6:30 da manhã. Caminhando para a escola.

Rick e Morgana seguiam pela calçada que os levaria para a "prisão matinal", como Morgana a chamava. A escola não ficava muito longe da casa de Rick, por isso ele ia andando sem pressa.

"Sabe, eu estava aqui imaginando..." comentou Morgana "Um monte de gente nos viu no shopping naquele dia. Corremos, até atacamos algumas pessoas. Será que ninguém achou isso estranho?"

"Não se preocupe" respondeu Rick "A Milena me disse que o pai dela já cuidou de tudo. Um cara com o dinheiro e a influência que ele tem provavelmente resolveu tudo bem facinho."

E Rick estava certo. Com seu dinheiro e influência, o pai de Milena simplesmente enganou a todos com a gravação das câmeras de segurança, alterando a filmagem para parecer com que Rick estava perseguindo um homem encapuzado. Para a imprensa local, o homem era um ladrão, e Rick o viu roubando uma loja, e ele tentou pegá-lo. Com relação aos clientes... O dinheiro acabou calando a todos.

"Mas vem cá... Quando a Milena te disse isso? Não lembro de nós termos nos encontrado com ela" disse Morgana, desconfiada.

"Ela tem meu telefone, gênio." respondeu Rick "Conversamos pelo celular."

"Não acredito!" gritou a fantasma "Uma garota pediu seu telefone? Isso é um milagre!"

Rick encarou Morgana, que ficou um pouco sem graça.

"... Eu coloquei meu telefone no anúncio, ela não teve de pedir nada." explicou Rick.

"Espera, você tem um anúncio? Aonde?" perguntou Morgana.

"Bem, na internet, nas redes sociais... Até coloquei um anúncio no jornal local."

"COM QUE DINHEIRO?" indagou a garota.

"Não foi com dinheiro, mas com a influência do pai da Milena, pra ser mais exato. Aparentemente, ela gostou tanto do meu trabalho que queria dar uma força...?"

"... Você não reparou, não é?"

"No quê?" perguntou Rick, confuso.

"Esquece."

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Já na escola, Rick e Morgana andavam pelos corredores, quando eles passaram pela biblioteca da escola. Ao passar pela porta, Morgana e Rick começaram a tremer de frio.

Rick não ficou muito impressionado. Estava cedo, o Sol não havia esquentado o ambiente ainda, e ele havia esquecido sua blusa de frio, estando lá apenas com o uniforme da escola, que consistia em uma calça laranja e uma camiseta branca. Porém, Morgana também estava tremendo.

"Uau, não sabia que fantasmas sentiam frio." observou Rick.

"Nem eu, pra ser sincera." respondeu Morgana "Será que tem algum espírito forte por aqui?"

"Será?" perguntou Rick "Bem, vamos ver isso depois, eu tenho aula agora."

Morgana continuou a olhar para as portas abertas da biblioteca, encarando o seu interior. Haviam alguns alunos lá, e montanhas de livros. Nada parecia fora do comum. Claro, ela teria olhado mais, mas Rick já havia começado a andar e o anel de prata estava puxando Morgana para perto dele.

"Não deve ser nada demais" pensou Morgana.

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Durante a segunda aula, pela primeira vez, Morgana havia começado a reclamar na classe.

"Eu tenho um mal pressentimento sobre aquela biblioteca", "Eu tô com frio!", "Presta atenção nessa conta, panaca" foram algumas das frases que ela soltara durante a aula. Ela realmente estava inquieta, fazendo com que Rick usasse de todas as suas forças para não mandá-la ficar calada.

Na terceira aula, que foi de história, o professor relembrou os alunos sobre uma atividade que eles deveriam entregar no fim do mês:

"Não sei se vocês já fizeram ou se no mínimo lembram, mas pedi para que vocês fizessem as atividades da página cinquenta e cinco até a setenta do nosso livro de história. Para quem ainda não fez, ainda existem livros sobrando na biblioteca. Passem lá e peguem um se não quiserem ficar com zero na nota."

