Pov's Peeta

Saí do banheiro alguns minutos depois, me deparando com Katniss parada no mesmo lugar. Mas, antes que eu pudesse fazer alguma piada sobre isso, descobri o motivo. James estava parado de frente para ela, a alguns passos de distância. Ambos se encaravam fixamente. O olhar do homem saiu de Katniss apenas para se dirigir a mim, quando me juntei a ela, parando ao seu lado.

— Você não vai falar nada? - a morena questionou sem desviar seu olhar do pai, parecendo nem ter notado minha presença. Ele abre e fecha a boca, mas nada saí. Era como se ele estivesse batalhando contra si mesmo com a intenção de decidir o que falar. Por fim, esperou mais alguns instantes em silêncio, com seu olhar assustador e frio sobre nós. Então, nos deu as costas, voltando para a sala sem dizer nada.

— É como se ele nem soubesse mais como falar comigo. - ela diz, fixando um ponto qualquer no chão. Acaricio suas costas em uma tentativa de conforto, já que eu não consegui pensar em nada para dizer. Katniss nega com a cabeça e caminha de volta para perto de todos.

Me dirigi de volta também, me juntando à eles. Katniss estava agradecendo alguns presentes ganhados. Então, aproveitei para também entregar o meu. Tirei do bolso uma pequena caixinha, embrulhada.

— Bem, minha mãe já fez um brinde na hora do jantar, mas eu também quero dizer alguma palavras. - comecei atraindo a atenção de todos para mim, principalmente a do senhor Everdeen. Senti que ele mais do que ninguém queria  ouvir o que eu tinha a dizer. - Há 7 anos atrás eu tive a sorte de encontrar você, Kat. E mesmo sem de fato te conhecer, eu já sabia que você era especial de alguma forma! Há pouco mais de 1 ano nós nos reencontramos e eu descobri que você é a pessoa que me deu o melhor presente da minha vida. - desviei meu olhar para Manuela por um momento, que sorriu para mim. - Então, o aniversário é seu, mas ao invés de apenas te parabenizar por mais um ano, eu devo agradecer por isso, por mais esse ano de vida seu! Por você ser essa mulher extraordinária e maravilhosa na vida de tanta gente. Por você ser o sol, ser luz nas nossas vidas, especialmente na minha! Só acho justo ressaltar que você e Manuela foram as melhores coisas que já me aconteceu! Então, feliz aniversário de novo, morena. - termino meu discurso, já próximo o suficiente dela para entregar-lhe o presente e, mais uma vez, abraçá-la. Ela sorri abertamente para mim, retribuindo o abraço e sussurra "obrigada, honey!" no meu ouvido.

— Ah meu Deus, se beijem logo por favor! - Johanna exclama fazendo os outros rirem, inclusive nossa filha. Katniss fica vermelha, como de costume, mas ri também. Eu apenas rio e beijo sua bochecha demoradamente. Quando nos soltamos, ela abre a caixinha que eu entreguei, revelando um colar de prata com um pingente de sol. Eu havia pensado em tentar algo mais criativo, mas quando vi o colar automaticamente me lembrei dela. Era muito bonito, eu sabia que ela gostaria. Porém, o sol que me chamou a atenção. Como eu disse no discurso, Katniss é como um sol. A luz na minha vida! Desde que a conheci verdadeiramente, e a nossa filha, eu me tornei diferente. Me sinto diferente. Me sinto melhor! E não tenho certeza se ela sabe do quão bem ela me faz. Então, decidi tentar demonstrar isso de alguma forma.

— É lindo! Obrigada, querido! É lindo mesmo, eu amei! - ela agradece de novo, sorrindo lindamente para mim. Ah, como eu gostaria de beijá-la agora. Se não fosse esse nosso "acordo" sobre não contar pra ninguém sobre nós.

Por algum motivo que não entendo, principalmente porque só agora fui me lembrar da presença dele nos observando, James se levanta e sai da sala, indo em direção a varanda. Ele não falou nada, mas não parecia feliz. Outra vez todos notaram, mas fingiram não notar. Apenas Clara, que mesmo tentando disfarçar, não deixava de demonstrar seu incômodo e até constrangimento com a atitude do marido.

— Onde o vovô foi? - Manu pergunta, confusa.

— Ele foi tomar um ar, meu bem. Disse que aqui estava muito quente! Logo ele volta. - Clara responde, sorrindo para a pequena que parece convencida.

