James Potter deitou em sua cama, logo depois de desligar o telefone, passando as mãos pelo cabelo. Tinha saído do estúdio onde gravou a entrevista exausto, e tudo que ele queria era algumas horas de sono.

Tudo isso mudou por causa de uma ligação. O agente de Lily Evans tinha ligado para o seu próprio agente, perguntando sobre a declaração que ele tinha dado na televisão, sobre o desejo que tinha quanto à participação de Evans nas adaptações cinematográficas da série mais famosa de James, se ele realmente pensava naquilo.

Obviamente, eles confirmaram. Afinal, todos que conviviam com James sabiam que ele amava o trabalho de Lily e, os mais próximos também sabiam que a ruiva estava lhe dando inspiração, mesmo sem saber, desde que ele a tinha visto nas telas pela primeira vez. Era relativamente estranho que a inspiração de James viesse por parte de uma pessoa que ele ao menos conhecia, mas não era aquilo que lhe parecia. Para James, era como se ele conhecesse Lily há séculos, de tanto que a acompanhava: tinha lido e assistido boa parte de entrevistas feitas por ela, tinha procurado fotos, assistido a todos os filmes e séries que ela participou que tinham sido lançados e, mesmo que nunca fosse admitir aquilo, tinha até feito uma conta falsa para que pudesse acompanhar alguns fã-clubes.

Ou seja, se James Potter tinha um lado fanboy, quem o despertava era Lily Evans. E, por isso mesmo, se dissesse que Lily não poderia participar do elenco da adaptação dos seus livros, ele simplesmente não seria ele mesmo.

James volta a mexer nos cabelos despenteados, mas dessa vez estava sorrindo. Lily Evans estaria no seu filme.

[...]

Lily Evans andava graciosamente, com a bolsa nos ombros; seus dedos longos estavam na alça da bolsa, como se para impedir que esta caísse. A ruiva pára de andar quando chega à porta do café em que tinha combinado com James. Este abaixa o olhar assim que ela começa a procurá-lo, como se para fingir que não a estava observando. 

Os olhos de James estavam grudados no cardápio de um modo que sua visão periférica permitisse que ele visse quando Lily estivesse se aproximando.

Cinco.

Quatro.

Três.

Dois...

— Hum... Potter? James Potter? — James desvia o olhar do cardápio, e finge que só tinha notado na presença dela naquele momento, apesar de ter feito uma contagem regressiva para aquele momento. A atriz ali era ela, mas isso não significava que ele também não podia atuar.

— Sim, sou eu. — James responde. — Você deve ser Lily Evans...

— Hã... Eu acho que você deve saber quem eu sou, já que disse ao vivo numa entrevista que gostaria que eu participasse do elenco da adaptação do seu livro como a protagonista. — quando Lily terminou de falar, James conseguiu vê-la arregalar os olhos, como se tivesse acabado de levar um susto. — Oh, meu Deus, me desculpe! Eu não queria ter dito aquilo, é que eu falo muito quando eu estou nervosa. Eu tenho essa tendência de estragar coisas importantes, e...

— Tá tudo bem! — James riu, com uma das mãos no braço de Lily, para acalmá-la. — Eu não fiquei ofendido, ou algo do tipo, até porque você tinha razão, eu já sabia quem você era.

James observa Lily assentir, olhando para o chão, aparentemente ainda com vergonha, e sentar do outro lado da mesa. Depois de alguns segundos, um garçom para ao lado deles, perguntando se queriam comer algo. Ambos apenas pediram água.

— Então — James começou. — Você realmente tem interesse em interpretar Eleanor?

Os olhos de James brilhavam. Ele tentava esconder, mas devia admitir que era absurdamente difícil fazê-lo.

— É claro! — Lily exclama, ajeitando a postura. — Não sei se sabe, mas acompanho a saga de Eleanor, há muito tempo. Podemos dizer que eu sou uma de suas fangirls, definitivamente.

James arregala os olhos e ergue as sobrancelhas, surpreso. Lily Evans era uma de suas fangirls?! O que ele faria naquele momento? O que diria?! James começou a mexer a brincar com as próprias mãos por debaixo da mesa, sem querer demonstrar que estava nervoso. Finalmente decidido sobre o que dizer, James sorri para Lily.

— Então é seguro eu dizer que sou um dos seus fanboys também?

A boca de Lily abre e fecha várias vezes, como se ela quisesse falar algo e não conseguisse. James começou a sentir que tinha assustado a ruiva, e suas mãos começaram a tremer. O próximo passo com certeza seria suor frio escorrendo pela sua testa.

— Hã... Que tipo de fanboy? — Lily pergunta devagar, como se refletisse sobre cada palavra que falava.

James realmente considera mentir ao ouvir a pergunta. Ele tinha medo da pergunta de Lily, ou, mais especificamente, da ruiva saber exatamente o tipo de fanboy que ele era. Mas, infelizmente, James já havia ultrapassado a cota de mentiras por dia que havia estabelecido para si mesmo.

— O tipo de fanboy que acompanha fã clubes de um determinado artista. — James pára de falar por um tempo, ainda encarando o chão, sem coragem de olhar para Lily. — E que às vezes lê teorias sobre personalidade, relacionamentos, próximos projetos...