Rick sentiu um friozinho no fim da espinha. Não havia feito a atividade ainda, por conta de todas as missões que ele tivera de resolver. A procrastinação também poderia ter sido culpada, mas nenhum aluno a culparia.

"Tenho que passar pela biblioteca depois" disse Rick, como se estivesse falando consigo mesmo, mas na verdade, estava falando alto o bastante para Morgana o ouvir.

Morgana começou a tremer, e a dizer baixinho "má ideia, má ideia". Rick não tinha certeza o que estava fazendo ela ficar com tantos calafrios, mas ele tinha de passar na biblioteca. Nenhum fantasma deixaria ele ficar sem nota.

"Hehe, eu também vou ter de ir." comentou Marcos, o garoto que senta atrás de Rick na aula "Fiquei jogando tanto videogame que acabei esquecendo dessa lição."

O garoto tinha curtos cabelos pretos e pele clara. Rick nunca falou muito com ele, já que ele não fala muito com ninguém, mas puxar conversa de vez em quando não era algo ruim.

"Bem, então vamos juntos. Vamos pegar o livro e cair fora." disse Rick.

"É um bom plano." observou Marcos.

"Má ideia." Morgana continuou a murmurar.

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Após a última aula, os alunos estavam saindo, e, para a surpresa de Rick, apenas ele e Marcos estavam indo para a biblioteca.

"Acho que ninguém mais esqueceu da lição além de nós, Marcos." comentou Rick.

"Que nada. A Yuurei também esqueceu." corrigiu Marcos, apontando com o polegar para trás.

"Quem?" Rick se virou para ver quem era essa Yuurei de que ele nunca tinha ouvido falar na vida, e ficou surpreso ao ver que era apenas a garota que sentava do outro lado da sala em sua classe. Ela era de descendência japonesa, com curtos e pretos cabelos finos, salvo por uma mecha vermelha que lhe caía por cima do rosto. Ela parecia ser tímida, pois andava olhando para baixo, e quando levantou um pouco sua cabeça e percebeu que Rick a olhava, ela imediatamente voltou a olhar para baixo.

"É, ela é assim, bem quieta, acho que é por isso que você nunca reparou nela." disse Marcos "Mas ela está na sala há pelo menos três meses."

Rick olhou para Morgana, esperando algum comentário, mas ela ainda continuava assustada, por isso provavelmente não havia reparado em Yuurei.

Após chegarem na biblioteca, Rick percebe que há mais um garoto no lugar, um garoto baixo de curtos cabelos loiros.

A bibliotecária, uma senhorinha de uns 60 anos, com cabelos tão brancos quanto os de Morgana, estava no balcão, observando quem entrava e saía, e de vez em quando olhando o seu grande livro de controle, onde ela anotava quem retirava o quê da biblioteca. O balcão ficava encostado na parede, pegando quase nenhum espaço, deixando livre a enorme sala cheia de prateleiras com os mais diversos livros, tanto escolares quanto de ficção. A biblioteca cheirava a livro velho, sempre.

Rick dá um "oi" para a bibliotecária, e sai procurando o seu livro com Marcos. Yuurei também parece estar procurando o mesmo livro que Rick, mas ela tentava ficar o mais longe possível deles.

"Deve ser muito tímida mesmo" pensou Rick.

Aproveitando que já estava no lugar, Rick disse para Marcos que ia procurar um outro livro para levar também, e usou essa desculpa para retirar o rádio de sua mochila, para tentar procurar a fonte dos calafrios de Morgana. Quem sabe ele poderia dar cabo de um fantasma antes de sair dali?

Após achar a estação certa, Rick começou a mover o rádio, que imediatamente começou a produzir estática: O sinal de que um fantasma estava perto.

Mas geralmente, a estática aumenta conforme o aparelho se aproximava do espírito, mas, dessa vez, a estática estava alta, e não mudava de volume. Era como se o fantasma estivesse na biblioteca inteira.

