Anais de Tëmallön; Os Livros Sagrados escrita por P B Souza


Capítulo 19
Capítulo 9




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Saedra olhou para Alek, então pegou a caixa das mãos de um dos guardas de Gÿrvanza e levou para dentro da casa.

— Vocês já voltaram a se falar?

— Um pouco. — Alek respondeu para Tomiam do seu lado.

Eles faziam a mudança de tudo que sua família tinha em Alnia-Saar para o Pilar. Alek morava em uma casa simples, parecia pouca coisa, mas a mudança encheu duas carroças grandes que contornaram o pilar em sua longa subida. Não trouxeram móveis algum, pois a casa já era mobiliada.

— Eu ainda preferia que você ficasse lá...

— Eu meio que vou, acabo passando mais tempo na sua casa que em qualquer outro lugar. — Alek garantiu. Havia negociado com Gÿrvanza aquele acordo que beneficiava a todos.

Sua mãe não aceitava Gÿrvanza ou engolia seus discursos, mas Alek não via outra opção, então a forçou ficar. Nos primeiros dois dias Saedra não trocou uma única palavra com Alek ou Gÿrvanza, sendo que no primeiro sequer saiu de seu quarto. Depois perguntou ao filho se era ela uma prisioneira ali, e Alek sentiu-se tão culpado que pediu para Gÿrvanza uma solução, discutiram e chegaram a um consenso; uma segunda casa.

Alugaram então algo simples e pequeno no fim de uma rua sem saída alguns bloco ao lado do casarão, Alagorv também havia vindo, a pedido de Gÿrvanza, para olhar e diagnosticar Tessara, mas ao ouvir o nome do médico, Saedra lembrou que o mesmo fora o torturador de seu filho, e mesmo com Alek explicando o mal-entendido, não se desfez as primeiras impressões, e Alagorv não conseguiu chegar perto de Tessara. Mesmo assim Alek ficou de entregar os textos de seu pai em relação à condição da irmã para Alagorv e, eventualmente, amolecer as decisões de sua mãe a respeito de tudo que girava em torno do Pilar e da nova vida. Ela reluta, mas porque ainda não entende, e ainda não vê os benefícios de se estar aqui em cima.

— Vou ir falar com ela, depois a gente se encontra?

— Pode ser. — Tomiam bateu no ombro de Alek, e ficou com a mão pousada em seu ombro por um instante, os dois trocaram um olhar demorado e Tomiam sorriu, então sem mais se virou e saiu andando com seus passos rápidos.

Alek olhou para a casa, era simples aos padrões dos casarões locais, mas para Alek aquilo já era luxo. Dois andares com acabamento em mogno e pinheiro, detalhes em bronze por todos os cantos, maçanetas, dobradiças, luminárias, tudo em bronze ou cobre. Os moveis eram um tanto que antigos, cheiravam a mofo, mas nada que deixar a casa arejar um pouco não resolvesse.

Na verdade, assim que começaram a desempacotar a mudança, Saedra já começou a limpar a casa, com ênfase na cozinha, aonde antes de tudo ela lavará com baldes d’água e ainda estava secando.

— O chão é ótimo, bem selado, a água sequer passa pelas frestas entre uma tabua e outra.

— E o fogão tem um teto amplo para a chaminé, a fumaça nunca deve ficar presa aqui. — Alek completou apontando para onde lenha deveria ficar. Os armários eram de uma madeira avermelhada com marcas marrons como veias em uma árvore, as portas estavam abertas e o interior molhado. Alek pegou um pano e foi ajudando sua mãe.

Então Tessara e Inara passaram correndo da sala de conversa para o corredor e subiram os degraus da escada com pisoes fortes fazendo a madeira ranger em alguns dos degraus.

— Vão se machucar ai em cima! — Saedra berrou para as duas.

— Estão apenas se divertindo. — Alek disse para a mãe. — Elas parecem ter gostado. É o que sempre quisemos, não é? Uma vida melhor.

— Não desse jeito, Alek. Não assim! — Sua mãe respondeu sem olhar para ele. Então Alek tornou a enxugar o armário.

— Você vai aprender a gostar...

— Eu gosto, só não concordo. Eu não sei o que você e esse Gÿrvanza fazem, mas eu tenho medo. Ele quem colocou aquelas ideias na cabeça do seu pai e esta fazendo o mesmo com você...

— Não sou mais uma criança para ser influenciado...

— E aquele menino filho dele, te fazendo usar magia como se você fosse um Capa Negra! É o caminho contrário ao que seu pai lhe ensinou e eu pensei que você soubesse melhor...

— Não tem comparação uma coisa com a outra, mãe! — Alek disparou, se virando para ela e largando o pano em cima do armário. — Eu sei meus limites, o pai sabia os dele. Você quem não entende, não consegue entender porque é uma pessoa comum.

