A ilha - Livro 2 escrita por Letícia Pontes


Capítulo 5
Capítulo 04 - Lembranças


Notas iniciais do capítulo

Voltei depois de um ano afastada daqui.
Perdi o computador aonde estava salvo vários capítulos prontos e isso me chateou demais. Mas cá estou.



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PIETRA
       
"Porque está acorrentada?"

 Provavelmente já era perto do horário de almoço quando ouvi uma voz feminina perto de mim. Levantei a cabeça e me deparei com uma jovem sereia me observando curiosa enquanto também olhava em volta.

"Por favor, me ajude!"
"Porque está acorrentada?" -
Ela repetiu ainda desconfiada
"Juro que não fiz nada. Foram humanos, eles me acorrentaram aqui."

Me arrependi em seguida por ter dito a palavra "humanos", ela se assustou somente com aquele nome e começou a se afastar.

"Por favor..."

Supliquei e ela mesmo contrariada se aproximou de mim e observou a corrente. Me fez sinal para esperar e então saiu por um tempo. Achei que ela havia ido embora, mas voltou com um alicate gigante que havia conseguido em algum lugar. Ela me entregou e nadou rapidamente para longe. Tirei aquela corrente o mais rápido que pude, apesar de não ter sido tão rápido assim. Tirei os cartões das câmeras que haviam sido posicionadas e os destruí, nadando rapidamente para o mais longe possível. 

Me coração estava disparado quando finalmente parei de nadar sem saber mais onde estava. Fiquei boiando com a cabeça fora da água e me segurando para não chorar, todos deveriam estar desesperados com meu sumiço e eu não sabia que desculpa daria.

 

IVO

Estávamos todos nos botes quando Pérola e Nixxie surgiram devagar na água. Mesmo no escuro da noite e com o cuidado delas, foi bem visível quando duas cabeças surgiram da água. 

Uma das meninas gritou agudo e se manteve de olhos arregalados e de boca aberta por um tempo. 

—Pessoal - falei devagar - essas são Nixxie e Pérola. São amigas da Pietra.

Ninguém falou nada, o silencio foi sepulcral e eu via as interrogações no rosto de cada um deles.

—Olá! - Pérola falou suavemente enquanto Nixxie se mantinha com cara fechada

—O que esta acontecendo? - Fabrício falou desconfiado - De onde vocês vieram? - Ele olhou para dentro da água como se quisesse achar uma lógica em duas garotas emergindo  em alto mar. Infelizmente não foi respostas que ele achou e sim mais perguntas - O que é isso? - Ele apontou a cauda da Pérola.

 -O que merda é essa? -Heitor também olhava 

As menina continuavam caladas então decidi soltar tudo de uma vez antes de mais uma pergunta.

—Elas são sereias - falei me sentindo ridículo - e a Pietra também. - Os olhares se alternavam entre mim e a cauda da Pérola - São amigas dela e estão aqui para nos ajudar a acha-la.

—Eu vou embora - uma das loiras se pronunciou já começando a remar

Eu teria trabalho para convence-los e não tínhamos muito tempo para isso.

 

PIETRA

 Nadei para a praia e sai da água tentando encontrar algo para me vestir mas aquilo foi inútil por bastante tempo. Andei dentro da água me sentindo totalmente exposta estando nua ali, mesmo que não houvesse ninguém me vendo. Depois de vários minutos encontrei um chalé parecido com o que Igor morava e esperei longos minutos antes de decidir que estava bem para invadir.

Peguei  a roupa que melhor me servia e caminhei procurando chegar na pista.

 

IVO

 Voltamos ao hotel em completo e absoluto silencio, ninguém parecia muito convencido de tudo mas não haviam como negar tudo o que viram. Apenas daria a eles tempo para que entendessem ou ao menos tentassem. Combinamos de nos encontrar de manha no saguão para continuarmos procurando pela Pietra e para os outros diríamos que ela estava com cólica trancada no quarto, não que eu achasse que isso era motivo para ficar no quarto o dia todo, mas as meninas concordaram que fazia sentido.