— Então, alguém quer mais vinho? - meu pai oferece, já se pondo de pé para ir buscar uma outra garrafa na geladeira. Todos concordam e voltam a conversar normalmente, ignorando o clima estranho depois da saída de James.

Katniss se levantou também e foi em direção a varanda, provavelmente atrás do outro Everdeen. Ninguém notou de fato, já que estavam todos entretidos em suas respectivas conversas e Manuela distraída com um desenho que estava pintando. Decidi segui-la. Não tinha certeza se era uma boa ideia. Mesmo assim, não me aproximei. Fiquei ainda dentro da cozinha, parado na porta, observando os dois que não me notaram. Katniss estava mais a frente, perto da espreguiçadeira, mais uma vez encarando o pai. Eles permaneceram em silêncio por alguns instantes, até James levantar uma sobrancelha e decidir falar.

— Então, quando você pretendia contar que você e o pai da Manuela estão juntos? - James questiona.

— Desde quando você se interessa em saber qualquer coisa a meu respeito? Ou melhor, porque exatamente você está falando comigo? - Katniss revida.

— Ora, eu achei que você já tivesse atingido o ápice da estupidez quando engravidou desse rapaz, mas parece que eu estava errado! Que palhaçada foi aquela em frente o banheiro? Vocês dois agindo como adolescentes mais uma vez, não imaginam o estrago que podem fazer na vida da Manuela? Achei que ao menos a descendência de pensar na sua filha, vocês teriam! - ele exclama, com desdém provavelmente se referindo à cena do rápido beijo entre Katniss e eu que agora eu entendi que ele certamente presenciara. Quando Katniss contou sobre o pai dela, achei que talvez ela estivesse exagerando um pouco em algumas partes, devido a má relação deles. Mas agora vejo que ele consegue ser uma pessoa horrível em níveis extremos, de fato! Isso me faz pensar que nós devíamos ficar gratos pela tia Meg ter voltado pra Paris há alguns dias, porque eu definitivamente não gostaria de presenciar um encontro dela com James Everdeen.

— Então é isso? Você finalmente decidiu falar comigo só porque encontrou um motivo novo para me julgar? - ela fala com sarcasmo.

— Como sempre, você não quer ouvir minha opinião! - ele afirma.

— Tem razão! Principalmente porque você não está em posição de opinar sobre nada a meu respeito! - retruca ela, mas consigo sentir sua voz trêmula, talvez não tão certa sobre suas próprias palavras. James não parece notar.

— Eu sou o seu pai! Se eu quiser, eu tenho esse direito sim. - alega o homem. Ela dá uma risada irônica.

— Não é verdade! Você não sabe o que essa palavra significa. "Pai" é algo muito além do que contribuir para trazer uma criança ao mundo. E ta aí algo que você nunca fez. - Katniss diz cada uma das palavras com um tom notoriamente amargurado.

— Eu sempre dei tudo que você precisava, Katniss. Como você ainda tem coragem de dizer isso? - soa indignado, como se ele fosse a vítima.

— Você me deu coisas materiais! Mas você nunca me deu o que eu realmente precisava. Você nem sabe do que eu precisava! Precisava de alguém que se orgulhasse de mim. Que me ajudasse a ser uma pessoa melhor. Que me ensinasse coisas sobre a vida! Que me apoiasse. Que me desse broncas quando eu errasse, mais ainda sim fosse conforto. De alguém que eu tivesse a certeza que, independente de tudo, sempre estaria comigo, até nos piores momentos! Acima de toda a merda do seu dinheiro, ou de estudar na melhor escola, ou ter as melhores roupas, os melhores sapatos, ou a melhor faculdade. Eu precisava só da droga do seu amor! - ela despeja tudo em cima dele, irritada, magoada.

— Você errou, Katniss! E agora você não pode me culpar pela suas próprias atitudes! Você não pode julgar meu jeito de reagir a sua estupidez! Esse rapaz foi um erro, Manuela foi um erro. Você sabe. Você devia ter se livrado disso quando ainda era tempo! Nós te demos essa opção, lembra? Mas você insistiu. Você fez sua escolha e eu não aprovei! Então não espere que eu vá engolir toda essa palhaçada. É melhor que fiquemos do jeito que estava, tenho certeza que é melhor para todos. - James responde irritado, mas ainda mantendo seu tom de voz baixo e frio.

