Efeito Borboleta escrita por deboradb


Capítulo 18
Eu Te Amo.


Notas iniciais do capítulo

Volteiiiiiiiiiiiii e trouxe um capítulo cheio de emoções para vocês :)
Espero que gostem, de coração.
Beijos e tenham uma boa leitura...



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Olhar o céu, procurar desenhos em nuvens... Aquilo era tão relaxante e eu adorava passar horas dos meus dias apenas apreciando a beleza daquele azul. Ficar ali, ouvindo o canto dos pássaros enquanto me perdia em pensamentos e sonhos sobre o futuro era, sem sombra de duvidas, o meu refugiu do mundo real. Mas após a minha volta para Arcadia Bay, àquele era definitivamente o primeiro instante de tranquilidade que eu estava vivenciando ao longo daqueles dias repletos de caos. Ainda era difícil se acostumar com a ideia de que aqueles momentos de completa introspecção e isolamento tinham se tornado um fato raro nos últimos dias.

Naquele intervalo tão curto de tempo, onde o meu cotidiano, que antes girava basicamente entre tentar me manter invisível e esquecer do mundo externo quando encontrava-me sozinho em meu quarto, agora tinha virado de ponta cabeça. Fora a descoberta bizarra e estranha sobre os meus poderes, agora eu tinha que lidar também com os olhares que meus colegas e até mesmo completos desconhecidos me lançavam constantemente, tudo isso após eu ter salvado a vida de Madge. Ser o centro das atenções era estranho e, por vezes, assustador, principalmente quando os demais alunos não se importavam nem um pouco em me encarar e cochichar sempre que passavam perto de onde eu estava sentado. Aquilo estava me deixando completamente desconfortável e quase saltei de alegria quando, por fim, Katniss se despediu de Finnick e veio até mim.

— E então, o que ele disse? — pergunto ao me por de pé.

— Ele falou que viu o Gale saindo do campus no início da manhã e que parecia estar mais raivoso do que o comum. — responde com uma leve careta.

— Ele estar com raiva não é nenhuma novidade... — solto um riso curto — Agora vamos entrar no modo “ninja” para vasculhar tudo antes que ele volte.

— A suas ordens, capitão! — ela bate continência, arrancando-me uma boa gargalhada.

— Você é impossível, Marrentinha. — balanço a cabeça negativamente — Agora vem, vamos entrar logo. — pego em sua mão e arrasto-a até o dormitório.

Achar o quarto do Gale não foi nem um pouco difícil já que o mesmo se localizava a apenas um corredor do meu, porém, no exato instante em que pus minha mão sobre a maçaneta, à imagem de Gale surgiu no final do corredor e, para tornar a situação ainda pior, o mesmo estava na companhia de Cato. O desespero logo bateu tanto para Katniss quanto para mim, entretanto, de forma rápida e ágil, conseguimos correr antes mesmo de os dois notarem a nossa presença.

Ainda com a pulsação acelerada e a adrenalina a flor da pele, Katniss e eu nos escondemos atrás de uma das paredes do corredor que dava acesso ao quarto de Gale, observando os dois se aproximarem rapidamente do quarto. Cato parecia bem relaxado enquanto tragava um cigarro que, diga-se de passagem, eu poderia afirmar com todas as letras ser de maconha devido ao forte cheiro. Já Gale, por outro lado, parecia uma granada prestes a explodir e destruir tudo ao seu redor.

— Fica tranquilo, cara. Essa belezinha aqui fará você ter belas alucinações. — Cato sorri ao balançar uma cartela de comprimidos.

— Assim espero, porque tudo o que eu mais quero agora é esquecer a porra desse mundo fodido! — Gale profere ao empurrar Cato para dentro do quarto, batendo a porta com força logo em seguida.

— Mas que droga! E agora? — pergunto ao encarar a morena ao meu lado, que parece tão ou mais frustrada que eu.

