Take me To Church escrita por Charles Gabriel


Capítulo 1
Capítulo Um


Notas iniciais do capítulo

Olá, espero que gostem :)
Eu imagino Sevilin como Alden Ehrenreich e Ruzgar como Diego Luna.



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Constantinopla, império bizantino, agosto de 1296.

Naquela manhã, acordei sentindo meus músculos doerem. Eu havia levado muita cevada para os comerciantes, meus braços doíam quando eu os mexia.

— Sevilin? – A voz grossa e calma de meu pai ecoou pela pequena casa de madeira. Meu pai, Alp, trabalha num comércio da cidade vendendo roupas. Ele ganha sempre cinco moedas de ouro por dia, mas pelo menos dois, tem que dar a igreja, isso faz com que quase não dê para comprar muita coisa no mercado.  – Sevilin, acorde! Ruzgar está aqui.

Ruzgar. Uma simples palavra que fazia meu coração acelerar. Era errado eu me apaixonar por meu melhor amigo, já que se a igreja soubesse me queimaria na estaca ou me esquartejaria. Ruzgar fazia jus ao significado de seu nome, vento. Ele era o vento que dava calmaria ao meu coração.

A igreja achava que quem praticava o homossexualismo era um pecador e doente. Posso ser doente, mas adoro isso.

 - Estou acordado, pai! – Decidi responder, antes que meu pai viesse até meu quarto – Já vou.

Levantei da cama, sentindo o piso gelado de madeira sob meus pés e saí do quarto o mais rápido possível, eu deveria estar horrível, mas não me importava. Encontrei Ruzgar sentado na velha poltrona da sala, olhando algo pela janela, seu cabelo comprido castanho, estava desgrenhado, como eu queria passar minha mão por aqueles cabelos. Balancei minha cabeça, lembrando que era errado. Eu sou um idiota!

— Hey, Ruzgar! – Chamei, fazendo-o me olhar. Senti meu coração saltar do peito quando seus olhos castanhos se encontraram com os meus. Maldito coração! Eu não deveria ter esses tipos de sentimentos.

— Hey, Sevilin! – Falou, ficando em pé. Ruzgar era alto, tanto, que eu tinha que inclinar meu pescoço para olhá-lo. Eu era minúsculo ao seu lado, chegava a ser patético. Ruzgar me puxou para seus braços, e me deu um abraço. Para ele com certeza era um carinho voltado pra amizade, mas pra mim, não. Eu me sentia tão seguro e protegido em seus braços, ele é como meu porto seguro. Eu o amo tanto, que chega a doer, mas eu não posso ficar com ele, não quando o homossexualismo é considerado uma doença pelos padres, não quando ele pode não sentir o mesmo que eu. O abraço durou apenas 5 segundos, mas foi o suficiente para eu sentir seu cheiro.

— Então, está tudo bem? – Perguntei, vendo-o sentar-se na poltrona.

— Não muito, Sevilin... – Ele divagou, olhando para o chão de madeira.

Senti meu coração estilhaçar. Não queria ver Ruzgar triste.

— O que aconteceu? – Perguntei, engolindo em seco.

— Uma mulher foi esquartejada hoje pela manhã – Ruzgar sussurrou, escondendo as mãos no rosto.

Eu sabia o quanto Ruzgar odiava quando isso acontecia. Isso o afetava tanto, que ele ficava sem dormir por dias. Se eu pudesse, tiraria toda a dor que ele sente. Muitos dizem que Ruzgar é tão bruto quanto um leão, mas eles se esquecem, de que leões também são frágeis apesar de toda sua hostilidade.

— Ruzgar... – Tentei dizer, mas sou péssimo com palavras. Ele sabia disso.

— Está tudo bem, Sevilin! – Ele retirou a mão do rosto, dando um sorriso fraco, mas seus olhos estavam tristes. Aquilo foi como uma facada em meu peito.

— Ruzgar, é melhor você ir! – Meu pai apareceu na sala – Você sabe que seu pai, não gosta que você venha aqui.

— Meu pai não gosta que eu vá à casa de ninguém, Senhor Alp! – Ruzgar murmurou, levantando-se – Mas é melhor eu ir mesmo.

— Ruzgar, você vai ficar bem? – Perguntei, mordendo o lábio.

— Vou sim, Sevilin! – Ruzgar sorriu, fazendo meu coração disparar. Ele deu uma pequena referência ao meu pai e saiu, me deixando como um bobo apaixonado.

*|||*

Horas mais tarde tive que ir colher cevada, eu odiava fazer isso, mas era necessário. O dinheiro de meu pai não era suficiente, sem a minha mãe aqui, as coisas ficam difíceis. Minha mãe morreu quando eu tinha cinco anos, segundo meu pai, ela estava sendo perseguida pela igreja e acabou se matando. Meu pai ficou muito triste nessa época, tanto, que se ausentou do comércio e até mesmo de mim, me deixando com minha tia numa cidade longínqua.  Papai só foi me buscar depois de três anos, pedindo-me desculpas por ter se ausentado, mas ele havia feito isso, pois eu parecia muito com minha mãe, e isso o machucava. Eu entendia meu pai. Não deveria ser fácil perder o amor de sua vida, ainda mais para o suicídio. Eu sentia falta de minha mãe, e imagino que talvez meu pai também sinta, até mais do que eu.