Rick havia testado o rádio em Morgana alguns dias antes, depois do incidente no shopping, e ele, por algum motivo, não respondia à presença dela, por isso, ele sabia que não era por causa da garota flutuante que o rádio estava esquisito.

"DESLIGA ESSE NEGÓCIO! É PROIBIDO NA BIBLIOTECA!" gritou a bibliotecária.

Rick acabou desligando o rádio, mas achava estranho tudo aquilo. Ele decidiu apenas pegar seu livro e ir embora, e voltar mais preparado para lutar contra um fantasma. O garoto nem tinha trazido seus Ovos Bomba, e ele não se sentia um caçador de fantasmas sem seus Ovos Bomba.

Marcos gritou "Achei!" para Rick, que foi até onde o seu colega estava. Ambos pegaram um dos livros de história, e Rick aproveitou para pegar um a mais, para Yuurei, que ainda estava a procura do livro.

Rick entregou para ela, que apenas sorriu em retribuição. Ele sorriu de volta, e foi dar baixa no livro no balcão.

Marcos e Rick haviam dado baixa no livro, e os guardaram em suas mochilas, enquanto Yuurei e o garoto loiro ainda estavam perambulando pela biblioteca.

"Vambora." disse Marcos, ao ir abrir as portas duplas da biblioteca, que estavam fechadas.

"Ei, as portas não estavam abertas quando a gente chegou aqui?" perguntou Rick.

"Sei lá." disse Marcos, ao girar as maçanetas.

Mas as portas não se abriram.

"Ahn... Dona Socorro, a senhora trancou as portas?" perguntou Marcos.

"O quê? Claro que não, moleque. Daqui a pouco eu vou almoçar na cantina, pra quê eu me trancaria aqui dentro?" respondeu Socorro, a bibliotecária.

"Mas... As portas não abrem, veja." disse Marcos, mexendo nas maçanetas novamente, que se recusavam a abrir a porta.

Morgana, que estava quieta até esse ponto, virou para Rick, com uma expressão aterrorizada em seu rosto.

"Fica tranquila, as portas devem ter fechado com o vento ou algo assim." disse ele para ela, baixinho.

"Mas... E se for o-" a frase de Morgana foi interrompida por um tremor que pegou todos na biblioteca de surpresa, apesar de ter sido curto.

"O QUE FOI ISSO?" gritou Marcos.

Após o tremor, uma estranha fumaça começou a se formar dentro do recinto, como se uma neblina tivesse invadido o lugar.

Quando ela tomou conta dos chãos da biblioteca, a bibliotecária gritou:

"FANTASMA!"

Rick começou a olhar para todos os lados, não vendo nenhum espírito além de Morgana, até que Marcos gritou:

"VOCÊ NÃO TÁ VENDO, CARA? TEM UMA GAROTA FLUTUANDO DO SEU LADO!"

Rick olhou para Morgana, e começou a rir.

"Não se preocupem, a Morgana não faz mal a ninguém, ela tá do nosso lado." disse ele.

Todos ficaram confusos, inclusive Yuurei e o garoto loiro, que tinham ido para a entrada da biblioteca. Yuurei, entretanto, parecia mais curiosa do que assustada com Morgana.

"É, mas... e ele? Será que ele tá do nosso lado?" perguntou Morgana, apontando, tremendo, para um dos corredores, de onde surgiu um homem dentre os livros.

Todos gritaram ainda mais. O homem tinha cabelos pretos penteado para trás, que brilhavam enquanto ele flutuava a alguns centímetros do chão. Seu paletó marrom e calça jeans o faziam parecer com um professor. Ele poderia muito bem se passar por um... Não fosse pelo fato de que ele flutuava, era semi-transparente e tinha olhos que brilhavam num branco assustador. Se seu "professor" algum dia exibir algum desses sintomas, chame o caçador de fantasmas mais próximo de sua escola.

