Os Filhos da Lua escrita por Lua Chan


Capítulo 7
Olhos de âmbar




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/742760/chapter/7

Eu estava ficando sem ar. Provavelmente você perguntaria "como" ou "por que". Bem, eu explicaria perfeitamente se não houvesse uma garota maluca apertando meu pescoço com uma força descomunal. A tão falada "Crystal" não me largou, mesmo com os rugidos de Erik e Bertram, que já estavam desesperados — modestamente falando. Até que enfim, após eu desferir tapinhas contra seu rosto e com uma enorme ajuda de Erik, a garota saiu de cima de mim. Quando olhei para ela, vi seus olhos brilharem da mesma cor que os de Amur. Me obriguei a ficar de pé, apesar de as respirações descontroladas me atrapalharem.

 — O que essa humana está fazendo aqui?! — grita ela, mais como um rosnado. Erik precisou afastá-la de mim.

 — Calma, Crystal. — o alfa diz, melodicamente. Era estranho ver uma figura como ele tão serena. Foi assim que pude notar que Bertram tinha um invejável autocontrole — Summer é só uma amiga. Ela acompanhou Erik e Amur até aqui.

 — Será que não consegue ver? — Crystal aponta para o garoto caído no chão — Ela está afetando Amur!

Bertram se aproximou dela em tom de ameaça, até seu nariz ficar a milímetros da testa da garota — sim, ele era realmente alto. Os olhos de Crystal ainda brilhavam com a mesma intensidade que antes. Para alguém que estava encarando o alfa, ela era bem atrevida. Os olhos de Bertram também brilhavam, mas, diferentemente dos de Crystal, eram vermelhos. Não sei se era impressão minha, mas pensei ter visto as veias de seu pescoço tão negras quanto carvão.

 — Summer salvou Amur e Erik de um caçador. — disse ele, vagarosamente. Pude sentir a tensão, mesmo longe dela — Ela está sob minha proteção. É bom que você mostre mais respeito, mocinha.

Ela trocou de olhares entre o alfa e eu (acabei me encolhendo no mesmo instante). Achei que ela fosse me atacar novamente, mas Crystal parecia mais calma e estranhamente arrependida. Ela esbarrou seu ombro no meu, mas antes de sair da tenda, ainda dirigiu a palavra para mim:

 — Se você pensar em machucar Amur, eu te estrangulo.

Engoli em seco, sem saber o que fazer. Bertram não tirou os olhos de Crystal até ela nos deixar completamente.

 — Desculpe por ela, Summer. Crystal pode ser bem... explosiva.

 — Tudo bem, senhor Bertram. — respondi, compreensiva. Minha mãe, quando ainda morava conosco, me ensinava a ter boas maneiras. Eu era uma ótima aluna — Não a culpo pela surpresa.

 — Vamos dispensar as formalidades, querida. Você salvou meus garotos e eu fico completamente grato por isso.

Sorri novamente para ele, quase me esquecendo de Amur. Coincidentemente, quando voltei a pensar nele, a porta da tenda se abre pela segunda vez, revelando um senhor de olhos escuros, levemente puxados e cabelos grisalhos. Ele segurava alguns vasilhames e prestou uma breve mesura ao alfa.

 — Meu senhor, espero não ter demorado.

 — Não se preocupe com isso, Kotesh. Apenas ajude meu menino.

 — O que houve com ele?

Bertram enrijeceu os ombros, nervoso.

 — Um caçador acertou um tranquilizante nele. — à menção da palavra com "C" o curandeiro emitiu um fraco rugido — Amur esteve desacordado faz um bom tempo.

Kotesh assentiu e dispôs todo seu material no chão, próximo ao inerte Amur. O curandeiro checou sua temperatura — pelo menos é o que parecia — e pressionou um pano úmido contra sua testa. Fiquei esperando ansiosamente por alguma informação.

 — Certamente, o tranquilizante tinha alguma substância tóxica. — Kotesh afirma, deixando-me apavorada.

 — Ele vai ficar bem? — Erik se pronunciou pela primeira vez, depois de um tempo.

 — É possível que ele melhore, antes do veneno atingir o coração. Vou fazer um chá de ervas, mas ele precisa de um descanso.

 — Tudo bem. — digo, cruzando os braços — Espero até ele acordar.

 — Summer, — Erik sussurra, alisando meu braço  — Por mais que eu goste da sua presença, você tem que ir. Amur não vai melhorar tão cedo.

 — Mas...

 — Summer.