 

Na manhã seguinte eu estava no horário combinado lá no saguão mas os outros demoraram quase uma hora para aparecer. Era 9h da manhã quando saímos de lá. Fui recheado de perguntas feitas pelo grupo de amigos que ainda pareciam incrédulos, pareciam também ter conversado sobre tudo entre eles antes de me encontrarem.

Eu caminhava depressa na frente e ficando irritado com tantas perguntas. Não havia conseguido dormir direito de tanto pensar onde ela poderia estar e agora isso. 

—Chega! Eu não sei nada mais além do que contei a vocês - falei irritado - Eu estou tão desesperado quanto vocês então colaborem e parem de me encher por favor.

Eles cochicharam entre si boa parte do tempo até chegarmos no local combinado com Pérola. Já passava das 10h quando chegamos lá.

 

—Vocês a acharam? - Pérola perguntou ansiosa - Conseguiram algo?

—Nada - Falei desanimado - O que descobriram? - Cruzei os dedos esperando que elas tivessem qualquer notícia boa para nos dar

—Sinto muito - ela parecia triste -  na verdade só temos notícia tristes.

—Algo está acontecendo - Nixxie se pronunciou - não poderemos nos manter aqui.

—Do que estão falando?  - Heitor se pronunciou pela primeira vez 

—Carnívoras estão vindo para cá. De alguma forma a notícia sobre a existência da Pietra se espalhou e isso esta causando uma guerra.

—O que são as Carnívoras? - Fabrício demonstrou a preocupação de todos quando falou

—São sereias, mas são carnívoras - Nixxie falou impaciente - Vamos embora, pelo menos eu vou. Não vou me permitir morrer por causa das idiotices de vocês duas - ela apontou para a Pérola ao concluir a frase.

 -Não podemos abandona-los, Nixxie - Pérola a segurou

Não adiantou de nada, ela se soltou e nadou par longe nos abandonando ali.

—Vou procurar mais informações sobre ela. Vocês deveriam voltar. Não podem desconfiar de vocês.

 

Já passava de uma da tarde quando decidi sentar do lado de fora do hotel, não aguentava mais todo mundo feliz e falando sobre a segunda noite de festa, muito menos os amigos de Pietra me cercando e falando sobre ela o tempo todo. 

—Aonde você está, Pietra?

Devaneei sozinho sobre os meus últimos dias ali e de como as coisas haviam mudado entre eu e Pietra. Éramos amigos agora. E por mais que aquilo tivesse começado a tão pouco tempo eu sentia que tivera sido mais sincero do que minha amizade com Quirino. Jemima nunca foi uma amiga mesmo, só se interessa pelo status que a minha família pode proporcionar a ela. 

Pietra era sincera. Sempre foi. A sinceridade dela não começou quando nos aproximamos, ela já era sincera desde sempre. A nossa primeira briga aconteceu quando ainda tínhamos muita pouca idade, ela havia acabado de chegar na cidade, nós tínhamos sete anos de idade e ela me viu pegando o lanche de uma garota novata também, a Eliana. Ela não hesitou em ser sincera com a garota e a professora e como eu já havia comido o lanche da menina, ela dividiu o dela. Eu sei que olhando agora, foi uma infantilidade, mas eu era uma criança afinal. Eu a odiei porque levei uma surra do meu pai. Não que ela estivesse errada, mas eu a odiei. Ela entregava qualquer coisa que eu fizesse e nem notava que tudo que eu fazia era pra chamar a atenção dela, pena que chamava da forma errada.  Ao longo dos anos eu passei a apenas querer irrita-la. Ela sempre tão certinha, tão cheia de regras e de limites pessoas que impunha em relação a tudo.

Olhei o relógio, eram 15h em ponto.Nada da Pietra. Eu deveria mesmo chamar a polícia? Peguei o celular e disquei 190. Eu deveria falar com os amigos dela primeiro? Que se dane. Disquei e aguardei.


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