— Hmm... Seu quarto fica perto daqui? — assinto — Bom, então podemos dar um tempo por lá, só o suficiente para aqueles dois viciados cansarem e darem o fora daqui, o que acha? — propõe, arrancando-me um meio sorriso.

— Eu acho ótimo. Vem, é por aqui. — tomo sua mão na minha e conduzo-a pelo corredor até pararmos em frente ao meu quarto, onde ela toma à dianteira enquanto fico para trás para fechar a porta.

Katniss, tão ou mais curiosa do que eu, não perdeu tempo e logo tratou de escanear todo o ambiente com seus belos olhos, indo das meras anotações e dos livros espalhados sobre a escrivaninha ao lado do meu notebook – que exibia uma página qualquer sobre viagem no tempo –, até pararem sobre a vasta coleção de fotografias coladas na parede rente a minha cama, parecendo querer memorizar cada mínimo detalhe ali presente.

— Esse seu mural está incrível, Peeta! — comenta encantada, sem desgrudar os olhos das fotografias — Você definitivamente tem o dom para a coisa.

— Obrigado. — sorrio meio envergonhado com seu elogio e aproximo-me dela para lhe fazer companhia na observação do mural — Você realmente gostou? — pergunto um tanto inseguro.

— Mas é claro que eu gostei! — ela me encara de forma séria — Você é um ótimo fotógrafo, Peeta. Já te falei isso inúmeras vezes, mas a questão é que você tem sérios problemas de julgamento quanto ao próprio trabalho e precisamos mudar isso.

— É. Eu sei... — suspiro pesadamente, desfazendo-me de minha mochila e casaco para ficar mais a vontade — Eu prometo que trabalharei nisso, está bem?

— Olha que eu vou cobrar, hein? — ela ri levemente e eu a acompanho — Agora vamos ao que interessa. Porque você nunca me mostrou o seu quarto? — questiona ao cruzar os braços, parecendo um tanto indignada e acabo achando graça de sua atitude infantil.

— Bom, fora os inúmeros acontecimentos bizarros e ao fato de que a mais ou menos três dias atrás você não querer me ver nem pintado de ouro... — provoco, levando a morena a revirar os olhos como resposta — Acho que a oportunidade apenas não surgiu, até este exato momento, é claro. — concluo com um sorriso zombeteiro enquanto retiro alguns cadernos da minha mochila.

— Você anda muito engraçadinho para o meu gosto, sabia? — ela estreita os olhos em minha direção — Mas não deixa de estar certo. — completa em um resmungo antes de se jogar para o lado, caindo sentada sobre minha cama — Então, já que estamos tecnicamente “presos” aqui, o que faremos para nos divertirmos?

— Não sei. Eu estava pensando em concluir alguns trabalhos. Essa semana foi um completo caos e quase não tive tempo para me dedicar aos estudos. — respondo em um dar de ombros.

— Ah, qual é? Não seja chato, Peeta. — protesta, jogando um travesseiro em minha direção que por sorte consigo desviar — Isso é tipo uma festa do pijama. Você não pode ficar estudando enquanto eu estou aqui!

— Mas eu preciso terminar esses trabalhos, Katniss.

— Precisa nada. Você é somente um nerd obcecado por estudo. — retruca — Aposto que isso nem é para amanhã, ou até mesmo para os próximos dias. — não posso negar, ela tem ótimos argumentos — Por favor. — insiste com um sorriso genuíno e uma empolgação evidente, o que é o suficiente para me fazer suspirar e logo em seguida abrir um pequeno sorriso, dando-me por vencido.

— Tudo bem. — digo, levantando-me da cadeira enquanto a morena comemora a própria vitória efusivamente — O que você quer fazer?

— Você tem alguma bebida aqui? — pergunta analisando o espaço ao seu redor.

— Além de água, não. — respondo e vejo Katniss revirar os olhos, jogando as mãos para o alto em um ato de frustração — Espera, você achou mesmo que eu tinha algum tipo de bebida alcoólica no meu quarto?

— Na verdade, não. Mas não custava nada arriscar. — ela sorri de forma zombeteira ao dar levemente de ombros — Você conhece uma brincadeira chamada “eu nunca”?

