Efeito Borboleta escrita por deboradb


Capítulo 20
Desvendando os Mistérios.


Notas iniciais do capítulo

Volteiiii
Perdão pela demora, mas tive que atrasar a postagem para rever certos pontos da história para não cometer o erro de deixar algumas lacunas futuramente.
Espero que gostem, boa leitura.



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É surreal a forma como a gente só se dá conta do peso da vida quando temos o poder de tirá-la de alguém, ou então quando vemos alguém fazer tal ato com outra pessoa. A vida é algo frágil demais para o peso que possui. Uma estaca, uma faca, uma arma, coisas criadas pelo próprio homem são capazes de tirar aquilo que temos de mais valioso, o que nos permite ser, de todas as formas físicas e literais. Um fio separa a vida da morte e uma vez que este seja cortado, ele jamais terá um reparo. É como um sopro de um fôlego só. Tirar a vida de alguém é algo tão simples na prática, às vezes, gera até alivio para a própria pessoa. Porque é exatamente isso o que a morte faz, ela tira as dores, acaba com os problemas e finaliza toda a agonia que parece não ter mais fim. Mas para aqueles que ficam, a morte é uma dor sem fim, que nunca poderá ser reparada ou substituída. É um buraco negro, algo irreversível. Então só restará a você ter que arcar com o peso na consciência que, consequentemente, virá acompanhado da culpa, do remorso, e não importa a quantidade de banhos que você tome durante o dia, você sempre se sentirá sujo; imundo. Porque a sujeira não estará somente em seu corpo e nas mãos que você usara para dar o veredito final. A sujeira estará em sua alma.

Quando vi o corpo de Marvel jogado sobre o chão ao lado de seu cachorro, ambos imóveis, completamente sem vida, fora inevitável não recordar-me de Katniss em uma situação não muito diferente. Ambos haviam tido um mesmo final dolorosamente trágico causado pelo cano de uma arma, e tomar consciência daquilo era perturbador demais. Nunca havia agradecido tanto pelos meus poderes quanto naquele momento. Eu nunca havia parado para pensar com clareza sobre os recentes acontecimentos, mas depois de tantas constantes, me dei conta de que Arcadia Bay era, na verdade, um imenso e gigantesco imã para tragédias.

Após soltar um suspiro exasperado, decido concentrar-me cem por cento nas diversas pistas espalhadas pelo quadro disposto a minha frente, mesmo sabendo que a tarefa levaria mais tempo do que o previsto, devido ao meu corpo estar completamente exausto e a minha mente mais desgastada do que jamais estivera. Apesar de aquela situação ser bastante tensa, eu não podia deixar de recordar-me dos tempos em que Katniss e eu éramos meras crianças tentando descobrir o mundo. Correr por toda a casa fingindo sermos grandes piratas sempre fora a nossa brincadeira favorita, principalmente pelo fato de criarmos mapas com diversas pistas que, supostamente, nos levariam ao grande tesouro. Éramos pequenos detetives em busca do desconhecido projetado por nossa própria imaginação, e estar ali, tantos anos depois, tentando montar um quebra-cabeça para solucionar o desaparecimento de uma pessoa, era tão nostálgico quanto assustador.

Com os olhos ainda vidrados em cada mínima pista colada naquele quadro, sorri ao constatar que, graças à própria investigação do Haymitch, eu poderia descobrir com bem mais facilidade o que o Gale havia feito durante toda aquela semana. Após vasculhar todos os arquivos presentes na pasta amarela encontrada na garagem, tomei consciência de que, talvez, Haymitch não estivesse envolvido em todos aqueles acontecimentos como Katniss e eu pensávamos. Talvez – assim como nós – ele estivesse somente tentando descobrir o que de tão sombrio estava rondando Arcadia Bay. Claro que ele tinha aquele jeito durão e completamente inconveniente, mas faria bem mais sentido se fosse comparar as tantas anotações que ele possuía sobre cada um daqueles que, supostamente, estavam envolvidos com o desaparecimento de Johanna e o vídeo de Madge.

Após dar mais uma olhada nos arquivos, com mais atenção desta vez, ficou completamente claro para mim que Haymitch, na verdade, estava tentando incriminar Marvel pelo trafico de drogas. Por isso possuía tantas fotos do moreno ao lado de Johanna em seu trailer. Por isso havia instalado câmeras na casa de Clara, porque sabia que Katniss tinha algum tipo envolvimento com ele. Por isso vivia na cola de Gale, porque sabia que o mesmo era um dos compradores mais fieis daquele trafico. As peças daquele quebra-cabeça começavam finalmente a se encaixarem e eu só conseguia me questionar aonde tudo aquilo iria nos levar.