— Nunca mais diga isso! - ela exclama, absurdamente enfurecida. Noto que ela queria gritar com ele, mas estava se controlando. - Nunca mais ouse dizer que minha filha foi um erro! Eu concordo que a forma como tudo aconteceu não foi correta, mas Manuela foi a melhor coisa da minha vida, mesmo que tenha vindo do jeito errado! Você quer me odiar, me culpar pra sempre por algo você não consegue perdoar ou ao menos aceitar, tudo bem. Que se foda! Eu cansei de você! Cansei de me importar com o que você pensa! Eu não ligo mais. Me odeie, me julgue, me culpe! Mas, enquanto você estiver aqui na cidade, hospedado na minha casa, você vai parar de agir como um cretino. Todas essas pessoas, incluindo o Peeta, são pessoas maravilhosas que não merecem que você venha na casa delas para agir como um grande babaca! Você não precisa falar comigo, você não precisa olhar para mim e nem ficar feliz por comemorar meu aniversário. Mas eu exijo o mínimo de respeito! Respeito por mim e por minha relação com essas pessoas, seja ela qual for. Porque apesar de tudo, eles podem ser considerados minha família muito mais do que você já foi em 27 anos! E, mais uma vez, você não tem o direito de opinar sobre absolutamente nada na minha vida. Então nunca mais repita que minha filha foi um erro! O único erro foi meu, quando impedi que Manuela não soubesse realmente o homem amargo que o avô dela é. E eu só não mudo isso agora, porque eu não quero magoar o pequeno coraçãozinho dela! E, só pra constar, você pode odiar o Peeta e julgá-lo também pelo forma como nós dois começamos as coisas, mas ele é o pai que você nunca conseguiria ser, nem pela metade! Então eu também não aceito que você diga que ele foi um erro. - Katniss finaliza e, estranhamente, James parece ter perdido as palavras. Ele até mesmo desvia o olhar do dela, por um breve segundo. Ela suspira, passa uma mão no cabelo e dá as costas para ele, vindo em minha direção, afim de voltar para dentro. Ele continua parado no mesmo lugar, sem palavras, observando-a, até que ela entre na cozinha, sumindo da vista dele e se deparando comigo.

— Eu me sinto estranhamente bem por ter falado. - confessa, antes que eu possa perguntar. Ela sorri, em uma tantetiva de transmitir confiança ou alívio. Mas ainda assim consigo perceber a tristeza por trás dele.

— É bom falar. Ficar guardando isso só seria pior pra você mesma! - concordo. Ela concorda e fica alguns segundos em silêncio, como se estivesse digerindo o que acabara de acontecer.

— É melhor a gente voltar pra lá! - diz, encerrando o assunto e voltando para a sala. Clara parece desconfiada de que tenha acontecido algo, mas não pergunta. Não agora, ao menos. Me junto ao meu pai, Edward e Finnick e acabo me entretendo na conversa. No entanto, vez ou outra observava Katniss que, apesar de participar da conversa, estava um tanto distante. James não apareceu. Ficou lá na varanda pelo resto da noite e só voltamos a vê-lo bem mais tarde, quando Clara quis ir embora e então ele veio se despedir educadamente. Não falou comigo, nem formalmente como na chegada. Sequer dirigiu o olhar para Katniss, que por sua vez também não fez questão disso. Clara levou Manuela com ela, que já estava adormecida há um tempo. E Kat e eu ficamos por último, para ajudar minha mãe a organizar as coisas, mesmo depois dela ter negado ajuda várias vezes. Por fim, fui levar Katniss para casa. Entretanto, eu ainda queria finalizar a noite, só nós dois, principalmente porque ela parecia tensa e chateada depois da discussão com o pai. Entramos no carro e eu comecei a seguir para o meu apartamento.

— Essa não é a direção da minha casa, honey! - comenta ela.

— Eu sei disso, chère! É da minha. - respondo.

— E porquê nós estamos indo pra lá? Eu devia ir pra casa. Manuela está com meus pais. - alega.

— Já são quase duas da manhã. Manuela está dormindo e seus pais provavelmente estão também! Hoje, teoricamente deveria ser um dia feliz pra você. Seu pai é um babaca que não colaborou para isso. Mas, por sorte, você tem a mim, que sou incrível! E vou te dar um ótimo fim de aniversário. - dou um sorriso de canto para ela que revira os olhos, mas também sorri.