Seus olhos encontraram os meus. Aquela foi a primeira vez que eu os vira da mesma cor dos de seu lobo. Âmbar. Muitos pensamentos ecoaram na minha cabeça. Um deles era por que eu estava preocupada com Amur se mal o conheço? Por que eu estou aqui? Mesmo receosa, assenti com a cabeça, sentindo meus olhos umidecerem.

 — Por favor. Faça isso por ele.

Não respondi, mas em seguida dei um falso sorriso. Ricky me retribuiu com o mesmo gesto, só que com mais sinceridade. Agradeci a Bertram pela hospitalidade e pedi que Erik pudesse me dar notícias sobre seu irmão. O garoto lobo, inclusive, insistiu que me levaria pra casa e eu aceitei. Caminhamos em silêncio por grande parte do percurso, até chegarmos numa casa perto da floresta. Ricky pediu para eu não falar nada sobre o que acontecera na floresta ou sobre os lobos para ninguém e eu assenti. Ao chegarmos, eu o abracei e ele beijou as costas da minha mão.

 — Prometo trazer informações sobre o seu namorado quando possível.

Corei e não foi pouco. Tentei esconder enterrando a cabeça no meu casaco, mas obviamente não adiantou.

 — Ele não é o meu namorado!

 — Eu sei, mas eu queria te ver assim.

Ele deu um sorriso malicioso e piscou, deixando-me ali. Que atrevido! Bem, pelo menos eu ficaria sabendo sobre o estado de Amur.

Cheguei no carpete de casa e bati na porta. Em menos de 6 segundos, um garoto de cabelos loiros e bagunçados me puxa para um forte abraço. Eu havia me ausentado em poucas horas, mas será que pareciam dias? Yakob, meu irmão mais velho, me apertou ainda mais, o que me lembrou de Crystal. Estremeci com o pensamento.

 — Onde você esteve, idiota? — falou, enquanto me analisava meticulosamente — Eu estava morrendo de medo de você não voltar mais. Ojciec quase ligou pra polícia.

 — Onde ele está?

Yakob apontou para o alto, indicando que Izak estava em seu quarto, no andar de cima. Subi as escadas silenciosamente para falar com ele, mas papai estava dormindo tranquilamente em sua cama, ainda com a roupa do trabalho em seu corpo. Não quis despertá-lo, portanto retirei os óculos de grau do seu rosto e o cobri com um edredom macio. Já estava escurecendo e eu tinha certeza que ele estava cansado.

Quando voltei pro andar de baixo, Yakob me fez várias perguntas, mas me limitei a responder as mais fáceis. Disse que eu tinha saído com um amigo até a floresta, já que não podia revelar sobre o segredo dos lobos. De qualquer forma, nem tudo era mentira. Eu realmente havia saído com Erik. Após muita conversa, um balde de pipoca e um suco de limão, fui para o meu quarto e cerrei os olhos, deixando que o sono me pegasse. Quando ele finalmente chegou, sonhei com Amur.

. . .

Acordei pensando no sonho que tive com ele. Foi estranho e também envolvia florestas e um lobo negro. Não o reconheci, portanto deixei o pensamento de lado e tomei banho. Ao terminar de me vestir, fui para a cozinha e me deparei com um Izak sorridente. Honestamente, esperava que meu pai me desse um sermão, mas nada. Ele só me abraçou forte, me beijou e desejou um bom dia na escola. Não pude evitar o riso quando o meu irmão ficou com ciúmes.

 — Ele também te ama, idiota.

 — Bruxa!

 — Cara de sapo!

E os insultos continuaram até eu ir pro colégio. Não gostava da ideia de exagerar nos nomes, por isso não passávamos do "imbecil" ou "idiota" (a não ser que estivéssemos muito irritados um com o outro). Depois de alguns minutos de caminhada, chego na escola e vou direto para sala de aula, esperando ver Amur e saber como ele estava.

 — Oi, Strawberry. — a doce voz de Thomas me desperta e eu logo olho para ele, envergonhada.

 — Éhr... o-oi, Tom. Você viu Amur?

O sorriso dele desabou. Fiquei mal por ele, mas era por uma boa causa. Eu estava preocupada com o garoto lobo.

 — Não. E acho que a aula já vai começar, né? Ele não deve vir hoje.

Suspirei, ouvindo o barulho do relógio da escola. Thomas estava certo, a aula já iria começar. Em breve eu descobriria que ele também estava certo sobre mais uma coisa.

Amur não viria.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Os Filhos da Lua" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.