— Acho que sim... — pondero por alguns segundos — É aquela em que alguém diz algo que nunca fez e se as outras já tiverem feito, são obrigadas a beberem uma dose de alguma bebida? — ela confirma, escorregando do colchão até o carpete, indicando com uma das mãos para que eu me sente na posição oposta a sua e assim faço — Mas, novamente, eu não tenho bebida aqui.

— Ah, mas a gente pode fazer uma pequena adaptação para fazer o jogo funcionar. — ela lança-me uma piscadela provocativa — Podemos fazer uma melhor de quatro e, se eu ganhar, você vai tocar uma música para mim no seu violão. — aponta para o instrumento esquecido em um canto do meu quarto.

— Hmm... — inclino a cabeça um pouco para a direita, refletindo sobre a sua proposta — Tudo bem, mas... e se eu ganhar?

— Bom, isso é praticamente impossível de acontecer. — ironiza e é minha vez de revirar os olhos — Mas, trabalhando com hipóteses remotas... você pode me pedir o que quiser, desde que esteja dentro das minhas possibilidades, claro.

— Até me deixar fotografar você?

— Até isso. — garante com um sorriso — Você tem a minha palavra. — ela me estende a mão para que possamos fechar o trato e assim faço — Agora vou te deixar começar, já que está sediando o evento.

— Certo, deixe-me ver... — penso um pouco antes de enunciar a primeira sentença — Eu nunca brinquei de “eu nunca”.

— Mentiroso! Mas que vergonha, Mellark... já começou a brincadeira mentindo! — acusa, parecendo admirada com a minha ousadia, enquanto me divirto com a sua reação.

— Estou falando sério, Marrentinha.

— Então como você sabia das regras?

— Eu só ouvir falar, mas nunca cheguei a brincar. Você deveria saber disso, já que eu não bebo e socializar não é exatamente um dos meus passatempos preferidos.

— Tudo bem, tudo bem... vou deixar essa passar. Agora é a minha vez. Eu nunca... — ela dá uma pausa dramática e esboça um sorriso antes de concluir —... Beijei uma garota.

— Você trapaceia descaradamente e tem coragem de me chamar de mentiroso?! — pergunto incrédulo ao cruzar os braços, encarando-a de modo acusador.

— Aonde eu trapaceei? — questiona se fazendo de desentendida, mas sem conseguir evitar rir da indignação evidente em meu rosto.

— Com certeza deve existir alguma regra contra isso que você acabou de fazer. — resmungo emburrado. Eu sabia que a morena estava mentindo, a conhecia muito bem para saber quando estava trapaceando.

— Não que eu saiba e, por favor, pare de enrolação e continue a brincadeira.

— Tudo bem, trapaceira... Deixe-me ver... — pondero, abandonando completamente o tom indignado que tinha antes — Eu nunca tomei bebida alcoólica.

— E eu que sou a trapaceira... — ironiza, contabilizando sua segunda derrota.

— Isso não é trapaça, Everdeen. Só estou usando as informações privilegiadas que tenho ao meu favor. — falo convencido, recebendo um soco de leve em meu ombro.

— Pode ser. Mas para evitar trapaças posteriores, vou incluir nessa sua lista cigarros e maconha também. — concordo com um pequeno aceno e Katniss prossegue com a brincadeira — Eu nunca saí de Arcadia Bay.

— O quê? — deixo escapar, pego de surpresa pela afirmação.

— Isso mesmo que você ouviu. — reafirma em um tom amargurado — Você sabe que... antes do papai morrer, ele e a mamãe tinham planejado uma viagem que faríamos juntos a Paris, mas depois do acidente... — ela suspira meio cabisbaixa — Bom, ele se foi... e esse sonho partiu junto com ele.

— Eu sinto muito, Niss. — aproximo-me dela e tomo suas mãos nas minhas, acariciando-as levemente com o intuito de confortá-la.

