Anais de Tëmallön; Os Livros Sagrados escrita por P B Souza


Capítulo 8
Capítulo 8


Notas iniciais do capítulo

SIM, 2 capítulos em 1 dia... queria muito postar esse aqui :3
Boa leitura!!!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/743130/chapter/8

Alek pensava que se pudesse ver a cidade lá de cima, seria como olhar o próprio céu, todas aquelas luzes durante a noite, no mar de ruas, largas e estreitas, tudo aquilo visto de longe na escuridão da madrugada...

— E se for outra cidade lá em cima? A maior das maiores cidades, e eles estiverem olhando pra gente, pai?

Talmer Dalahar olhou para o filho. Alek tinha uma curiosidade inata, algo tão saudável quanto perigoso, e seu pai sabia disso, tomava cuidado com o filho e tudo que lhe mostrava, sabia que era perigoso, a Ordem sequer permitia que crianças daquela idade aprendessem astrologia, quão menos lessem dorrens por conta própria, mas seu pai sempre viu em Alek a maturidade que jamais vira em muitos líderes na própria Ordem.

— Não é uma cidade, são estrelas, grandes reações químicas explodindo e queimando constantemente, por milênios. Elas estão aqui hoje, estavam ontem, e amanhã talvez sumam. Talvez já tenham sumido até.

— Como assim? — O garoto sentado ao lado do telescópio de bronze de seu pai, perguntou olhando o homem que parecia saber tudo. Para Alek, seu pai podia responder todas as questões que existissem.

— Estrelas são como fogueiras. Quando acessas, queimam forte, mas a lenha uma hora finda, e então queimam não mais! Suas luzes, por mais belas, não são eternas. Olhar para os astros é um lembrete para nós que até mesmo as tão duradouras estrelas um dia deixam de existir, tudo um dia deve conhecer seu fim e retornar ao véu.

— Eu não gosto disso! — Alek interrompeu com súbito desconforto. A morte lhe era estranha então, desconhecia seu significado e como toda criança, temia o depois.

— O véu é o que somos Alek. Não deve rejeitá-lo, mas sim compreendê-lo. Usamos dele todo dia, e um dia a ele devemos voltar, todos nós, eu, você, suas irmãs e sua mãe. Somos todos parte do véu, quando nascemos nos separamos, ganhamos forma e a oportunidade de espalharmos luz nesta terra tão escura, depois um a um nós partimos e um a um nos reencontramos para vivermos eternamente juntos novamente! Não tema o véu, ame-o!

— Vai doer? — Alek perguntou, os olhos carregados de gordas lágrimas que na primeira piscada escorreram pelas bochechas.

— O que dói é o corpo, a forma como partimos, mas depois... Não há dor alguma!

— Por isso o Sábio Lorsh faz os doentes dormirem? — Talmer apenas anuiu para Alek.

Estavam sentados na laje do prédio vizinho, subiam ali vez ou outra para ver as estrelas e estudar. Então ele pegou o dorrem e foleou.

— A Ordem tem quantos desses?

— Poucos, e depois do expurgo menos ainda. — Talmer respondeu encontrando a página que procurava. — Aqui, vê essa constelação...

— Pai, o expurgo...

— As estrelas, Alek...

— Eu já sei ver elas, e elas não vão sumir amanhã! — Alek respondeu de forma afiada. — Mas eu não sei nada sobre o expurgo, só o que falam nas ruas, é verdade?

— Nem metade. Os Carza assassinaram inocentes em busca de poucos culpados.

— Mas ai os capas negras se vingaram! — Alek disse com entusiasmo, e seu pai pegou em sua mão.

— Não sorria com isso, nunca! A guerra dos capas negras foi a maior mancha na história da nossa Ordem. Eles traíram tudo que nós acreditávamos e abraçaram o poder que nenhum homem deve possuir...

— Mas eles mataram os Carza.

— Alek, me escute! — Apertando um pouco a mão de Alek, Talmer o olhou com firmeza. — A morte Nunca deve ser almejada, nem mesmo para seu pior inimigo. O que os Capas Negras fizeram foi imperdoável, um crime tão hediondo que custou a vida do Sábio Onires. Um dia você vai crescer, Alek, e essas escolhas serão parte de cada dia da sua vida, e você não vai poder sorrir se for um homem bom. Os Capas Negras mataram dezenas de guardas, eles não perguntavam quem eram ou o que eles tinham feito, apenas matavam; eles foram cruéis e usaram o poder proibido para realizar essa crueldade, e eles sorriam enquanto matavam, se corromperam e tiveram que ser parados. Às vezes um homem ruim precisa ser detido, mas a que custo? Sábio Onires sabia quem eram os capas negras, ele revelou seus nomes e o local aonde eles costumam frequentar para a Ordem de Carza. Muitos chamaram Onires de traidor, mas ele sabia o custo de suas ações...