James respira fundo, ainda brincando com as mãos. Depois de vários segundos, Lily ainda não havia respondido, e James tinha começado a ficar ansioso e curioso. Será que ela estava chocada? Será que a havia assustado? Será que se recusaria a fazer o filme de um stalker (provavelmente era essa a impressão que Lily tinha dele naquele momento)? Suas mãos se mexiam de um lado para o outro debaixo da mesa, numa espécie de tique.

— Então — começa Lily, lentamente, enquanto um sorriso vai aparecendo gradativamente em seus lábios. — Somos dois fãs encontrando suas respectivas inspirações?

Quando Lily termina sua frase, é como se um peso tivesse sido tirado dos ombros de James, que sorri ao perceber que a atriz não demonstrava estar assustada, ou algo do tipo. Ela tinha ficado surpresa pelos dois se admirarem, e só.

— Sim. — James responde, com um sorriso que dava a impressão que rasgaria seu rosto a qualquer momento. Lily Evans era fã dos seus livros e ele era uma das inspirações dela! James estava surpreso por estar conseguindo respirar normalmente.

— Hã... Mas nós não viemos aqui para discutir sobre o filme?

— Ah, sim! — James teve a sensação de um estalo dentro de sua cabeça. — O filme. Er... Então, não temos muita coisa combinada até agora, e acho que é melhor discutirmos com os produtores, roteristas... enfim, outras pessoas que também estão trabalhando no filme. Para te deixar... à par de tudo. — James observava Lily enquanto esta assentia com a cabeça. Ela trazia um olhar sério que ele se esforçava para copiar. Tudo que ele queria era sorrir por ter sido agraciado pela beleza da ruiva, e seu maxilar nunca doera tanto quanto naquela hora, por causa das tentativas de conter o sorriso. — Afinal, você será a protagonista. — Falando aquilo, Lily deixa um sorriso escapar, e James faz o mesmo.

— Sim. Eu vou ser a protagonista. — o sorriso de Lily aumenta ainda mais, ao ponto dela precisar morder os lábios. — Então... Quando que eu vou saber mais detalhes?

— Eu vou ver com a equipe um dia que todos possam estar, e falo com você por mensagem quando vai ser e o endereço do lugar.

Lily assente, tentando se manter séria, mas um sorriso teimava em aparecer em seus lábios.

— Tudo bem. — a ruiva responde. — Vou estar esperando a sua mensagem.

Lily sorria com o canto dos lábios, e os olhos de James brilhavam, antes mesmo dele começar a abrir um sorriso.

— Enfim — começou James, olhando nos olhos de Lily sem tirar o sorriso do rosto. — O que você acha de almoçarmos junto, agora, numa boa, sem tocar no assunto do filme? Porque eu te acho uma pessoa bem legal — James pára um pouco e um sorriso maroto aparece em seus lábios. — Afinal, acho que todos que vão participar da produção do filme devem ter um bom relacionamento, não é mesmo?

Ao terminar de falar, James lança uma piscadinha para Lily, que ri.

— Com certeza. Eu tinha um relacionamento maravilhoso com algumas pessoas em produções antigas, como, por exemplo, Amos Diggory. — Lily provocou. A ruiva sabia que James acompanhava a sua carreira e, se ele fazia mesmo isso... Bem, se ele fazia mesmo isso, sabia do seu caso com Amos há alguns meses, enquanto interpretavam o par romântico de um filme de ação. O sorriso de James desapareceu, junto com o brilho em seu olhar. Agora isso tinha sido substituído por uma expressão que praticamente perguntava se aquilo era realmente o que ele pensava. — Estou brincando, James! — a ruiva ri. — E quem diria que o famoso escritor James F. Potter seria um ciumento de carteirinha, huh? Estou realmente surpresa com o quão rápido!

Lily praticamente gargalhava no restaurante. O casal de idosos sentados na mesa ao lado a encaravam, enquanto James revirava os olhos, mas, no fundo... Aquilo era divertido. Bem diferente de passar meses trancado em seu apartamento olhando para a tela branca do computador, sem nada escrito, tentando arranjar alguma inspiração, tendo apenas Sirius como companhia (o que provavelmente teria levado James à loucura se não fossem as visitas ocasionais do namorado do amigo, Remus, que trazia um pouco de sanidade ao apartamento).

Horas se passaram enquanto os dois conversavam; pessoas saíam depois de acabar suas respectivas refeições e novas entravam. Lily ou James chamavam o garçom e pediam alguma bebida ou comida quando sentiam fome, e mal perceberam quando o céu do lado de fora começou a escurecer. Isso só aconteceu quando James sentiu o celular vibrar incansavelmente com uma ligação de Sirius, que resolveu agir como mãe, e perguntou o motivo da demora.

James, revirando os olhos, se despediu de Lily logo depois de desligar o telefone e, sorrindo, combinaram um próximo encontro como aquele. E, de repente, James se pegou pensando no quão maravilhoso seria se aquela ocasião se repetisse várias vezes. O moreno saiu do restaurante com um sorriso no rosto, deixando para trás uma Lily sorridente com um olhar abobalhado típico de pessoas apaixonadas.