Inabalável SARA escrita por tsubasataty


Capítulo 26
10.




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/742514/chapter/26

— O que foi? – Sara perguntou a Mike – Você está tão concentrado...

Mike e Sara estavam nus abraçados na cama. Envolvidos pelo lençol, a mulher observada o homem ao seu lado perdido em pensamentos.

— São todas essas notícias que estão preocupando você? – ela tentou de novo.

Mike respirou fundo, beijando a testa de Sara e afagando seus cabelos.

— Também... – ele murmurou – Tem muita coisa acontecendo, embora, seguros aqui, não estamos sofrendo com nada disso. Por enquanto, pelo menos...

Sara piscou, esperando o homem continuar.

— O zunami está subindo o norte do país até chegar ao centro do continente. Mas pelo caminho continuam devorando pessoas... Antes todos precisavam se defender de grupos menores de mortos-vivos, ninguém estava preparado para um exército de zumbis desse porte. Tenho medo do que pode acontecer depois...

— Você diz, caso eles venham para o sul novamente, mas em maior número? – Sara indagou.

— Sim...

— Acho que isso não vai acontecer... – ela disse depois de pensar por um momento – No frio eles estão em desvantagem e não há motivos para enfrentarem a neve e o congelamento outra vez.

— Você acha isso?

— Sim, e tem mais... Tem uma vantagem, Mike. Mais zumbis concentrados num só lugar: mais chances de conseguirmos eliminá-los rapidamente, com bombas e tudo mais. Se aquele helicóptero preto desconhecido estava numa cidade tão pequena quanto a nossa, imagine como deve estar nas cidades grandes...

Mike ponderou tudo aquilo. Sara tinha mesmo razão, as chances dos zumbis voltarem para o sul eram mínimas e era muito mais fácil, sim, liquidar grande parte deles se estivessem aglomerados num só lugar.

O casal, agora mais relaxado, conversou baixinho por mais alguns minutos, no entanto falaram de assuntos mais amenos, menos sombrios, e rapidamente pegaram no sono.

 

Os dias seguintes foram frescos e a tranquilidade reinou na casa de Sara. Claro que todo dia os quatro treinavam, cuidavam da plantação e buscavam por mantimentos, mas com a horda de zumbis longe dali, eles não tinham nada realmente sério com o que se preocupar ultimamente.

Durante a semana, as duplas: Sara e Mike e Iara e Tom revezavam os afazeres. Quem mais saía para buscar mantimentos eram Iara e Tom, todavia Sara ficou eufórica quando foi a vez dela e de Mike explorarem juntos a ala sul da cidade pela primeira vez.

Sendo assim, partiram cedo numa manhã nublada.

Seguiram a pé e conversavam baixinho, atentos a tudo ao redor. Mesmo que não houvesse muitos zumbis por enquanto, pessoas escondidas com más intenções poderiam estar vigiando-os e prontos para atacá-los a qualquer instante – estar alerta, portanto, era sempre fundamental.

Na zona sul se encontravam as escolas infantis, faculdades e alguns bairros residenciais. A dupla passou em frente a algumas escolas claramente saqueadas e decidiu entrar numa pequena creche localizada no fim de uma rua isolada. Ali, pelo menos, não estava com cara de ter sido surrupiada.

Enquanto caminhavam, Sara olhava abismada ao seu redor. O poder de recuperação da natureza, frente ao abandono da civilização, era gritante e imponente. Nas calçadas cresciam árvores cada vez mais altas, nas rachaduras das ruas plantas verdes mostravam a sua força e flores coloridas cresciam por todos os lados. Em meio à sociedade que beirava cada vez mais ao caos, a natureza se expandia como nunca. Aquele era um contraste entorpecedor.  

— Parece que está vazio. – Mike disse, tirando Sara de seus devaneios.

Aproximando-se da entrada da pequena creche, o homem abriu a porta e jogou uma pedra pesada ali dentro. O barulho dela ao atingir o chão ecoou pelo cômodo. Esperaram alguns instantes e nada de diferente aconteceu ali. Estava, portanto, vazio. Adentraram o lugar.

Em meio a carteiras e objetos jogados ao chão, poeira e mofo acumulados em diversos cantos, a cozinha no fim do corredor tinha a porta fechada. Aproximando-se devagar, Sara bateu na porta, esperando que algum zumbi estivesse ali. Diante do enorme silêncio, ela e Mike trocaram um rápido olhar e abriram a porta.

Um cheiro típico de um lugar fechado há muito tempo emanava dali de dentro. Colocando um lenço em torno da boca, os dois adentraram a cozinha. Havia diversas mamadeiras e produtos infantis espalhados pela pia, mas para a alegria de ambos a despensa estava cheia de produtos em pó dentro do prazo de validade e sem uma gota de mofo sequer.

Encheram rápido as mochilas com leite em pó, achocolatado em pó e suplemento vitamínico também em pó. Procurando em mais alguns cômodos, encontraram muito algodão, papel higiênico, pomadas para micose e outras anti bactericidas. Quando deram por encerrado a sua busca, voltaram para a rua.

Iam procurar mantimentos mais em algumas casas, mas quando ouviram um som distinto no fim da rua, a dupla apressou-se e seguiu na direção oposta. Sara sabia que já era hora de voltar para casa, afinal.

— Espera! – Mike disse quando alcançaram uma caçamba de lixo no fim da rua. Ele abaixou-se ali e puxou Sara subitamente.

— Você está doido?!

— Me desculpe. – o homem respondeu, claramente concentrado enquanto olhava devagar e com cuidado para a rua – Podem ser meus amigos... nossos amigos. O restante da trupe.

Sara lembrava-se vagamente de Iara contar sobre isso a ela, mas a amiga não aprofundara no assunto e parecia tão receosa a respeito deles que Sara sequer pensou em perguntar mais nada.

Respirando fundo, a mulher aguardou ao lado de Mike. Quando o som se tornou mais próximo, ela enfim foi para o outro canto da caçamba e olhou para o lado oposto da rua. Apertou os olhos e finalmente os viu.

Não, não eram Sabrina e Gabriel. Não eram sequer humanos.

Uma dupla de zumbis, um sem os dois braços e o outro sem a mandíbula, caminhava junto, a passos tortos e cambaleantes. Eles não tinham ouvido Sara e Mike, nem sentido a presença deles. Os mortos-vivos seguiram então em frente, na rua paralela àquela que a dupla se encontrava.

Alguns minutos depois deles terem ido embora, Sara viu Mike desabar no chão, infeliz.

Ela foi ao seu encontro e colocou um braço acolhedor ao redor dos ombros dele. Ficaram assim por um momento, completamente em silêncio.

Sara não disse nada, não perguntou nada. Porém, naquele dia ela percebeu o que o amado e o restante de seus amigos tanto ansiavam. Embora não ousassem dizer para ela em voz alta, Sara sabia. E agora ela tinha a prova, a certeza de que os amigos não tinham perdido a esperança.  

Eles iriam, sim, até a Ressurreição outra vez.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Hm...
Comentários?!
O que acham que vai acontecer agora?