Take me To Church escrita por Charles Gabriel


Capítulo 6
Capítulo Seis


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!
Imagino a mãe de Sevilin como Lindsay Burdge.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/742827/chapter/6

.

Fiquei naquele lugar por minutos, talvez até horas, chorando.

A vida é complicada demais, dolorida demais, triste demais.

Tudo em demasia.

Assim como eu.

Papai sempre me dissera que eu sou uma pessoa com o coração enorme e que as pessoas costumam se aproveitar disso.

Talvez isso seja verdade.

Eu sou um idiota!

Horas mais tarde, fui para casa.

Minha cabeça estava latejando, talvez, por ter chorado demais.

Meu pai estava em frente a nossa casa de madeira, parecia observar o céu.

— Ei, papai! – Exclamei com a voz cheia de entusiasmo.

Um entusiasmo que não existia.

— Eu sinto falta de sua mãe, Sevilin! – Papai sussurrou com a voz embargada.

Papai e eu raramente falávamos sobre mamãe.

Lembro que ela parecia sempre muito triste com algo, e dizia que eu não deveria ter tanta pressa em crescer, pois a vida é cruel e medonha.

No dia do meu aniversário de quatro anos, eu fui correr no quintal de casa e acabei tropeçando nos meus próprios pés e caindo, fazendo com que eu ralasse o joelho esquerdo e gritasse de dor. Mamãe veio correndo até mim, eu achei que ela me daria uma bela de uma bronca, assim como eu via a mãe de outros meninos fazerem com eles após ralarem alguma parte do corpo, mas não, ela me abraçou e disse que logo aquele machucado iria cicatrizar, seus olhos verdes me olhavam com tanta ternura e tanto orgulho, que aquilo tocava meu coração de criança.

Lembro também que as mulheres do vilarejo sempre pareciam invejá-la. Talvez pela sua aparência, ter longos cabelos castanhos, quase negros e pele tão branca que dava contraste com seus olhos esverdeados. Mas apesar de toda sua beleza e serenidade seus olhos sempre denotavam tristeza.

“A vida é cruel e mesmo que doa, você saberá disso!” – Ela sussurrava todas as noites antes de eu dormir.

Eu nunca soube o motivo de minha mãe ter se suicidado, isso era um mistério até mesmo para meu pai.

— Aylin era uma boa esposa – Meu pai chorava em demasia – Eu não entendo o porquê dela ter me deixado!

Quando meu pai havia essas crises, eu nunca sabia o que fazer, o máximo que eu podia, era abraçá-lo.

Aproximei-me dele, e o abracei.

Meu pai quase nunca demonstrava suas emoções, ele era mais discreto, ao contrário de minha mãe, que era muito carinhosa.

Acho que isso eu herdara dela.

Talvez crescer fosse isso! Chorar e deixar que as pessoas pisem em você e em seus sentimentos.

*|||*

 

Naquela noite, eu não consegui dormir, fiquei preocupado com meu pai, por isso decidi ficar no quarto de meu pai, caso ele precisasse de algo, eu estava por lá, assim como ele sempre esteve do meu lado quando precisei.

A noite toda, ele parecia ter sonhos conturbados.

Tinha medo de meu pai tentar algo contra si, assim como mamãe fez.

Eu não poderia perder mais alguém que amo.

Pela manhã, papai parecia melhor, me senti mais aliviado.

Eu deveria estar horrível, mas não me importava nenhum pouco.

Papai não estava bem, e eu teria que estar ao lado dele.

Eu ainda estava atordoado por Nuray ter me ameaçado, mas tratei de deixar isso de lado.

Antes de papai sair de casa para ir ao trabalho, perguntei mais de mil vezes se ele estava bem, e ele me respondia com um sorriso no rosto que estava.

Mas eu não estava muito convencido.

Deveria ser terminantemente proibido os pais ficarem tristes.

Após a saída de meu pai, me arrumei para encontrar com Ruzgar, ele era o único capaz de curar as minhas feridas internas.

Encontrei Ruzgar sentado em um tronco de árvore, parecia nervoso, pois mexia toda hora em seus cabelos.

— Ei – Sussurrei, sentindo meu peito explodir apenas em olhá-lo.

— Por onde você esteve? – Ele se levantou de uma forma exaltada – Eu estou te esperando aqui já faz um bom tempo! Você nunca se atrasou.

Suspirei cansadamente.

Não era possível.

A sorte realmente nunca está ao meu favor.

— Calma, Ruzgar! – Sussurrei sentindo meus olhos encherem de lágrimas. Eu não queria brigar com ele.

— Calma? Nuray disse que você havia saído hoje mais cedo e que não iria vir me encontrar, no início até achei que era mentira, mas você demorou! – Ele dizia com seu cenho franzido.

Não me aguentei e comecei a chorar, escondendo o rosto em minhas mãos.

Por que a vida tinha que ser assim?

Por que eu tinha que ser assim?

Nuray estragando minha vida, meu pai sofrendo pela morte de minha mãe que havia acontecido há muitos anos atrás e agora Ruzgar?

Eu não quero isso, não dele.

Ruzgar me puxou para seus braços fortes e ficou em silêncio por vários minutos

— Ei, me desculpe – Ele sussurrou contra meu pescoço, me dando arrepios – Talvez eu tenha exagerado...

