Inabalável SARA escrita por tsubasataty


Capítulo 9
7.




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Naquela mesma noite, uma forte enxaqueca atingiu Sara. Ela estava exausta.

A mulher tomou remédio, mas sabia que essa dor insistiria nos próximos 3 dias, como sempre acontecia com ela. Nesse dia, depois de tudo o que havia acontecido, ela se permitiu um banho quente no chuveiro. Nada de panos molhados ou lavar apenas o essencial. Ela queria um banho quente que pudesse lhe lavar a alma.

Marcou o cronômetro para tocar em 3 minutos. Esse era o tempo que Sara havia estipulado para seu banho. Sua caixa d’água tinha 2000L, afinal. Utilizando um total de 5 litros de água por dia (exceto pelos banhos esporádicos), Sara calculou da seguinte forma o consumo da mesma:

1 litro para consumo próprio;

1 litro para lavar rosto, mãos e partes íntimas;

1 litro para preparar chás e refeições;

1 litro para lavar louça;

1 litro para utilizar em sua plantação.

Até agora, tudo estava dando certo e, pelos seus cálculos, se nada acontecesse fora do planejado, a água duraria até o inverno.

Depois do banho, Sara guiou-se com o brilho de uma vela até a cozinha, para preparar um chá rápido de hortelã com mel. Seu estômago estava esquisito; e sua cabeça, insuportável. Ligou o fogão a gás e notou a chama extremamente fraca. Conseguiu apenas preparar aquela xícara de chá, antes do fogo apagar-se por completo. Ela tentou ligar novamente, porém sabia que tinha chegado o momento: depois de 2 meses, o gás enfim tinha acabado.

“Adeus refeições quentes pela manhã”, Sara pensou consigo mesma.

Tomou o chá em silêncio, encolhida no sofá.

Já faziam 2 meses desde que tudo havia começado e os sinais do isolamento social começavam a pesar para Sara – ela, por mais que fosse uma pessoa que não conversasse muito, era alguém extremamente sociável, que adorava a companhia dos demais. Agora, ela estaca presa naquela casa, sem ninguém com quem conversar, abraçar e tocar. Essa carência, essa ausência de pessoas ao seu redor, a estavam afetando mais do que Sara podia imaginar.

Naquela noite, subiu para o 2º andar, mas não seguiu rumo a seu quarto. Em vez disso, parou na porta de um quarto de criança, com as paredes pintadas de roxo e azul, repleto de prateleiras com carrinhos e bichos de pelúcia. O coração de Sara ficou apertado, algo subiu por sua garganta. Havia tanto tempo que ela não entrava ali... no quarto de seu filho.

Passou a mão pelas paredes, acariciou os bichinhos de pelúcia e percebeu o quanto a saudade de Scott ainda a machucava, na mesma intensidade que ela sentia falta de Alex. Os dois amores da sua vida.

Sara pegou uma pequena lanterna do bolso e iluminou o quarto ao seu redor. Procurava por um livro específico, que deveria estar ali em algum lugar. Abriu os armários, olhou embaixo da cama e em cima da mesa. Foi só quando se sentou na cama, sem ter mais ideias, que viu embaixo do travesseiro alguma coisa dura escondida ali. Iluminou o lugar e foi então que encontrou o livro que tanto procurava:

Como Sobreviver ao Apocalipse Zumbi, por Scott Wolf

Sara encostou-se na cama e abriu o livro que o filho escrevera com a própria caligrafia visivelmente esforçada de uma criança, todas as suas ideias e tutoriais de como se manter vivo num mundo apocalíptico. Sim, o filho de Sara era realmente aficionado nisso, e não muito atrás vinha seu marido. Ah, Alex... Sara sentia uma saudade absurda do esposo, um sentimento que não ousava caber no peito.

Ela folheou aquelas páginas e leu todas as linhas como se a voz do filho estivesse recitando-as para ela. Ela ouvia tão nitidamente as gargalhadas e a voz confiante de Scott que era como se o garoto estivesse ao seu lado agora, compartilhando aquele momento único com ela. Quando Sara chegou na última página escrita, a primeira lágrima rolou pelo rosto da mulher. Ela levou o livro ao peito e deitou-se na cama, abraçando com força aquele objeto que a havia conectado ao filho, mesmo que por alguns poucos instantes.

Chorou até adormecer e sonhou com Alex e Scott. Foi um sonho quente, de um dia ensolarado de verão. Eles sorriam, tomavam sorvete e nadavam na piscina. Estavam todos felizes, vivos e completamente alheios a qualquer indício de um mundo que em breve estaria repleto de mortos-vivos.

**

Na manhã seguinte, Sara ficou estupefata de alegria quando viu sua pequena plantação finalmente dando frutos. O espinafre foi o primeiro a terminar de nascer, e as cenouras já mostravam suas primeiras folhas medianas. Dentro de duas semanas, Sara imaginou que tudo já estaria pronto.

Graças ao livro do filho, ela havia lido a respeito de como cozinhar alimentos sem gás ou eletricidade. Sara precisava de: 2 latas vazias de refrigerante, alumínio, álcool etílico e fósforo. Somente isso.

Felizmente, havia algumas poucas latas de refrigerante na sua despensa, algo que de início ela havia esquecido de colocar na sua contagem. Sendo assim, o primeiro passo era cortar as latas em 3 partes iguais e utilizar apenas a parte que continha o fundo da latinha. Para montar o fogão, era preciso dois fundos desses. Em seguida, a mulher perfurou 5 furinhos no centro do metal e fez o mesmo nas laterais de uma das latas também, imitando exatamente um fogão – eram nesses furos que as chamas iriam sair.

O segundo passo era juntar as duas latas até elas ficarem completamente fixas uma na outra. Depois, Sara encheu de álcool o interior do “fogão”, pegou um papel alumínio, moldou numa espécie de vasilha e jogou álcool ali também. Acendeu o fósforo e o levou até ali. As chamas azuis apareceram no mesmo instante. Com um pegador comprido, para não queimar as mãos, a mulher levou seu mini fogão até as chamas e esperou o produto esquentar por alguns minutos até as chamas saírem pelos buraquinhos do fogão. Sara sorriu. Havia dado realmente certo.

Ela havia improvisado mini grelhas com um metal maleável e a panela de arroz, milho enlatado e espinafre já estava pronta. Portanto, juntou as grelhas ao fogão, colocou a panela em cima e esperou.

As chamas duraram 20 minutos. Tempo suficiente para sua comida cozinhar e ficar pronta. 


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