Take me To Church escrita por Charles Gabriel


Capítulo 13
Capítulo Treze


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura :D



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Naquele momento, uma fagulha de esperança se espalhou pelo meu peito, mostrando-me que eu não estava sozinho.

— Deveríamos sair – Ayvaz interrompeu meus pensamentos.

— Agora? – Perguntei.

— Sim, ué – Deu de ombros – Você tem que ver seu homem.

— M-Mas devem ter muitos boatos pelo vilarejo – Olhei para o chão, com vergonha.

— Sevilin – Ayvaz colocou a mão suavemente em meu ombro – Você não pode se esconder para sempre.

Suspirei.

De fato, Ayvaz tinha razão. Eu não poderia me esconder por muito tempo.

— Mas...

— Nada de “mas”, rapaz! – Ayvaz me interrompeu – Você tem que aprender a encarar seus medos.

— Vamos sair, então – Sussurrei.

Ayvaz sorriu.

— Isso, garoto! – Ele murmurou – Você tem que mostrar pra essa gente que simplesmente não liga pro que eles falam.

— Mas eu me importo, Ayvaz – Admiti, saindo ao lado de Ayvaz e fechando a porta

— Sei que se importa, mas pelo menos, finja como eu faço – Falou de modo cansado – Você não tranca a casa?

— Não, o vilarejo fica um pouco longe, raramente alguém vem aqui – Respondi dando de ombros.

— Tranca a casa, Sevilin – Ayvaz ficou sério.

— Por quê?

Eu estava confuso, nunca havia visto Ayvaz tão sério em toda a minha vida.

— Apenas tranque! – Repreendeu-me – Com esses boatos correndo, eles podem tentar invadir a sua casa.

— Ah... – Resmunguei.

No fim, acabei trancando a casa, pelas insistências de Ayvaz. E logo após, fomos andando ao vilarejo em silêncio. De início, achei aquele silêncio todo estranho, já que Ayvaz sempre fora um garoto muito tagarela. Mas depois de uns minutos percebi que sempre haverá momentos em que ficaremos absortos em pensamentos, mesmo quando não queremos.

— Você acredita no que a igreja fala? – Ayvaz me perguntou quando estávamos próximos ao vilarejo.

— Não sei, talvez – Respondi, sem saber onde ele queria chegar.

— Não acredito nenhum pouco no que eles falam – Expressou de maneira sincera, parando de andar.

— E por que não? – Franzi a sobrancelha, também parando de andar e olhando em seus profundos olhos azuis.

— Não acredito que alguém vá para o inferno apenas por amar alguém – Revelou com frieza na voz – Se isso realmente for verdade, irei para o inferno dançando música celta.

Acabei rindo de sua piada.

— Eu também – Admiti, ainda rindo.

— Quer dar uma passada na casa de seu querido amigo? – Disse com ironia.

— Claro que quero – Proferi com um sorriso bobo no rosto.

— Quando fala em Ruzgar, até seus olhos sorriem – Balançou a cabeça negativamente, começando a andar novamente, e me incentivando a acompanha-lo.

Eu estava com saudades de Ruzgar.

Sem ele por perto, tudo é uma enorme melancolia. Ele é o único capaz de me fazer ir do céu ao inferno em questão de segundos. Minha mãe costumava dizer que quando amamos alguém, o que acontece lá fora não importa, porque tudo passa a acontecer dentro de nós. E isso é a mais pura realidade.  Ruzgar é o único capaz de me transbordar sentimentos. Sentimentos que, não sabia que existiam.

Quando Ayvaz e eu começamos a andar pelas ruas do vilarejo, algumas pessoas paravam para nos olhar. Na realidade, paravam para me olhar. Ayvaz estava livre dessa situação. Ninguém saberia, de fato, que ele também era doente. Assim como Ruzgar e eu. Por mais que eles soubessem que eram apenas boatos, eles ainda teriam desconfiança.

— Uh, o pai de Ruzgar – Ayvaz sussurrou. Olhei na direção em que Ayvaz estava olhando e encontrei Candan, entrando em algum comércio qualquer.  Candan tem um físico de lenhador, cabelos negros, compridos que chegam até a cintura, tão ou mais alto que Ruzgar – Já esteve perto dele?

— Nunca cheguei a ficar perto dele – Admiti também aos sussurros – Só uma vez, quando era criança.

— E como ele te tratou?

— Bem, até – Dei de ombros – Apenas disse que sou delicado demais, e que isso não é coisa de homem.

Ayvaz deu um sorriso.

— Foi a mesma coisa que ele me disse há algum tempo atrás – Passou a mão pelos cabelos loiros desgrenhados – Agora, vamos logo a casa de Ruzgar, antes que o pai dele volte e eu tenha que fugir daquele homem.

Soltei uma gargalhada.

— Você tem tanto medo dele assim?

— É claro que tenho! Você não tem? – Perguntou embasbacado.

— Não – Comecei a rir – Ele nunca me fez mal nenhum.

Ayvaz bufou.

