Os Filhos da Lua escrita por Lua Chan


Capítulo 10
O lobo




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Combinei com Jace de nos encontrarmos na cantina ao terminar as aulas, assim eu poderia almoçar e depois mostrava a escola para ele. Quando o meu horário de Geografia finalmente acabou, fui para o lugar indicado e esperei até o garoto aparecer. Acabei, no entanto, sendo surpreendida por outra pessoa.

— Oi, Summer. — diz Thomas, o garoto de cabelos bagunçados que ficou ao meu lado por semanas, até Amur aparecer novamente.

Senti o ar mais denso, principalmente por ele não ter me chamado pelo apelido que carinhosamente criou para mim. Strawberry. Viro um pouco a cabeça para o lado oposto, sem saber de suas intenções ao me encontrar no refeitório. Eu apenas sabia que não foi uma coincidência estarmos no mesmo lugar.

— Oi. — digo secamente. Por mais que isso doesse em mim, ainda não estava de bom humor.

Ele penteia os cabelos com os dedos e põe os óculos um pouco mais acima do nariz.

— Acho que peguei pesado com você na aula de Química. — comenta, brincando com os próprios dedos, nervosamente — Sinto muito, Summer. Eu fui um idiota. Acontece que eu me preocupo com você e senti que você estava triste por causa dele.

— Eu entendo sua preocupação e agradeço por isso, Tom, mas não precisava jogar tudo em cima de mim. Amur esteve muito... doente, semanas atrás, — minto, sentindo-me desconfortável — e não saber nada dele, sei lá... me abalou, entende?

— É... eu sei.

As vozes do refeitório tornaram-se dominantes, era difícil até mesmo ouvir meus próprios pensamentos. Olhei para Tom e senti uma alfinetada em meu estômago. Eu tinha certeza de que era a culpa, mas sabia igualmente que não poderia falar nada sobre Amur e seu segredo para ninguém. Nem pra alguém de confiança como Thomas.

— Desculpe pelo jeito que falei com você. Eu também errei.

— Então, Summer... — diz ele, numa pausa inquietante — estamos de bem um com o outro?

Dou um meio sorriso e olho no fundo dos seus olhos. Ele, definitivamente, parecia estar mais aliviado.

— É Strawberry pra você.

Nós dois rimos e eu me sinto boba por esse ser meu primeiro pensamento, mas por outro lado, fiquei feliz por voltarmos ao normal. Não aguentaria ficar um dia inteiro sem falar com ele. Tom segura minha mão e começa a massageá-la, deixando, por fim, um demorado beijo.

— Já que estamos de boa, que tal se a gente for na Eugine's? Soube que eles estão fabricando um novo sorvete. Espero que goste de nata goiaba com banana.

O aperto no coração voltou no mesmo instante. Não queria dispensá-lo, mas já tinha um compromisso com Jace. Tentei sorrir para disfarçar o peso da culpa, mas tudo que consegui foi uma careta estranha — digo isso pelo olhar de Tom.

— Qual é o problema? Se quiser, podemos ir numa pizzaria.

— Não é isso, Tom. É que eu já tenho algo para fazer daqui a pouco.

— Algo que não possamos fazer juntos?

— Bem, é que...

Antes que eu pudesse terminar minha terrível explicação, o garoto de cabelos negros se aproxima de nossa mesa. Jace estava mais sorridente que antes, o que não poderia dizer o mesmo de Thomas. Ele estava confuso, chegou até a me lançar um olhar do tipo "quem é ele e o que está acontecendo aqui?". Tratei de responder, antes que Tom entrasse em combustão.

— Tom, quero que você conheça Jace Lewis. Jace, esse é Thomas Schott.

Os garotos se cumprimentaram. Tom ainda estava desconfiado, como se a qualquer momento Jace pudesse me sequestrar.

— Legal te conhecer, Thomas. — Jace comenta — Espero não estar interrompendo nada entre vocês. Summer vai me mostrar a escola.

— Ahh, então você é o novato das aulas de música? — Tom pergunta, deixando-me surpresa — Dei uma olhada na tabela de chamada e acabei não reconhecendo um dos alunos da lista.

Olho pra Jace com a mesma cara de espanto que fiz ao ganhar um violino novinho de natal, ano retrasado. O garoto ficou sem jeito, coçando a nuca como se aquilo pudesse disfarçar.