O "professor" veio flutuando até estar perto o bastante do grupo, que, de medo, se aninhou na porta, salvo por Socorro, que estava em seu balcão, olhando fixamente para o fantasma. Rick não sabia porque ela não estava assustada como o resto do grupo, até que ela disse:

"Hemeros?!"

"Hemeros?" perguntou Rick "A senhora o conhece?"

"S-sim! Ele... Era um professor nessa escol-"

"SILÊNCIO!" gritou Hemeros, o fantasma, interrompendo Socorro "Vocês só deverão falar quando eu permitir. Mas nossa, onde estão os meus modos, não é mesmo?"

Todos ficaram em silêncio, ouvindo a voz quase hipnotizadora de Hemeros, que continuou:

"Muito prazer, meu nome é Hemeros. Garotos, garotas e velha, sejam bem-vindos à minha dimensão!"

Era uma situação totalmente nova para todos. Ninguém sabia o que dizer. Bem, exceto Socorro, que gritou:

"VELHA? NÃO TEM NENHUMA VELHA AQUI, SEU MOLEQUE SEM EDUCAÇÃO!"

Socorro parecia ter esquecido brevemente de que estava falando com um fantasma, e gritou tal como ela gritaria com um aluno, o que deixou Hemeros um pouco zangado.

Ele abaixou levemente suas sobrancelhas, e estalou os dedos.

No mesmo instante, o corpo de Socorro começou a flutuar e se afinar até virar uma pequena linha, que então foi sugada para o seu livro de controle, que se fechou violentamente.

Ninguém conseguiu reagir ao evento, com o medo paralisando a todos.

Após simplesmente sumir com Socorro, Hemeros disse:

"Você desrespeitou a regra principal da minha dimensão, velha." Hemeros começou a encarar o grupo na porta e continuou "Quem mentir em minha presença terá o mesmo destino."

"Mas que destino?!" indagou Rick "O que você fez com ela?!"

"Nada demais. Ela simplesmente está presa entre as palavras do livro onde eu a coloquei. Ela não sabia da regra, por isso não fui tão duro com ela. A velha deve estar revendo todos os eventos que ela escreveu naquelas folhas neste momento."

Rick não tinha ideia que fantasmas poderiam ter esse tipo de poder. Ele sabia que não tinha visto muitos fantasmas desde que ele virara um caçador, mas ainda sim... O poder de alterar a realidade desse jeito é algo que o pegou de surpresa.

"Eu odeio mentiras." disse Hemeros "Por isso, quero testar a honestidade de vocês. Alguém do seu grupo tem andado mentindo muito recentemente. Está me dando nos nervos. Faremos um pequeno jogo... para descobrir quem de vocês é o nojento que está pisando na honestidade humana. Comecemos?"

Os alunos estavam paralisados. Até Rick não sabia o que poderia acontecer se aceitassem esse desafio. Ele lembrara que Hemeros havia dito que aquela era a dimensão dele, então ele presumiu que se eles saíssem de lá, tudo poderia voltar ao normal. Claro, ele não tinha ideia de como sair de lá, então não teve escolha a não ser aceitar o jogo de Hemeros, qualquer que fosse ele.

"T-tudo bem, a gente participa desse seu jogo." disse Rick "Mas você terá que nos soltar quando tudo isto acabar. Feito?"

"HÁ! Você não tem poder aqui, criança. Não é você que faz as regras, sou eu."

Rick praguejou, pois agora não tinham garantia de que sairiam de lá, mas Hemeros continuou sua explicação:

"Mas hoje é seu dia de sorte. Eu só estou atrás do verme desonesto que está entre vocês. Quando o meu jogo terminar, eu terei descoberto quem essa pessoa é..."

"V-VOCÊ É LOUCO, CARA" gritou Marcos.

