James saiu de casa, torcendo para que Lily fosse para o estúdio naquele dia. Era um dia de semana e ensolarado, então ela deveria estar lá. James andava rápido, quase correndo, e o sol já forte fazia com que sua testa estivesse encharcada de suor — talvez a embalagem quente de café em sua mão também contribuísse para tal. A pressa parecia dominar o corpo de James, que só conseguia pensar em vê-la e esclarecer toda a situação. E torcer para que ela o perdoasse.

Ao chegar no estúdio, James cumprimentou a todos presentes, mas seu olhar estava focado em outra coisa. Uma coisa com cabelos ruivos e braços cobertos, para ser mais específico. Ele finalmente a encontrou.

Lily estava chegando naquele momento, ao lado de Frank, seu melhor amigo. Ela vestia uma blusa de manga comprida fina e uma calça social, além de ter amarrado o cabelo num rabo de cavalo — provavelmente devido ao calor —. E era impossível para James parar de encará-la. Lily finalmente percebeu, e o encarou com curiosidade e surpresa, o que faz com que James core e caminhe até a direção dela, vagarosamente.

Ao chegar na frente de Lily, James ajeitou o cabelo — um tique que ele tinha aprendido a controlar, mas que sempre aparecia quando estava mais nervoso que o usual.

— Hum... oi, Lily. — James disse, sem ter coragem de olhar nos olhos da ruiva. — Eu... nós... podemos conversar? Em particular?

James finalmente olha para os olhos de Lily, percebendo que estes estão recheados de curiosidade. Lily faz um meneio de cabeça em concordância, e o segue para um lugar mais vazio.

— O que você quer falar comigo, James?

— Eu... eu sei. — James responde, mexendo novamente no cabelo. — Sobre... bem, sobre tudo. Sobre... Snape. — ele disse o nome de Severus entredentes, fazendo com que seus punhos ficassem novamente cerrados. Talvez isso fosse ocorrer toda vez que citasse o nome dele. — Eu sei que nada disso é culpa sua. E... desculpa, Lily. Eu fui um babaca, e... eu não quero que me perdoe. Quer dizer, eu quero, mas não espero isso. Eu sei que eu fui horrível com você, e... eu só quero que você saiba. Que você saiba que agora eu sei sobre tudo.

Lily continuou inexpressiva, e James mexeu no cabelo de novo, ficando cada vez mais ansioso. Ele queria que ela reagisse logo: que bate nele, gritasse, ou sorrisse e aceitasse suas desculpas, ou simplesmente fosse embora. James só pedia por uma reação.

James a observava atentamente, procurando por um sinal do que ela poderia estar pensando. Lily deu o primeiro sinal: fechou levemente os olhos. Logo em seguida, os abriu, e deu os segundo sinal: curva os lábios. Terceiro sinal: ergueu o canto dos lábios, formando um... um sorriso. O coração de James palpita. Ela tinha acreditado nele. Pelo menos, era o que os sinais lhe diziam. Lily se aproximou, dando um passo em sua direção.

E depois... ela o beijou.

James sempre tinha se considerado muito bom em ler sinais, e, à medida que Lily os tinha apresentado, achou que essa certeza tinha se confirmado verdadeira. Mas, essa última atitude, de beijá-lo, tinha confirmado que o Potter não era tão bom assim em ler pessoas. Porque James nunca teria adivinhado que Lily Evans o puxaria para um beijo depois de sua revelação de que sabia do acontecido.

O beijo se intensificava mais a cada segundo, e o único pensamento completo e concreto que James conseguia ter era que não se lembrava do beijo de Lily ser tão bom. Na época em que a beijava, sempre era perfeito, e James achava impossível para um beijo superá-lo. Mas, naquele momento, James descobriu que estava enganado. Talvez fosse por ter passado tanto tempo desejando aquele beijo, talvez fosse por ambos terem passado tanto tempo o desejando, talvez fosse o momento, talvez fosse o desespero.

