Inabalável SARA escrita por tsubasataty


Capítulo 12
10.




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Era um dia nublado e Sara estava carregando as sacolas de compra e colocando tudo dentro do porta-malas. Quando terminou, pegou as chaves do bolso, entrou dentro do seu carro e se dirigiu para a saída. Foi nesse instante que ouviu o primeiro grito.

Alto, ensurdecedor. Menos de um minuto depois, tudo ao seu redor começou a ser tingido pelo caos. Pessoas correram por todos os lados, compras caíram no chão, vozes de choro se espalharam por todas as direções. Não demorou até ela descobrir de onde estava vindo o problema, o perigo. Focou sua atenção na saída do estacionamento e foi então que viu dois seres rastejantes, de aparência repugnante e pele esverdeada. Zumbis.

Alguma coisa, entretanto, era diferente naqueles mortos-vivos. Além de vestir trapos imundos, estavam os dois completamente esqueléticos, com tufos ralos de cabelos brancos e – o detalhe mais importante –, arreganhavam as bocas, porém não havia dente nenhum ali: eram ambos banguelas.

S-sara...— ouviu a voz surreal do zumbi grunhir em sua direção, olhando diretamente dentro de seus olhos – Porr que f-fez isso conosco, Saara...?

 

Foi então que Sara acordou aos prantos, levantando-se da cama coberta de suor e com lágrimas nos olhos. Havia sido mais um pesadelo. Depois daquele último acidente, eles não paravam de aparecer.

Ainda encharcada de suor, Sara tentou conter as lágrimas e o tremor que tomava conta de seu corpo.

Nos dias seguintes àquele episódio, Sara estava amedrontada, arrasada e incapaz de fazer qualquer coisa. Se alguém invadisse a sua casa naquele momento, ela sequer cogitaria se levantar da cama para se defender. Dentro dela, alguma coisa tinha realmente morrido.

Sara ainda preparava, sim, as suas pequenas e simples refeições e cuidava de umas poucas tarefas, mas apenas isso. Estava ficando cada vez mais frio e era difícil ficar dentro da casinha na árvore, principalmente quando anoitecia. A mulher tinha perdido também toda a vontade de continuar com seus exercícios e manter a vigilância da casa.

Sara, afinal, tinha cogitado a ideia do suicídio.

Mas então se lembrava de Alex e Scott... E o quanto eles ficariam desapontados se ela desistisse da vida assim. Sim, Sara sabia que tinha cometido um erro com o casal de idosos, todavia estava difícil demais se perdoar – ela, em outras palavras, parecia ser incapaz disso naquele momento.

Então, pelos dias e semanas que se seguiram, Sara se arrastou pela casa como um fantasma. Comeu menos, emagreceu, estava pálida como nunca. As veias arroxeadas de seus braços se tornavam cada vez mais visíveis à medida que ela emagrecia e perdia nutrientes. A mulher parecia não se importar com nada mais, principalmente consigo mesma.

Por causa de tudo isso, foi uma surpresa para Sara quando o inverno chegou.

Foi uma noite particularmente fria para ela, repleta de monstros que corroíam seu pensamento. Quando a manhã chegou, Sara se dirigiu para cozinha enrolada num cobertor. Foi então que viu pela janela os flocos de neve caindo, um atrás do outro, sem parar. A mulher arregalou os olhos e abriu a boca, sem pronunciar uma palavra. Quanto tempo ela havia ficado na cama sem fazer nada? O que aconteceu com o mundo ao seu redor enquanto isso? Com certeza, ele não parara de girar – e os zumbis, sem dúvidas, ainda continuavam por ali.

Correu para o quarto, colocou uma roupa mais quente e jogou o cobertor novamente por cima. Desceu as escadas e deu uma checada rápida em sua plantação. Ela estava coberta de neve. Agora, só depois do inverno para as plantas nascerem outra vez.

— Adeus, verduras... – Sara murmurou baixinho consigo mesma.

A mulher seguiu até a cozinha e fez uma checagem de seus mantimentos. Havia ainda umas poucas cenouras e abobrinhas, além das maças e laranjas, que durariam 15 dias aproximadamente. O que ela tinha reservado para ser consumido no inverno eram os salgadinhos, as barras de cereal, os enlatados de atum e sardinha, saquinhos de chás, leite em pó, leite condensado, bolachas, poucos chocolates e o que sobrou do mel. Nada muito nutritivo, ela sabia, mas era o que havia para os 4 longos meses congelantes que se seguiriam. Poderia parecer muita coisa, numa primeira olhada, mas será que esses mantimentos durariam até o final do 4º mês? Sara temia que não, mas faria de tudo para que não passasse fome até a primavera.

Afinal, se não fosse ela mesma a se ajudar, quem mais seria? Não havia mais ninguém.

Preparou uma bebida quente de leite em pó com mel para o café da manhã e decidiu em seguida que era hora de voltar com seus exercícios.

Começou com flexões e abdominais e percebeu o quanto seu corpo estava enferrujado. Foi um treino difícil, de quase 1 hora, até que Sara não aguentou mais. Suando e sem forças, caiu esparramada no chão, esticando as costas no azulejo frio enquanto se recuperava.

 

Os dias foram passando e Sara ficava cada vez melhor nos treinos. Suas primeiras refeições daquele inverno consistiam em alguma bebida quente pela manhã, enlatado e verdura para o almoço, salgadinho e alguma fruta no final da tarde. Quando as frutas e verduras acabaram, Sara comia durante a noite uma barra de cereal ou uma colher de leite condensado – que era açúcar o suficiente para Sara manter seu nível de energia aceitável naquele momento.

Continuava extremamente frio, mas numa tarde que nevou menos, Sara teve curiosidade sobre o mundo ao seu redor. E seu instinto dizia que já era hora da mulher dar uma olhada na rua outra vez.

Como era inverno e nevava, todas as folhas da imensa árvore tinham caído. Os galhos, no entanto, eram suficientemente grossos para esconder a casa na árvore de olhares externos alheios. Sara aproximou-se dos degraus com água quente e jogou o conteúdo ali. Pouco a pouco, a neve que cobria os degraus começou a derreter. Um sorriso de alívio cobriu a face de Sara quando ela conseguiu subir por ali sem escorregar uma vez sequer.

Alcançou o interior da casinha e percebeu o quanto estava congelando ali dentro. Sabia que não conseguiria ficar ali durante muito tempo, então empurrou com força a pequena janela. Estava novamente emperrada. Porém, nada como uma força um pouco mais bruta para fazer a madeira ceder.

Um ar frio atingiu o rosto de Sara quando a janela ficou escancarada. Ela tremeu de frio e espirrou; seu nariz e bochechas já estavam completamente vermelhos naquele momento. Coçou o nariz com a manga da blusa e espiou o exterior pela janela. Por onde quer que olhasse, tudo o que Sara via era branquitude e neve cobrindo cada canto dali de fora.

Dois pontos, no entanto, se destacavam no meio do quarteirão, a umas duas casas de distância da de Sara. A mulher apertou os olhos e observou mais atentamente. Havia duas figuras paradas no meio da rua, cobertas de gelo.

Um grunhindo de surpresa escapou da garganta de Sara quando ela finalmente se deu conta do que estava a sua frente.

Aqueles dois seres eram zumbis. Eles permaneciam imóveis porque estavam completamente congelados.


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Notas finais do capítulo

Hmmm...
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