Inabalável SARA escrita por tsubasataty


Capítulo 4
3.




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Na semana seguinte Sara se manteve atenta à TV, rádio e mídias sociais. Mas a internet foi a primeira a dar problema. Funcionava cerca de 1 hora, caía por 2 horas e voltava a funcionar por mais 1 hora depois. Repetiu esse ciclo por 5 dias seguidos até ser cortada de vez. Enquanto pôde, a mulher acessou fóruns online, tentou procurar experiências iguais à sua e sabia que, sim, os zumbis estavam infestando o mundo. Nos jornais matutinos diziam que a África inteira, parte da Ásia e Europa tiveram seus voos e qualquer forma de viagem cancelada. Eram consideradas as principais áreas de risco.

Muitos fóruns e notícias estampavam no título as palavras “zumbi” e “morto-vivo”. Diversas pessoas já sabiam, já tinham consciência de que eles finalmente eram reais – e estavam claramente com medo. Grandes cidades de diversas partes do mundo já haviam caído. Elas foram saqueadas, seus prédios estavam em chamas e o trânsito nas rodovias possuía quilômetros de distância. O mundo vivia o caos.

No jornal local, no entanto, Sara ficou absorta quando os jornalistas contratados diziam apenas que era alguma doença, algo que em breve seria solucionado pelas autoridades e que, sendo assim, a população não precisava temer. Sara estava agora furiosa. Naquela pacata cidade do sul, ela fora uma das únicas que realmente havia estado cara a cara com o perigo, confrontou o mesmo, e sabia que ainda haveria muito mais – portanto, a população tinha, sim, muito a temer.

Quando a internet e o telefone foram cortados, Sara já havia se certificado de que seus amigos tinham saído da cidade e estavam a caminho de um lugar seguro. O rádio à pilha ainda funcionava e todos os dias a mulher procurava por notícias sobre os zumbis e as demais atualizações sobre o seu país. Pelo rádio, ela ouviu que as primeiras cidades a cair foram as capitais e todo o litoral. Isso era mais que lógico, Sara pensou. Quanto maior a concentração de pessoas, maior a chance de algo se proliferar e contaminar tudo de vez.

A eletricidade foi definitivamente cortada 10 dias depois de Sara ter iniciado seu plano de sobrevivência. Ela, felizmente, já havia planejado quase tudo. Todos os dias, durante horas e horas, Sara escrevia num caderno anotações sobre alimentos, datas de validade e tudo que pudesse a ajudar a se manter viva.

Os únicos produtos perecíveis que haviam em sua geladeira – leite, queijo, carne, sorvete e manteiga – foram consumidos nos primeiros 7 dias. Frutas como banana, maça e laranja também fizeram parte dessa primeira semana. Seu plano alimentar para os próximos meses, portanto, levava em conta a perecibilidade dos alimentos, as datas de validade dos produtos industrializados e, por fim, as estações do ano. Sua maior preocupação era o inverno, que começaria dentro de 6 meses: extremamente frio e seco, com neve e tempo fechado. Sem aquecedor e com pouco alimento, Sara ainda não sabia o que precisaria fazer ao certo.

Quando a internet foi cortada, o que Sara tinha dentro de seu plano de alimentação para os próximos 7 dias era consumir as batatas, outras poucas verduras que restavam, cebola, o últimas fatias do pão de fôrma e os ovos, pouco a pouco. A mulher todo dia sorria agradecendo a existência de seu pequeno vaso de tomates e sua plantação de manjericão, cebolinha e outras hortaliças. Sem eles, a comida jamais teria algum sabor.

Era verão e a chuva não tardou a aparecer pelo menos 2 vezes por semana – Sara aproveitava para estocar água e manter sua pequena plantação saudável. Tudo se mantinha dentro dos conformes.

Para se manter em forma e ocupar não somente sua mente, mas seu corpo também, Sara começou a fazer flexão e abdominal em casa. Seus treinos consistiam em trabalhar abdômen, peito, ombros, braços e pernas. Mesmo trancada em casa, sem possibilidade de sair, Sara sabia que se algo viesse a acontecer, ela precisava estar fisicamente preparada. Começou com treinos de 30 minutos, que rapidamente se tornaram 1 hora e alguns dias chegavam à 1 hora e meia.