"Haha, talvez eu seja." disse Hemeros, contente "Fiquei preso neste lugar há mais de uma década... Já li cada livro daqui pelo menos cinquenta vezes. Talvez minha sanidade tenha ficado por entre as páginas que lotam esse lugar."

Com um sorriso sinistro e um balançar de mãos, Hemeros cria uma cadeira do nada, que se forma logo atrás dele. Ele se senta, cruza as mãos, e começa a encarar o grupo.

"Meu jogo é simples. Quem mentir, será preso em um dos livros deste lugar." explicou Hemeros "Eu escolherei para que livro vou mandá-los, claro. Sua missão... É dizer a verdade a cada pergunta que eu fizer. Fácil, não?"

Todos continuaram tremendo.

"Não precisam ter medo. Claro, a não ser que vocês estejam pensando em mentir para mim... Nesse caso, temam, pois eu encontrarei o mentiroso que me atraiu até aqui, e o prenderei para sempre no pior livro desse lugar."

Ninguém sabia o que Hemeros considerava o "pior" livro, mas nenhum dos alunos queria descobrir.

"Vamos começar?"

Hemeros balançou um pouco em sua cadeira, enquanto os alunos se preparavam para o pior. Mas, ao contrário do que esperavam, a primeira pergunta foi:

"Qual é sua cor preferida?"

Os alunos ficaram sem saber o que dizer. Não sabiam se Hemeros era um louco de pedra ou apenas um fantasma pregando uma peça. Mas ninguém quis testar a sorte, então responderam honestamente, um de cada vez:

"Prata." respondeu Rick.

"Vermelho." respondeu Yuurei.

"Pr-preto." respondeu Marcos.

"A-a-azul." respondeu o garoto loiro.

"B-branco." respondeu Morgana.

Hemeros continuou encarando os jovens, sem pestanejar. Todos começaram a suar frio, pois, apesar de terem sido sinceros em suas respostas, não sabiam se Hemeros iria acreditar neles, nem se ele tinha algum jeito de saber. A tensão estava matando a todos, quando Hemeros decidiu dizer o resultado do jogo:

"Ninguém mentiu."

Um suspiro de alívio coletivo ecoou pela biblioteca.

Mas o alívio durou pouco.

"Algum de vocês já roubou alguma coisa na vida?" foi a segunda pergunta.

Todos ficaram apreensivos. Não sabiam direito como responder essa pergunta. Ao ver a confusão nos olhos dos alunos, Hemeros explicou um pouco mais do que ele queria dizer com aquela pergunta:

"Quando eu digo 'roubar', eu quero dizer qualquer coisa mesmo. Desde um doce que alguém estava guardando até dinheiro."

Aquilo não tinha ajudado muito. Todos ainda estavam lentamente entrando em pânico, quando Rick e Yuurei responderam a pergunta:

"Sim." disse Rick.

"Sim." disse Yuurei.

O garoto loiro, Marcos e Morgana ainda estavam em dúvida, mas os garotos decidiram falar:

"S-sim." disseram ambos.

A única que havia sobrado era Morgana. Ela não tinha ideia de como responder aquilo, pois não tinha lembranças de sua vida, e não sabia se Hemeros levaria isso em conta. Ela teria perguntado, mas o nervosismo tomou conta da jovem fantasma, fazendo-a responder:

"Sim."

Hemeros olhou para o grupo, e disse calmamente:

"Morgana mentiu."

E, com um estalar de dedos, Morgana foi puxada para longe de Rick, que tentou segurá-la, mas falhou quando o corpo dela se afinou. Rick havia lembrado do anel que Morgana ainda estava usando, e torceu para que a atração do anel anulasse o poder de Hemeros... Mas não foi o que aconteceu. Um livro caiu de uma das prateleiras, aberto no chão. O espírito de Morgana havia virado uma linha, que entrou nas páginas do livro, que se fechou tão violentamente quanto o livro de controle de Socorro.