— Ele se matou, não foi?

— É o que dissemos, uma mentira pois a Ordem estava fragmentada demais e não suportaria a verdade. Onires se entregou também à Ordem de Carza, e deixou que estes decidissem seu fim. Onires não pode viver com o peso de ter sacrificado, mesmo que indiretamente, a vida de dezesseis homens. É isso que você precisa saber, Alek. Toda vez que a desgraça se espalha, a Ordem precisava fazer sacrifícios pela paz, pelos outros. Pelo bem de todos!

Alek então não tinha mais o que falar. Sentia-se um tolo por ter sorrido, e mais que isso, sentia-se aterrorizado pela verdade. Parecia, aos olhos do pequeno Alek, que tudo que a Ordem de Hasgyz fizera levara ao caos e a morte, fosse de inocentes, fosse de magos, fosse de guardas Carza, ou fosse por sacrifícios dentro da própria ordem.

— Onires teve medo?

— Como? — Talmer perguntou, após ter se distraído por um segundo.

— O Sábio Onires, quando se sacrificou, ele temeu o fim?

— Seu corpo já havia vivido bons ciclos neste mundo, era um homem experiente e seu medo era que a matança continuasse. Dizem que quando tiraram seu cadáver da pira, a pele, mesmo tostada, esboçava um sorriso. Ele tinha família, Alek, uma família inteira que partiu para o véu pela mão dos Carza. Não sei se sentiu medo, mas acredito que se ignorarmos a dor, aquele dia era o que Onires esperava, era seu destino, e ele não podia estar mais feliz!

Então lá de baixo um grito quase abafado.

— Ouviu? — Talmer se levantou. Caminhou até a beirada do prédio de cinco andares e olhou para baixo, o grito estridente era de Saedra, mãe de Alek. — Sua irmã.

Alek se levantou também, olhou para o pai, que dispensava as escadas naquelas situações. Círculos surgiram ao redor das mãos de Talmer, fios finos como cabelo, de coloração violeta, e então o homem simplesmente deu um passo ao abismo, caindo.

Alek um dia aprenderia aquilo, mas agora dependia das escadas. Sabia que seu pai e sua mãe conseguiriam se virar sem ele, então antes de deixar o pavor lhe possuir, Alek tentou se lembrar dos passos. Fechou o dorrem, usou as alças de couro e as fivelas para trancá-lo e movimentou os dedos em cima das fivelas. O metal da qual era feita se iluminou em ranhuras vermelhas, Alek respirava pesadamente enquanto trancava o livro tal como seu pai lhe ensinara, sentia seu corpo se cansar só de fazer aquilo. Então quando terminou pegou o telescópio e fechou o tripé. Pendurou no gancho do cano principal do telescópio o dorrem, pela alça fortificada pela magia. Então, levando o telescópio e o livro de magia consigo, foi para as escadas. Desceu com cuidado, pois sabia o preço de um telescópio, aquele mesmo era emprestado do Sábio Goeth.

Quando chegou no térreo, Alek usou a porta lateral do átrio para ir ao beco que dava acesso a sua casa. Encontrou sua mãe encostada na parede da sala, chorando com os braços cruzados enquanto balançava a cabeça em negação.

Tessara, sua irmã, estava no chão da sala, virada de lado e sua perna tremia. Seu pai tinha um fio de sangue escorrendo pela orelha, ajoelhado ao lado da filha.

— Pai...

— Ela está bem. — Talmer olhou para trás, viu o telescópio e o dorrem, Alek não sabia então, mas havia naquele momento conquistado o orgulho de seu pai. Então Talmer olhou para sua esposa. — Vai ficar tudo bem, eu vou achar a cura, prometo que vou!


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

HEEEY!
Esse capítulo ♥ Eu queria tanto postar ele, essa mini-estória sobre o véu, dentro da história principal, é de levantar questões sobre o que é o "Véu" e eu tenho a resposta na ponta dos dedos >>> https://fanfiction.com.br/historia/726249/DeH_Origem/
Ps. Como pode-se notar pelas imagens que venho colocando, a Ordem de Carza é uma grande maquina de marketing, e grande influenciadora! Talvez nossa antagonista? Talvez não :v
É isso pessoal, espero que tenham gostado do capítulo. adorei escrever este, contar um pouco da história de Tëmallön e mais que isso, explorar um pouco mais a família de Alek ♥
Se puderem, deixem um comentário, vou adorar responder vocês, e até o próximo :)



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Anais de Tëmallön; Os Livros Sagrados" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.