Ain't it Fun? escrita por MiSwan


Capítulo 1
Ain't it fun?


Notas iniciais do capítulo

http://www.infinitelooper.com/?v=Izx9ADLjgbM
Podem dar já o play, este site apenas repete a música (chateia-me quando quero ouvir a música do capítulo e ela acaba antes de eu ter chegado a meio do capítulo)

Boa leitura!



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Ouvia risos, via que todos estavam felizes. Isso era bom. Depois de todo o drama, no fundo, toda a vida, aquele momento era de todos. Eu sabia quem era, o que queria e quando o queria. Sendo mais ou menos criança, eu sabia comportar-me. O problema estava em ganhar confiança e perder o filtro. Dizia o que me vinha à cabeça. Quando andava mais cansada foi o tempo em que cobraram mais de mim, quando não me deram nenhum apoio - eu não o senti. E estalei, num dia rebentei e os estilhaços da minha explosão magoaram outros, quebraram pessoas. Quebraram-me, mais uma vez... 

 

—---3 Anos Antes----

Nunca mais na minha vida me vou colocar com ideias de fazer teses de mestrado. De ter um cabelo branco, bem escondido no meio do cabelo, ganhei mais um, extremamente visível, para mim, pelo menos, na franja. Mas, tudo bem, eu consigo... Entrar na faculdade foi o fácil. Sempre tive boas notas, então era a parte fácil. Não pensava era que estes 5 anos fossem regidos pela lei de Murphy: tudo o que podia correr mal, correu. A minha mãe não me foi levar à faculdade, a primeira vez que lá foi já eu estava a começar o segundo ano. Escolheu a minha avó, ela era mais importante. O meu pai teve um acidente, dias antes do internamento da minha avó. Eu, Isabella Swan, filha única, tinha, novamente, que me desemerdar. 

Guardei alguma mágoa deste início, mas a minha vida já tinha levado alguns pontapés. Era pequena, tinha 11 anos quando o meu tio-padrinho-vizinho John morreu. Não entendia. Ele estava bem. Os tratamentos correram bem. Ele tomava conta de mim e do filho, o pequeno Jasper. A tia Elizabeth, apesar de nunca lhe ter chamado tia, tinha ficado sozinha a tomar conta de um bebé. Dez anos de diferença e eu já tomava conta dele. A criança a tomar conta de outra. Gostei disso, apesar de tudo, mas ele cresceu e começou a exigir. A cadeira. A cama. O espaço. Na minha própria casa e eu não tinha espaço. Durante alguns anos, idade das trevas também conhecida como o período entre os 13 e os 18, andava triste, zangada - que raio andava ali a fazer? Ninguém me queria... Apesar da existência de um diário que queimei, ninguém sabia deste estado lastimoso. Anos depois, estava eu já com 20 anos, decidi queimar aquele diário. Aquela fase estava acabada. 

No final do curso, final como quem diz, ainda tenho que acabar a tese, estava feliz. Os meus pais iam comigo à cerimónia e ia sorrir e eles iam ficar orgulhosos. Não. Novamente fui preterida. A minha mãe ficou com a minha avó. Num dia festejava pelas ruas da cidade e no outro estava a fazer o trabalho todo da casa para a minha mãe se dedicar totalmente à minha avó. Dias depois, ela faleceu. Não me entendam mal, a minha mãe já não era "minha" há muito tempo. Quando o tio John, irmão dela, se foi, a Renné não soube lidar comigo. Não me falou, apenas cheguei a casa para os gritos de todos. A minha infância acabou ali. Mas eu cresci, a bem ou a mal cresci, a saber que eu tinha que ser mais que ela. Que eles. 

O problema foi hoje. O Jasper está numa idade difícil, está quase a fazer 13 anos. A imagem de fundo do telemóvel dele é a de um palhaço de um jogo, um palhaço que mata. Eu mostrei-lhe o trailer de "It" - ele passou-se. De repente, jura vingança. Nem 10 minutos depois aparece com cara de caso, a sorrir, já sabia que estava alguma coisa errada. Nos 20 minutos que deixei o meu posto de trabalho, o local onde tinha tudo espalhado para a tese, ele foi lá e encheu a minha garrafa de água com o que ele me disse ser chichi. Disse-mo na cara. Eu pensei que era brincadeira. Quando cheguei lá, tinha documentos molhados e a garrafa cheia com um líquido que em muito se assemelhava a chichi, até pelo cheiro. Ralhei, tremi, fiquei enojada... mas a tia Elizabeth deu-lhe um estalo. Até em mim doeu. 

