She's Such An Actress escrita por Cherry Pitch


Capítulo 8
Entre Cortes e Pedidos (Atendidos) de Ajuda


Notas iniciais do capítulo

Desculpem a demora da postagem :/ é que eu estava em ritmo de escrita de fanfics de presente de Natal, além de uma fic de Amigo Secreto, e acabou que não tive tempo de postar aqui. Mas eu queria postar pelo menos mais um capítulo antes de 2017 acabar, e aqui está ele! Eu particularmente amei escrever esse, é um capítulo bem importante, e talvez por isso ele tenha sido o maior até agora. Enfim, eu espero que vocês gostem! :)



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Frank estava com o coração partido. Não no sentido romântico, é claro, afinal o laço que tinha com Alice não poderia estar melhor, mas… no geral. Ele não sairia do lado de Lily até que ela melhorasse, mas o que faria quando esta não estava no caminho para tal? O Longbottom fazia tudo que era possível, mas a melhor amiga parecia estar indo cada vez mais para baixo.

Lily ingeria cada vez mais álcool, e nem mesmo parecia se importar com o gosto — era mais uma tentativa de esquecer do que qualquer outra coisa. Por vezes, se queixava de dores na cabeça ou no estômago, e tomava porções de remédio maiores que as indicadas; seu olhar era vazio, e até mesmo os risos que dava pareciam falsos. Eram falsos. E Frank já não sabia o que fazer. Tinha dito diversas vezes que estaria ali para o que ela precisasse, mas isso não parecia deixá-la mais tranquila. O que mais diria? Que tudo ficaria bem logo? Que James chegaria logo, num cavalo branco, já consciente de tudo o que estava acontecendo, com uma espada nas mãos, já preparado para derrotar Severus? Tanto Frank quanto Lily sabiam que a vida não era um conto de fadas para que aquilo acontecesse.

Frank coloca as mãos na cabeça e massageia as têmporas. Já tinha feito tudo o que pensava ser possível para deixar a amiga melhor, mas nada parecia efetivamente funcionar. Falar sobre Alice ou memes novos que estavam viralizando na internet apenas a faziam soltar risadas fracas, que eram perceptivelmente apenas para agradar a ele; assistir a um filme apenas a fazia ficar com o olhar vazio encarando a tela da televisão ou, por vezes, chorar; não fazer nada apenas a fazia ter crises de choro e pegar alguma bebida alcoólica no armário ou na geladeira. Lily já não se alimentava direito, e ficava cada vez mais magra, além de não sair de casa nunca, por medo de se deparar com Severus na rua. Lily estava morrendo lentamente, e Frank apenas observava — se sentindo culpado e inútil, por não conseguir nem mesmo pensar em nada que pudesse ajudar a melhor amiga além do que já tinha feito e não havia funcionado.

Frank resolve ligar para Alice mais uma vez. Já tinha feito isso várias vezes, e em cada uma, havia tido uma ideia nova; dessa forma, mesmo que não funcionasse muito bem, Frank teria a certeza de que fez tudo o que tinha ao seu alcance. Além disso, se havia alguém, naquela situação, que poderia inspirar o melhor nele para ter uma ideia de algo que pudesse ajudar Lily, essa pessoa era Alice, com toda a certeza. A garota tinha uma luz própria, era gentil e criativa, e, além de tudo, sempre tirava a mente de Frank do branco, apesar do pouco tempo que se conheciam.

Depois de alguns toques, Alice finalmente atende.

— Alô?

— Alice? É o Frank. Eu preciso da sua ajuda.

[...]

Alice dirigia o carro pelas ruas úmidas de Londres, acompanhada pelas suas melhores amigas, Marlene e Dorcas. Pacientemente, Alice explicava o que Frank tinha lhe dito pelo telefone, e ditava regras do que não comentar, como uma mãe dizendo às crianças o que não fazer e dizer ao visitar uma tia doente.

— Prestem atenção, garotas! — Alice exclama, chamando a atenção das outras duas. — Não comentem sobre ela estar magra demais, ou com uma aparência ruim. Não perguntem se “ela tentou fechar as pernas”, e…

Marlene revira os olhos e interrompe Alice.

— Por favor, Alice! Você acha mesmo que nós iríamos perguntar algo do tipo?! A gente sabe as coisas que obviamente não devemos comentar perto de uma mulher que foi estuprada e está com depressão!

Alice assente, sentindo uma ponta de vergonha por deduzir que alguma das duas amigas, ativistas no movimento feminista e, principalmente, pessoas boas e com cérebro, iriam comentar coisas cruéis e ridículas como aquelas.

