Pining escrita por Tai Bluerose


Capítulo 4
Insistência


Notas iniciais do capítulo

Desculpem qualquer erro.
Boa leitura.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/742970/chapter/4

Capítulo 4:

Insistência

Eles estavam no refeitório. Lizzy parecia distraída com seu pote de iogurte natural. Ela sempre comia aquilo no intervalo. Tem menos gorduras e açúcares, ela dizia. Mas Lizzy comia aquilo misturado com mel, chocolate, frutas e todo o tipo de porcarias doces que ela podia imaginar. Para melhorar o sabor, ela dizia. E Ciel se perguntava se, no final das contas, aquele iogurte ainda surtia o efeito que Lizzy desejava. Mas ele estava com problemas mais sérios na cabeça para se preocupar com o que Lizzy comia ou deixava de comer.

― O que você tem contra o Sebastian?― Lizzy perguntou, ela parecia realmente confusa. ―Ele é legal.

― O quê? ― Ciel não conseguia acreditar que Lizzy continuava defendendo o idiota. Ela estava realmente prestando atenção?

― Eu sei que ele era um imbecil quando criança, mas agora ele é legal.

― Estamos falando sobre a mesma pessoa? Você esqueceu como ele tratava as pessoas que ele não gostava? Esqueceu como ele me tratava?

― Não, eu não esqueci. Mas você esteve fora três anos. E eu estudei com ele por três anos, e acho que vi dele o suficiente para dizer que ele mudou consideravelmente. Claro, os amigos dele são uns babacas, mas são do tipo que você pode ignorar.

― Consideravelmente? Estou de volta há poucos meses e posso dizer que ele continua o energúmeno de sempre. Independente dos amigos que ele tenha.

Lizzy suspirou.

― Se me lembro bem, você também não ficava atrás. Você também o aporrinhava a cada oportunidade. E você também ainda fica provocando ele sempre que o encontra.

― O quê?!  ― Ciel quase engasgou com a pergunta, sentindo-se ofendido.

― É verdade. Se você sempre o provoca, como você espera que ele aja?

― Eu não faço isso. Ele sim.

― Você faz, Ciel.

― Eu só revido. Eu só queria que ele me deixasse em paz e me esquecesse.

― Não é o que parece.―Lizzy disse abaixando os olhos para o iogurte.

― O que você quer dizer?

― Desde que sentamos aqui você só sabe falar de Sebastian isso e Sebastian aquilo. Você gasta tanto do seu tempo declarando o seu ódio por ele que começo a duvidar que isso seja verdade. Afinal, o que ele fez dessa vez que te deixou tão irritado?

Imediatamente, Ciel se lembrou dos eventos no banheiro masculino no dia anterior. Do beijo brusco, do corpo de Sebastian pressionando contra o seu. Das mãos dele segurando firme e apertando Ciel em lugares que não deveria.

Você ficou excitado. Eu senti.

Aquilo fez o sangue de Ciel ferver de raiva. Ele estava irado com Michaelis, e estava irado consigo mesmo. Porque diante daquela situação, diante daquela violação, dos modos selvagens e sem respeito de Sebastian, Ciel queria ter chutado ele. Queria ter conseguido escapar e dar-lhe um soco como da última vez.

Queria ter sentido asco. Mas não.

Seu corpo o traiu. Diante dos avanços de Sebastian, o bastardo Sebastian Michaelis, Ciel ficou excitado. E Sebastian percebeu.

Ciel não conseguia pensar em nada mais humilhante.

E o idiota ainda o esnobou.

E pensar que Ciel quase sentiu pena do cretino quando Ciel o rejeitou pela primeira vez. Talvez fosse isso: vingança. Sebastian estava se vingando dele.

Como que saído do inferno para atormentá-lo, Michaelis entrou no campo de visão de Ciel, com seu grupinho e tomaram uma mesa bem próxima de onde Ciel estava sentado com Lizzy. Sebastian olhou para Ciel com um sorriso irritantemente provocante, nos dois sentidos da palavra.

 Ciel estreitou os olhos para ele, furioso. Ciel se levantou e saiu, ignorando a última pergunta de Lizzy e ignorando Sebastian.

