Os Filhos da Lua escrita por Lua Chan


Capítulo 2
O lobo solitário




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Finalmente eu estava longe de Amur. Não que ele não parecesse legal — apesar de ele não parecer —, é só que eu tenho medo. Me aproximei do cesto de lixo e fingi que estava apontando um lápis, mas na verdade só criei um motivo para não voltar. Tentei espiá-lo de longe, mas logo desviei o olhar ao notar que Amur também estava me vigiando do lugar dele.

 — Não sabia que eu havia escalado um lixeiro pra ser sua dupla. — a professora me pegou de surpresa e logo deu um de seus sorrisos. Que mulher pra sorrir, meu Deus! — Vá pra sua dupla, mocinha. Amur está te esperando.

E é por isso que eu estou aqui, pensei, tentando disfarçar com um sorriso. Bem, era tarde demais para inventar uma mentira, então apenas segui até a minha mesa, onde o garoto estaria me esperando. Amur ainda estava com os braços cruzados, olhando para mim com aqueles olhos misteriosos.

 — E aí? — pergunta ele — Qual é o tema?

 — Ahn?

 — O assunto da pesquisa. — ele persistiu, ainda muito sério. Meu coração pulava em meu peito, enquanto eu permanecia em silêncio. Acho que se a sala não estivesse tão agitada, Amur ouviria meus batimentos — Você não perguntou sobre o tema da pesquisa, não é?

Nego com a cabeça e ele sorri pela primeira vez, mas não amistosamente. Parecia um sorriso de deboche ou de sarcasmo. Isso me deixou irritada.

 — Já estava desconfiando. — replicou, olhando para o vazio. Depois de segundos, ele voltou o olhar para mim — O que foi? Está com medo de mim?

 — Não... Bom, talvez sim...

 — Foi uma pergunta retórica. Sabe o que são perguntas retóricas, não é, Summer Grant? — Amur se aproxima do meu ouvido e diz meu nome com certo desgosto. Não pude evitar de murmurar algo pra ele — Quer saber, serei a pessoa útil dessa dupla. Espere aqui enquanto eu realmente pergunto sobre o tema do projeto.

Então ele me deixou sozinha, repleta de dúvidas e inseguranças. Após algum tempo, sinto alguém se aproximar de mim. Era um garoto de cabelos castanhos que usava óculos bem redondos e uma camisa comprida da Red Hot Chili Peppers. Ele sorriu para mim, o que revelou um par de covinhas. Ele parecia ser o tipo de nerd atraente.

 — Oi. — disse ele, ajeitando os óculos — Você deve ser a garota nova. Q-Quer dizer Summer. Quer dizer-

 — Já entendi. — falei, dando uma risada. Ele até que era fofo se atrapalhando daquele jeito — E você é...

 — Thomas Schott, mas pode me chamar de Tom. — um silêncio constrangedor se formou entre nós. Tom não parava de olhar pra mim. Decidi quebrar o gelo.

 — Então, Tom... posso te ajudar em alguma coisa?

Ele ficou sem jeito, mas continuou sorrindo e mostrando suas covinhas. Meu coração se apertou no mesmo instante e eu pigarreei.

 — Na verdade, achei que eu pudesse te ajudar. Sabe... já que você é a novata.

 — Ah, sim. Quase me esqueci disso. — brinquei, virando a cabeça para o lado; ao fazê-lo, vejo Amur.

Ele estava ao lado da professora, sendo a "pessoa útil dessa dupla". Amur me encarou com mais insatisfação do que antes e logo depois olhou para Tom. Será que era por causa do garoto nerd que ele estava assim? Mas por quê?

 — Tom, — chamo o garoto, sem abandonar Amur do meu campo de visão. Naquele momento, ele já teria desistido de mim e continuou a falar com a professora — Quem é aquele garoto? — aponto com os olhos para minha dupla.

O sorriso em seu rosto se desfez instantaneamente, era compreensível. Eu não era a única a ter medo dele, nesse caso.

 — Aquele que está falando com a sra. Lowell? — confirmo com a cabeça — O nome dele é Amur Gauthier Jons ou "O Cara Estranho da Sala 05". Ele entrou em Monoghan no ano passado e desde então tem ficado sozinho. 

— Ele não tem um grupo de amigos? Tipo as panelinhas da escola?

 — Não. Até eu tenho meu próprio grupo. — Tom diz. Em outras circunstâncias, eu estaria rindo de seu comentário, mas eu ainda estava confusa — Ele é tipo o lobo solitário dessa alcateia.

 — Estamos falando de lobos? Oh, por favor. Sou perita nisso. — digo com um tom de zombaria.

