Take me To Church escrita por Charles Gabriel
Notas iniciais do capítulo
Boa leitura! ♥
Meu coração martelou dolorido dentro do peito.
Eu não gostava nenhum pouco de Nuray, mas não queria que ela fosse morta pela igreja. Ruzgar entrelaçou seus dedos nos meus.
— O que? Como assim? – Ruzgar perguntou horrorizado.
Meu pai limpou algumas lágrimas que caíam por seu rosto, vê-lo chorando despedaçava meu coração.
— Ayvaz me disse que tentou convencer um nobre de que era mentira, e acabou conseguindo – Meu pai suspirou – Os nobres da igreja acabaram por acreditar, dizendo que vocês eram de bem e que nunca trairiam a igreja.
Olhei Ruzgar, que estava tão ou mais surpreso do que eu.
— Acho que irei conversar com Ayvaz – Ruzgar beijou minha testa – Depois volto, prometo.
— Ruzgar – Meu pai sussurrou – Sevilin e você terão que tomar cuidado de agora em diante, a igreja garantiu que ficará de olho em vocês.
Ruzgar suspirou, passando a mão por seus cabelos bagunçados.
— Prometo que iremos ser mais cuidadosos, senhor Alp – Ruzgar falou tão baixo que mal pude ouvir.
Aproximei-me de Ruzgar e o abracei, ele me apertou com ainda mais força.
— Eu te amo, Ruzgar – Sussurrei.
— Eu também te amo, Sevilin – Me deu um beijo rápido nos lábios – Aproveite o tempo com seu pai.
— Pode deixar – Sorri feito um bobo, vendo-o indo em direção a porta e saindo logo em seguida.
Olhei meu pai, que estava sentado na cadeira de madeira. Ele cobria o rosto com as mãos, e seus ombros balançavam levemente. Aproximei-me dele, e coloquei minha mão em seu ombro.
— Acalme-se, papai – Sussurrei – Eu estou aqui, está tudo bem.
Ele retirou a mão de seu rosto, e me olhou. Seus cabelos loiros estavam desarrumados, e seus olhos castanhos vermelhos e inchados pelo choro. Ele se levantou da cadeira, e me apertou em um abraço sufocante.
Ele estava chorando, eu podia sentir suas lágrimas quentes caindo em demasia sobre meus ombros.
É impressionante como os pais podem dar a vida pelos filhos, e a maioria dos filhos, não fazerem o mesmo por eles.
Quando chegou o entardecer queria sair, para encontrar-me com Ruzgar, mas papai não deixou.
Disse que era para eu esperar os boatos se acalmarem, pelo menos um pouco, e então, para voltar a antiga rotina de encontra-lo.
Apesar de minha vontade ser imensa de poder ver Ruzgar, não poderia desobedecer meu pai.
— Você deveria voltar a igreja, Sevilin – Papai exclamou quando estávamos jantando. Na verdade, meu pai comia seu jantar, eu apenas brincava com a comida. Não sentia a mínima vontade de comer e Kakavia não era meu prato preferido. Mas eu tinha que me esforçar para comer, papai não gostava que eu desperdiçasse comida.
— Por quê? – Perguntei franzindo a sobrancelha esquerda.
— Para que eles não desconfiem, filho – Ele suspirou – Eu sei que você não gosta, mas já faz um bom tempo que não vai.
— Mas eu não quero ir – Sussurrei – Eu estarei mentindo se eu for pra lá.
— Às vezes, é necessário mentir – Ele me olhou com seus olhos castanhos tristes – Tente ir, por mim pelo menos.
— Poderei chamar Ayvaz ou Ruzgar?
— Claro que sim! Isso poderá até dar a impressão de que são amigos e nada mais que isso.
— Amanhã irei à igreja – Falei tristemente – E chamarei Ayvaz e Ruzgar.
Meu pai nada respondeu, apenas deu um sorriso, mas não era um sorriso feliz. Forcei-me a terminar meu jantar e fui para meu quarto. Não estava com sono, mas sentia-me muito cansado.
Acabei pegando no sono logo em seguida, mas tive sonhos terríveis. Sonhos da qual Ruzgar e eu morríamos, e meu pai era apedrejado em frente de todas as pessoas do vilarejo. Acordei muito assustado e decidi ir para o quarto de meu pai.
A porta estava fechada, abri-a e me surpreendi ao vê-lo que ainda estava acordado.