Rick gritou, mas já era tarde. Num acesso de raiva, ele se levantou, e correu para enfrentar Hemeros no mano-a-mano.

Mas parecia que o fantasma já esperava isso.

Rick cerrou seus punhos, e estava pronto para socar o fantasma, quando ele se levantou de sua cadeira, e, com sua mão direita, segurou o soco de Rick, puxando seu punho para trás, fazendo-o cair no chão. Rick estava pronto para se levantar, quando, com um simples movimento, Hemeros fez um forte vento levá-lo de volta à porta.

"Me atacar não lhe ajudará em nada, garoto." disse Hemeros "Sua amiga está numa floresta dos Estados Unidos neste momento, ou, pelo menos, num livro que fala sobre esse lugar. Tem muitos ursos lá."

"Ela não corre perigo, já que ela é uma fantasma, não?" perguntou Yuurei.

"HAHA, mas é claro que ela corre. Ela ser um fantasma ou uma humana não faz diferença em minha dimensão. Se um urso pegá-la, ela com certeza morrerá. E o único jeito de tirá-la de lá... É contando a verdade em meu jogo. Então fiquem quietas, crianças ... E continuem jogando."

Rick, apesar de ainda estar furioso, decide continuar.

"É a única forma de tirar ela de lá." pensou ele.

Hemeros volta a sentar em sua cadeira, e continua o jogo:

"Próxima pergunta: Qual o seu sobrenome?"

"Essas perguntas não fazem sentido!" pensou Rick, que resolveu responder mesmo assim:

"Pinheiro." disse Rick.

"Bana." disse Yuurei.

"Santos." disse Marcos.

"Machado." disse o garoto loiro.

"Ninguém mentiu."

Hemeros levantou de sua cadeira, e ajeitou seu paletó. Ele levantou sua mão direita, e preparou um estalo, mas antes, decidiu fazer outra pergunta:

"Já mataram alguém?"

Todos engoliram em seco, e a tensão ficou ainda maior quando Hemeros estalou seus dedos.

A sala começou a se distorcer, como se alguém estivesse amassando a sala inteira, fazendo uma enorme bola amassada de papel com o recinto, até que a biblioteca sumiu, deixando todos na mais completa escuridão. Por algum motivo, ninguém foi afetado fisicamente pelo acontecimento. Mas a sanidade de todos já estava chegando no seu limite.

"Tenho o livro perfeito para a ocasião." disse Hemeros, estalando os dedos novamente, causando um estrondo.

O tremor fez o chão negro se abrir, formando um abismo que engoliu a todos. Mas, antes que pudessem registrar que haviam caído em algum lugar, todos estavam no chão novamente, mas, dessa vez, não no chão da biblioteca, e sim, no asfalto.

Os alunos começaram a olhar para os lados, para tentar entender onde estavam. Prédios enormes, abandonados. Nuvens imensas cobriam o Sol, fazendo parecer que era noite, apesar de não estar completamente escuro. Lixo pelas ruas, luzes quebradas, carros abandonados... E um gemido que ecoava pelas ruas desertas.

Um gemido que parecia vir de uma multidão.

"Quem diria que haveria um livro sobre zumbis nesta biblioteca, hein?" disse Hemeros, sorrindo como um louco.

Todos começaram a olhar para os lados, tentando identificar de onde vinha o som. Eles estavam em uma longa avenida, com prédios em ambos os lados, mas o som parecia vir de todo lugar. Até que eles avistaram uma multidão de cadáveres andando em direção ao local onde eles estavam.

Eles podiam estar cambaleando, mas não demoraria até que chegassem lá.

"Acho melhor vocês responderem a minha pergunta sem demora. Tudo que acontecer com vocês aqui dentro, acontecerá de verdade. Então não tardem, não mintam, e vocês poderão sair daqui.

Marcos e Machado começaram a entrar em pânico. Mas Rick e Yuurei mantiveram a calma. Pelo menos, o máximo que conseguiam.

