e vejo o medo em seus olhos cinzentos. Ponho-me de pé e seguro em suas mãos.

— Hey, não pense nisso, está bem? — ela fecha os olhos por alguns segundos antes de voltar a me encarar.

— Então, você deve ter ouvido a nossa conversa.

— Só um pouco.

— Impossível você não ter escutado todas as vogais.

— Ok, eu ouvi algo sobre dinheiro... drogas... e só.

— Então, a pergunta principal é: você contou a alguém?

— Não. Eu não sabia o que fazer.

— Eu não o culpo... Essa merda é bem intensa. — suspira, puxando-me pela mão e nos fazendo sentar na cama — As coisas aqui em casa não estão nada boas. Depois que você foi embora, Prim foi diagnosticada com depressão e ansiedade, e ela só tinha seis anos Peeta. Foi um choque para nós, mas fizemos o impossível para que ela ficasse bem, contudo, com o passar do tempo ela adquiriu a síndrome do pânico, era terrível ver minha irmãzinha tão assustada, tão indefesa. — ela fecha os olhos e aperto sua mão, tentando passar-lhe conforto — Os medicamentos e o psicólogo são caros, então as contas começaram a chegar e o dinheiro começou a ficar escasso. Eu comecei a fazer alguns bicos pela cidade para ganhar um extra, fosse em restaurantes, boates ou bares. Mas mesmo assim o dinheiro não era suficiente, então eu pedi ajuda a Marvel, que é um dos maiores traficantes de Arcadia. Ele me emprestou uma boa quantidade de dinheiro, mas acontece que eu não consegui pagá-lo devido aos juros, então quando descobri que Gale estava traficando para alguns alunos da Blackwell, eu pedi dinheiro em troca do meu silencio. Por isso estávamos discutindo no banheiro. Eu sei que é errado Peeta, mas eu não sabia o que fazer e continuo não sabendo. Eu havia perdido meu pai e você, não podia perder Prim também. — suas orbes cinzentas encontram-se marejadas e eu a abraço.

Katniss havia passado por tanta coisa, ela não merecia todo aquele sofrimento, não mesmo.

— Está tudo bem, eu entendo. — acaricio suas bochechas — Mas agora eu estou aqui, e vou te ajudar em absolutamente tudo, ok?

— Obrigada, Peeta. É realmente bom ter meu melhor amigo de volta. — sorrimos — Eu devo muito a você. Você salvou minha vida e isso não tem preço.

— Eu faria qualquer coisa para proteger você, Katniss. — ela acaricia meu rosto antes de se levantar e ir até a gaveta da sua cômoda.

— Eu... Hm... Sei que foi o seu aniversário mês passado... — se aproxima com uma câmera — Essa câmera era do meu pai, não sei se você se lembra, mas, quero que fique com ela. — estende a câmera em minha direção.

— Fico feliz que tenha se lembrado de meu aniversário, mas não posso aceitar Katniss. — me ponho de pé.

— É claro que pode. Meu pai ficaria chateado se eu nunca a usasse. — insiste, depositando a câmera em minhas mãos — Agora, sei que ela será usada incrivelmente. E eu ficarei com a fotografia da borboleta como símbolo da nossa reconciliação. Fechado?

— Sim, claro! Obrigado Katniss... Essa câmera é incrível! — digo feliz, analisando-a.

— Agora que terminamos o papo emocional, estou pronta para arrasar! Vamos mandar ver! — ela põe uma música bastante agitada para tocar e começa a se remexer, me fazendo rir.

— Você é maluca.

— Sim, sim, sou louca para caralho! Vamos dançar! Balança esse bundão branquelo! Ou tire uma foto minha com sua nova câmera! — ela sobe na cama e começa a dançar loucamente. Sorrio, era como se eu estivesse vendo à antiga Katniss. Aquela que não sofria, que não tinha feridas na alma, somente a minha doce e amada Katniss. Ponho à câmera a frente de meus olhos e foco em seu rosto. Um clique. Um flash. E a foto havia sido tirada. Guardo-a juntamente com a câmera em minha mochila.

— Essa música é muito boa. Vamos lá Peeta, manda ver!

Rio de seu entusiasmo e me junto a ela na cama, dançando como se não houvesse amanhã, com nossas gargalhadas se misturando a melodia da música. A vida é composta de momentos, e sejam eles grandes ou pequenos, sempre ficam para a eternidade.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

De coração espero que tenham gostado. Bom, nos vemos no próximo capítulo. Beijão, los quiero ♥