E foi ali, estando completamente imerso naquelas tantas pistas espalhadas pelo quadro, que eu passei as próximas horas, analisando cada foto, arquivo, mensagem e coordenada que eu havia encontrado naquele longo período de tempo. Naquele auge da investigação, minha mente encontrava-se cada vez mais desgastada com a quantidade absurda de informações que recebia, porém eu não estava disposto a parar, pelo menos não enquanto aquele mistério todo não fosse resolvido.

— Sim, agora estamos finalmente chegando a algum lugar... — murmuro para mim mesmo ao analisar alguns números digitalizados em uma folha de papel, juntamente com uma lista de horários e datas, onde uma em especifica me chamou a atenção por ser justamente aquela em que Madge havia sido drogada — Katniss, eu preciso da sua ajuda. — em um sobressalto me ponho de pé e caminho até estar parado ao seu lado — Precisamos juntar esses números e ver se eles nos levam a algum lugar.

— Pode deixar, capitão. — ela me lança um sorriso bem-humorado ao pegar a folha de minhas mãos, para logo em seguida abrir o link com o mapa de Oregon — Aqui vamos nós. — Katniss digita a numeração na busca e o resultado nos leva a uma área deserta não muito longe de onde estamos — Não a nada de especial aqui, Peeta. Só a merda de um celeiro velho.

— Isso é muito estranho... — pondero por alguns segundos — Tente descobrir de quem é esse celeiro. — peço e assim ela o faz.

— É de alguém chamado... Rory Aaron Hawthorne. — ela arregala os olhos assim como eu. E ali matamos a charada.

— Deveríamos chamar a polícia? — questiono, não sabendo ao certo o que fazer perante tal situação.

Havíamos encaixado todas as peças do quebra-cabeça e aquela era a primeira pista real e concreta que tínhamos sobre todos os mistérios que rondavam Arcadia Bay. Mas eu não estava com um pressentimento nada bom em ralação àquelas descobertas. Estávamos lidando com o fato de Katniss ter sido drogada por Gale, assim como Madge, fora o desaparecimento misterioso e repentino de Johanna que, dadas as circunstancias, possivelmente poderia ter sido drogada por Gale também. O que nos levava a um outro ponto da história, onde o seu suposto desaparecimento, na verdade, havia sido um sequestro. Aquela constatação resultou em um calafrio tétrico percorrendo cada mínima célula de meu corpo.

— Polícia? — Katniss solta um riso irônico — Você sabe que a polícia aqui é praticamente a segurança pessoal da família Hawthorne, não é?

— Isso é tão errado... — murmuro mais para mim do que para ela.

— Como você já notou, essa cidade inteira está errada. Não podemos confiar em ninguém... Exceto em nós mesmos. Então temos que ir até aquele celeiro por contra própria. — pontua, lançando-me um olhar sério e profundo.

— Temia que você fosse falar isso. — contorço os lábios em uma leve careta, e como resposta, a morena desfere um tapa consideravelmente forte em meu ombro direito, abrindo um pequeno sorriso para mim, porém este não chega aos seus olhos.

— Depois de tanto tempo, pela primeira vez, sinto como se realmente estivéssemos próximos de encontrar a Johanna... — comenta minutos depois, soltando um longo e pesado suspiro enquanto seus olhos tempestuosos brilham em um contraste de medo, preocupação e ansiedade — Nós temos que encontrá-la, Peeta. — sua voz sai baixa e um tanto embargada, o que faz meu coração tornar-se pequeno em meu peito.

— E nós iremos, tenho certeza disso. Você confia em mim? — ela assente sem pestanejar, arrancando-me um sorriso — Ótimo. — inclino-me um pouco em sua direção para depositar um carinhoso beijo em sua testa — Mas não esqueça, ainda temos que tomar cuidado.

— Não esquecerei. — ela abre um pequeno sorriso, olhando-me apaixonadamente, e naquele momento senti como se minha alma estivesse sendo sugada para dentro de suas orbes incrivelmente acinzentadas — Eu amo você, Peeta Mellark.

— Eu amo você, Katniss Everdeen.

