Inabalável SARA escrita por tsubasataty


Capítulo 19
3.




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— Como está lá fora? — Nublado com possibilidade de zumbis.

 

Sara sentiu algo pressionando sua cabeça. Escutou também vozes, diferentes vozes ao seu redor.

Quando a dor se tornou forte demais, ela acordou e abriu os olhos devagar. Todo o seu corpo doía e cada pedacinho de pele, cada músculo, estava enrijecido, extremamente tensionado.

— Você acordou – uma voz feminina murmurou baixinho, tocando com cuidado a face de Sara.

Sara precisou piscar por alguns instantes até a imagem se formar devidamente na sua retina.

— Iara... – ela respondeu baixinho, quando reconheceu a companheira.

Ambas sorriram uma para a outra.

Sara olhou em volta e reconheceu Tom ali também. Mesmo com o rosto coberto com barba por fazer, a pele queimada de sol e novas rugas fundas na testa, a mulher sabia que aquele era o marido de Iara. Ao lado dele, no entanto, estava um desconhecido. Era um homem alto, de cabelos loiros e olhos cor de mel. Ele tinha o rosto sério e concentrado, também, uma vez que era ele que mantinha algo pressionado na cabeça de Sara.

— Foi só um corte, não tem nenhum sangramento interno – Mike disse, olhando enfim dentro dos olhos de Sara – Você vai ficar bem, não se preocupe.

O homem tinha uma voz grossa, voz de lareira. Seu rosto se mantinha sério enquanto cuidava de Sara, porém seus gestos eram calmos e gentis. Além disso, uma sensação extremamente cálida, acolhedora e confiável emanava daquele sujeito ao seu lado – talvez fosse por isso que Sara continuou quieta, ali deitada no chão, sem protestar uma vez sequer.

Esperou ser cuidada enquanto recuperava os ânimos.

Depois de alguns instantes, Mike se apresentou para Sara e ajudou-a a se sentar.

— Quanto tempo eu fiquei desacordada? – ela perguntou.

— Menos de uma hora. – Tom respondeu.

O grupo ficou em silêncio por alguns minutos. Sara pôde sentir a tensão que emanava entre eles. Não demorou a entender o que estava causando aquilo tudo. Prestando atenção no barulho que vinha ali do lado de fora, lembrou-se, com horror, do pesadelo que estava então se aproximando.

Zunami— ela disse em voz alta, mais para si mesma que aos demais.

— O exército de zumbis? – Iara indagou – Sim, eles chegaram...

A mulher engoliu em seco e apertou forte a mão de Tom. Eles se entreolharam em silêncio.

Em minutos, começaram a sentir o chão tremer mais forte ao seu redor. Grunhidos guturais vinham de todas as direções e todos escutavam claramente o som de corpos batendo nos portões, fazendo um barulho alto, quase ensurdecedor.

Sara colocou subitamente a mão na cabeça, com medo de haver algum resquício de sangue ali.

— Não se preocupe – Iara notou o que ela procurava – Mike limpou bem o ferimento antes de enfaixar. Os zumbis não vão sentir o cheiro de sangue.

Respirando aliviada, ajudaram Sara a ficar de pé e caminharam para frente da casa. Agiram quase inconscientemente. Embora a parte racional deles gritasse para se esconderem, dentro de casa num lugar seguro, a parte em alerta dos quatro queria chegar mais perto da rua, a fim de analisarem a situação.

Quando alcançaram a porta da sala, escutaram os portões da garagem de Sara fazendo barulho – era a horda de zumbis espremendo-se na rua apertada para seguir adiante.

— Daqui não conseguiremos ver nada – mesmo analisando, estupefato, as enormes vigas de metal que seguravam o portão a sua frente, Tom estava preocupado – Precisamos ir para algum lugar alto, nem que seja só um de nós.

A mente de Sara foi rápida, ela já sabia qual seria a solução.

— Iara – virou-se para a amiga – Suba na casinha na árvore e veja como está lá fora. Eu não posso subir, e precisa ser alguém leve e pequeno para caber dentro da casinha...

— Claro que vou. – Iara interveio resoluta – Podem contar comigo.

Então, sem perder mais tempo, ela colocou sua espingarda no ombro e, cuidadosamente, seguiu na direção da árvore e começou a subir os degraus de madeira. A mulher tomou uma precaução absurda, avançando bem pouco a pouco, pois o menor som poderia atrair a atenção dos zumbis.

Depois de alguns minutos, estava segura dentro da casa na árvore.

 

Iara abriu vagarosamente a pequena janela e espiou a rua afora. A imagem que viu ali embaixo fez seu estômago revirar.

Uma horda que parecia não ter fim, um cheiro de podridão que beirava ao absurdo. Havia ali muitos, muitos corpos rastejantes de mortos-vivos seguindo adiante, com as bocas escancaradas e caminhando quase grudados um no outro. O cheiro de corpos em decomposição era tão grande que obrigou Iara a cobrir depressa a boca e prender a respiração antes que vomitasse ali mesmo, dentro da casinha na árvore.

Ela escutava os grunhidos, e o som dos corpos batendo nos portões das casas. Seu coração batia na mesma intensidade, congelado de medo de ser pego por aquela horda. Só o pensamento... a mínima sugestão de que aquela ideia – aquele pesadelo –, poderia se tornar real corroía seu interior por completo.

Observou em silêncio os zumbis seguindo em frente. No entanto, olhava para o final da horda e sua vista não conseguia alcançar o fim. Quantos mortos-vivos haviam ali, afinal? Mike poderia calcular mais precisamente, porém Iara supunha que eram cerca de 10 mil... Dez mil monstros na porta da casa de Sara, o último lugar seguro naquela pequena cidade abandonada e recheada de zumbis.

Um grunhido assustado saiu da garganta de Iara quando ela viu dois portões de casas do início da rua caindo, devido a enorme pressão exercida pelos corpos dos zumbis. Os sons eram cada vez mais altos e o corpo de Iara estava trêmulo, coberto inteiramente pelo medo.

Afastou-se um pouco da janela, não aguentando mais ficar ali. Caminhou até a porta da casinha na árvore e olhou para os amigos. Fez gestos silenciosos com as mãos, de acordo com a língua de sinais que ela, Tom e Mike haviam aprendido na Ressurreição. Contou o que estava acontecendo ali fora e pediu para explicarem a Sara.

Voltou para a janela e permaneceu ali uns últimos minutos, até atingir o seu limite. Quando não conseguiu mais ficar ali em cima, sozinha observando os zumbis, Iara começou a sair da casinha na árvore e descer as escadas. Ao chegar ao chão, com a mão apertando forte o estômago, correu até um canteiro na lateral da casa e vomitou ali mesmo, não conseguindo segurar mais.

Depois, limpou a boca e voltou aos seus companheiros. Olhou preocupada para eles.

— A horda não tem fim... – foi tudo o que conseguiu dizer.

Os quatro se entreolharam em silêncio, sem saber o que fazer.

Quanto tempo levaria até que os zumbis fossem embora?

 

Quando não tiver mais espaço no inferno,

os mortos andarão pela Terra.


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Notas finais do capítulo

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