— Não sinta. Está tudo bem... ou melhor, está ficando tudo bem. — ela abre um pequeno sorriso — Agora é a sua vez.

— Tem certeza de que quer continuar?

— Sim. Ainda quero te ouvir tocando para mim. — não consigo conter o sorriso ao ouvir suas palavras, principalmente após ver o semblante triste lhe abandonar a face.

— Certo, então vamos lá... Hm... Eu nunca tive uma festa do pijama até o dia de hoje. — declaro sem precisar pensar muito.

— Cara, em que mundo você vive? — questiona ao entortar os lábios em uma careta.

— É deprimente, eu sei... — concluo ao soltar uma pequena e envergonhada risada — Mas, como eu te falei, socializar não é o meu forte.

— Que bom que eu te convenci a não estudar, então. — declara, lançando-me um sorriso genuíno — Bom, agora dando continuidade a brincadeira... Eu nunca toquei esse violão. — ela aponta novamente para o instrumento, na maior cara de pau.

— Você não tem o mínimo pudor, hein? — acuso, fazendo-a gargalhar.

— Ué, nunca se sabe... talvez você só goste dele enfeitando o quarto ou algo do tipo. Pode ser apenas pose. — se defende da acusação com uma voz risonha — Essa não foi tão obvia.

— Vou fingir que você acha mesmo isso e partir para a rodada final. Preciso pensar bem... — desligo-me do momento presente, enquanto formulo meticulosamente minha próxima frase. Após alguns segundos de silêncio a sentença surge em minha mente como um insight, dando-me quase certeza de que atingirei o quarto ponto — Eu nunca namorei.

Para a minha surpresa, a morena abriu um enorme sorriso ao me ouvir, o que destoava completamente da reação que eu esperava para quando ela se visse diante da sua derrota eminente.

— Você ficará realmente surpreso ao saber que eu também não, Sr. Mellark. — fala, fazendo com que eu finalmente entenda o motivo de seu sorriso.

— Katniss, você não pode mentir para ganhar... — ralho, incomodado com a sua possível quebra de regras.

— Eu juro que é verdade. Eu nunca namorei para valer. Só tive alguns rolos que nunca chegaram a ser sérios e lances de uma única noite. — revela, demonstrando-me toda a sua sinceridade.

— Tudo bem. Eu acredito em você. — declaro, soltando um suspiro frustrado mediante a minha derrota quase certa — Sua chance de vencer, Everdeen. — ela abre mais um sorriso, mal contendo a própria empolgação com seu prêmio tão perto de ser conquistado.

— Cara, isso é muito foda! — exclama animadamente — Certo, agora calma, Katniss. Muita calma. Você ainda não ganhou... — fala para si mesma, esfregando as mãos.

Levou um pouco mais de tempo que as primeiras, mas quando a morena finalmente decidiu expor sua ideia, ela veio acompanhada de um sorriso presunçoso, daqueles que ela só exibia quando tinha certeza absoluta da sua vitória.

— Eu nunca inventei que estava doente para matar aula.

— Você nunca fez isso? Mesmo? — pergunto desconfiado, buscando confirmar a veracidade da informação que, do meu ponto de vista, é um pouco difícil de acreditar.

— Mesmo. Eu gosto muito das aulas de história, mas quando não estou a fim de assistir, eu simplesmente não apareço. — explica em um dar de ombros.

— É... — solto um longo suspiro antes de enfim confessar a minha derrota — Parece que você ganhou. — sorrio para a morena, vendo a mesma me estudar por alguns segundos antes abrir o seu maior e melhor sorriso.

— Eu disse que ia ganhar! Sou mestre nessa brincadeira. — fala convencida, levantando-se logo em seguida para pegar o violão e entregá-lo em minhas mãos — Faça-me uma serenata, Conquistador. — provoca, dando um tapinha de leve em meu joelho. 

— Tudo bem. Aposta é aposta, né? — reconheço, enquanto dedilho uma ou outra nota para testar a afinação do instrumento sob o olhar interessado da morena — Bom, já vou logo pedindo desculpas antecipadas caso eu erre muito... Faz bastante tempo que eu não toco.