Nossos lábios então encontraram um ao outro, e não houve mais espaço para qualquer outra coisa senão o nosso amor que, por aqueles poucos minutos, se encarregou de levar para bem longe todos os temores e preocupações que sentíamos em ralação ao que estávamos prestes a enfrentar.

[...]

— Puta merda, isso é assustador! — exclamo, encarando o enorme e envelhecido celeiro a minha frente.

Sua aparência revelava-se tão devastada e arruinada que eu poderia afirmar, com todas as letras, que o mesmo encontrava-se abandonado ali a pelo menos uns vinte anos.

— Realmente... — Katniss inclina a cabeça um pouco para a esquerda enquanto o observa — Bom, mas já estamos aqui, então... vamos somente encontrar o melhor jeito de entrar.

Aproximamos-nos um pouco mais do celeiro em busca de alguma fresta em suas ruínas que possibilitasse a nossa entrada quando, meus olhos, atentos como só eles, fixaram-se nas marcas de pneus vindas da entrada principal do mesmo. Com o cenho levemente franzido, agachei-me ao lado das marcas para poder analisá-las com mais atenção, notando que elas eram largas e recentes.

Teriam elas sido feitas pelo SUV do Gale?

— Katniss, olhe para isso... Essas são marcas recentes de pneu. — a morena se agacha ao meu lado, tão ou mais questionadora do que eu.

— Alguém esteve aqui agora há pouco. Isso significa que... — suas palavras morrem no ar e seus olhos rapidamente se voltam para os meus — Peeta, agora mais do que nunca temos que entrar nesse celeiro. — decreta, pondo-se de pé para tentar forçar as grandes portas a se abrirem, porém todas as suas tentativas se tornam falhas.

Depois de darmos uma volta em torno de praticamente todo o celeiro, avistamos alguns pedaços soltos de madeira em sua lateral, um pouco mais ao fundo, e não perdendo tempo logo adentramos suas ruínas. Por dentro o celeiro parecia ainda mais acabado e destruído. Diversas máquinas de agricultura abandonadas pelos cantos, entrando em colapso devido à ferrugem e, para complementar, ainda havia uma quantidade absurda de feno espalhado por todos os lados.

— Credo, isso está muito “Bruxa de Blair”... Estou tendo calafrios. — faço uma careta, arrancando uma risada debochada de Katniss enquanto a mesma caminha por entre os objetos enferrujados.

— Um baú velho? Sério? — a morena solta de repente, atraindo minha atenção, ainda a tempo de vê-la revirar os olhos diante o objeto.

Acabo abafando uma risada perante a sua expressão engraçada e aproximo-me dela, vendo-a erguer a tampa do baú, fazendo o barulho de madeira envelhecida ecoar por todo o celeiro.

— Céus! Como isso é antigo. — comento ao analisar a quantidade de objetos empoeirados que ali residiam.

— Ótimo. Inutilidades antigas. — ela bufa.

— Não, olhe de mais perto. — peço, estreitando os olhos em direção a um dos arquivos presentes ali dentro, tentando ler o que estava escrito em seu canto inferior.

— “O Rory Aaron Hawthorne e sua família doaram uma biblioteca nova para Arcadia Bay”... — Katniss lê em voz alta o que está escrito em uma das primeiras folhas do registro — “As indústrias Hawthorne comemoram a grande abertura”... “A família Hawthorne traz abrigos de bombas à cidade”. — prossegue.

— Ótimo registro... Bom, você procura mais pistas por entre esses arquivos enquanto eu vasculho a área, está bem? — Katniss apenas assente, concentrada demais no que está lendo para pronunciar alguma palavra.

Em passos lentos, afasto-me da morena e sigo por entre os objetos enferrujados do celeiro, em busca de algo que possa revelar o que alguém fazia em um lugar abandonado como aquele. Estando completamente imerso em meus questionamentos internos, acabo tropeçando em algo e meu corpo vai de encontro ao chão.

— Puta merda! — praguejo ao sentir a dor se espalhar por toda a extensão do meu pé.

