Pietra

Entrei no quarto sem olhar para trás. Desde quando eu tinha passado a ficar sem jeito perto do Ivo? As meninas estavam todas me olhando sorridente.

—O Ivo estava tão preocupado com você – Eliana começou – Ele gosta de você, definitivamente.

—Não começa – falei indo arrumar minha cama para dormir

—É sério! – ela riu – Ainda é estranho, mas eu acho que vocês estão fingindo para vocês mesmos que não sentem nada um pelo outro mas no fundo, sabem que sentem.

Deitei sem falar nada e fiquei pensando sobre isso. Ivo nunca foi  tipo de cara que imaginei para mim e além disso só temos 15 anos de idade, eu não me sentia em idade para me apaixonar. Sempre achei isso uma irresponsabilidade, trazer dor desnecessária antecipada, porque sim, paixão também traz dores, não é tudo só flores. Eu sei que as vezes penso como uma velha quando se trata de relacionamento, mas o que posso fazer? Essa sou eu.

Meu celular vibrou me assustando e peguei quando ele vibrava com mais uma mensagem. Eram do Ivo.

“Oi”

Achei a mensagem estranha, afinal havíamos acabado de nos despedir. Decidi ler a outra antes de responder.

“Já que hoje não fomos na festa a fantasia, quer ir amanha comigo? É o último dia.”

É claro que eu queria.

“Só se você for comigo alugar fantasias novas, aquelas não nos trouxe sorte, rsrs”

“Vamos de manhã então, a gente pode almoçar em algum lugar.”

Aquilo era um convite para sairmos? Continuei encarando o celular até a luz dele apagar e a tela bloquear sozinha. Eu ia aceitar mas não sabia como fazer para parecer não me importar com aquilo como se fosse grande coisa.

—Pietra, você acabou de se decepcionar com um cara não faz nem 24h, vamos com calma. – sussurrei para um mesma e respirei fundo

“Combinado. 10h30m, pode ser?”

Nos despedimos e deitei sorrindo sozinha e pensando sobre o que vestiria na manhã seguinte.

Acordei extremamente disposta e sentindo vontade de cantar alto qualquer música e por isso tomei banho cantando alto o que acordou as meninas que reclamaram da minha falta de respeito pelo sono dos outros.

—Porque está tão animada? – Greta levantou da cama assim que saí do banho

—Bom, pensei no que me disseram sobre o Ivo e decidi que vou tentar dar uma chance para descobrir o que sinto por ele.

—“Tentar dar uma chance” já é um grande passo para a Pietra que disse que só namoraria com 50 anos. – ela fez piada e eu revirei os olhos.

Continuaram fazendo brincadeira enquanto eu decidia que roupa usar, até que decidi por uma mini saia jeans com uma blusa social branca e sapatilha. Respirei fundo e desci para tomar café torcendo para não encontrar com ele. Comemos juntas e subimos para o quarto novamente. Escovei e fiquei conversando com ela até dar a hora de sair.

“Eei, nos vamos mesmo né?Desço em 10 minutos”

Ivo enviou mensagem faltando exatamente 10 minutos para o horário combinado. Respondi dizendo que já ia descer também e continuei conversando com as meninas.

IVO

Quando enviei a mensagem para Pietra dizendo que descia em dez minutos eu não queria parecer desesperado, mas já estava pronto para sair fazia mais de uma hora. Sentado na cama arrumado e me perguntando que diabos de hora para me dar dor de barriga. Respirei fundo várias vezes e troquei aquela droga de camisa no mínimo três vezes.

—Ta tudo bem, Ivo? – Quirino me olhava por cima do celular franzido a testa – Pra onde você vai?

Eu não conversaria sobre isso com ele.

—Alugar uma fantasia nova pra hoje.

—Você perdeu a noite de ontem, foi hilário.

—O que houve ontem? – Perguntei sem animo afinal aquilo não me interessava, só queria que o tempo passasse logo e esperava que Quirino voltasse logo para o quarto dele.

Quirino começou a contar coisas bobas que aconteceram na festa, quem ficou com quem, brigas e de repete ouvi a menção do nome da Pietra.

—Espera, quem ta afim dela?

