Inabalável SARA escrita por tsubasataty


Capítulo 15
13.




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/742514/chapter/15

Nós estamos sobrevivendo aqui. Um dia de cada vez.

 

— Iara – Sara correu até a mulher, abaixando a faca e abraçando a companheira. – Eu que achei que vocês tivessem fugido. Não se lembra da minha ligação, meses atrás...?!

Era como se as duas mulheres tivessem voltado no tempo outra vez, como quando se conheceram na faculdade e permaneceram amigas desde então.

— Eu me lembro, sim. E sabia que você estava falando a verdade, por mais doida que fosse suas ideias. Em você, eu sempre confiei, Sara.

As duas se libertaram daquele abraço apertado e olharam nos olhos uma da outra.

— Por que você está aqui na cidade ainda, não conseguiu fugir? – Sara perguntou.

Iara olhou para longe e pareceu pensar por alguns instantes.

— Sim, eu, meus pais, Tom e a família dele tentamos fugir. Todos nós juntos. Mas saímos às pressas e os remédios para asma do pai de Tom ficaram para trás. Então, eu e meu marido voltamos de carro para buscar, e tínhamos planejado nos encontrar todos na fazenda dos meus pais no alto da montanha... Era esse o plano, né. Porém, quando eu e Tom voltamos para a cidade, o caos já tinha se instalado onde estávamos e não conseguimos mais fugir. Estamos aqui desde então, enfrentando os zumbis e tentando sobreviver...

Iara falou rápido, como se tirasse um peso da consciência colocando aquelas palavras para fora. Sara abraçou a amiga novamente e notou como o corpo de Iara estava rígido e afetado. Era como se, desde que tudo começou, a mulher não tivesse tido um instante de paz sequer.

— E então eu ouvi um barulho justo na sua rua... – Iara continuou – Me separei do meu grupo de busca e vim sozinha até aqui, sem saber o que encontrar. E olha só, era justamente você que estava aqui.

Iara sorriu para Sara, um sorriso verdadeiro, aliviado.

— Eu estive aqui desde o começo – Sara então confidenciou – Dentro de casa, protegida com a invenção de Alex. Você se lembra dela?

Iara arregalou os olhos, estupefata.

— Aquilo realmente funcionou?! Não acredito!

Sara abriu um sorriso amarelo.

Tocar no nome de Alex outra vez fez uma parte de Sara se entristecer por um momento. Era sempre difícil lidar com a morte dele e de Scott naquele perturbador acidente de carro.

— Você parece faminta – Sara disse a amiga, tentando mudar de assunto – Venha até minha casa por um momento. Eu estive sozinha desde o começo de tudo.

Iara iria dizer alguma coisa, mas apenas sacudiu a cabeça, num aceno positivo, antes de caminhar lado a lado de Sara.

Quando chegaram até os zumbis (ou o que sobrara deles), Iara quebrou o silêncio:

— Você os matou, né? No inverno eles ficam imóveis onde estão, completamente parados, economizando energia. O que esses monstros idiotas não percebem é que assim acabam congelados, sem conseguir se movimentar mais e ir atrás de carne humana. Bom, estamos fazendo uma limpa de zumbis atualmente.

— “Estamos”? – Sara indagou – Você e Tom?

Iara piscou e olhou para Sara. Havia muito a se contar...

— Vamos para um lugar seguro que eu te conto tudo.

Sendo assim, as duas seguiram em silêncio até dentro da casa ao lado da de Sara. Pararam para pegar algumas roupas e poucas coisas que ainda estavam escondidas nas gavetas da cozinha, como tomate enlatado e aveia em pó.

Sara mostrou a Iara como fez para descer até ali, com a corda que ela confeccionara meses atrás e ainda se mostrava extremamente útil para ela. Subiram com dificuldade o muro congelado, mas conseguiram atravessar em segurança até a casa de Sara. Para não deixar a corda desprotegida na casa ao lado, enquanto descia a escada, Sara pegou a corda e jogou na direção de sua casa, pois pensou que poderia precisar dela ali talvez quando menos esperasse.

No restante do dia, as duas não pararam de conversar. Sara mostrou a Iara todas as invenções que havia criado para sobreviver àquele apocalipse zumbi, como a privada seca e o fogão feito com latinhas de refrigerante. Sara permitiu Iara usar o banheiro e se lavar com um pouco da água e sabão que havia em casa. Com as roupas recolhidas da casa ao lado, Iara trocou de roupa, livrando-se enfim daqueles trapos fedidos e manchados de sangue.

Foi a vez, então, de Iara contar a sua história.

Sem conseguir dirigir até o alto da montanha, ela e Tom haviam conseguido se manter dentro de casas que foram abandonadas no sul da cidade, e ficaram ali por cerca de duas semanas, quando uma onda de zumbis tomou conta das ruas. Iara disse que eles sentiam o cheiro de sangue, sabiam onde os dois estavam escondidos, então, quando os mortos-vivos derrubaram o portão da casa em que se escondiam, eles fugiram pelo telhado, até alcançarem a rua.