— Está tudo bem agora – Sussurrei contra seus longos cabelos.

— Por que você está chorando, meu amor? – Ele me afastou, passando a mão em meu rosto coberto por lágrimas – Aconteceu alguma coisa, não é?

— Sim – Sussurrei olhando em seus olhos castanhos cheios de ternura – Mas isso vai passar.

— Me perdoe por ter te tratado daquela maneira – Ele fechou os olhos com força – Eu sou um estúpido.

— Não diga isso! – Falei afobado – Você não é estúpido, eu te amo.

Ele abriu os olhos e sorriu.

Era um sorriso genuíno, capaz de afastar qualquer dor que estivesse em meu peito.

Meu coração parecia bater como um louco dentro de meu peito.

Eu o amo tanto...

— Me conte o que aconteceu – Ele segurou minhas mãos nas suas.

— Nuray me ameaçou ontem...

— De novo? – Ruzgar proferiu com raiva – Se eu pudesse eu matava essa garota.

— Eu não sei o que fazer, Ruzgar! – Admiti, olhando para nossas mãos entrelaçadas. Suas mãos eram maiores que as minhas.

— Você não fará nada, eu falarei com ela – Ele retirou sua mão da minha colocando as mãos em meu rosto – Ela vai parar com isso de uma vez por todas, eu prometo.

E me beijou.

Nuray nunca saberia o quanto os lábios de Ruzgar eram macios.

Ele quebrou o beijo cedo demais, mas começou a distribuir beijos por todo meu rosto de maneira carinhosa.

— Eu te amo – Soltei com a voz abafada por conta de seus lábios em meu rosto.

— Eu também te amo – Ele me encarou com seus olhos brilhando.

— O que fez ontem? – Decidi perguntar.

— Cuidei de minhas irmãs e da casa para minha mãe – Ele me olhou sorrindo – E você?

Suspirei.

— Meu pai teve uma crise de choro ontem e teve a noite conturbada – Respondi vagamente.

— Crise de quê exatamente? – Ele perguntou curioso.

— Crise de saudades da senhora Aylin. – Respondi de maneira fraca – Papai sempre tem essas crises.

— Se eu perdesse você, ficaria como ele – Ruzgar sussurrou – Ou talvez até pior.

Meu coração se apertou.

Papai me dissera uma vez, que o amor nos deixa vulneráveis.

 Talvez isso seja verdade.

— Você dormiu essa noite, Sevilin? – Ruzgar perguntou, me olhando com tanto carinho que aquilo quase me deixou sem ar.

— Não – Admiti.

Não adianta mentir para Ruzgar, ele me conhece tão bem.

— Não gosto que fique sem dormir, Sevilin.

Eu sabia que ele ficava preocupado comigo e confesso que eu gostava disso.

Ruzgar se aproximou, encostando sua cabeça em meu ombro.

— Ruzgar? Sevilin? Eu sei que estão aí! – Um grito feminino ecoou pela vasta floresta.

Nuray.

Ruzgar rosnou de raiva em meu ombro e me deu um beijo rápido antes de se soltar e passar a mão por seu cabelo comprido diversas vezes. Ele estava bravo.

O que ela queria?

Essa garota nunca nos deixava em paz.

— Ah, achei vocês! – A voz cínica de Nuray, apareceu atrás de minhas costas. Nuray me empurrou com seu ombro e se jogou nos braços de Ruzgar, senti vontade de me curvar e vomitar nos pés dela – Ruzgar, que saudades!

— O que você quer? – Ruzgar se soltou de Nuray.

— Nossa, Ruz – Murmurou com a voz triste – Estou aqui apenas pra te ver e é assim que você me trata.

— Me deixa em paz.

— O que está acontecendo, Ruzg...

— Eu não quero nada com você, tá legal? – Ruzgar explodiu – Eu te vejo apenas como uma amiga, na verdade, nem isso eu vejo em você.

Nuray ficou boquiaberta.

Senti meu peito vibrar de tanta emoção.

— Você gosta de outra pessoa, não é mesmo? – Nuray gritou.

— Se quer saber, sim, eu gosto de outra pessoa.

— E quem é? Posso saber?

— É alguém mil vezes melhor que você! – Ruzgar levantou a sobrancelha esquerda – Agora me deixa em paz.

Nuray se virou para me olhar.

Seu rosto estava vermelho.

Raiva? Vergonha?

Não me importa.

— A culpa é toda sua, seu infeliz! – Gritou se referindo a mim – Eu ainda te mato!

— Se for pra matar ele, terá que me matar primeiro, e eu não quero que você fique o ameaçando! Se fizer isso mais uma vez, eu conto pro seu querido papai, você acha que ele vai gostar de saber que você é tão pejorativa assim? – Ruzgar se colocou em minha frente. Como ele é mais alto do que eu, não pude ver a reação de Nuray. Vi-a apenas quando ela foi embora, sumindo pela vegetação esverdeada.

Ruzgar me abraçou, colocando meu rosto em seu peito.

Só então pude perceber que não importa o quanto às pessoas sempre tentam me magoar, Ruzgar sempre estaria ali para me proteger.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado :3



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Take me To Church" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.