A ilha - Livro 2 escrita por Letícia Pontes


Capítulo 19
Capítulo 18 - Sem despedidas


Notas iniciais do capítulo

Já já eu volto pra Pietra. Aguardem com tensão haha



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IVO

—Eu vou embora com você.

Nunca vi minha mãe tão feliz por eu ter aceitado ir morar com ela em outro estado. Eu não estava feliz, mas minha esperança era justamente encontrar essa felicidade. E eu sabia que minha mãe precisaria de mim.

Pensei muito naqueles últimos dia antes de tomar a decisão de ultima hora para viajar e definitivamente eu não queria estar perto de todas aquelas pessoas. E eu não SUPORTARIA estar perto de Pietra daquela forma. Me sentia ridículo e menosprezado por ela. Eu precisava de novos ares e novas pessoas na minha vida. Eu precisava crescer.

 

Começar o segundo ano do ensino médio em um novo ambiente foi extremamente difícil para mim. Eu nunca havia mudado de escola em toda a minha vida. Cresci no mesmo ambiente e mesmo quando raramente chegavam alunos novos, eram eles os novatos, era eles à terem que se adaptar e não eu. Por algum motivo a minha mãe me colocou em uma escola de nível bem inferior à minha anterior e a dificuldade de adaptação já começou por ali. As pessoas eram mal educadas e só no primeiro mês presenciei uma briga entre professor em aluno que resultou em uma advertência severa para a aluna. Havia uma cantina no andar inferior e lá só tinha coxinha para vender então eu tratei de fazer meu próprio sanduíche natural em casa, igual o que vendia na escola anterior.

 Na primeira semana correu tudo bem em casa. Uma casa nova, pequena, apenas dois quartos e com uma garagem para dois carros. Minha mãe veio com o carro dela então não dependeríamos de outro meio de transporte. Ela fez grandes compras para nossa dispensa tanto alimentícia quanto higiênica e isso me deixou orgulhoso já que eu nunca vira ela comprar nada na vida além de álcool. Fizemos compras juntos, fomos almoçar fora juntos na primeira semana por duas vezes. Parecia que seria uma nova vida sem problemas.  Mas na segunda semana tudo começou a mudar. Primeiro ela começou a me ligar dizendo para não espera-la acordado. Depois parou de ligar. Nas manhãs seguintes ela sempre dormia até tarde, as vezes quando eu chegava da escola na hora do almoço, via que ela havia tomado café da manha mas voltara a dormir. Eu reconhecia aqueles sinais. Então já no final do mês de fevereiro comecei a dormir a tarde toda para poder ficar acordado de noite esperando ela chegar.

Assim como eu já vinha imaginando, mas torcendo para estar errado, ela estava chegando bêbada toda madrugada. As vezes pela manhã. Comecei a pensar em arranjar um emprego e procurei nas coisas mais banais que encontrei, desde uma lanchonete de esquina de rua como em lojas de shopping. Aquela não era a realidade da minha vida, mas eu sabia que teria de passar a ser se eu não quisesse que faltasse comida em casa. Na primeira semana o meu pai me ligava todos os dias, mas à partir da segunda semana ele passou a ligar só nos finais de semana e no resto da semana mandava mensagens. Agora ele só mandava mensagens e eu preferia assim.

Primeiro de Março. Meu primeiro emprego. Me sentia nervoso, ansioso, empolgado e assustado. Uma espécie de brinquedoteca para cachorros no shopping precisava de funcionários urgentemente e eu acabei sendo sortudo ao conseguir o emprego. Achei que teria grandes dificuldades, mas acabou sendo um trabalho divertido e cheio de aprendizado. Lidar com os animais era fácil, com os humanos que era o problema sempre.

Para mim o mês de Março passou se arrastando. Uma funcionária da minha idade estava claramente interessada em mim e fazia questão de todos os dias me chamar para sair, mas eu estava todos os dias muito preocupado em chegar em casa para ter interesse em sair com ela.

Certo dia cheguei em casa e a polícia estava lá. Minha mãe havia feito uma grande bagunça em um bar ao não ter dinheiro para pagar e eu tive que recorrer ao meu pai para pagar aquela dívida.

—Você vai vir morar comigo! -  ele havia dito em ligação naquele dia - Não tem o menor cabimento. Eu não acredito que você esta trabalhando, você deveria estar concentrado em seus estudos e não arranjando um emprego  qualquer, meu filho - ele transparecia estar bravo e decepcionado ao mesmo tempo

—Pai, eu quero ficar aqui. Está tudo bem, vou dar um jeito nisso.

—Você não entende? O problema está nisso: você não tem que dar jeito em nada. NÓS somos seus pais e NÓS é quem cuidamos de você. Não é para ser ao contrario, você é uma criança, Ivo. Se até o final do mês isso não mudar, você vai vir embora.

Desliguei o telefone com raiva e encarei a minha mãe do outro lado da sala que ouvia minha ligação que estava no viva-voz.

—Será que eu sou mais maduro do que você mãe? -  gritei

—Meu amor... - ela se aproximou estendendo-me os braços - Me perdoe. Prometo que vou melhorar.

As promessas da minha mãe sempre foram extremamente vazias e eu sabia que não valiam de nada, como sempre.

—Então entre em uma clinica de reabilitação -  falei sabendo o que ouviria

—Eu não sou uma alcoólatra - ela mudou a expressão de carinho para raiva - Vá para o seu quarto.

Joguei o celular no sofá e saí em direção à porta ouvindo-a me chamar de volta. Bati a porta e caminhei pela calçada sem direção certa.

 Se me dissessem à alguns meses que eu estaria trabalhando em uma loja de shopping, estudando numa escola classe baixa e morando em um bairro suburbano com a minha mãe alcoólatra, eu diria que quela pessoa não batia bem da cabeça. E depois daria uma surra nela para parar de falar merda.

Sentei no banco pichado da pracinha perto da escola e observei aquele lugar totalmente diferente de onde eu viera. Os bancos eram quebrados, pichados e fediam a mijo. Haviam canteiros aonde deveriam ter flores mas apenas crescia mato alto misturado com bitucas de cigarro e garrafinhas de refrigerante e cereja. As lixeiras estavam vazias. O lixo no chão. Eu conseguia ver grupos espalhados, alguns fumavam, outros de pessoas se pegando, e dava para ouvir um som alto de funk em algum lugar.

—O que o mauricinho esta fazendo aqui? - um garoto que eu reconhecia sendo da minha sala se aproximou com outros quatro. Alguns eu reconhecia da escola - Volta pro teu mundinho meu irmão, aqui não é lugar pra você. - Ele parou como se estivesse pensando em algo - Bom...mas é lugar pra sua mãe. Uma alcoólatra se encaixa bem por aqui, não acha?

Levantei e caminhei de volta para casa sem ser mais incomodado pelos garotos. E pensar que eu fazia parte desse tipo de grupo não fazia muito tempo. Eu não acreditava que eu havia sido tão idiota, porque agora olhando para eles, enxergava-os apenas como um bando de criança sem amor próprio, sem nada para fazer...agora eu entendia porque Pietra nunca gostou de mim.

 

 


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Notas finais do capítulo

Sim, capítulo novo o dia seguinte.



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