— Posso dormir com você essa noite, papai? – Perguntei. Quando eu era criança, e sentia falta da presença de mamãe ou não conseguia dormir a noite, eu acabava indo para o quarto de papai, ele sempre conseguia me fazer dormir, até mesmo quando eu não tinha sono algum e afugentava até mesmo o meu maior pesadelo. Mas com o tempo, descartei essa ideia, achando que já era adulto o suficiente e poderia muito bem dominar meus medos, minhas inseguranças e as saudades que eu carregava no peito. Mas a realidade é que, somos crianças em corpos de adultos! Ainda choramos, ainda procuramos sempre pelo apoio de nossos pais, ainda vamos deitar em nossa cama esperando que os problemas acabem e acima de tudo, sempre vamos sofrer, por mais que seja por mínimas coisas.
— Não está conseguindo dormir? – Ele perguntou.
— Eu até dormi, mas tive pesadelos – Dei de ombros.
— Venha, durma aqui então – Papai deu um sorriso gentil. Naquele momento, eu senti-me novamente uma criança.
— Obrigado, papai! – Agradeci deitando-me ao seu lado.
— Vai ficar tudo bem, meu menino! – Ele acariciou meus cabelos – Apenas feche os olhos e durma, que todo o mal irá desaparecer.
Adormeci com papai cantando uma canção que não pude identificar, e o melhor de tudo, tive sonhos tranquilos pelo resto da noite.
*|||*
Na manhã seguinte, fui acordado por meu pai, dizendo que iria para o comércio e que eu tinha que arrumar a casa antes de colher cevada.
Sentia-me extremamente cansado e atordoado. Eu não estava preparado para ter que encarar os olhares curiosos de todos do vilarejo, se dependesse de mim, eu ficaria dentro de minha casa, até tudo isso acabar.
— Sevilin? – A voz de Ayvaz despertou-me quando estava arrumando o quarto de papai – Cadê você?
Saí do quarto o mais rápido possível. Encontrando Ayvaz na cozinha.
— Oi, Ayvaz! – Sorri – Obrigado.
— Ué, pelo que? – Passou a mão pelos cabelos loiros.
— Por ter nos salvado! – Admiti.
— Não, eu só fiz o que qualquer melhor amigo faria – Ele sorriu, fazendo seus olhos azuis brilharem – Você e Ruzgar são os únicos amigos que tenho, não posso perdê-los.
— Mas ainda sim, serei eternamente grato – Sorri.
— Não precisam me agradecer! Só não quero que vocês me escondam o que realmente são – Ele crispou os lábios – Eu já sei que são praticantes do homossexualismo, sempre soube.
— C-Como?
— Eu também sou – Sorriu tristemente.
— O que? – Perguntei embasbacado.
— Sim, Sevilin – Ele olhou para o chão. Decidi olhar também, mas acho que Ayvaz estava revendo seus sentimentos e suas memórias – Eu era apaixonado por um garoto do vilarejo, desde a infância, e essa paixão perdura até hoje.
— Quem é? – Perguntei curioso.
— Lembra-se do garoto que Nuray dedurou para a igreja? – Perguntou.
— Aquele que fez sexo com a menina antes do casamento?
— Ele mesmo! Ele dizia que me amava. E era verdade, até o momento em que o pai o arranjou aquela garota – Suspirou – Foi a partir daí, que meu relacionamento com ele mudou drasticamente.
— Mudou como?
— Ele me procurava apenas para sexo – Sussurrou triste – Mas tudo bem, isso já passou.
— Você deve ter sofrido muito – Exclamei.
— Sim, mas está tudo bem agora – Ele sorriu, mas seus olhos ainda estavam tristes – Ruzgar ficou sabendo disso ontem.
— Eu lamento muito.
— Não se lamente, Sevilin! Ele ainda continua sendo minha paixão, mas não a última – Ele sorriu – Encontrarei novas paixões, você verá!
Sorri também.
Ficamos um tempo em silêncio.
Será que além de Ruzgar, Ayvaz e eu, teria mais algum praticante de homossexualismo em Constantinopla? Com certeza!
Naquele momento, uma fagulha de esperança se espalhou pelo meu peito, mostrando-me que eu não estava sozinho.
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Kakavia: É um peixe fresco, com sopa de frutos do mar.
Espero que tenham gostado, até mais.