Mal ele saiu de minha casa, eu tinha o diabo à solta. A minha mãe estava contra mim. Ele tinha dito que aquilo era outra coisa, uma mistura de bebidas. Eu cheirei. A mãe dele cheirou. Liguei à minha tia, mandei-lhe mensagens, ele pediu-me desculpa e eu pedi desculpa a ele, à minha tia e à minha mãe. A minha mãe disse-me que o maldito curso não valia de nada se eu ainda me comportava como uma criança. Ali, naquele momento, morreu a Bella Swan.

 

—---Atualidade----

Naquela mesma noite fiz uma lista de coisas que tinha que fazer todos os dias. Sorrir menos. Evitar piadas. Fugir de conversas que me pudessem levar a falar sem filtros. A tese levou-me algum tempo, no ano que tinha para a escrever tudo correu mal. A minha avó faleceu, um irmão da tia Elizabeth casou e tive que ajudar nos preparativos, a minha mãe partiu um braço. O trabalho de uma semana, o finalizar da tese, foi posto de lado. Não me queixava. Andava triste, calada. Odiava isso. Adoro falar, sorrir, ser feliz... 

Depois daquele episódio, tive a sorte de, no dia seguinte, ter recebido uma chamada para marcar uma entrevista de emprego, iria dar explicações. Terminei a tese em dois dias. Comecei a trabalhar de segunda a sábado, tomava o pequeno almoço e o jantar em casa. Aos domingos preparava a semana. De ser a prima Bells, passei a ser uma estranha na minha casa. Doía-me, mas, de repente, todos estavam felizes. As minhas rugas de sorrir, as rugas mais bonitas que eu tinha, suavizaram-se até desaparecer. Todos estavam felizes pela contribuição monetária. Defendi a tese, apenas me disseram "finalmente". 

Pelo menos, desta vez, eu não estava a pensar como dantes. Que eu não importava. Que se morresse, naquele mesmo momento, eu seria só isso: alguém que morreu. Ninguém iria sentir a falta de alguém que não era o que os outros queriam. 

Foi no início de dezembro, numa chuvosa sexta-feira, que o conheci. Edward Cullen, pessoa estupidamente alta, tio de uma menina de 6 anos que já andava nas explicações. Em vez de apenas pegar a sobrinha e sair, ele puxou conversa comigo. Gostei dele, mas a minha nova maneira de ser, a séria Isabella, não se podia dar ao luxo de sair. Tinha que ser a mulher perfeita, a filha perfeita. 

Na segunda-feira, a pequena Mel passou-me um bilhete: "oi. Aí vai o meu número, mas, por via das dúvidas, escreve aí o teu. Do teu, Ed".... Começou assim a nossa história. 

Advogado, 27 anos, alto, muito, muito alto. Lindo. Mensagens, chamadas, ele a vir buscar a sobrinha... Antes do Natal, já estávamos a namorar. Apenas cheguei a casa e disse que estava a namorar. Começou um sermão, que ouvi sem responder (ai de mim se respondo, se me calo é porque não quero saber, se respondo estou a ser mal educada), sobre como a minha mãe não sabia nada de mim. Como eu estava fria e era uma lembrança odiosa da sogra. Como ela, com 40 anos de diferença para a minha avó, mãe dela, podia falar sobre tudo. Eu não tinha, nunca, espaço nem hipótese de falar. Havia sempre algo mais importante. Pedi desculpa (que solução tinha?) e fiz um resumo tipo curriculum do Edward. 

Na passagem de ano, ele convidou-me para ir com ele e os amigos para uma estância de ski. Eu nunca tinha visto neve, os meus pais nunca me levaram. Lá fui eu, mulher adulta de 23 anos, pedir permissão aos pais. Levantaram mil e uma objeções até que eu disse "que mal tem? Às 10 da noite já estão todos na cama, qual é a diferença?". Podia ir, mas tinha que o apresentar. A minha mãe não gostou do Edward e ele não gostou dela. Segundo ele, a missão de vida dele seria levar-me a confiar nele, tudo para voltar a ter as rugas de sorrir. E ele levou esta promessa a sério.