Katniss apenas assente e, logo em seguida, acomodo-me melhor sobre o carpete para enfim começar a tocar uma música calma e intimista, olhando para o braço do violão e para os meus próprios dedos que se revezam em diferentes notas, enquanto os acordes fluem. Não que eu precisasse olhar para acertar as notas daquela música que, diga-se de passagem, eu já sabia de cor devido às inúmeras vezes que já havia tocado antes. Na verdade, eu não queria era observar a reação da morena em relação a minha escolha de música, assim como também em relação a minha habilidade em dar vida às notas. Aquilo só serviria para me deixar ainda mais nervoso do que já estava e me levaria a errar tudo o que tentasse depois. Por isso, foi uma enorme surpresa para mim quando Katniss comentou que conhecia a canção e, sem nenhuma hesitação, começou a acompanhar meus acordes cantando.

All I want is nothing more  (Tudo o que eu quero nada mais é)
To hear you knocking at my door 
(Do que ouvir você batendo em minha porta)
'Cause if I could see your face once more 
(Porque se eu pudesse ver seu rosto mais uma vez)
I could die as a happy man I'm sure 
(Tenho certeza que poderia morrer um homem feliz)

When you said your last goodbye  (Quando você disse seu último adeus)
I died a little bit inside 
(Morri um pouco por dentro)
I lay in tears in bed all night 
(Deito na cama chorando todas as noites)
Alone without you by my side 
(Sozinho, sem você ao meu lado)

But if you loved me  (Mas se você me amava)
Why did you leave me? 
(Por que você me deixou?)
Take my body, take my body 
(Tome meu corpo, tome meu corpo)
All I want is and all I need is 
(Tudo o que eu quero e tudo o que eu preciso)
To find somebody 
(É encontrar alguém)
I'll find somebody like you oh, oh, oh 
(Vou encontrar alguém como você oh, oh, oh)

De alguma forma, aquilo acalmou um pouco os meus nervos e permitiu que eu seguisse com um pouco mais de confiança, arriscando até cantar junto com a morena, só que em um tom muito mais baixo.

See, you brought out the best of me  (Veja, você trouxe o melhor de mim) 
A part of me I'd never seen 
(Uma parte de mim que nunca tinha visto)
You took my soul wiped it clean 
(Você pegou minha alma e a purificou)
Our love was made for movie screens 
(Nosso amor foi feito para as telas de cinema)

But if you loved me  (Mas se você me amava)
Why did you leave me? 
(Por que você me deixou?)
Take my body, take my body 
(Tome meu corpo, tome meu corpo)
All I want is and all I need is 
(Tudo o que eu quero e tudo o que eu preciso)
To find somebody 
(É encontrar alguém)
I'll find somebody like you oh, oh, oh 
(Vou encontrar alguém como você oh, oh, oh)

— Uou! Isso foi incrível, Peeta! — a morena exclama, batendo palmas animadamente após o último acorde ser tocado — Você deveria fazer isso mais vezes... Tipo agora mesmo. — sugere, arrancando-me uma boa risada.

— Valeu, mas o trato era somente uma música. — falo ao levantar-me para depositar o violão em seu lugar de origem — Sem negociações.

— Então... o que você acha de amanhã? — insiste — Quem sabe uma música por dia só para mim até você ganhar confiança para tocar para grandes audiências?

— Sim, claro. — ironizo, sentando-me ao seu lado.

— Você é um chato sabia? — resmunga em um tom divertido ao deitar a cabeça em meu ombro.

— Já estou começando a acreditar piamente nisso devido às inúmeras vezes em que você fez questão de resaltar. — brinco, arrancando-lhe uma boa gargalhada.

— A verdade tem que ser dita, Sr. Mellark. — nossas risadas se misturam perante a quietude do quarto, mas quando estas se dissipam, resta somente o silêncio. O tortuoso e reflexivo silêncio.