— Você não me falou que estava na aula de música, mocinho. — brinquei — Eu também.

— Na verdade, vou começar amanhã. Acho que podemos nos esbarrar por lá.

— É, acho que sim.

Nossa pequena conversa é finalizada com a tosse forçada de Tom, que se despediu da gente e foi pra biblioteca encontrar-se com Danielle, a garota ruiva simpática que também era a dupla que ele conseguiu no trabalho de Biologia. Num gesto repentino, Jace estende um braço e o curva. Aparentemente, como um bom cavalheiro, ele queria que eu enlaçasse meu braço no dele, enquanto caminhávamos. Cedi ao pedido e começamos nosso tour.

Apresentei todos os lugares que eu conhecia para o garoto, que por vezes balançava a cabeça em confirmação e por outras ria de algum comentário estúpido que eu fazia. Mostrei de longe as pessoas as quais ele não deveria chegar tão perto, caso não quisesse causar brigas. Na maioria eram alguns jogadores de lacrosse ou fiscais de corredores, que se achavam a lei. Ao mencionar o esporte praticado na escola, Jace se animou.

— Eu entrei pro time no dia em que cheguei aqui. — afirma — Notei que alguns caras se acham demais. Pelo menos nem todos são tão idiotas quanto Seth e as hienas desleixadas dele.

— Ah, então você já o conheceu. Ele já causou uma baita confusão com um amigo meu.

— É... esse Amur deve ser muito corajoso por querer comprar briga com Seth.

Congelei no mesmo momento. Jace ficou calado, mas percebi que estava arrependido do comentário. Ele se afastou um pouco de mim, mas nada me impediu de interrogar o garoto sobre como ele sabia de Amur. Me recompus para poder prosseguir com o plano recém formado.

— Engraçado, eu não cheguei a falar o nome do meu amigo. Como sabia disso?

Ele demorou um pouco para responder, mas mesmo assim o fez.

— É que os caras do lacrosse falaram dele. Você sabe... foi incrível o que ele fez com os bastões e...

— Não teve nenhum bastão na briga, Jace. — sussurro de maneira ameaçadora — E isso aconteceu há quase 1 mês. Ninguém teria coragem de lembrar Seth da surra que ele levou.

— Você não confia em mim?

— Essa não é a questão, Jace. Acho que você não quer me contar algo.

Cruzei os braços na frente dele, a fim de intimidá-lo. Não queria parecer presunçosa, mas eu detesto quando alguém mente para mim. Ou pior, quando alguém de confinça mente para mim. Jace só estava aqui há alguns dias, por isso não teve a chance de conhecer "O Cara Estranho da Sala 05", como Amur ficara conhecido.

— Será que você não pode acreditar que eu pesquisei o histórico do cara mais esquisito dessa escola?

Eu não esperava por aquela resposta. A pergunta feita por Jace o tornava paranoico. Pensei na possibilidade de ele ter obtido as informações de uma boa parte dos alunos, antes de vir pra cá. Numa outra perspectiva, Jace parecia desconfiar de Amur de uma maneira que não deveria. Testei o garoto mais uma vez, o plano de fazê-lo abrir a boca estava funcionando.

— O que sabe sobre ele, então?

— Ele veio pra Monoghan ano passado. A família vive pela floresta e ele é... ah, deixa pra lá. Você não acreditaria.

Eu estava perto até demais, meu coração palpitava com a euforia de um cavalo selvagem. Jace sabe sobre Amur e isso era muito perigoso.

— Tente. Você ficaria com os cabelos em pé se soubesse tudo o que eu já vi na minha vida.

— Ah, mas isso é diferente, Summer. — diz ele, se aproximando de mim — Ele é diferente.

De repente, parecia que ele estava me cheirando. Como se eu usasse um perfume forte demais, chamativo demais. Animal demais.

— Eu sabia. — ele continua o estranho monólogo, iniciado a partir do momento em que eu parei para ouvir suas observações — Você tem o cheiro dele.

Então, quando menos espero, o brilho que os olhos de Amur exalavam estavam lá. Os olhos de Jace não estavam verdes, como antes. Agora eles tinham uma coloração viva, como a de Erik ou Crystal quando se transformavam em lobo.

Eram âmbar.


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