Ainda praguejando algumas palavras nada agradáveis, ergo os olhos em busca do maldito objeto causador da minha queda e me deparo com um enorme cadeado sobre o chão. A careta de dor em minha face logo se transformou em uma expressão de questionamento perante o fato de aquele objeto estar preso ao piso de madeira, e não em uma porta ou algo do tipo. Com vários pontos de interrogação brilhando em minha mente como placas de neon, apoiei-me em uma das colunas de madeira ao meu lado e com um pouco de dificuldade – devido à ardência que ainda sentia no local da pancada – consegui me levantar. Após sentir a dor se esvair por completo do local atingido, comecei a limpar o chão coberto por feno ao redor do cadeado, deparando-me com o que parecia ser a porta de um alçapão. Com outros tantos mais questionamentos surgindo em minha mente, tentei forçar o cadeado que, evidentemente, não abriu.

Não, seu burro, não dá para abrir isso de mãos vazias.

Xingo-me mentalmente e rolo os olhos pelo ambiente, em busca de algo que possa ser útil para abrir o bendito cadeado, mas infelizmente não encontro nada.

— Katniss... — chamo um pouco alto para atrair sua atenção e a morena rapidamente volta seus olhos para os meus — Eu encontrei algum tipo de escotilha ou alçapão aqui, mas está trancado. — ela ergue o corpo e se aproxima, parando bem ao meu lado enquanto analisa o cadeado a nossa frente.

— Hmm... Certo. Eu acho que vi um pé de cabra lá fora, fique aqui que eu já volto. — avisa antes de sumir pela fresta na lateral do celeiro, local por onde havíamos entrado. Segundos depois ela retorna com um enorme sorriso nos lábios e o pé de cabra em mãos — Aqui está.

— Você é demais, Marrentinha. — sorrio de lado antes de roubar-lhe um beijo. Depois de muito forçar, finalmente consegui quebrar o bendito cadeado, e com a ajuda de Katniss, erguemos a enorme e pesada porta de madeira.

— O que é... isso? — questiona um tanto assustada, encarando a escada que se rebelou diante os nossos olhos.

— Parece ser algum tipo de bunker. — respondo com uma leve careta — Eu preciso dizer o quão estranho isso é?

— “Estranho” é uma palavra pequena diante isso aqui... — aponta para a escada — Quem constrói esse tipo de lugar?

— Um Hawthorne, é claro.

Ficamos observando a escada por alguns minutos, totalmente conscientes de que seria exatamente no final daqueles degraus onde encontraríamos as respostas para todas as nossas perguntas; eu só não sabia se estávamos preparados para elas. Depois de respirarmos fundo algumas vezes, finalmente enfrentamos a longa escadaria, dando de cara com uma enorme porta de aço no final delas. Aquilo parecia ser algum tipo de abrigo subterrâneo contra furações e tempestades, mas ainda sim, não deixava de ser assustador e surreal.

— Droga! Não dá para abrir a porra dessa porta sem o maldito código! — Katniss esbraveja após a sua terceira tentativa falha em forçar a maçaneta da porta.

— Alguns números parecem bem apagados... — comento após uma rápida avaliação na trava de segurança — Deixe-me tentar, talvez eu consiga.

Katniss dá um passo para o lado, deixando a trava de segurança completamente livre para mim. Analiso com mais atenção os números apagados. 2, 4 e 5. Não precisava ser um gênio da matemática para saber que aqueles três números poderiam resultar em várias combinações, entretanto, a trava de segurança se limitava a apenas três tentativas, e naquele momento eu tinha que contar apenas com a sorte. Após respirar fundo algumas vezes, faço a minha primeira tentativa, na qual falho miseravelmente. Então tento uma segunda vez e o resultado obtido não é muito diferente da primeira.

Mas que droga! Vamos lá, Peeta. Pense, pense!

Fecho os olhos por alguns segundos para clarear a mente, e então, como se uma lâmpada houvesse se acendido em minha cabeça, decido colocar os números na ordem decrescente. Aquela era a minha última tentativa e eu tinha que conseguir. Meus dedos tremiam um pouco devido ao nervosismo e quase desfaleci quando ouvi o som da porta sendo destravada.

— Achei que isso só funcionava nos filmes! — solto todo o ar de meus pulmões, da qual nem sabia estar prendendo até aquele momento.

— Você. É. Demais! — Katniss diz pausadamente antes de depositar um beijo carinhoso em meus lábios, arrancando-me um sorrio, que logo fora substituído pela tensão e o receio de encarar o que estava por traz daquela porta.

— Bom... Chegou a hora de descobrirmos a verdade. — ponho minhas mãos sobre a maçaneta e a giro, finalmente abrindo o enorme objeto de aço.