— Tudo bem. — Alice diz. — Mas… se comportem, ok? Eu só estava me garantindo, porque Frank parecia realmente mal, e, pelo que disse, ela também está.

Marlene e Dorcas assentem com a cabeça.

— Ok. Vamos fazer o possível para animá-la, Lice. — Dessa vez, quem fala é Dorcas, e Alice sorri levemente.

— Obrigada, meninas. Amo vocês.

Marlene revira os olhos novamente — uma atividade muito comum para a loira.

— Alice, por favor, tente ficar um pouco menos fofa! As ruas estão todas molhadas, eu não posso te abraçar e apertar suas bochechas adoráveis agora, senão você vai bater com o carro!

Tanto Alice quanto Dorcas gargalham e Marlene revira os olhos novamente, só que, dessa vez, deixando um sorriso estampar seu rosto, se contagiando com a risada das amigas, enquanto encara as ruas cinzentas de Londres pela janela do carro.

[...]

Alice estaciona o carro na vaga mais próxima do prédio que Lily morava — cujo endereço Frank tinha lhe passado por mensagem — e sai do carro com as meninas. Todas as três entram no prédio e Alice toca o interfone.

— Frank? — diz Alice quando o interfone apita, avisando que alguém havia atendido. — Sou eu, Alice. Posso subir?

— O portão abriu? — Frank pergunta, e Alice responde que sim enquanto Marlene e Dorcas entram atrás dela.

Todas entram no elevador com as respectivas bolsas nos ombros. A porta se abre no andar certo, e elas se deparam com Frank parado, encostado no batente da porta.

— Frank! — Alice exclama, correndo até o namorado e beijando-o nos lábios. — Lily está aí, certo? — ela pergunta, diminuindo o tom de voz, mesmo que já soubesse a resposta. Frank assente com a cabeça e entra no apartamento novamente, deixando Alice e as duas garotas entrarem.

— Lils! — ele exclama, atravessando um dos corredores do apartamento. — Temos visitas!

As três garotas conseguem ouvir um resmungo incompreensível, provavelmente vindo da parte de Lily. Depois de Frank ter passado alguns minutos fora da sala, ele e Lily finalmente aparecem. 

— Lily, essa é Alice. — diz Frank, puxando Alice pela mão, e um pequeno sorriso se abre no sorriso da ruiva. — E aquelas são Marlene e Dorcas.

Lily ainda sorria e abraça Alice.

— Frank me falou muito bem de você. — as bochechas de Alice ficam coradas. — É bom conhecê-la. E vocês também! — diz Lily, sorrindo para as garotas no fundo, que acenam timidamente com a mão.

Marlene, que também trazia um sorriso tímido no rosto, balança a bolsa em suas mãos.

— Nós trouxemos DVDs, alguns jogos, bebidas e doces.

Lily, apesar de ainda sorrir levemente, parecia chocada. Seu olhar estava cheio de surpresa e nenhum músculo do seu corpo parecia se mover. Se poderia até dizer que ela estava completamente aterrorizada.

— Lils? — Frank chama, tocando no braço da amiga, e, naquele momento, ela parecia ter saído de uma possessão. Seu sorriso aumentou um pouco, e seu olhar pareceu ficar um pouco menos vazio. — Você quer assistir a algum filme com as meninas? Eu preciso sair para resolver umas coisas.

Lily assente com a cabeça.

— Podemos, sim. E volte logo! — responde Lily, voltando a olhar para as três mulheres, enquanto Frank assente positivamente e caminha até a porta. — Vocês podem escolher o filme, se quiserem.

Marlene levanta um DVD para o alto e exclama:

— Trouxemos esse que você fez! Quer ver e nos contar uns segredinhos sobre as filmagens?

Lily encara a capa do DVD, paralisada. Sua boca abre e fecha, como se ela estivesse procurando algo para dizer, mas nada sai. Todas as três outras garotas passam a encará-la, tentando entender a súbita expressão de terror que dominava seu rosto.

— Eu… eu acho melhor deixarmos esse… para outro… hã… para outro dia. — Lily gagueja, fingindo um sorriso que ia embora e voltava de novo, como se esta não conseguisse mantê-lo por muito tempo. — Isso. Outro dia. Vamos deixar esse para outro dia.

As meninas assentem com a cabeça, confusas, enquanto voltam a procurar na bolsa outro filme que pudessem assistir. De repente, Lily segura o braço de Alice e a puxa em direção ao corredor.

Quando as duas chegam ao quarto, Lily fecha a porta.