— Desculpa. — solto de repente em um tom baixo, sentindo o remorso e a culpa tomarem conta do meu interior.

— O quê? — Katniss pergunta confusa, afastando o rosto do meu ombro para poder olhar em meus olhos.

— Desculpa. Eu fui um cretino por ter abandonado você no memento mais difícil da sua vida. É só que... eu meti na minha cabeça que seria melhor para nós dois se cortássemos todos os nossos laços, achei que seria mais fácil lidar com a saudade e... tudo mais. — tomo fôlego, movendo o corpo para poder observá-la melhor — A verdade é que eu nunca consegui esquecer você, Katniss. Não havia um único momento no dia em que eu não me pegava pensando em você, em como estaria, se também sentia minha falta tanto quanto eu sentia a sua, mas, ainda assim, por algum motivo, nunca fui capaz de entrar em contado. Nos primeiros anos por causa da ideia absurda de cortar todos os nossos laços, já nos outros, por pura vergonha e medo de ser rejeitado pelo que eu havia feito. — solto tudo o que estava entalado em minha garganta, toda a culpa que sentia por ter me distanciado.

O silêncio se instalou novamente no cômodo e acabei soltando um sorriso compreensível perante o olhar perdido e distante da morena. Talvez ela só estivesse surpresa demais, ou até mesmo confusa demais para poder falar algo coerente. Mas, independente de quais fossem as palavras usadas, eu sabia que não poderia me sentir ofendido, afinal, fui eu quem a abandonou para começo de conversa. Era mais do que compreensível toda a sua raiva e ressentimento.

— Sabe? Por mais decepcionada que você tenha me deixado, eu nunca consegui ficar com raiva de você. Não verdadeiramente, pelo menos. — ela quebra o silêncio minutos depois e automaticamente busco por seus olhos, não conseguindo segurar uma exclamação de surpresa pela sua revelação inesperada.

— Como assim? — pergunto ao abrir um sorriso discreto, enquanto minha pulsação se torna acelerada.

— Eu mentia para mim mesma dizendo que sentia raiva de você, mas a verdade é que... — ela respira profundamente — Eu passava mais tempo sentindo a sua falta do que qualquer outra coisa. — completa, olhando-me de um modo profundo, quase como se pudesse enxergar a minha alma.

— Katniss... — solto, sorrindo abertamente desta vez — Você não faz ideia de o quão bom é ouvir isso.

— E você não faz ideia de o quão bom é ter você de volta, Pee. — um sentimento bom toma conta de meu corpo, enquanto observo um sorriso genuíno surgir em seus belos lábios.

— É bom estar de volta. — puxo-a para um caloroso e apertado abraço, tendo o prazer de me perder em seu cheiro tão familiar e inebriante — Então... você me perdoa?

Katniss se afasta de nosso abraço e passa a me observar em silêncio, deixando-me inquieto pela falta de resposta. Ma então ela abre um sorrisinho malicioso e sinto meu coração parar por poucos segundos assim que avisto seu rosto se aproximar do meu, até que seus lábios estejam praticamente colados ao meu ouvido, para então sussurrar um “sim” do modo mais rouco e sexy que possa existir.

Aquele gesto inesperado fora tão envolvente e excitante que levei alguns segundos para me dar conta de que ela havia me perdoado e quando a ficha enfim caiu, minhas mãos quase que de modo automático foram de encontro a sua cintura, puxando seu corpo de encontro ao meu. Katniss ofegou em surpresa, causando-me uma onda de arrepios por seu rosto ainda estar perigosamente próximo, porém, isso não durou mais que dois segundos, já que ela logo tratou de se afastar, minimamente, apenas o suficiente para que eu pudesse vislumbrar seu sorriso de contentamento.