Nossos passos eram lentos e receosos dentro do ambiente desconhecido e pouco iluminado, mas que ainda sim, permitia-me enxergar com clareza as tantas prateleiras cobertas por suprimentos de sobrevivência.

— Estocado e pronto para o apocalipse. Isso deve ter custado uma fortuna. — a morena observa e não posso deixar de concordar — Veja, tem outra sala aqui... Vem. — chama e não penso duas vezes antes de acompanhar os seus passos.

No entanto, antes mesmo que os meus pés pudessem ter a chance de atravessar o vão de concreto que separava as duas salas, senti todo o meu corpo paralisar, minha respiração se tornar descompassada, e o meu coração falhar algumas batidas quando meus olhos capturaram a imagem do ambiente situado a minha frente. Aquela era, sem sombra de duvidas, a bendita Sala Escura.

Assim como eu, Katniss parecia igualmente assustada e um tanto aterrorizada ao se deparar com tudo aquilo. Espalhados de cima a baixo, pelas extensas paredes, encontravam-se dezenas de quadros com fotografias de pessoas diferentes em posições diferentes. E assim como o que eu havia encontrado no quarto de Gale no início daquela manhã, todos aqueles continham um traço igualmente delicado e triste. Entretanto, o mais intrigante e macabro naquelas obras era o fato de todas elas retratarem um ambiente de tortura, onde cada uma daquelas pessoas capturadas pela lente da câmera continham as mesmas expressões melancólicas, perturbadas, angustiadas, e, apesar de contraditório, vazias.

Encarar todos aqueles quadros que possuíam uma áurea tão sombria, tão intensa e assustadoramente perturbadora, dava-me a sensação de estar sendo jogado em um limbo, onde só havia o nada mergulhando dentro do próprio nada. Como se eu estivesse caindo no meio da escuridão imensa de um universo aterrorizante dentro de mim mesmo. Nenhum pensamente parava em minha cabeça, tudo o que havia dentro de mim era um desespero enlouquecedor e uma escuridão mais que profunda. Eu encontrava-me em um estado tão catatônico enquanto absorvia toda a dor e tristeza daquelas obras que, o único som que ecoava pelos meus ouvidos, naquele momento, era o das batidas de meu coração, tão rápidas e pulsantes como jamais estiveram.

Não fazia a menor ideia de quanto tempo havia passado ali, encarando todas aquelas fotografias emolduradas, mas tudo o que eu mais queria era poder despertar daquele estado de torpor em que me encontrava, e quando finalmente consegui, respirei tão profundamente que senti o ar rasgar os meus pulmões. Depois de alguns segundos, com a mente clara e a consciência sã, passei a analisar com mais atenção àquela sala tão assustadoramente fria e sombria, deparando-me com um estúdio de fotografia perfeitamente arrumado no canto esquerdo da sala. Todos aqueles equipamentos fotográficos eram de alta tecnologia, e eu tinha a absoluta certeza de que custavam mais do que Clara ganhava trabalhando durante o ano inteiro nos Winchesters.

Após perder alguns minutos dando uma rápida varredura por entre algumas gavetas e portas de armários, deparei-me com inúmeros fichários vermelhos marcados com nomes de diversas garotas, incluindo Madge, Johanna e Glimmer. Um arrepio gélido percorreu todo o meu corpo enquanto meu coração se ocupava em falhar algumas batidas, já prevendo possíveis revelações que ali encontraríamos.

— Katniss... — chamo; minha voz não saindo mais que um sussurro — E-Eu encontrei algo.

A morena – que até então parecia distante com seus pensamentos enquanto encarava algumas prateleiras com objetos da qual não fiz a mínima questão de prestar atenção – rapidamente se aproximou, parando bem ao meu lado na mesa de escritório. Após uma troca intensa de olhares, abri o primeiro fichário que possuía o nome da Glimmer, mas para a nossa surpresa, ele encontrava-se vazio.

— Isso não faz o menor sentindo... — murmura pensativa — Abra o da Madge. — pede e assim faço, deparando-me com o fichário preenchido com várias fotos extremamente incriminadoras de uma Madge drogada.

— Ah, não, Mad... — solto, sentindo meu coração ser comprimido dentro do peito. Era angustiante ver o quão frágil e indefesa ela parecia em todas aquelas malditas fotos. Eu só queria poder abraçá-la e fazer Gale pagar por todo mal que havia causado a todas aquelas pessoas inocentes.