 

Em junho, estava eu prestes a entrar de férias, ligou-me, terrivelmente excitado. "Há uma vaga para relações públicas aqui, já te recomendei, manda o teu cv", na loucura, fiz aquilo. Em duas semanas estava num trabalho novo, apenas no mesmo edifício que ele, mas tinha sempre companhia para almoçar. O grande problema deste novo trabalho era a distância para minha casa. Demorava imenso, dormia pouco, tirava umas sonecas encostada a ele depois de almoçar. As queixas da minha família sobre o meu comportamento de "governanta má de um filme", da minha falta de tempo, aumentavam. No dia em que fizemos um ano de namoro, fiquei no apartamento com ele. A 10 minutos da empresa. Naquele ano, o ano do Ed, tinha juntado mais dinheiro que pensara, ainda tinha pago as dívidas dos meus pais. Naquela mesma noite, estávamos nus entre os lençóis a contar piadas, eu ria até chorar, e ele simplesmente me pediu em casamento. 

Há mais de um ano que eu tinha abandonado a minha faceta louca, a "Bella". Agora era a Isabella, a relações públicas de uma firma renomada de advogados.... mas ali, com o homem que me amava mais que tudo e me compreendia, não importava a faceta. Disse que sim. 

Os preparativos começaram quase que imediatamente, para felicidade da minha sogra e cunhadas e infelicidade da minha mãe e tia. A passagem de ano seria a data. Podia escolher um vestido com mangas longas para esconder os "braços horrorosos que tens", segundo a minha mãe. Realmente, escolhi um vestido com mangas, pela beleza dele, não pelos comentários delas. Os meus sorrisos ainda eram fracos, mas tinha em mim a chama de saber quem era. De ter voltado a brincar graças ao homem que quase fica com cabelos brancos ao procurar um anel. O https://www.pinterest.pt/pin/356277020499855977/     vestido foi pago por mim, contrariando a tradição. O véu foi usado por respeito à minha mãe. 

— Minhas senhoras e meus senhores, peço a vossa atenção. Para quem ainda não percebeu, sou o noivo, agora marido ali da baixinha vestida de branco. Conheci esta linda mulher, séria, maravilhosa, há alguns anos. Tive a certeza imediatamente de que era a minha mulher, que era para a vida. Pensei comigo "não é divertido? estava sozinho, sem poder correr para o colo da minha mãe e conheci quem me completava. Quem tinha escolhido ser grande, ser uma mulher, escondendo a verdadeira criança que tinha dentro?". Amei-a naquele momento. O mundo real não presta, ela tem um mundo próprio dentro da cabeça dela e eu sou sortudo por poder entrar lá. Nenhum de nós vai correr para o colo das nossas mães, somos grandes, gigantes... temos o mundo nas nossas mãos - parou, olhando para a aliança. - Bells, este anelzinho que me estava a dar dores de cabeça é o meu mundo. O sinal de que me disseste sim, que vais ficar comigo e... ah, não é divertido? A primeira vez que me levaste a sair, era essa música que estava a tocar no teu carro "Ain't it fun"... Admitiste que odiavas o mundo real... que magoava, que não te deixava ser quem querias ser. Eu prometi-te naquele momento que te ia fazer rir todos os dias da nossa vida. Vocês acreditam, ah, eu pedi-a em casamento sem anel, sem roupa, sem nada? Depois de ter contado uma piada? E ela ligou o rádio, depois de me dizer sim, e qual era a música? "Ain't it fun"... Esta viagem estranha que é a vida, nem me interessa muito, mesmo que te decepcione, mesmo que te magoe, por favor, corre para mim. Vamos ser sozinhos juntos e dançar esta música... Então, minha cara Isabella, o que vais fazer quando ninguém quiser brincar contigo? 

Ri. Ri com vontade, com alegria, com lágrimas de amor enquanto tinha a Mel no meu colo. Passei-a à minha cunhada... Tinha uma certa canção para dançar com o meu marido... Não podia correr para o colo da minha mãe, isso tinha deixado de ser opção há muito tempo, mas no meu mundo real, tinha o colo dele. Do homem que me tirou daquele estado sério demais. Agora? Agora tinha a vida toda para ser uma mãe diferente da minha. A música não podia servir para os meus filhos. Eu vou ser feliz. Nós vamos ser felizes neste mundo real. 


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Notas finais do capítulo

Desculpem qualquer erro. Apesar de ser uma história, esta one está também a servir como escape. Obrigada por lerem :)



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