DEAN

Estávamos jogando videogame no quarto de Alan quando Brendan entrou apressado com um sorriso de orelha a orelha. Acabara de receber a resposta da garota. Ela aceitava nossa proposta. Seria uma hora de aula três vezes na semana, na biblioteca. Ao que tudo indica ela tem um lugar fixo para estudar. Bem, pensei, ao menos na biblioteca não vou me distrair como acontece na aula.

— O que vocês acharam dela? - Gregory perguntou sorrindo daquele jeito. O grandão não é mulher, mas adora uma fofoca. E logo depois se sentou na cama bem atrás de Alan.

— Tem cara de doida. - respondi sem tirar os olhos do jogo - Além de esquisita!

— Ela é estranha mesmo! - Brendan colaborou com a minha opinião. - Se veste de um jeito muito esquisito. Não parece do tipo social.

— Devia ser motivo de gozação na escola. - Gregory insistiu. Alan estava tão concentrado no jogo que não falou absolutamente nada.

— Certo que sim! - respondi direto.

Brendan bancando o paizão foi logo avisando:

— De qualquer forma ela vai nos ajudar. Por favor maneirem nas bobagens... acho que se ela se sentir incomodada ou ameaçada, é capaz de se recusar a continuar.

— Também acho. - concordei vendo Alan se ferrar no jogo. - Me passa o controle, agora é minha vez.

Gregory saltou da cama perguntando:

— Vocês não vão na festa na casa do Tyler?

— Ainda não me recuperei da de ontem. - Alan falou passando as mãos pela cabeça e essa frase soou quase como brincadeira.

— E desde quando você precisa se recuperar de uma festa para ir em outra? - perguntei dando play no jogo.

— Desde quando vou estudar com a senhorita sabe tudo amanhã. E se vocês não lembram, sou eu quem precisa de mais nota.

Era verdade. E, segundo Brendan, a tal garota marcou a aula para o início da manhã. O que queria dizer que nós teríamos que pular cedo da cama, um acontecimento quase impossível depois de uma noitada de festa, bebedeira e mulheres.

— Acho que vou ficar por aqui também. - informei me acomodando na cama, vendo o jogo realmente tomar forma.

— John vai. - Brendan informou.

John Whitic nosso companheiro de andar era um gênio, só tinha notas boas. Mas, era um cão estúpido para ajudar qualquer um. Então, ninguém pedia auxílio a ele.

— John não precisa de nota. - Alan retrucou – Deixa ele ir. Eu vou ficar.

Assim, depois dessa conversa curta nós decidimos que nenhum de nós iria. Um sacrilégio perder uma festa na casa do Tyler, mas, se a gente se dedicasse com certeza passaria rápido. E logo poderíamos voltar ao lado bom de ser um universitário jogador de futebol.

— Merda! - falei, estava distraído pelo desejo de ir a festa, e quase fui abatido. Melhor levar o jogo a sério também. Estou muito a fim de vencer a aposta que fiz com Alan. Ele vive se vangloriando que ninguém o bate. Pois hoje será batido sim, por mim.

**************

Na manhã do dia seguinte fui literalmente jogado da cama com o despertador gritando perto do rosto e Brendan jogando minha coberta longe. Nós não fomos à festa. Mas ficamos jogando por muito tempo. O que nos levou a dormir tarde. E consequentemente a praticamente não conseguir acordar no horário marcado.

— A gente vai se atrasar. - Brendam gritou comigo enquanto eu ficava em pé - Não vou perder a aula por sua causa Dean.

— Ninguém vai perder aula. Já já estou pronto.

Brendan me olhou de cima abaixo como se não acreditasse em mim, e estava certo, eu costumo demorar para me vestir. Mas... Não estávamos indo para um encontro oras, era apenas aula de Relações Humanas com uma garota estranha. Nem precisava me arrumar para parecer melhor.

Passei um camiseta pelos ombros, calça jeans, a mesma da noite anterior, jaqueta e pronto.

— Podemos ir. - falei saindo do quarto e topando com Alan praticamente nu no corredor. - Brendan está azedo, melhor você se apressar.- informei.

Ele fez uma careta e foi em direção ao banheiro que ficava no fim do corredor.

No final das contas chegamos no lugar marcado, na hora marcada, cruzamos pela ala mais movimentada da biblioteca e nos dirigimos para onde Penélope deveria estar.

Penélope? Penélope...

Afinal... que nome é esse? Desde que soube que ela se chamava assim fiquei curioso. Por que alguém coloca esse nome estranho numa filha quando há tantos outros mais bonitos e fáceis de decorar? Será que a mãe dela era fã de Penélope Charmosa?

Tá! Eu sei que é estranho que um cara saiba desse tipo de desenho, mas é que eu tenho uma irmã caçula por parte de mãe. Ela adora esse desenho velho. O quarto dela era todo decorado com imagens dessa personagem.

Bem, e lá estava uma Penélope de verdade, sentada numa cadeira de costas para nós. Podia ver o rabo de cavalo dela batendo no meio das costas. Ela faz aquela cola baixa, na nuca, repartida no meio, e fica realmente muito esquisito. Meus olhos correram para as pernas. Calças largas de moletom, botinas, um blusão largo que estava levemente enrolado nos punhos.

Esquisita.

Pensei ao parar diante dela.