 — Ah, saquei. Você é uma daquelas adolescentes neuróticas que torce pro #TeamJacob, não é? — bati de leve em seu ombro, apenas para descontrair.

 — Nah. Eu só sou apaixonada por lobos. Só não gosto muito desse aí. — aponto novamente para Amur com meus olhos.

 — Acredite, você não é a única.

De repente, ouço uma voz feminina chamando Tom. Olho para trás e encaro uma ruiva acenando pro garoto ao meu lado. Tom tosse e ajeita os óculos pela segunda vez, o sorriso não saía de seus lábios.

 — Bom, parece que eu tenho que ir. Foi bom de conhecer, Summer.

 — Digo o mesmo de você, Tom.

E ele se despediu de mim e correu para a garota. Ela parecia bem simpática.

 — Animais silvestres. — ouço uma voz grossa e dominante por trás de mim, meu coração disparou. Era Amur — É o nosso tema.

 — Nossa, você me assustou. Não poderia ter me avisado que estava aqui?

 — Não é problema meu se você se assustou. — retrucou — Nem é minha obrigação me preocupar com garotas fofoqueiras.

 — Espera, do que está falando? Eu nem-

 — Você e os outros lobos são todos iguais. Que bom que sou o solitário da alcateia.

Outros lobos? Ele não pode ter ouvido a conversa, não é? Eu e Tom estávamos distantes da bancada da sra. Lowell, onde ele estava. Nem conversamos alto e não acho que ele foi capaz de ouvir nossos sussurros nem se tivesse uma audição apurada. Qual é a desse garoto?

Subtamente, o sinal toca e Amur anota algo na minha mesa com seu lápis e depois pega suas coisas para ir embora, afinal, esse era o último horário. Pego minhas coisas lentamente, tentando processar o que acabara de ocorrer e forço a vista para entender aquela letra corrida. Era um número de telefone e, honestamente, se for o dele vou me surpreender.

A poucos metros da escola, havia uma densa floresta e, de acordo com rumores de Yakob, uma ou duas raposas já teriam entrado no ginásio do colégio. Segui por aquela área verde para chegar em casa acabou sendo uma forma eficiente de me distrair. Quando chego ao fim da caminhada, noto um barulho estranho. O ruído teria vindo de um arbusto próximo a uma árvore. Eu tenho a fama de ser curiosa, mas algo dentro de mim dizia que eu não deveria me aproximar dali. Então apenas segui minha intuição e fui pra casa.

[. . .]

 — Achei que só iria chegar amanhã. — fala meu irmão, assim que eu ponho os pés no carpete de casa. Vou até ele e bagunço seus cabelos loiros — Ei!

 — Você merecia. Cadê o ojciec?

 — Papai ainda está no trabalho. — responde, sem largar o celular — Ele pediu pra você lavar a louça quando chegasse. Eu te ajudo a guardar.

 — Olha só. Até parece responsável.

 — Vem cá, sua pestinha!

Ele me puxou pra um abraço de urso e bagunçou completamente o meu cabelo. Ambos rimos e eu subi as escadas para ir ao meu quarto. Jogo o celular na cama e acabo lembrando que Amur me deu seu número. Digito seu contato e o salvo na minha lista. Inspiro profundamente e envio uma mensagem.

Você: Oi

Você: Sou sua parceira no projeto de biologia da escola

Você: Gostaria de saber qnd podemos começar o trabalho

Ele somente recebeu, mas não visualizou. Bufei e fui até a cozinha para fazer o que meu pai havia pedido. Levei o celular comigo só pra garantir, vai que ele me respondesse logo — não que isso fosse tão importante. Começo os afazeres e levo um banho com a espuma da esponja. Yakob só ri da minha cara e eu o ignoro, jogando água nele.

BRR

O celular vibra três vezes. Lavo e seco as mãos e corro pra mesa. Começo a ler as mensagens e me surpreendo com o resultado.

Você: Oi

Você: Sou sua parceira no projeto de biologia da escola

Você: Gostaria de saber qnd podemos começar o trabalho
         

 

Amur: Quem é vc?

Amur: Não sabia que Amur já havia conseguido uma namorada

Amur: Já estava demorando.

Minhas bochechas entram em combustão com o comentário, mas eu o respondo.

Você: Já chega de bancar o idiota

Você: Desculpe pelo q aconteceu mais cedo. Já pode parar com a brincadeira.

 

Amur: Quem disse q eu estava brincando, garota ingênua?

Amur: Sou apenas um anônimo que conhece seu lobo solitário.

Amur: Se eu fosse vc, me afastaria de Amur. Ele n é quem vc pensa


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