No fim da tarde, recebi meu pagamento. Estava orgulhoso. Oito moedas de ouro, papai ficaria feliz, guardei as moedas no bolso e antes de ir para casa, decidi ir para um rio. Eu gostava de lá, era calmo e eu me sentia bem. Chegando as margens do rio, pude ver meu reflexo na água límpida. Minha pele era bronzeada, pelas inúmeras vezes que eu trabalhava debaixo do sol, isso dava contraste com meus olhos verdes e meus cabelos castanhos. Papai me dizia que eu era muito bonito e que logo arranjaria uma namorada. Mal ele sabia que eu queria namorar um homem.  Esse é o meu pior problema.

Papai nunca fala o que pensa de um homem namorar outro homem ou uma mulher namorar outra mulher. Papai era bem reservado nesse quesito, por isso eu nunca saberia se ele iria me aceitar ou não.

— O que está fazendo aqui, Sevilin? – Ouvi o grito de Ruzgar. Meu coração logo deu um salto ao ouvir sua voz. Merda!

— Você me assustou, Ruzgar! – Menti, vendo-o se aproximar.

— Eu sabia que era feio, mas não tanto assim! – Ele fingiu estar magoado, colocando a mão em seu peito largo.

— Pare, você sabe que é muito bonito! – Soltei, sem pensar. Mas logo me arrependi. Senti meu rosto ficar vermelho. Como eu sou burro.

Ele sorriu de maneira sem graça pelo elogio.

Meu coração pareceu bater mais forte.

Inferno.

— Então... – Ele pigarreou – Você ganhou quantas moedas de ouro hoje?

— Oito!

— Uau, Sevilin! – Ele me olhou com certo brilho no olhar. Aquilo aqueceu meu coração. – Parabéns!

Eu sorri, em agradecimento.

Ficamos em silêncio, por muito tempo, apenas observando o pôr do sol que dava contraste com a água límpida do rio. Eu gostava de ficar ao lado de Ruzgar, mesmo estando em silêncio, eu me sentia bem.

Eu o amava com cada célula do meu corpo.

E poderia amá-lo pelo resto da vida se fosse preciso.

E mesmo que o sentimento dele fosse apenas amizade, eu poderia suportar. Eu sou capaz de amar por dois.

Ele era o homem que eu protegeria, mesmo que fosse necessário sacrificar a minha vida.

— Pretende voltar para casa? – Ruzgar quebrou o silêncio.

— Acho que não... – Murmurei pensativo.

— Vem, vou te mostrar uma coisa! – Ele me puxou, engoli em seco, sentindo sua mão encostar-se à minha.

Sua mão era macia e encaixava-se perfeitamente na minha, minhas mãos estavam começando a ficar suadas, rezei para que ele não percebesse isso.

— Me mostrar o que, Ruzgar? – Perguntei, caminhando ao lado dele, ainda segurando sua mão.

— Uma cachoeira, Sevilin! – Ele respondeu sorrindo. Senti meu coração bater mais rápido. Coração idiota!

— Cachoeira? – Perguntei franzindo o cenho – Nunca vi nenhuma cachoeira por aqui.

— Ela fica no meio da floresta, Sevilin. – Respondeu. Parecia se divertir com aquilo.

Meu coração se aqueceu.

— Já estamos chegando? – Perguntei como se fosse uma criança pequena.

— Ainda não. – Ele respondeu soltando uma risada.

Ele soltou minha mão. Senti meu coração bater de forma dolorida. Eu não deveria me sentir mal com isso, mas meu coração é um idiota! 

Estava começando a escurecer, olhei para o céu. Eu amava observar o céu no fim da tarde, era algo mágico.

Fui interrompido pelas minhas divagações quando tropecei sem querer nos meus próprios pés. Droga.

— Sevilin, cuidado! – Ouvi Ruzgar gritar, tudo estava passando de maneira lenta. Eu iria cair e bater com a cabeça no meio daquelas pedras pontiagudas. Fechei os olhos, esperando pela morte. Foi quando senti braços fortes me segurando antes mesmo de eu bater minha cabeça no chão. Abri os olhos, assustado, Ruzgar estava tão perto, que eu podia sentir sua respiração bater em meu rosto. – Você está maluco?

— D-Desculpa, Ruzgar! – Sussurrei com a voz trêmula. Eu sou patético!

— Você quase me matou de susto. Que desgraça! – Ele falou de maneira ríspida me endireitando, fazendo-me ficar de pé, abaixei os olhos para o chão, sentindo seus olhos me observarem. Suas palavras ríspidas foram como uma facada em meu peito.

— Eu já pedi desculpas! – Respondi, sentindo um nó em minha garganta. Eu não podia chorar, não na frente dele. – E-eu vou embora.

— Não! – Ele quase gritou – Sevilin... Fique.

— Me dê um motivo para eu ficar, Ruzgar! – Respondi olhando seus olhos castanhos. Amar Ruzgar era como brincar com fogo, e eu sempre sairia queimado.

Ruzgar ficou em silêncio. Ótimo, mais uma facada em meu peito! Virei-me lentamente para ir embora dali, mas fui puxado de maneira brusca, quando me dei conta, estava sentindo os lábios de Ruzgar nos meus de forma violenta.


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Notas finais do capítulo

Yay, espero que tenham gostado.



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