Saedra então olhou para Alek, curvada esfregando o chão, fez que não e tornou a baixar a cabeça e esfregar o pano contra a madeira selada do chão.

Eles continuaram em silêncio por mais um tempo, até que Alek, remoendo em sua mente a conversa, retrucasse;

— Nem uma única vez eu desonrei a memória do meu pai ou fui contra os ensinamentos da Ordem e o que eu acredito isso porque eu passei pela desgraça e perdição sem cair na tentação das trevas. Você fala de mim como se eu estivesse sacrificando vidas para alimentar um vicio em magia como nas lendas de Arcaia, mas não vê tudo que estou fazendo, tudo que eu passei, fiz e faço por nós, pela sua filha. — Alek então pareceu cansar, olhou para o hão e saiu andando enquanto absorvia apenas o silêncio de Saedra. — Eu vou ir arrumar o meu quarto, mãe.

Sem ela dizer nada, Alek saiu, subiu as escadas, e foi para seu quarto aonde havia apenas três caixas, sendo duas de roupas. A outra eram seus livros particulares, pois a maioria estava nas caixas do escritório, junto do telescópio do seu pai. Alek então levantou a cabeça e parou para pensar. Revirou as três caixas do avesso, esvaziou e desdobrou todas as roupas, desesperado, foi para o escritório e fez o mesmo processo espalhando a maior das bagunças. Enquanto revirava as pilhas de livros ouviu sua mãe atender a porta.

Olhou para trás, mas não conseguiu entender quem era. Não tinha visão dali. Esticou o pescoço, mas preocupado demais apenas retornou a sua busca. Em vão.

Se pôs de pé e foi saindo do escritório quando se deparou com sua mãe subindo as escadas e Tomiam atrás dela.

— Disse que ia arrumar? — Ela perguntou apontando para o quarto.

Alek suava, em parte pela movimentação, mas era mais um suor frio de medo.

— Mãe, o livro... Você pegou o livro? — Alek olhou para sua mãe, tentou não cruzar olhares com Tomiam, mas falhou. O garoto encarava ele com curiosidade e paciência de quem não se intrometeria agora na discussão.

Saedra olhou para cima com uma expressão de confusa.

— Eles disseram que pegaram tudo, mas não perguntei do piso do Talmer.

Tomiam movimentou os lábios repetindo “Talmer” com uma expressão de confuso.

— É meu pai. — Alek disse indo ao seu quarto, pegou um casaco e um par de botas, se sentando na porta, encostou-se no batente e foi calçando o par de botas. — Uma longa história curta, o Dorrem está na casa ainda, isso se alguém já não o achou.

— Alek... — Tomiam interrompeu então. Olhou para o amigo e suspirou. — Isso é... Importante...

— Eu sei, por isso a gente vai ir buscar ele agora.

— Como? — Saedra perguntou para os dois.

— Não sei se é uma boa ideia, já está no meio da tarde, até voltarmos será tarde da noite...

— Alnia-Saar não é Bahskum. — Alek se colocou de pé e jogou o casaco nas costas. — Você vem?

Tomiam sempre levava Alek à fazer ações precipitadas que faziam Alek se sentir culpado, mas desta vez fora o contrário. Alek, porém, não sentia nenhum remorso em sua ação, pois era o que seu pai ordenara que fizesse, proteger o livro. E eu falhei nisso, estou falhando a casa segundo que passa.

Então notou na mão de sua mãe, um envelope pardo selado com cera derretida.

— O que é isso?

— É meio que o que eu vim falar. — Tomiam se enrolou nas palavras, então sorriu para Saedra e olhou para Alek. — Um convite para um jantar, diplomático, meu pai disse. Ele quer que você vá, e sua família se quiser... o Primeiro Ministro vai estar lá

— Quando?

— Hoje... a noite! — Tomiam respondeu com certo temor.

Então Alek apontou escada abaixo.

— É melhor irmos andando então!

Tomiam foi na frente, começou a descer a escada e quando Alek pisou no primeiro degrau sua mãe segurou sua mão, o fez parar.

— Cuidado. — Disse, de forma sincera e pura para ele, e naquele momento Alek viu que independente das desavenças e discussões, no fim do dia aquela mulher ainda era sua mãe, para sempre!

Anuiu para ela, os dois trocaram um rápido olhar, e Alek desceu, juntou-se a Tomiam, e lado a lado escaparam dos guardas a serviço de Ninsiel, foram rumo ao elevador de manutenção e desceram ao Anel aonde pegariam um trem. Mais uma vez estavam desprotegidos e achando-se invencíveis, tal como jovens creem ser. E enquanto a adrenalina da missão lentamente baixava, o pensamento assombroso invadiu a mente de Alek. A voz de sua mãe reverberou, distorcida; “foi assim que seu pai morreu”.


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