Passaram fome por dias, e o pouco da água que tinham acabou rapidamente. Eles ficaram doentes, Tom quase morreu. Foi então que um grupo de sobreviventes encontrou os dois um dia e os acolheu. Deram comida a eles, trataram de suas feridas e machucados. Deixaram os dois descansar. Depois disso, não saíram mais daquele refúgio onde foram tão bem acolhidos.

Ali, distribuíram armas aos dois, os ensinaram a atirar. Em menos de um mês, Iara e tom já saíam com pequenos grupos pela rua, procurando por mantimentos e aniquilando zumbis.

— Uau – Sara disse, desacreditada de tudo aquilo que aconteceu com a amiga.

— Somos a Ressurreição— Iara disse, batendo a mão no peito. – Esse é o nome de nosso grupo.

— Vocês passaram por maus bocados e, enquanto isso, eu estava protegida aqui, nesse pequeno esconderijo... – Sara disse, mais para si mesma que para a companheira.

— Isso não importa, Sara. Cada um tem que agarrar a oportunidade que tiver para sobreviver, não importa qual seja ela.

As duas trocaram um sorriso e foi então que o estômago de Iara roncou com força, implorando por comida.

— Já anoiteceu... – Sara disse, olhando para o céu surpresa. O dia havia realmente voado. – Você pode dormir aqui esta noite ou precisa voltar às pressas para seu grupo?

Iara pensou por um momento.

— Posso passar a noite aqui, sim, mas amanhã assim que amanhecer preciso partir.

Sendo assim, estava decidido.

Prepararam para a janta enlatado de sardinha, com tomate e aveia em pó por cima. A combinação tinha um gosto distinto, que beirava ao asco. Todavia, era o que havia para aquela noite – e as duas eram tremendamente gratas por isso. De sobremesa, Sara permitiu a ambas uma colher de leite condensado, um doce que fez Iara revirar os olhos em devoção – tinha muitos meses desde que a mulher colocara algo doce na boca pela última vez.

No ápice daquele frio e congelante inverno, as duas dormiram juntas, abraçadas na cama como quando eram mais novas e precisavam da companhia uma da outra. Abraçadas e repletas de calor humano, pegaram no sono rápido, sem pressa para enfrentar as surpresas e desafios que o amanhã poderia trazer... 

**

Iara levou roupas, cobertores, e Sara entregou a ela também uma garrafa de água e uma lata lacrada de leite condensado.

— Faça bom proveito – Sara disse, abraçando a amiga – E volte a aparecer, por favor. Você sabe que vou estar sempre por aqui.

— Voltarei, sim, e trarei Tom comigo. Ele também deve estar com saudades de você.

Foi com a amiga até a casa ao lado, abriu a porta para ela e se despediram novamente.

— Cuidado quando for matar zumbis. Tente fazer menos barulho, para não atrair mais deles ou pessoas de má intenção. Nunca se sabe onde elas podem estar se escondendo – Iara disse, olhando atenta para os dois lados da rua.

— Eu sei – Sara respondeu – Um grupo de 5 pessoas passou por aqui, tempos atrás. Sei que havia uma tal de Janine entre eles. Na época, eles se dirigiam para as mansões.

— Sei quem são – Iara fez uma expressão sinistra – Eram uns escrotos, babacas. Mas agora estão mortos... Eles nunca deveriam ter se dirigido para as mansões, foi o primeiro local da cidade a ficar infestado de zumbis.

Sara abriu a boca, mas não soube o que responder.

— Agora estão mortos – Iara continuou – Tiveram o que mereceram.

Sara não teve coragem de dizer nada, apenas concordou em silêncio com a companheira.

Trocaram umas últimas palavras antes de Iara seguir seu caminho. Sara ficou acenando na direção da amiga e observou ela caminhando por alguns minutos, rumo ao seu grupo. Estava prestes a fechar o portão quando notou que Iara havia parado de caminhar e voltava em sua direção.

— Espera, Sara!

Ela tinha os olhos arregalados quando ficaram cara a cara outra vez. Como se só agora tivesse se lembrado do detalhe mais importante, a mulher corria na direção de Sara.

— Como sou burra – Iara disse, sacudindo a cabeça sem acreditar – Esqueci de te contar a coisa mais importante. Você tem acesso a rádios?

— Ah, não... – Sara sacudiu a cabeça – Estou sem pilhas há muito tempo.

— Então você realmente não sabe. – Iara falou, apoiando as mãos nos braços de Sara – Tem um grupo... – ela pôde ver a amiga engolindo em seco – Nós ouvimos no rádio semana passada, eles estão tentando encontrar a cura.

— A cura?! – Sara exclamou, seu coração quase parando no peito.

— Sim, parece que encontraram 3 pessoas que foram mordidas por zumbis, mas não se transformaram. Estão estudando seus genes, tentando criar uma vacina!

As duas sorriram juntas, compartilhando a maior das descobertas. Havia uma saída, afinal. O apocalipse poderia ter um fim.

— Eu vou trazer pilhas para você, me aguarde. Você precisa saber o que está acontecendo no restante do mundo. Espere por mim, Sara.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Meu deeeeeeeus.
O que vai acontecer agora, será essa cura verdadeira?!