— Filho da puta! Eu deveria ter atropelado o maldito do Hawthorne quando tive a chance anos atrás! — esbraveja revoltada.

— A Mad não foi à primeira... — falo após alguns segundos de silêncio — Todos esses fichários estão cheios de outras vítimas, e se o da Glimmer está vazio, é porque ela deve ser a próxima. — constato com os olhos levemente arregalados — Gale deve estar planejando drogá-la hoje à noite na festa do Clube Vortex, assim como fez com a Mad e provavelmente com a Johanna.

Rapidamente puxei o fichário com o nome da morena de mechas avermelhadas, e não consegui conter a exclamação de espanto ao ver o quão irreversivelmente destruída Johanna estava nas fotografias, completamente o oposto da garota sorridente e de olhar sedutor que havia na imagem do cartaz de desaparecidos.

— Johanna... — a voz de Katniss não passa de um sussurro falho e embargado — Isso não pode ser sério... Isso... Ela posou para todas essas fotos; certo? — os olhos da morena buscam pelos meus, desesperados por uma afirmação — Certo? — repete, e em suas orbes acinzentadas havia tanto medo e desespero que cogitei desviar os meus por não suportar vê-la sofrendo daquele jeito, mas eu não seria covarde a tal ponto.

— Katniss, olhe para o rosto dela. Ela... está fora de si. — seguro-a pelos ombros e vejo seu olhar se tornar ainda mais desesperado.

— Talvez... Talvez o Gale tenha pago uma fortuna para ela fazer isso. — tenta argumentar, recusando-se a aceitar a realidade dolorosa — Ela provavelmente teria feito.

— Sinto muito, Katniss... mas acho isso meio improvável. — começo de forma cautelosa, medindo minhas palavras para não machucá-la ainda mais, mesmo sabendo que aquilo seria inevitável diante a tal situação — Qual seria a lógica de ele ter pagado para fotografa-la se a está colocando no chão desse jeito? Onde seu...

— O ferro-velho, Peeta! — interrompe-me de forma brusca, apontando para uma das fotos de Johanna. Seus olhos já vermelhos por conta das lágrimas que ela parecia tentar a todo custo segurar — Temos que encontrar esse lugar, agora! Só assim veremos o que ele fez... Ela não pode estar morta. Não pode! — esbraveja, segurando firmemente na gola de meu casaco, sua voz saindo mais amedrontada do que jamais vira — Ela posou para essas fotos, Peeta. Eu sei disso, por favor... Por favor.

Então a primeira lágrima lhe escapou, seguida de outra e mais outra, em um fluxo completamente desesperado e senti como se elas afogassem meu coração, envolvendo-o em um rio de dor e amargura que me sufocou de imediato.

— Tudo bem. Vamos lá. — solto um suspiro sôfrego e como agradecimento, Katniss me abre um pequeno e triste sorriso, para logo em seguida sair me arrastando apressadamente pela mão em direção à saída do celeiro; como se sua vida dependesse daquilo. E talvez dependesse, mas não sua vida, e sim a sua sanidade.

O percurso até o ferro-velho fora feito em menos de quinze minutos por uma Katniss completamente desesperada. Seu peito subia e descia em um ritmo extremamente acelerado, enquanto o seu olhar delatava todo o pavor, aflição e angústia que ela estava sentindo perante aquela situação. Eu queria poder confortá-la, dizer que ficaria tudo bem, mas seria algo completamente inútil e que não melhoria em nada tudo o que ela estava sentindo.

A caminhonete mal havia sido estacionada na entrada do ferro-velho quando a morena saiu em disparada por entre aqueles tantos objetos abandonados e desgastados pela força do tempo. Eu nunca a tinha visto tão devastada, tão desolada, nem mesmo na morte de Thomas; e a única coisa que eu poderia fazer era preparar-me psicologicamente para dar a ela qualquer tipo de suporte que fosse precisar. Porque desta vez eu ficaria ali, ao seu lado, cada segundo de cada minuto, independente de qual fosse o veredito final daquele mistério.

— Peeta! Olha, é aqui! É exatamente aqui o local onde Johanna estava na foto! — profere, apontando para um amontoado de terra próximo a algumas sucatas de carros.

Sem perder um único e precioso segundo, a morena caiu de joelhos sobre o chão, usando as próprias mãos como pás para cavar a terra de modo apressado; e não pensei duas vezes antes de imitar suas ações.

