Inabalável SARA escrita por tsubasataty


Capítulo 8
6.2




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/742514/chapter/8

A enorme escada da casa de Sara estava empoeirada e esquecida num canto. A mulher teve dificuldades para tirar aquele pesado objeto do lugar e levar até onde pretendia: o muro que dividia a casa dela com a da família Monteiro. Depois de todo o suor tomar conta de seu corpo, de usar todas as forças de seus braços e pernas, a escada finalmente estava posicionada onde Sara queria.

Respirando fundo e enxugando o suor da testa, a mulher começou a subir.

Quando atingiu o topo, a corda com gancho ela usaria agora para descer até a outra casa e já a deixaria preparada e presa ao muro para utilizar na volta, caso precisasse sair às pressas dali. Sendo assim, era hora de Sara invadir a primeira casa.

Os músculos do corpo de Sara, mesmo treinados, não estavam completamente preparados para aquele tipo de descida, até porque ela nunca havia feito. Tudo o que a mulher sabia – inclusive os nós que havia dado na corda, que eram apoios para mãos e pés – ela havia aprendido na televisão. Nunca imaginou que algo que a entreteve anos atrás seria usado num futuro apocalíptico, dominado por zumbis.

No final da descida Sara se confundiu por um único instante e pisou em falso, perdendo o equilíbrio e caindo de bunda no chão. Ela deu um grito agudo e levantou-se do solo com ambas as mãos apoiadas nas costas, no lugar onde havia ficado dolorido. No entanto, a mulher não tinha o que reclamar: ela havia conseguido chegar na primeira casa.

 Foi direto rumo à porta dos fundos que levava à cozinha. Estava trancada, claro.

Sara, então, pegou seu canivete e tentou forçar a fechadura. Não conseguiu. A faca era muito grossa e não cabia no buraco da fechadura. Assim, tentou em seguida pressionar o vão da porta. Poucos instantes depois, ela se abriu com louvor.

A mulher entrou naquele território num silêncio descomunal. Um cheiro forte de abandono e podridão tomava conta do ar. Era um cheiro que vinha principalmente das frutas podres em cima da mesa e de algo morto se decompondo dentro da geladeira; geladeira esta que Sara sequer cogitou em abrir. A mulher tinha ainda a sua sanidade, afinal.

Com a mão cobrindo a boca e o nariz, enquanto a outra segurava o canivete a sua frente, Sara percorreu o restante da cozinha. Abriu os armários e tudo o que encontrou foi panelas e utensílios esquecidos pelo tempo. Seguiu até uma pequena porta e encontrou a despensa. Ou, em outras palavras, deu de cara com o que ela poderia chamar de Paraíso. Havia tudo ali que a mulher precisava: um saco enorme de arroz, macarrão, azeite, óleo, chocolates e diversos produtos em pó.

Foi a primeira vez em meses que Sara finalmente sorriu.

Um sorriso, sim, completamente genuíno.

A mulher colocou tudo às pressas na sua mochila e seguiu para os demais cômodos da casa. Encontrou apenas lembranças da família: porta-retratos empoeirados num canto, quadros pintados pelos filhos nas paredes e cadernos escolares perto da televisão – uma vida inteira abandonada.

Seguiu para o banheiro e encontrou algumas coisas interessantes: alguns potes de remédio, uma caixa fechada de sabonete, desodorante, uma caixa de primeiros socorros e dois frascos de álcool etílico. Sem pensar duas vezes, enfiou tudo às pressas na sua mochila. Passou rapidamente pelos quartos e não encontrou nada interessante. No inverno, talvez, Sara voltaria ali para buscar as cobertas. Agora a sua mochila, entretanto, já estava realmente cheia.

Olhou pela janela e viu que apenas um restante do sol continuava no horizonte. Era hora, portanto, de voltar para casa.

Fechou a porta da cozinha, mas sem trancá-la, e deu uma olhada rápida no quintal. Havia um barulho baixinho vindo de algum lugar, um som distinto que Sara não conseguiu decifrar logo de cara. Ela deu mais alguns passos em silêncio e foi somente quando chegou perto do muro que separava da casa vizinha que o som ficou mais forte.

Era um barulho sinistro, que aumentava de intensidade a cada segundo que ela permanecia parada ali, esperando. E foi então que Sara ouviu grunhidos e passos se aproximando. Foi nesse instante que seu corpo reagiu e ela percebeu claramente que não iria esperar para descobrir o que era aquilo que havia de perturbador ali. Tudo o que sua mente e seu corpo gritavam era que ela precisava sair logo dali. Agora. Correndo. Rápido!

Sara alcançou a corda do muro e subiu o mais rápido possível aqueles poucos metros. Alcançou a escada de sua casa, tirou o gancho do muro e desceu os degraus. Seu coração estava aos pulos quando ela enfim atingiu o chão.

Apoiou as costas na escada e, enquanto agora permanecia sozinha na completa escuridão, com nada além de seu coração batendo aos pulos e o suor escorrendo por seu rosto, Sara pensou consigo mesma:

O que havia sido aquilo, afinal?


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Comentários?!