Inabalável SARA escrita por tsubasataty


Capítulo 10
8.




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O restante do verão Sara dormiu na casinha na árvore. Ela levou até lá um saco de dormir, cobertor para forrar o chão e seu travesseiro. A mulher cabia deitada ali dentro, mesmo que ficasse um pouco apertado com o travesseiro e tudo mais. Em compensação, ali, pelo menos, ela se sentia mais próxima de Scott.

Quando chegou o outono, toda a sua plantação já havia dado frutos e a mulher sorria contente. Havia vegetais, arroz e macarrão suficientes para o outono inteiro. Ela reservou também o restante das nozes, castanhas e alguns poucos chocolates para consumir nesse período também.

Na sua cidade sulista, situada no planalto serrado, as 4 estações eram bem definidas, algo bem incomum em seu país, no geral. Quando o verão foi embora, a temperatura caiu cerca de 10º dentro de uma única semana. De 31º, foi para 21º durante o dia e as noites chegavam até cerca de 13º. Sara sabia que, em breve, iria esfriar mais. O inverno estava chegando, afinal.

Enquanto ainda não nevava, Sara aproveitou para adentrar na outra casa ao lado da sua. Ela estava enrolando para ir até ali justamente por ter ficado perturbada com o que aconteceu na casa anterior. Com a chegada do outono, no entanto, ela não podia perder mais tempo.

Seguiu os mesmos procedimentos da última vez, entretanto dessa vez não caiu no chão quando alcançou o solo da casa. Com destreza, ela havia aprendido a se equilibrar melhor e chegou até o chão com louvor. Sara estava ali justamente por duas preciosidades escondidas no quintal da família Mendes: a macieira e a laranjeira.

Sara não via essas frutas há meses, sua dieta baseando-se atualmente apenas de arroz, castanhas e vegetais. Quando enfim ela pôs os olhos nessas duas árvores que davam frutos em clima frio, sua boca se encheu d’água. Os pés não estavam carregados completamente, mas diversas frutas já estavam perfeitas para serem consumidas – e foram essas que Sara colocou rapidamente dentro de sua bolsa.

Seguiu para dentro de casa. Dessa vez, a porta de entrada estava aberta.

Na sala não havia nada, apenas poeira cobrindo os móveis e um cheiro de mofo escondido em algum lugar. Na cozinha, Sara fez a limpa na despensa: pacotes de salgadinho, caixas de chocolate, leite em pó e refrigerante. Os Mendes não eram uma família muito saudável, afinal. Levou consigo sabão em pó, detergente e pasta de dente também.

Quando sua mochila finalmente estava cheia, ela voltou para casa. No dia seguinte Sara decidiu que voltaria para buscar papel higiênico, serragem e alguns cobertores extras que ela usaria no inverno.

Já em casa, enquanto guardava seus novos mantimentos – escondendo alguns caso mais para frente precisasse – Sara ouviu um barulho vindo da rua. Eram vozes humanas. Depois de meses, já era hora de mais alguém dar as caras por ali, afinal. Vestiu um casaco grosso às pressas e seguiu em silêncio até a casa na árvore.

Ela abriu a janela com cuidado e observou o grupo.

Era um grupo de adultos misto, 3 homens e 3 mulheres. Com horror, Sara notou que cada um deles carregava uma arma diferente nas mãos. Eram todas armas enormes, prontas para matar o que quer que ousasse cruzar o caminho daquele grupo.

A mente de Sara teve um estalo... Será que eles procuravam um refúgio, alguma casa para se esconder?

O sangue dela gelou, pois sabia que só podia ser isso mesmo.

E alimentos. Toda a humanidade, com certeza, estava atrás de alimentos, estes agora cada vez mais escassos nesse mundo que se tornou apocalíptico.

Uma das mulheres parou, analisando uma casa no fim do quarteirão ou algo que pudesse estar atrás do grupo...

— Esquece, Jane – um homem colocou a mão em seu ombro. – Não adianta mais, é melhor seguirmos em frente.

A mulher olhou para o homem e assentiu com a cabeça, sem dizer palavra alguma.

— Hey, vocês dois, vamos – um homem impaciente, de cabelos brancos e a frente do grupo, disse. Sara imaginou que aquele deveria ser o líder deles – Não vamos perder tempo por aqui – continuou – As mansões são logo ali na frente.

Depois disso, todos aceleraram o passo e seguiram o homem, sem contestar a sua decisão.

Quando o grupo sumiu na esquina foi que Sara percebeu que estava prendendo a respiração. Por um instante inocente ela ficou contente ao ouvir passos e vozes humanas depois de tanto tempo. Porém foi só pôr os olhos neles que Sara não tardou a se lembrar de que não eram apenas os mortos que ela deveria temer, mas os vivos também.

Felizmente, eles não queriam nada que havia em sua rua. Não agora, pelo menos...


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Notas finais do capítulo

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