— Aquele homem é um demônio, se eu fosse casado com ele, jogaria sal nele toda noite – Falou de modo dramático, rindo logo em seguida. E assim, fomos seguindo pelas ruas do vilarejo, rindo, até chegarmos à casa de Ruzgar.

Sevda, mãe de Ruzgar, estava plantando mais flores no enorme quintal, quando nos viu, abriu um sorriso enorme e bondoso, levantando-se do chão.

— Oh, meus queridos! Que bom que vieram – Sevda falou, limpando a mão suja de terra no vestido todo desgastado – Ruzgar precisa de companhia.

— Aconteceu algo? – A pergunta saiu antes mesmo de eu pensar.

Os olhos de Sevda encheram-se de lágrimas, mas ela disfarçou, dando um sorriso.

— Candan deu uma surra em Ruzgar... – A voz estava distante e triste.

— É por conta dos boatos, né? – Ayvaz perguntou.

— Sim! – Sevda suspirou – Eu sei que meu filho não é doente, e mesmo se for, eu quero que ele seja feliz.

— Mas é totalmente doentio você dizer que quer a felicidade de Ruzgar acima de tudo, sendo que vivemos em um lugar que, é praticamente proibido ser feliz! – Ayvaz murmurou amargamente. Arregalei os olhos ao ouvir as palavras de Ayvaz. Dei uma cotovelada em suas costelas, tentando mostrar que o que ele tinha dito, era errado, mas ele apenas me olhou com tédio.

Sevda pareceu ficar desnorteada com o que Ayvaz disse. Ficando alguns minutos em silêncio.

Apesar de concordar com o que Ayvaz dissera, achei totalmente feio ele ter falado de uma maneira tão amarga. Ela não tem culpa, é apenas uma mulher mandada pelo marido e pela igreja, como todas as outras mulheres de Constantinopla.

— É... Você tem razão, meu querido! – Sevda parecia se sentir culpada – Vamos entrando, vocês precisam ver Ruzgar.

Sevda pegou em minha mão e na mão de Ayvaz e nos levou para dentro de sua casa.

— Vocês terão que ser breves ao vê-lo – Sevda sussurrou – Candan o proibiu de ver vocês dois.

Meu peito contraiu-se dentro do peito, e dei um suspiro.

Ayvaz me olhou, levantando a sobrancelha esquerda, parecendo tentar mostrar: “Eu avisei que ele era um demônio!”.

— Tudo bem – Ayvaz falou de modo frio.

— Irei deixa-los sozinhos, tenho que terminar de plantar as flores no quintal – Sevda sorriu de modo gentil – Qualquer coisa, se Candan aparecer, irei assoviar e vocês poderão sair pela porta dos fundos. Fiquem atentos.

E assim, saiu. Deixando Ayvaz e eu sozinhos na pequena sala.

— Você irá vê-lo primeiro – Ayvaz sussurrou, se sentando numa cadeira de madeira – Aproveite bem o tempo com seu homem! E não façam nada do que eu não faria

— Ayvaz! – Grunhi sentindo minhas bochechas corarem. O loiro apenas sorriu maliciosamente.

Balancei a cabeça negativamente, antes de entrar pelo corredor que dava para o quarto de Ruzgar.

Minhas mãos estavam suando, e meu coração parecia que ia explodir dentro do peito de tanta emoção. Quando finalmente abri a porta do quarto de Ruzgar, e o vi deitado em sua cama, meu coração estilhaçou dentro do peito.

Os lábios rosados de Ruzgar estavam de uma cor escarlate, e bem machucados. O olho roxo. Também havia algumas marcas em seu peito, ombros e costas. Aproximei-me de Ruzgar, que estava dormindo feito um anjo e passei a mão por seus cabelos, que estavam desgrenhados. Ruzgar abriu os olhos, e deu um sorriso a me ver.

— Ei – Sussurrei.

— Ei – Falou com a voz rouca – Estava com saudades.

Sorri, aproximando-me do rosto de Ruzgar e dando um leve beijo em seus lábios. Quando me afastei, ficamos nos olhando, sem dizer nada. Mesmo estando em silêncio ali com ele, eu sentia aquelas malditas borboletas no estômago.

— Você vai melhorar em breve, né? – Perguntei, passando a mão por seu rosto.

— Vou sim, meu amor! Não se preocupe – Ele sorriu de ladinho – Deite-se do meu lado.

— Mas eu vou te machucar – Exclamei em completo pavor.

— Não, você não vai! – Passou a mão por meu rosto – Você é o meu remédio, Sevilin.

Senti meu coração dar um salto dentro do peito ao ouvir aquelas palavras. Deitei ao lado de Ruzgar, sentindo o calor de seu corpo. Ele era quente, forte e convidativo. Se o corpo dele fosse um lugar, ali seria meu paraíso por longas eternidades, sem pestanejar. Ruzgar sempre seria meu início, meu fim, minha ruína, minha pior distração. Mesmo se eu perdesse toda a fortuna do mundo, estaria feliz se Ruzgar estivesse ao meu lado. O amor dele que é minha maior riqueza.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado. Até mais!



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