.

.

.

Ciel escolheu voltar para casa sozinho, a pé. Quando escolheu entrar naquela rua, sua memória foi imediatamente levada para sua infância. Talvez influenciada pelo que Lizzy tinha dito.

Quando criança, Ciel poderia ir para casa por outra rua, ele poderia traçar várias rotas diferentes para chegar em casa, mas ele sempre escolhia ir pela mesma, mesmo sabendo que Sebastian o esperava ali. Aquela rua, a rua que Ciel andava agora, tinha um bom pedaço de muros altos de um lado e outro, com galhos frondosos de carvalho saindo sobre o topo, fazendo sombra. Era tranquilo; não havia cachorros barulhentos, moradores intrometidos, nem carros estacionados. Apenas vários e vários metros de sombra e tranquilidade. Quando Sebastian descobriu a trajetória de Ciel, a rua se tornou o lugar perfeito para uma emboscada.

Parando para pensar agora, era um pouco curioso que Sebastian sempre esperava sozinho ali. Ciel perdeu a conta de quantas vezes eles se engalfinharam naquela rua. Se Sebastian fosse com todos os seus amigos, ou pelo menos mais um, eles teriam arrancado o coro de Ciel fácil, fácil, e sem testemunhas. Mas Sebastian sempre o esperava lá sozinho. Ciel imaginava, na época, que Sebastian achava que poderia lidar com Ciel sem a ajuda de ninguém. Que Sebastian o considerava um fraco. Aquilo dava um ódio a Ciel sem igual. Ciel nunca pensou em tomar um caminho diferente. Seria como admitir a derrota. Cada dia era uma nova oportunidade de derrotar Sebastian Michaelis.

Talvez ele fosse um tolo estúpido. Ele sempre perdia.

Os outros garotos geralmente calavam ou consentiam quando Sebastian mexia com eles, talvez na esperança de não apanhar ou pelo menos levar uma surra menor. Mas Ciel, sempre revidava, respondia a altura. Talvez ele gostasse de apanhar. Talvez ele gostasse de brigar com Sebastian. Talvez por isso Sebastian gostava de implicar com ele.

Eu não batia em você. Nós brigávamos. Juntos. É diferente.

Será que o idiota realmente achava que tudo era uma brincadeira, quando para Ciel era vida ou morte?

Ciel lembrou-se das reações de Sebastian naquela época. Sebastian sempre sorria quando lutava com ele. Seus olhos castanhos pareciam faiscar, o sangue deixava suas bochechas vermelhas, o suor pingava de seu rosto de garoto levado. Sebastian ria, se divertia de verdade. Às vezes, até parecia ficar mais animado e encorajado quando Ciel o acertava com um soco aqui e ali.  Ciel sempre achou que Sebastian fosse um sádico maluco.

Apesar das provocações, empurrões e lutas constantes, eles nunca saíram com lesões graves. Não que um soco no estomago não doesse ― doía pra caramba!―, mas Sebastian nunca chegou a fazer um estrago realmente sério. E Ciel já tinha visto Sebastian se envolver em brigas com outros garotos que resultavam em narizes quebrados, visitas a enfermaria e uma semana de suspensão da escola. Se Sebastian quisesse fazer um estrago realmente sério, Sebastian faria.

Então, Ciel pensava, Sebastian devia considera-lo muito fraco para merecer um soco bem dado.

Sebastian costumava dizer, com um sorriso faceiro:

Não se preocupe, não vou machucar o seu rostinho bonito.

 Ciel sempre achou que era para não deixar provas, afinal, era mais fácil esconder um hematoma nas costelas do que um olho roxo na cara. Mas agora, Ciel se perguntava se não havia outra razão; se, talvez, Sebastian realmente não quisesse machucar seu rosto. Se Sebastian realmente o achava bonito.

Ciel balançou a cabeça, afastando o pensamento. E não ficou nada surpreso quando ouviu o barulho de uma moto se aproximando. Ele não precisou olhar para trás para saber quem era.

