Inabalável SARA escrita por tsubasataty


Capítulo 17
Parte 2: 1.




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Tente não sonhar com monstros.

 

Iara tinha planejado, sim, rever Sara.

Quando se despediu da amiga, seguiu até o ponto de encontro onde o restante do seu grupo deveria estar. Sorriu aliviada ao ver todos ali, esperando por ela. Ficaram mais 5 dias na rua, procurando por mantimentos e cobertores grossos para levarem até a Ressurreição. Naquele inverno, havia muita coisa a se fazer.

Depois de terminarem a zona leste, ficaram 3 dias dentro do complexo, que estava localizado dentro do centro de bombeiros da cidade, e seguiram em seguida para o norte com outros 2 grupos de busca, totalizando 15 pessoas. A Ressurreição era um grupo grande de sobreviventes, por isso sempre precisavam buscar por alimentos, agasalhos, medicamentos e qualquer outra coisa que os ajudasse a sobreviver – além, é claro, de matar todos os zumbis que encontravam congelados no caminho.

Dias se tornaram semanas e semanas se transformaram em meses. Iara passou todo o tempo ocupada, sem conseguir retornar para a zona leste, onde a casa de sua antiga companheira Sara se encontrava. Depois de todo esse tempo, sua última tarefa com seu grupo consistia em ir no Snow Valley, que ficava a 10 quilômetros do município, e no Epagri, o belo lago da cidade, com diversos pés de macieira e cerejeiras ao seu redor.

Já era início de primavera e Iara e seu grupo deveriam buscar por frutas, principalmente maça, pêssego e laranja, além de peixes e quaisquer outros alimentos que pudessem encontrar. Tinham o prazo de 10 dias para retornar.

Finalmente sem neve e com o clima mais ameno, foram de carro e seguiram sem pressa, observando a bela e colorida paisagem de primavera que nascia ao seu redor. Observaram o florescer das árvores de cerejeira, nadaram despreocupados e procuraram por peixes no lago de Epagri. Demoraram os exatos 10 dias, e conseguiram, felizes, tudo o que os líderes da Ressurreição pediram a eles.

Antes de chegarem ao complexo, Iara desceu um pouco antes e ficou no centro. Ela ansiava vasculhar uma pequena e escondida loja de departamentos, atrás de pilhas para levar até Sara. Despediu-se de todos e disse que os encontraria mais tarde, já no centro de bombeiros, onde estava localizada a Ressurreição.

Passou cerca de 3 horas vagando pelas lojas atrás de pequenas descobertas, que ninguém havia pegado até o momento. Dentro de uma drogaria encontrou camisinhas, balas de hortelã e cremes para o corpo; numa loja de ferragens avistou uma corda de 2 metros, além de uma última caixa de ferramentas que sobreviveu, escondida timidamente numa prateleira empoeirada; e na loja de departamentos encontrou algumas poucas pilhas, além de desodorante, água oxigenada e creme de barbear. Colocou tudo na mochila, sem pensar duas vezes – sabe-se lá quando ela precisaria de tudo aquilo.

Iara planejara ir a mais duas lojas quando ouviu os primeiros tiros, os primeiros sons do caos. E eles vinham exatamente do complexo da Ressurreição. Já estava anoitecendo e a mulher saiu em disparada. Seguiu a pé até o outro lado da cidade, no esconderijo do seu grupo que ficava no final da zona oeste. Quando finalmente chegou, arfando e suando, foi pega de surpresa.

Todo o lugar estava coberto pelo caos.

“Alguém nos descobriu, destruíram nosso esconderijo...!”.

Iara pensou isso consigo mesma, olhando à distância seu tão amado refúgio começando a pegar fogo. Enquanto estivera fora, não imaginou nunca que algo como aquilo pudesse acontecer.

A Ressurreição havia caído.

Ela ouvia os tiros, ouvia a gritaria, ouvia os mortos voltando à vida.

Pegou sua arma e estava prestes a correr na direção do fogo cruzado, a fim de descobrir quem estava destruindo o lugar. Porém, antes que Iara pudesse dar um passo adiante, na mistura de escuridão, fumaça e fuligem, ela não viu quando alguém a agarrou por trás e tapou a sua boca com as mãos.

Iara, surpresa e assustada, começou a dar pontapés para trás, usando de todas as táticas de defesa que aprendera na Ressurreição para se livrar daquele inimigo.

— Iara, shhh. Fica quieta, sou eu. – uma voz masculina disse ao seu ouvido de repente – Pare de fazer barulho ou seremos mortos.

A mulher soube na hora quem estava ali, segurando seus braços. Era seu marido, Tom.

Olhou para trás no mesmo instante em que ele enfim a soltou. Ali, estavam todos do seu grupo: Tom, Mike, Sabrina e Gabriel. A Trupe dos Cinco, como Iara gostava de chamar.

— O que está acontecendo aqui? – Iara sussurrou aos colegas, absorta de todo aquele caos a sua volta.

— Quando chegamos a Ressurreição estava tomada por zumbis. Não sabemos de onde eles vieram – Sabrina disse, claramente preocupada com tudo aquilo.

— Tentamos entrar, mas todas as portas estão infestadas de zumbis – Gabriel falou, olhando preocupado em volta – Nós quatro não conseguimos entrar de jeito nenhum.

— E os nossos colegas?! – Iara perguntou, olhando para os quatro.

— Nós da Ressurreição somos cerca de 45 pessoas no total – Mike disse, olhando atento em volta – Mas parece que metade já caiu. Encontrei com Caio e Milena, mas os grupos de ambos já partiram para longe da cidade. Desistiram de proteger este lugar quando conseguiram um carro com o tanque cheio de gasolina. – o homem parou um momento, desconcertado e claramente temendo por algo – Eles me disseram uma coisa...