— Narcisista! - acusa.

— Realista. Já te falei! - retruco. Entramos no meu apartamento, ela senta no sofá.

— Champagnat? - ofereço.

— Eu certamente não deveria beber mais hoje. Mas, sim! - aceita e eu rio. Busco duas taças e a bebida, me juntando a ela no sofá.

— Você ouviu tudo, não foi? - pergunta ela, depois de um tempo, encarando a taça em suas mãos.

— Ouvi. - confirmo.

— E? - agora seus olhos procuram os meus, numa tentativa de descobrir minha opinião antes que eu diga.

— Como eu disse, acho que foi bom ter falado. Deixar as coisas as claras. Esse jogo de ignorar não é nada bom, pra ninguém! - respondo. Ela concorda com a cabeça e não diz mais nada. Vou até meu quarto e pego um outro embrulho de presente.

— Esqueça seu pai, por ora. Vamos fazer um bom fim de aniversário, certo? - digo, me aproximando novamente. - Seu presente. - sorrio e entrego o pacote a ela.

— Você já me deu um presente! - comenta, levantando uma sobrancelha, mas aceita o embrulho.

— É, mas eu decidi comprar esse também! Só achei que seria melhor não entregá-lo na frente de todo mundo. - ela me olha desconfiada quando solto um risinho travesso. Ela abre o pacote e gargalha.

— De fato não seria uma boa ideia receber no meio de todo mundo! - concorda, tirando a caixa de dentro do pacote, revelando um conjunto de lingerie vermelha com rendas. Um dia desses, depois de uma semana de abstinência, onde Katniss se recusava a fazer sexo alegando que estava menstruada, devido a provavelmente nossa pressa e abstinência, eu acidentalmente (não tão acidental assim) acabei rasgando uma calcinha dela, que por acaso era uma de suas preferidas. Depois de uma reclamação e um tapa bem dado no meu braço esquerdo, ela deixou claro que eu estava lhe devendo uma calcinha.

— Ainda bem que você lembrou que estava me devendo. - comenta.

— Um Mellark sempre paga suas dívidas. - imito a fomosa frase da casa Lannister.

— Essa frase é de Game of thrones. Você está plagiando os Lannisters. - acusa com uma cara indignada, como se eu tivesse cometido um crime. Nós dois acabamos rindo.

— É, mas ainda sim é verdade. - me defendo.

— Tudo bem! - ela ri.

— Você devia experimentar, só pra saber se serve. - sugiro. Ela ri. Sabe que meu interesse é outro. Ela vai para o banheiro e volta alguns minutos depois, vestindo o presente novo. Céus, essa mulher é a perdição da minha vida.

— Ficou bonita? - ela quem sustenta um sorrisinho travesso agora, enquanto se aproxima do sofá onde eu estou sentado. 

— Maravilhosa! Que tal a gente tirar? - sorrio malicioso, enlaçando sua cintura com meus braços e trazendo seu corpo para junto do meu, fazendo-a cair sentada sobre minhas pernas. Ela gargalha. 

Acaricio seu pescoço com a ponta do nariz, afastando seu cabelo para trás. Beijo aquele local  e encaminho minhas mãos para o fecho do sutiã, pronto para me livrar dele, mas ela me impede.

— Espera! - ela afasta minimamente, para olhar meu rosto. - Antes, eu acho que você devia saber que, eu nunca fui muito fã do meu aniversário, mas mesmo assim e mesmo meu pai sendo um grande cretino, esse foi um dos melhores aniversários da minha vida! - ela sorri.

— Você merecia muito mais! Nem fizemos tanto. - comento, mas ela nega.

— Não importa! Não importa o que fizeram e sim as pessoas que fizeram e o motivo! Vocês todos são especiais e o fato de terem se esforçado para fazer meu dia especial, já o tornou assim! - afirma ela. Sorrio e em resposta, beijo-a. Apesar de já termos nos beijado tantas vezes, faz alguns dias que tem sido diferente. Um diferente bom. Não sei explicar realmente, mas sei que ando sentindo coisas que nunca senti antes. Confesso que chega a ser assustador, de certa forma, mas eu decidi me deixar levar e me entregar a esses sentimentos que estão me consumindo, afinal eu não poderia fugir disso nem se quisesse. E, a cada segundo que passo ao lado de Katniss Everdeen, eu tenho mais certeza que, dela eu definitivamente não quero fugir...