— Katniss, pare! — peço de imediato assim que meus olhos captam uma espécie de saco plástico se sobressaindo por entre o amontoado de terra que, segundos antes cavávamos.

— Por favor, não... — ela murmura com a voz embargada enquanto seus olhos permanecem fixos em nossa recente descoberta.

Após respirar fundo algumas vezes, engulo em seco e utilizo da minha força para rasgar o saco plástico, sendo bombardeado de imediato pelo forte odor de carne apodrecida que, consequentemente, fez todo o meu estômago se revirar.

— Johanna... — Katniss chora em completa agonia ao se deparar com o corpo em decomposição de sua amiga — Johanna, não, não! Por favor, ela não! Johanna... — a morena joga o corpo para o lado, caindo sentada sobre o chão enquanto leva as mãos até os cabelos, puxando-os com força, em um ato explicito de dor e desespero.

— Katniss... — suspiro tristemente enquanto rodeio seu corpo com meus braços, apertando-a contra meu peito.

— Johanna... Por quê? Por quê...? — pergunta repetitivas vezes e seu corpo convulsiona contra o meu em consequência aos seus soluços.

— Eu sinto muito, Katniss. Sinto muito... — lamento, apoiando minha cabeça na sua enquanto tento conter o meu próprio choro.

— Eu a amava tanto, Peeta... Como ela pode estar morta? Que tipo de mundo faz isso? Quem faz isso? — soluça — QUEM?! — grita a plenos pulmões, deixando que toda a raiva, magoa e ressentimentos presos em seu coração sejam expostos para o vento, impedindo-a de sufocar com o próprio sofrimento.

Quando alguém que amamos morre, é como se uma parte de nós também morresse. Um vazio instala-se no peito. A dor se mistura com a revolta de já não termos o ente amado ao nosso lado, de já não podermos tocar na sua mão, abraçar e lhe dizer palavras doces. A morte de um ente amado é uma dor inigualável, que fere a alma, dilacera o coração e deixa sempre uma cicatriz. Katniss já havia passado por aquilo quando Thomas fora morto, e depois de cinco dolorosos anos, ela estava finalmente aprendendo a superar aquela perda. Mas então a realidade vinha como um soco forte no estomago e, novamente, levara outra pessoa importante e amada pela morena de olhos tempestuosos.

Eu podia sentir a sua dor, em cada mínima célula de meu corpo, e desejei que aquilo tudo fosse apenas um pesadelo. Que eu acordaria a qualquer momento e daria de cara com uma Katniss sorridente, feliz em finalmente poder me apresentar sua amiga, Johanna, e então poderíamos viajar os três juntos para Los Angeles, ou qualquer outro lugar. Simplesmente cair na estrada. Mas, infelizmente, aquilo não passava de um sonho que nunca iria se realizar. Graças às informações que havíamos conseguido nos arquivos do Haymitch e do Marvel, nossa pequena investigação nos levou até a sala escura, e, por fim, até Johanna. Morta. Apodrecendo em um ferro velho. Dando fim a uma parte crucial dos tantos mistérios que rondavam Arcadia Bay. Dando fim à esperança de Katniss em podermos viver um futuro feliz, os três, sem magoas e ressentimentos.

Então ficamos ali, abraçados, com Katniss chorando desesperadamente enquanto eu tentava inutilmente confortá-la, buscando de algum modo amenizar todo o seu sofrimento perante a tortuosa realidade de que...

Johanna Mason estava morta... e Gale Hawthorne era o culpado.


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Notas finais do capítulo

E então, o que acharam? Acho que a maioria aqui já tinha suas suspeitas sobre a morte da Johanna, certo? Bom, um dos grandes mistérios foi enfim revelado, não completamente, porque ainda tem muitas coisas para serem esclarecidas, tanto em relação a morte da Johanna, como também em relação aos poderes do Peeta e todas as suas consequências, mas acho que já dá para entender que daqui por diante, as coisas ficarão bem tensas. E para complementar, gostaria de avisar que o próximo capítulo será um bônus na visão da Katniss. O enredo se passará dois anos antes da volta do Peeta para Arcadia Bay, mostrando um pouquinho de como era a relação da Marrentinha com a Johanna ;)

Então é isso pessoal, por hoje é só. Beijão e até o próximo ♥



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