― Quer uma carona? ― Sebastian parou ao seu lado. O rosto dele era um sorriso de orelha a orelha. Ciel lembrou do Sebastian menino, sorrindo enquanto lutava. Ciel o fitou com desprezo e continuou andando. Ele não havia se esquecido do que Sebastian fizera no banheiro. Sebastian voltou a acelerar a moto, mas manteve uma velocidade ridiculamente lenta para acompanhar Ciel. ― Qual é, Phantomhive? Nós podemos agir como adultos civilizados, não podemos?

― Eu tenho dezessete anos, não sou obrigado a agir como adulto se eu não quiser.

Sebastian riu.

― Você é engraçado. Vamos, sobe aí e eu te dou uma carona até sua casa.

― Não.―Ciel respondeu curto e seco.

― Estou jogando uma toalha branca aqui, Phantomhive. Custa aceitar uma carona? Por que você tem que tornar tudo tão difícil? ― Ciel continuou o ignorando. Sebastian continuou o seguindo, insistente. ― Não me diga que ainda está zangado por causa do beijo no banheiro? Foi legal, não foi? Eu pensei em você a noite toda. No gosto da sua boca. De como você se contorcia contra mim. De como você ficou duro só com um beijo meu...

Chega! Ciel pensou. Ele sentia seu rosto queimando. Não sabia se de vergonha ou de raiva. Os dois, provavelmente.

Ele largou a mochila no chão e encarou Sebastian, como quando eram crianças, preparando-se para lutar. Mas Ciel não estava com os braços erguidos em punhos, ele estava reto, os braços cruzados sobre o peito. Ele queria que Sebastian soubesse que ele não estava com um pingo de ânimo para brincadeiras ou provocações idiotas.

― Sério, o que você quer Sebastian? Qual é a sua? ― Ciel cuspiu as perguntas. Sebastian o olhou surpreso. ― Eu não entendo suas atitudes. Primeiro você me trata como lixo. Depois, do nada, me beija. Depois me ignora, depois me beija novamente e me esnoba. Eu realmente não sei se você gosta de mim ou se isso é apenas um novo joguinho que você inventou pra me incomodar. Estou farto! ― Ciel se aproximou dele na moto, e ficou bem próximo de seu rosto, em desafio. ― O que você quer? O que você realmente quer?

Sebastian o fitou, sem qualquer expressão. Ele não desviou o olhar, nenhum dos dois o faria. Por fim, Sebastian sorriu. E falou quase num sussurro, sedutor.

― Você, Ciel Phantomhive. Eu quero você. ― Ciel recuou, surpreso. Ciel não sabia o que ele esperava ouvir quando fez a pergunta, talvez mais sarcasmo e provocação, mas a afirmação incisiva de Sebastian ainda foi... inesperada. E se sentiu inseguro quando viu Sebastian descer da moto e se aproximar dele. ―Todo esse tempo eu só queria você. Mas você só me vê como um inimigo.

― Por que será? ― Ciel se recuperou da surpresa e usou o sarcasmo como escudo.

― Eu sei que você também deve sentir alguma coisa por mim, nem que seja só... ― Sebastian levou a mão ao rosto de Ciel para fazer um carinho em seu maxilar. ―Atração física. E não adianta dizer que não, nós já tivemos uma prova disso, não foi?

Ciel afastou a mão dele com um tapa.

― Quando a gente gosta de alguém, a gente trata bem. Não dá empurrões. Você é o quê? Um homem das cavernas?

Sebastian bufou.

― Eu tinha doze anos, ok? Todo mundo é meio estúpido nessa idade.

― Me lembro de você sendo meio estúpido há alguns dias atrás. Ontem, pra ser mais exato.

― Eu tentei ser legal com você, naquele dia na minha casa, mas parece que você só entende a violência. Sempre foi assim.

― Agora a culpa é minha? Você me provocou! Você sempre me provoca.―Ciel colocou a mão sobre o peito de Sebastian e o empurrou, mas Sebastian agarrou seu pulso e o puxou para perto.

― Eu gosto de te ver irritado. Você fica sexy.

Ciel trincou os dentes.

Ciel tentou se afastar, mas a calçada tinha acabado. Suas costas tocaram o muro. Sebastian tentou beija-lo novamente. Ciel fechou a mão no pescoço de Sebastian, mantendo-o afastado.