—O Felipe, cara. Ele conseguiu entrar com bebida escondida e ficou  muito bêbado,  soltou essa sem querer, aposto. Hoje vou encher o saco dele sobre isso – ele ria como se fosse uma grande piada e em seguida disse que precisava ir

Sentei na cama e fiquei pensando a respeito daquilo. O Felipe sempre foi próximo dela mas jamais imaginei que fosse afim da Pietra. Aquilo me causou um extremo desconforto, não que eu tivesse qualquer coisa a ver com isso, mas causou. Desci para o saguão do hotel no horário combinado e nem dois minutos depois a Pietra apareceu.

—Oi – ela parecia extremamente confortável enquanto eu parecia que ia derreter de tanto que suava de nervoso. Porque eu estava nervoso? Eu nunca fiquei nervoso perto dela mesmo…bom…esquece.

—Trouxe a outra fantasia para devolvermos a loja? – Perguntei por perguntar pois eu estava vendo ela com a grande sacola na mão e a fantasia de sereia aparecendo

—Sim, sim – ela mostrou a sacola – já pensou no que quer usar agora?

—Eu não faço ideia, vou ver se encontro algo legal por la.

Notei que Felipe e Abner estavam sentados na recepção conversando baixo e nos olhando. Antes eu apenas pensaria que estavam achando estranho eu e Pietra tão próximos de repente, mas agora sabendo que Felipe era afim dela, eu já imaginava que não era apenas isso que incomodava os pensamentos dele.

Saímos assim que o táxi chegou e fomos em silêncio até a loja. O lugar me incomodava pois era grande demais, porém com coisas demais. Gosto de coisas práticas e ali haviam muitas sessões de roupas para andar. Como eu já imaginava, Pietra ia querer andar em cada ma delas até achar uma roupa pra ela.

PIETRA

Fiquei o caminho inteiro desejando pensar em algo para não ficarmos calados todo o tempo, mas nada me veio a cabeça então apenas me mantive olhando a paisagem sem realmente vê-la já que meu pensamento estava longe. Entramos e devolvemos as fantasias antes de irmos procurar novas roupas.

—Bom – comecei a falar – nada de tartarugas ninjas, os meninos já usaram, nem gari, o Heitor pegou essa já..

—Porque eu me fantasiaria de Gari? – ele riu -  Porque qualquer pessoa além do Heitor, faria isso?

Rimos e continuamos a passar pelas fantasias

—Príncipe não – ele falou e lembrei que Quirino estava fantasiado disso na outra noite – Pescador piorou – ele bateu na roupa que Igor havia usado na noite em que me sequestrou – Que tal Policial?

—É a roupa que as guias usaram né? No caso, a feminina claro.

—Ah, verdade. Vão me confundir com um dos seguranças da boate.

—Ah sim, porque você tem muita cara disso – eu ri

—Ué! Eu posso ter cara de segurança!

—Não mesmo – eu continuei procurando outra pra ele – você tem cara de mauricinho e não de homem sério.

—O que? -  ele parecia ofendido – Eu sou um homem sério!

—Primeiro, você não é um homem, é um menino – eu continuava sorrindo do desespero dele – você em 16 anos! Mas se quer saber, eu não quis dizer que não é sério… você entendeu.

—Não entendi não. – ele tentava esconder que estava chateado – você me acha infantil? Tipo, muito criança?

Pensei um pouco enquanto via a roupa de Harry Potter que alguém havia usado na festa mas eu não me lembrava quem.

—Não é que você seja infantil – eu pensei bem antes de falar e ele esperava impaciente pela conclusão do meu pensamento – só acho que você esconde o que sente e disfarça usando de atitudes infantis. Por exemplo, se você tem um sentimento caridoso, de empatia e quer ajudar alguém, você prefere fingir que não sente aquilo e agir de maneira imatura como com xingamentos e piadas, só pra esconder que você tem sentimentos – virei para ele que me seguia enquanto eu falava andando entre as roupas – não sei se esta me entendendo – percebi sua expressão pensativa e achei que ele estivesse mais confuso do que antes – não te acho infantil, não mais. Só acho que você tenta esconder que tem sentimentos.

—Eu tenho sentimentos – ele disse de repente – tenho muitos sentimentos. Eu …não sabia que eu agia assim. Quer dizer, sabia…eu só… não sei.

—Achei uma fantasia perfeita – falei em seguida já que percebi que ele estava desconfortável – Vampiro!