Meu coração, a aquela altura do campeonato, já batia tão loucamente dentro de minha caixa torácica que a mesma poderia facilmente se romper. E se ainda não bastasse todo aquele alvoroço de sentimentos em meu interior, mais uma vez, Katniss aproximou seu rosto do meu, deixando nossos lábios a apenas milímetros de distância, enquanto seus braços descansavam sobre os meus ombros. Ela estava me provocando, testando todos os meus limites para saber até onde eu iria. Entretanto, mal sabia ela que aquele jogo, eu também sabia jogar.

Katniss Everdeen... — pronuncio cada sílaba de seu nome lentamente, saboreando cada uma delas de modo provocativo. E como o esperado, os olhos tempestuosos da morena descem até os meus lábios, da qual logo trato de enfeitar com um sorriso tão ou mais malicioso que o seu.

Peeta Mellark... — ela pronuncia da mesma forma e então, para provocá-la ainda mais, passo a língua por meus lábios, arrancando da morena um xingamento baixinho — Infelizmente, ou não, eu não tenho tempo para provocações agora. — é o que ela diz antes de tomar meus lábios nos seus em um beijo quente e arrebatador, deixando-me completamente anestesiado.

Nossas línguas travavam uma batalha quase que insana, enquanto eu aproveitava para intensificar o aperto de meus braços em torno de sua cintura, tendo o prazer de sentir cada curva de seu corpo contra o meu. Eram tantas as sensações expressadas naquele enlaçar de lábios que minha mente já se encontrava completamente nublada, inebriada com os beijos intensos e apaixonantes que estávamos trocando naquele momento. Mas eu precisava de mais, muito mais do que simples beijos para matar toda a saudade que sentia dela e Katniss parecia pensar o mesmo, já que em um ato quase que desesperado, logo tratou de retirar a minha camisa.

Mantendo minhas mãos bem firmes em sua cintura, ergui meu corpo junto com o seu e nos guiei até a cama, caindo sobre ela e levando meus lábios até o seu pescoço, tratando de dar a ele toda a minha atenção, e não satisfeito em apenas beijar, comecei a dar pequenos chupões e mordidas também, causando na morena uma onda de arrepios que vieram acompanhados de um rouco gemido. E foi aquele gemido, aquele tão prazeroso gemido o estopim que fez todas as nossas roupas serem jogadas pelos ares, deixando nossos corpos livres um para o outro. Minhas mãos então, quase como se tivessem vida própria, começaram a passear livremente pelo corpo de Katniss, tentando memorizar cada traço daquela linha de perfeição. Sua pele estava quente, fervente, tornando a necessidade que eu tinha de fazê-la minha mais importante que o oxigênio que faltava de nossas respirações. E então o momento tão aguardado por ambos aconteceu, o momento em que a tomei por completo em meus braços.

Nosso encaixe era perfeito, como se nossos corpos tivessem sido criados justamente para aquele momento tão único onde nos encontrávamos perdidos em nosso próprio prazer, em êxtase. Suas mãos percorrendo cada centímetro de minhas costas, arranhando-as enquanto nossos gemidos e respirações descompassadas eram os únicos sons a ecoarem pelo quarto. Havia tantos sentimentos nos rodeando naquele inexplicável momento. Havia paixão, muita paixão. Havia desejo, felicidade, cumplicidade, confiança. Mas também havia medo, receios, temores, insegurança. Porém havia um sentimento, um em específico que se sobressaia perante todos os outros... Havia amor. E ali, enquanto nossos corpos dançavam em uma sincronia única e somente deles, não éramos mais a Katniss quebrada, amargurada ou raivosa, muito menos o Peeta atrapalhado, culpado ou perdido. Não, naquele momento éramos muito mais do que aquilo. Éramos duas almas destinadas uma a outra e que depois de muito se desencontrar, enfim haviam encontrado o caminho de volta para casa.

Nossos corpos encontravam-se completamente suados, as respirações descompassadas e os corações acelerados após aquele vendaval carnal. Não, nós não havíamos feito apenas amor, havíamos nos fundido. Havíamos encaixado nossos corpos de uma forma inexplicável e jamais esquecida. Havíamos unido nossos destroços, colidido todas as nossas inseguranças... Havíamos nos tornado um só.