― Eu disse não. ―Ciel falou.

Sebastian começou a rir. Ciel estreitou os olhos, e se sentiu realmente tentado a apertar até vê-lo sufocar.

―Você é masoquista?―Ciel perguntou, incrédulo.

― Não, mas entendo o apelo. Você é?

Ciel o soltou e desviou para pegar sua mochila no chão.

―Vá embora. Não estou interessado.

― Por que não? ― Sebastian perguntou, quase como ofendido.

Ciel quase riu. Era sério isso? Sebastian ainda tinha coragem de fazer uma pergunta estúpida dessas? Ciel não conseguia pensar em como aquela pergunta poderia soar mais egoísta e mimada.

― Porque você é malvado e dissimulado e irritante. E eu odeio você.

Sebastian franziu as sobrancelhas.

―Eu posso ser o malvado e dissimulado, mas você é esnobe e orgulhoso.

― Foda-se, Michaelis!

Sebastian pareceu realmente surpreso com a explosão de Ciel. Ele levou alguns segundos para perceber Ciel se afastando novamente.

― Ok, ok! Ciel, espere! ― Ele gritou desesperado. Ciel virou-se, surpreso por Sebastian o chamar pelo seu primeiro nome novamente. Sebastian o encarava com olhos suplicantes. Pela primeira vez, Sebastian parecia um simples adolescente inseguro. ― Desculpe, ok? Desculpe.

Ciel o analisou por um instante, desconfiado.

― Pelo que exatamente você está se desculpando?

― Por bater em você. Por ser um idiota. Por beijar você a força. Por provocar você. Por ofendê-lo. Por ser um idiota, eu já disse isso? O que mais você quer? Desculpe por tudo. Eu estou tentando me aproximar, como amigo, mas você não deixa.

Ciel apenas o fitou. Sebastian ficou parado esperando. Ele realmente parecia sincero e apreensivo.

―Que tal começarmos do zero?― e lá estava o sorriso cafajeste novamente. Sebastian estendeu um braço para um aperto de mão. ― Oi, eu sou Sebastian Michaelis e gostei de você. Que tal a gente sair pra se conhecer melhor?

―Que apresentação ridícula. Não vou fazer isso.

―Viu. Esnobe e orgulhoso.

― Foi assim que você conseguiu namorar metade das meninas do colégio?

― As meninas não costumam dar tanto trabalho. E metade é um exagero. Foram só algumas, o resto é fofoca. ― Ciel riu, pelo menos havia um pouco de humildade em Sebastian. ― A gente acabou de se conhecer e você não vai me dar nem uma chance?

Ciel jogou os braços para o céu, num gesto teatral. Estava claro que Sebastian não ia desistir. Vamos ver onde isso iria, pensou Ciel.

― Muito bem, Sebastian, vamos jogar o seu jogo. Aceito sua carona, senhor Michaelis.

Sebastian abriu um enorme sorriso.

Sebastian montou em sua moto e entregou um capacete extra a Ciel. Ciel verificou o capacete para ver se não havia nenhum tipo de truque ou pegadinha nele; o que ele podia fazer? Velhos hábitos nunca morrem. E Sebastian ainda estava sob observação. Seria tolice baixar a guarda tão fácil.

―Sobe aí.

Ciel subiu na moto esperando não se arrepender da decisão idiota. Ele escolheu se segurar na haste de metal na parte traseira da moto, para não ter de tocar em Sebastian, mas assim que Sebastian arrancou, Ciel foi forçado a agarrar-se a cintura do moreno.

― Idiota! Você fez de propósito.

Sebastian riu.

― Segure-se bem firme. ― Sebastian disse, tocando a mão de Ciel. Ciel sentiu uma sensação estranha em seu estômago.

― Esse não é o caminho pra minha casa. Pra onde você está me levando?

―Relaxa. ― Sebastian falou e alisou a coxa de Ciel. ― É uma surpresa.

―Coloque a sua maldita mão na direção! Eu não quero morrer com dezessete.

Sebastian riu, mas obedeceu.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Comentários serão respondidos em breve.
Obrigada por lerem até e aqui.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Pining" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.