Ou, talvez, fosse o fato de que, mesmo que isso fosse difícil, James tinha ficado ainda mais apaixonado por Lily desde a última vez que se beijaram.

— Você melhorou nisso desde a última vez, Potter — Lily disse, logo depois dos dois se afastarem. — Suponho que tenha tido algum treinamento nesse meio-tempo...

Memórias realmente constrangedoras marcaram presença na cabeça de James: a imagem de si mesmo beijando o próprio travesseiro (tossindo logo depois ao sentir o gosto de pelo), além de suas mãos tendo a ocupação de aliviá-lo lá embaixo.

— Não exatamente. — James respondeu, corando e realizando novamente o seu hábito de mexer no cabelo quando se sente desconfortável. — Por que não podemos... hã... mudar de assunto?

Lily sorriu.

— Tudo bem. Que tal o assunto "como você descobriu tudo"?

— Bem, foi realmente... estranho. — James disse, rindo, e parecendo esquecer o desconforto que tinha sentido há alguns segundos. — Meu melhor amigo, Sirius, encontrou uma garota no Tinder e, quando chegou lá, descobriu que ela é lésbica. Mas, mesmo assim, ele ficou e ela acabou mencionando uma situação parecida com a nossa, Sirius reconheceu e... bem, essa sua conhecida lésbica acabou esclarecendo a história toda para Sirius, que me contou assim que chegou no apartamento que eu divido com ele e outro amigo.

— Uau — disse Lily, com os olhos um tanto arregalados. — É uma história realmente impressionante, tenho que admitir.

— Sim — James sorriu. — É um bom tema para o meu próximo livro. Uma lésbica encontrada no Tinder por um cara, que é o melhor amigo de um escritor que está tendo seu livro adaptado e a atriz que está com o papel da protagonista e que também roubou o coração do tal autor tem um segredo.

— Tem bastante potencial para virar um best-seller. E, caso você escreva, eu não aceito ser descrita como nada menos que "estonteante".

James revirou os olhos, ação que deu contraste ao sorriso nos seus lábios.

— Honestamente? Eu também não me contentaria em descrevê-la como nada menos que isso. Gosto que as minhas histórias inspiradas em fatos reais sejam de fato realísticas, sabe?

Lily sorriu e se aproximou ainda mais de James, abraçando-o.

— Droga, eu senti sua falta. — ela disse, com a voz abafada, por ter seu rosto encaixado entre o ombro e o pescoço de James.

— Eu também senti sua falta — James acariciou os fios de cabelo de Lily que estavam espalhados pelas costas da mesma. — Mas eu acho que já devíamos voltar. Já devem estar esperando a gente.

Lily se afastou de James, concordando com a cabeça e ajeitando o cabelo. Quando começou a andar, segurou uma das mãos de James, fazendo o coração deste último disparar. Ele achava incrível o quanto um simples ato da parte da ruiva o fazia ter reações inimagináveis. Ela olhou para trás, para ele, com um sorriso no rosto e o brilho no olhar que já não via no rosto dela há algum tempo, e, naquele momento, James teve certeza.

Lily Evans era a mulher mais linda do mundo: seus cabelos semelhantes à lava vulcânica escorrendo por suas costas; as sardas espalhadas por seu rosto, como se fossem estrelas; os olhos verdes versáteis que faziam dela a atriz tão boa que era, por conseguir moldar a emoção deles de forma hábil; todas as curvas de seu corpo que faziam James enlouquecer.

Lily Evans era a mulher mais linda do mundo, e James Potter não poderia estar mais certo disso. Segurando a mão de sua amante, os dois voltaram ao trabalho, com sorrisos cúmplices nos rostos e faces coradas, e era perceptível para todos a diferença dos dois em relação aos dias e semanas anteriores. Quando antes os dois pareciam estar cinzentos e sem energia alguma, naquele momento, era o contrário: eles pareciam reluzir, como divindades andando pela terra. Lily Evans e James Potter, quando juntos, brilhavam.