— Eu vou dizer isso agora pra você, porque é a única que eu conheço, e Frank me falou muito bem de você, mas… não é fácil. — Lily respira fundo, como se procurasse forças e as palavras certas para continuar a falar. — Aquele é o filme do Severus. Foi nele que…

Lily esconde o rosto com as mãos e Alice imediatamente entende ao que ela estava se referindo.

— Ei, está tudo bem. — diz Alice, abraçando a ruiva. — Não vamos falar mais desse filme, certo? — Alice acaricia as costas de Lily com o dedo indicador, numa tentativa de confortá-la. — Vamos lá, eu falo com a Lene o que aconteceu enquanto você e a Dorcas escolhem ouro filme, ok?

Lily assente, e quando Alice faz um movimento de que vai se levantar, Lily a impede.

— Alice, eu… — ela sabia que não conhecia a garota há muito tempo, mas se não contasse para alguém naquele exato momento, não teria coragem depois. Com os olhos fechados, Lily levanta as mangas de sua blusa, deixando seus braços à vista da namorada de Frank, e sua mais recente amiga. Ao abrir os olhos, Lily consegue ver o olhar de Alice vazio, encarando os cortes vermelhos no braço da ruiva, cortes que mal tinham sido cicatrizados. — Eles foram… foram hoje de manhã.

Alice pisca várias vezes, parecendo pensar no que falar, em como reagir, e Lily entendia completamente. Entendia que… que aquilo deveria ser quase tão difícil para Alice quanto era para ela. Quase.

— Você… hum… — Alice faz a última coisa que Lily pensou que ela fosse fazer: a abraçou. Lágrimas escorrem dos olhos de Lily, tanto por ser uma das poucas coisas verdadeiras que ela conseguia fazer nos últimos tempos, quanto por surpresa e gratidão à Alice.

— Eu só quero ajuda. — Lily diz, entre soluços e com a voz falha. — Eu só quero que isso pare. Eu só quero que alguém me diga como… como que eu posso acabar com isso.

Lily não conseguia se impedir de cravas as unhas na blusa de Alice. Esta, ao contrário, acariciava os cabelos de Lily de forma sutil e delicada, tal como sua própria personalidade.

— Você… já procurou ajuda? — Alice pergunta, cautelosamente. — Falou com Frank, ou… não sei… algum terapeuta?

Lily nega, com um meneio de cabeça.

— Eu ainda não tive… não tive coragem de fazer isso… eu acho. — Lily responde. — Pedir ajuda é… é difícil.

— Sim. Eu imagino que seja. — Alice responde. As duas se desvencilham do abraço, mas, ainda assim, ainda seguravam a mão uma da outra.

— Obrigada. — diz a ruiva. — De verdade. Você nem me conhece direito e já… obrigada.

Alice sorri ao ouvir Lily.

— Eu posso não te conhecer, mas eu conheço Frank. Eu sei que ele não gostaria de alguém ruim, e ele não só gosta de você, mas você é uma das pessoas mais importantes no mundo para ele. Além disso, o que aconteceu e está acontecendo com você é… horrível. Então, o que eu puder fazer para ajudar, eu vou fazer. — Alice abre a porta. — Agora, vamos lá escolher um filme para assistir.

Lily sorri e segue Alice de volta para a sala. Frank estava certo em tudo que falou. Alice é genuinamente boa, e possui uma luz capaz de cativar qualquer um. Era realmente um fato de que não gostar dela era impossível.

As duas chegam na sala, e, enquanto Alice leva Marlene para um canto — provavelmente para falar sobre o porquê daquela reação de Lily ao DVD —, Dorcas e Lily escolhem um filme.

[...]

O filme escolhido foi uma comédia romântica. Quando acabou, as garotas já tinham se enchido de doces, mas não estavam satisfeitas, nem de longe. Os créditos passavam pela tela da televisão enquanto Alice, Dorcas e Lily discutiam sobre o filme, até que Marlene se levanta do sofá num pulo, assustando as outras três.

— Lene! Vai com calma, sem movimentos bruscos para não nos assustar! — Dorcas exclama, com a mão no peito.

— Quer que eu te acalme, amor? — Marlene diz, rindo, encarando a amiga, e o rosto desta imediatamente assume um tom avermelhado. — Enfim, eu tive uma ideia! O que vocês acham de ouvirmos música? Eu tenho uma playlist muito boa e animada no Spotify, acho que a Lily pode gostar.

— O que você acha, Lily? — Alice pergunta, e a ruiva pensa por um tempo.