Com as testas coladas e os pulmões buscando freneticamente por ar, não pude deixar de notar o quão maravilhosa Katniss estava naquele momento. Os lábios inchados por conta dos beijos nada delicados trocados no momento do ápice, os cabelos negros colados em sua pele devido ao suor, suas bochechas ruborizadas devido a todas as sensações vivenciadas no auge do nosso prazer. Ela nunca esteve tão linda quanto naquele momento. E aquela constatação se tornou ainda mais verídica quando ela sorriu. O sorriso mais radiante e encantador que eu já havia presenciado em seus belos lábios. Por um momento cheguei a pensar que tudo aquilo não passava de um sonho idealizado pela minha mente fraca e que adorava me pregar peças, mas a partir do momento em que me vi completamente preso e hipnotizado pelas suas belas orbes acinzentadas – que naquele instante reluziam felicidade, paixão, luxuria e amor –, eu soube que não era somente um sonho. Aquilo era real. Muito real.

Eu te amo. — ela solta de repente, olhando no fundo de meus olhos. O choque ao ouvir suas palavras é tanto que, eu me vejo completamente sem ar, com o corpo rígido e o coração acelerado.

Céus! Eu estou ficando louco ou ela disse que me ama?

— O q-quê? — minha voz sai falha, não passando um sussurro e Katniss solta uma pequena risada, levando suas mãos até minhas bochechas para acariciá-las.

— Eu disse que te amo, seu bobo. Te amo com todas as minhas forças. — declara emocionada, deixando-me completamente atônito — Nunca me imaginei amando alguém com tanta intensidade, nem sabia que tinha capacidade para amar assim depois de tudo o que passei. Mas nesses três dias que passamos juntos, você trouxe de volta uma parte minha que há muito tempo achei ter morrido. Você me trouxe confiança, esperança, me mostrou que o céu, mesmo com seus dias de trovoada, também tem seus dias lindos... — ela sorri em meio às lágrimas — Eu te amo, Peeta. E ninguém além de você saberia despertar esse sentimento em mim.

— Ah, Marrentinha, você não sabe o quanto eu almejei te ouvir dizendo isso. O quanto sonhei com esse momento... — solto uma risada nervosa, mas ao mesmo tempo sentindo meu peito inflar tamanha alegria — Eu também te amo, Niss. Te amo hoje, amanhã... Sempre e para todo o sempre. — declaro, enquanto observo nossas lágrimas se encontram em suas bochechas, ambos emocionados demais. Então tomo os seus lábios nos meus novamente, de modo urgente e quase que desesperado, sentindo o calor da felicidade vibrar em cada célula de meu corpo.

Eu não sabia bem como explicar o que estava sentindo naquele momento. Era apenas uma sensação boa de preenchimento, como se eu houvesse passado a vida inteira sem uma parte minha que agora havia aparecido para me completar. E Katniss era essa parte que me estava faltando, era o complemento da minha alma e saber que nosso amor era real e concreto, só servia para me fazer o cara mais feliz do mundo.

E então, sem pressa alguma, voltamos a nos amar. Sem ligar para o tempo, sem ligar para o depois.


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Notas finais do capítulo

E então, o que vocês acharam? Espero que tenham gostado, porque eu particularmente amei escrever esse capítulo. Esse momento descontraído entre os dois, para depois vir o momento tão aguardado onde ambos se amam e se declaram... Nosso casal passou por muitas coisas ao longo desses 5 anos em que ficaram separados e, principalmente, nesses últimos três dias, mas precisamente desde que o exato momento em que o Peeta fotografou aquela borboleta no banheiro. Mas agora eles estão juntos e juntos enfrentarão tudo o que vier pela frente... e acreditem, vem MUITA coisa por aí. Preparem seus corações porque os mistérios que rondam Arcadia Bay estão prestes a serem revelados ;) rsrsr

Bom, então é isso pessoal, por hoje é só. Espero de coração que tenham gostado :)
Beijão e até o próximo ♥



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