— O quê? – Iara indagou depressa. Eles tinham que terminar aquela conversa, pois precisavam fazer logo alguma coisa.

— Parece que tem uma horda enorme de zumbis marchando rumo a nossa cidade. Eles vieram do sul e vão continuar subindo até o centro do continente, onde é mais quente.

Zumbis detestam frio.— Sabrina e Tom disseram ao mesmo tempo.

Então era isso, aqueles zumbis deveriam ser os primeiros que conseguiram chegar, e quando viram carne fresca, bem no caminho deles, começaram a atacar.

— Vamos entrar e salvar quem conseguirmos. Temos que proteger os que restaram da Ressurreição. – Iara disse, pondo-se de pé.

Ela pegou sua espingarda e mirou na direção das sombras que rastejavam ao longe.

 

Com gestos mudos, seguiram para dentro da luta, atirando em zumbis e procurando por aqueles humanos que ainda restavam. Depois de ajudarem alguns colegas a fugir, quando anoiteceu completamente eles conseguiram entrar no complexo da Ressurreição, fecharam as portas e focaram em matar os zumbis que restavam ali dentro.

Com horror, viram alguns poucos colegas, já transformados, atacando seus amigos, lutando contra eles a fim de se alimentar de carne humana. Tom foi o primeiro que conseguiu atirar em seus antigos companheiros, derrubando-os no chão sem demonstrar uma gota de amargura ou tristeza. Sim, aquele era o marido de Iara, sabia ser extremamente carinhoso e amigável quando precisava, no entanto, quando a situação pedia, ele era frio como uma rocha e não havia um pingo de sentimentalismo em seus atos. Ele era uma máquina humana, matadora de zumbis. Tom, em outras palavras, era aquele tipo de homem que faria de tudo para proteger os amigos que tanto amava.

— Cuidado, tem mais vindo pela esquerda! – Mike gritou, atirando seu arco e flecha nos zumbis que estavam ao longe. Conseguiu derrubar 3 antes de seus amigos começarem a atirar.

— Eles não param de aparecer – Sabrina disse, checando seu estoque de balas – Estou ficando sem munição.

— Precisamos ir até a sala de equipamentos – Gabriel disse – Todas as armas e munições estão lá.

O grupo já não sabia mais quanto tempo havia se passado desde que entraram naquela luta. Quando conseguiram chegar perto da sala de equipamentos, um grupo de 8 zumbis estava parado e abaixado há alguns metros de distância da entrada da sala. Eles estavam debruçados sobre dois corpos humanos e tinham o rosto, pescoço e os braços cobertos de sangue. Mastigavam depressa, antes de enfiarem as mãos outra vez dentro dos corpos caídos, tirarem algum outro órgão dali e colocarem na boca outra vez.

Iara sentiu-se tonta vendo aquilo, com vontade de vomitar.

Era a primeira vez que ela via tão de perto uma cena perturbadora como aquela – e o grupo ainda conhecia os dois homens que estavam caídos ali no chão. O estômago de Iara embrulhou.

— Vão na frente – Sabrina disse – Eu e Gabriel iremos distrair esse grupo enquanto vocês pegam as munições. Aqui dentro não tem mais o que podemos fazer, todos que vimos pelo caminho já estavam fugindo daqui.

— Vão, rápido! – Gabriel disse – Nos encontramos na saída norte.

 

Sem trocarem mais nenhuma palavra, Mike, Iara e Tom seguiram até a sala no fim do corredor, enquanto Sabrina e Gabriel distraiam e aniquilavam os zumbis. O que os dois não imaginavam é que seriam pegos de surpresa, por outro grupo de mortos-vivos que caminhava exatamente em sua direção.

Tom deu um empurrão forte na porta até ela ficar escancarada.

Ligaram as luzes de emergência e retiraram tudo o que havia sobrado ali: algumas cartelas de balas e recargas de munição, flechas de metal e madeira para o arco de Mike, duas bombas esféricas e poucas pistolas intactas. Colocaram tudo na mochila e voltaram para o corredor.

 – Não estou mais ouvindo as armas da Sab e Gabriel atirarem! – Iara exclamou, olhando para todas as direções.

— Talvez já estejam na saída, vamos logo! – Tom disse, puxando o braço de Iara.

O trio seguiu até a saída e empurrou a porta com força.

O dia já havia amanhecido e tinha fuligem e morte por todos os lados. No entanto, não havia sinal dos amigos em lugar algum.

— Cadê eles?! – Iara indagou, olhando para todas as direções.

— Vamos esperar aqui um pouco – Mike disse, preocupado.

Eles iam, sim, esperar por alguns minutos, quando subitamente viram ao longe um exército inacreditável de mortos-vivos. Não eram dezenas ou centenas, havia milhares de zumbis ali, prontos para devorar qualquer humano que aparecesse a sua frente. Por um instante, os 3 ficaram sem reação, completamente em choque.

Depois de alguns instantes, Tom foi o primeiro que conseguiu reagir.

— Vamos para o carro! – ele gritou – Não podemos perder um minuto aqui mais.

Iara e Mike quiseram abrir a boca para protestar, pois precisavam esperar Sabrina e Gabriel. No entanto, diante daquele pesadelo sem tamanho marchando na direção deles, o trio não podia ficar mais ali. Seguiram na direção do carro escondido, enfiando-se no meio das sacolas de frutas e dos peixes enrolados em jornal que ocupavam uma parte considerável do carro. Tom não perdeu mais tempo, pegou o volante e ligou logo o automóvel.

Decidiram partir sem eles.


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Notas finais do capítulo

Ai meu deus...
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