Penélope ergueu o rosto e nos olhou. Moveu o aro do óculos ajustando-o no rosto e eu reparei que ela tem olhos bonitos. De um azul quase transparente. Brilhantes.

Que desperdício!

Olhos tão bonitos em uma garota que jamais daria a eles o devido valor.

— Estão atrasados. - foi nosso cumprimento de chegada.

— Estamos na hora. - falei puxando uma cadeira ao lado dela, pronto para sentar.

— Pelo meu relógio estão atrasados. - ela insistiu. - Não gosto de atrasos.

— Pelo nosso relógio...

Comecei, mas Brendan me interrompeu:

— Vamos ajustar nossos relógios pelo seu. Assim a gente não se atrasa mais.

Ela me olhou rapidamente e não pude deixar de notar o brilho de vitória estampado nas iris azuis. Que vontade de acabar com aquele arzinho... detesto perder. E ela pelo jeito é competitiva. O que daria bom pano para apostas e brincadeiras. Mas... a gente precisa dela, então, melhor maneirar.

O resto do pessoal sentou.

Nós abrimos o livro na página que ela mandou. Lemos o que ela mandou. Resumimos o que ela mandou. E depois disso tudo pronto ela explicou tudo o que a gente tinha feito, e por milagre, eu entendi como escrever a respeito daquilo. Estava claro como água! Por que a senhora Hoffmann não conseguia fazer a mesma coisa? Se aquela velha mal amada fizesse seu trabalho direito, eu não seria obrigado a estar sentado aqui com essa garota por mais de uma hora.

Saímos da primeira aula e eu vi sorrisos de satisfação nos lábios de todos os meus amigos. Parecia que não estávamos perdendo tempo, nem dinheiro, ali. Não fui o único a entender o conteúdo. E ainda havia uma tarefa, ler o que faltava do capítulo e fazer uma resenha de todo ele.

Droga!

Lá se ia mais uma noite. Ia ter de desmarcar com Typhani. Mas, pensando bem, a garota estava tão ligada que aceitaria transferir nossa noitada para outro dia. Tudo o que ela queria era sair por aí dizendo que ficou comigo. Então, realmente poderia esperar.

Um resumo não muito fácil foi no que aquela tarefa se transformou. E olha que nós sentamos juntos para ler e debater antes de cada um escrever o seu. Prova de que precisaríamos de mais aulas com Penélope. Mas, isso só aconteceu na quarta-feira, no mesmo horário, no mesmo lugar. Muito cedo. Com ela vestida daquele jeito esquisito.

— Está bom. - ela disse me entregando a folha.

— Só bom? - perguntei lendo minha letra no papel.

— O seu é o melhor. - ela me encarou, não parecia contente em ter de admitir isso – Satisfeito? - essa simples palavra me confirmou, ela preferia que outro tivesse se saído melhor.

Não ia perder a oportunidade. Estufei o peito e sorri.

— Mereço um premio professora?

Penélope me olhou assustada e Brendan me cutucou por debaixo da mesa. Ignorei o grandão.

— Pre...prêmio? Que prêmio você quer Dean?– o tom usado por ela comprovou que estava passando dos limites. Era hora de maneirar para não assustar a “professora”.

— Ora... uma estrelinha... não é isso o que os bons alunos recebem? - falei controlando o riso. Ela estava pensando que eu ia pedir um beijo ou algo assim? Só se estivesse ficando doido!

— Nada de estrelinha para você Dean! - Gregory cutucou – Isso foi sorte de principiante. Amanhã a gente vê quem se sai melhor.

Voltamos ao debate que agora tinha mais argumentos. Eu percebi que o modo como ela trabalhava o conteúdo facilitava a compreensão e o debate. E todas as vezes em que notava isso me perguntava por que a maldita professora não usava o mesmo método.

Estávamos ali já há mais de duas horas em debate acirrado quando ela se ergueu da cadeira e nos olhou com um breve sorriso satisfeito se escondendo nos lábios. Mas que eu vi. E falou:

— Preciso ir... tenho que terminar um trabalho. Sexta-feira espero por vocês novamente. Não esqueçam de chegar na hora.

Fiquei em pé e bati continência falando:

— Sim senhora! - nessa hora percebi que ela é bem pequena. Ombros estreitos e corpo fino escondido debaixo de roupas largas.

— Pára com isso Dean! - Brendan disse achando que eu estava brincando. Mas não era brincadeira. Aquela garota era quase mágica. Ela conseguira me fazer ter mais ideias em dois pedaços de manhã do que todos os professores anteriores em meses ou anos.

Havia novamente tarefa para sexta-feira, me peguei lendo o livro antes do horário marcado com os caras. E quando eles vieram para o meu quarto, eu já tinha uma ideia praticamente formada sobre o que deveria colocar no papel. Mesmo assim, aceitei o debate e a gente conversou por quase uma hora antes de escrever o resumo.

A sexta-feira e a aula com Penélope chegaram, e se foram. O sábado chegou, fomos para a festa. Eu fiquei com a gostosa da Typhani. Que naquela noite parecia ainda mais gostosa metida num mini vestido decotado. Estávamos de folga por alguns dias dos jogos. Mas a musculação continuava. E os treinos logo ficariam mais apertados. Era a hora de focar em Recursos Humanos. Passar direto nessa primeira prova, garantir nota máxima no segundo trabalho e arrebentar nessa matéria até o final do semestre.