Trabalhar equilíbrio, resistência e respiração também faziam parte de seu treino. Seu corpo sabia o que tinha que fazer, sabia as posições e cada um dos passos, pois antigamente realizara todos eles anos e anos seguidos, com a destreza de um mestre. Fora 2 anos antes que Sara havia desistido de quase tudo em sua vida, quando ela recebeu a derradeira notícia de que seu marido e filho haviam sofrido um acidente e tinham falecido. Nada na vida a havia preparado para receber aquele golpe duplo de uma só vez. Desde então, seu trabalho havia sido a sua única salvação. Era como se nada mais importasse na sua vida – até que o mundo resolveu trazer seus mortos de volta à vida e tudo desabou de vez. Foi como se, a partir da destruição, a própria Sara tivesse renascido e voltado a viver na realidade outra vez.

Num fim de tarde, a mulher preparou uma mochila de mantimentos que iria esconder num compartimento secreto no piso da cozinha projetada, caso algo viesse a acontecer. Escondeu um grosso casaco, juntamente com enlatados de atum, sardinha e feijão, nozes, barras de cereal e uma conserva de palmito. Eram alimentos para aproximadamente uma semana de consumo.

O restante dos produtos mais duráveis ela colocou tudo na despensa: arroz, macarrão, farinha, sal, óleo, azeite, açúcar, mel, carne de sol, amêndoas, castanha-de-cajú, aveia, as demais barras de cereal, uma conserva de pêssego, mais enlatados de atum, sardinha e feijão e leite em pó. Também havia leite condensado, bolachas e chocolates. Estes últimos, juntamente com saquinhos de chás para infusão, seriam deixados para o inverno, quando ela mais precisaria de energia para se manter aquecida e ativa.

No nono dia, quando o pão de forma acabou e restavam 5 ovos e 1 litro de leite fechado, Sara preparou com metade da farinha que possuía um bolo simples e um pão de forno fácil para ela consumir na semana seguinte. Ainda havia, felizmente, eletricidade em sua casa.

Um cheiro delicioso pairou no ar quando esses pratos ficaram prontos e Sara deixou ambos esfriando em cima da pia, mesmo com o estômago roncando e muito ansiosa para experimentar uma fatia de tudo aquilo. Enquanto aguardava, a mulher se dirigiu para seu quarto no andar de cima, o único com vista para a rua.

Nos últimos dias, uma movimentação distinta de carros mostrou que muitas pessoas estavam indo embora do bairro. Sara algumas vezes conseguia ouvir buzinas tocando e vozes gritando ao longe. Ela, entretanto, sabia que deveria se manter escondida, quieta em seu canto. Se descobrissem a quantidade de alimentos que ela possuía em casa, além das hortaliças e a plantação que em breve daria frutos, a mulher não teria futuro naquele mundo apocalíptico. Às sombras Sara deveria se manter, escondida e, sem dúvidas, longe de toda aquela confusão de carros, vozes e pessoas com medo.

No fim do décimo dia, a eletricidade foi cortada. As noites, então, pouco a pouco começaram a ser as piores para Sara. Sem nenhum elo com o mundo exterior, sem energia e calor humano, os pesadelos começaram a invadir os sonhos de Sara. Sonhava com Scott e Alex, cobertos de sangue em cima da mesa de um hospital, pálidos e duros como cadáveres; sonhava com um inverno frio e cheio de zumbis; sonhava com tudo. E acordava coberta de suor quando os primeiros raios de sol invadiam seu quarto.

No entanto, um dia após o corte da eletricidade, não foram pesadelos que acordaram Sara. Ela estava dormindo em seu quarto quando um barulho forte, extremamente agudo e próximo, a tirou de seus sonhos subitamente. O barulho se repetiu, de novo e de novo. Sara engoliu em seco, ela sabia claramente identificar um som como aquele. Havia vozes gritando e mais tiros foram disparados de repente. Ela, no entanto, já tinha percebido o pior.

 Os sons estavam muito, muito próximos...

Eles vinham exatamente da rua onde Sara morava.


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Notas finais do capítulo

E agooooora?!