— Perfeito. — responde Lily, sorrindo. As outras garotas sorriem junto e se levantam do sofá, prontas para escolherem as músicas e dançarem. Lily andava de forma mais lenta que as outras, por ainda estar se recuperando, de certa forma, mas, internamente… era como se fogos estivessem estourando. Obviamente ela não poderia dizer que estava feliz, afinal era muito rápido, nada passava tão rápido assim, mas… ela se sentia alegre. Continuava triste, continuava prestes à explodir, mas, pela primeira vez, Lily sentia esperança. Aquelas garotas, Alice, Marlene e Dorcas, elas queriam ajudá-la. Elas de fato se importavam. Isso sem falar de Frank, é claro. Agora, Lily sabia que não estava sozinha. Que não precisava passar por tudo aquilo sem ninguém para ajudá-la a se levantar. E isso era… mágico.

Um sorriso aparece nos lábios de Lily enquanto ela dança com Alice, e sente alguém puxando-a. Era Marlene, que segurava sua mão e a girava. As duas gargalham enquanto cantam a música que tocava no momento, que poucas conheciam — mesmo assim, todas cantavam, de forma errada ou não; e não poderiam se importar menos se com esse fato.

Uma nova música começa a tocar, depois de várias, e, nos primeiros toques desta, a porta da sala se abre, mostrando Frank. O homem parecia bem mais… acabado que as meninas. Talvez porque estivesse. Ele e Lily, antes das garotas chegarem, estavam com a mesma aparência, como se tivessem sido largados e esquecidos pelo mundo, mas Marlene, Alice e Dorcas eram, de fato, contagiantes. Apesar do rosto de Lily ainda trazer rugas, olheiras e marcas de lágrimas, apesar dela ainda estar pálida e — mesmo que ninguém os veja — os cortes permanecerem em seus braços, o seu olhar não estava vazio como antes. Agora, uma parcela do brilho que antes habitava neles havia voltado. Agora, a esperança estava ali. E, além dessa ter sido a primeira coisa que Frank percebeu ao entrar, também foi a que fez com que um sorriso se formasse em seus lábios.

— Meninas. Não destruíram nada na casa enquanto eu estive fora? — Frank questiona, e as garotas riem. — Que bom que não. — o homem se aproxima de Alice e, depois delas ligarem as músicas, ele sussurra: — Alice, eu… eu posso falar com você? Em particular?

Alice assente com a cabeça e os dois saem da sala, de mãos dadas. Apesar de perceberem a saída dos dois, ninguém os seguiu. Frank fecha a porta do quarto silenciosamente, e Alice senta na cama do quarto, tal como fizera com Lily pouco tempo antes.

— Alice… muito obrigado. — Frank diz, respirando fundo. — A Lily parece tão… melhor, e alegre, eu… eu não sei como te agradecer.

Alice assente com a cabeça e um leve sorriso aparece no rosto da mulher, mas logo é substituído por uma expressão preocupada.

— Frank, eu… eu preciso te contar uma coisa. Sobre Lily, algo que ela me mostrou. — Alice estava relutante. — Eu realmente não queria contar, afinal, é algo que ela revelou a mim, e só a mim, mas você é o melhor amigo dela e… ugh, e não é algo que eu possa deixar passar. — Alice encara o próprio colo por alguns segundos, como se juntasse coragem para falar olhando nos olhos do namorado. — Lily está… estava se cortando, Frank.

Aquele, sem dúvida alguma, foi um dos piores momentos da vida de Alice. Ela conseguia ver o olhar de Frank se quebrar, como se alguma coisa estivesse desabando dentro dele. O queixo dele tremia. Ele já sabia que Lily estava se matando lentamente, isso Alice sabia, ele até havia revelado isso a ela, mas… até agora, ele não sabia que isso era algo consciente da parte da melhor amiga. E Alice conseguia sentir o peso nos braços de Frank aumentar, e o seu mundo cair. Seus braços envolvem o corpo do namorado, e, assim que o fez, conseguiu sentir que ele se apoiou totalmente nela — um pouco fisicamente, sim, mas totalmente emocionalmente. Alice conseguia sentir o desespero dele, pelo modo que ele apertava seu corpo contra si, pelo modo como as lágrimas dele começaram a cair — tão depois da informação, talvez por este estar tão quebrado à ponto de nem mesmo saber como reagir.

— Frank, eu estou aqui. — Alice sussurra, com os lábios próximos ao ouvido dele. — Eu… Lily parece um pouco melhor. E nós vamos ajudá-la. Juntos. Certo? Nós vamos ajudá-la.

Ali, abraçado com Alice, Frank repetia aquela frase como um mantra para si mesmo.

Nós vamos ajudá-la.


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Notas finais do capítulo

Mereço reviews? ♥



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