Rick encarou Hemeros, e, soando o mais frio possível, perguntou:

"Matar alguém... Fantasmas contam?"

Marcos e Yuurei olharam espantados para Rick, enquanto Machado continuava a fitar a horda de zumbis que se aproximava.

"Sim, contam." respondeu Hemeros.

"Então sim." respondeu Rick.

"Sim." respondeu Yuurei, para a surpresa de Rick.

Marcos continuava a tremer, mas conseguiu soltar um fraco "não". Machado era o único que faltava, e a horda estava cada vez mais próxima.

"Machado! MACHADO!" gritou Rick, enquanto balançava o garoto "Apenas responda, e nós poderemos sair daqui! VAI!"

"NÃO!" gritou Machado.

A horda continuava se aproximando, estando não mais que dez metros de distância, mas Hemeros ainda estava analisando as respostas em sua mente.

"JÁ RESPONDEMOS, SEU NOJENTO!" gritou Rick "TIRA A GENTE DAQUI!"

"Ninguém mentiu."

O cenário começou a se dissolver como água, dando lugar a um mundo totalmente diferente: A clareira de uma floresta à noite.

Havia uma fogueira acesa no meio da clareira, mas, tirando a luz do fogo, a escuridão era quase total. Não ajudava que a Lua não estava no céu nesse mundo fictício.

"Estamos em uma floresta mágica." Hemeros começou a explicar "Acender uma fogueira nela é uma ofensa, e isso acaba matando um dos personagens dessa história. Claro, não somos os mesmos personagens, mas lobos enormes estão se aproximando, então sugiro responder a minha pergunta rapidamente."

Machado e Marcos ainda estavam tremendo por causa do outro mundo, enquanto Rick e Yuurei tentavam se manter calmos.

"Próxima pergunta." disse Hemeros, olhando seriamente para o grupo "O que... vocês comeram na janta de ontem?"

Isso pegou todos de surpresa. As perguntas pareciam não ter padrão nenhum.

"E sejam específicos." pediu Hemeros "Eu quero que vocês digam cada coisa que comeram."

Machado, dessa vez, foi o primeiro a falar:

"Eu comi... Arroz, feijão... e bife... E salada de alface..."

"E-eu não jantei ontem." respondeu Marcos "Mas, se contar... Eu comi um saco de salgadinhos, enquanto tomava refrigerante."

"Arroz, feijão, linguiça, farofa, refrigerante." respondeu Rick.

"Arroz. E um copo de suco." respondeu Yuurei.

Os alunos conseguiram ouvir o uivo de lobos à distância.

Hemeros levantou a mão direita, e deu o veredito:

"Machado mentiu."

"NÃO, ESPERA!" gritou Machado, enquanto quase começava a chorar "EU NÃO MENTI, EU JURO!"

"Você mentiu. Esqueceu de mencionar as batatas fritas." respondeu Hemeros, friamente.

"Isso não é mentira!" protestou Rick "Foi uma omissão! Ele está sob pressão, esqueceu um detalhe!"

"Eu que crio as regras dessa dimensão, garoto." disse Hemeros, enquanto estalava os dedos "E eu digo que isso é uma mentira."

O mundo se dissolveu novamente, mas, dessa vez, Machado dissolveu-se com ele.

Rick ficava cada vez mais e mais furioso, mas sabia que terminar esse jogo era o caminho mais rápido para salvar a todos.

Mas agora Rick estava realmente impaciente, já que a vida de duas pessoas estavam em perigo.

O cenário na qual o grupo foi enviado agora era um campo enorme, que parecia sem fim. Mas o campo não estava vazio: De cada um dos lados havia um enorme exército de cavaleiros, com espadas em punho. Era o cenário de uma guerra que estava para começar.

"Um livro de história. Seção da era medieval. Divertido, não?" Hemeros explicava, com um sorriso no rosto.

Uma corneta soou. Os cavaleiros estavam prontos para o combate. Mas o grupo, que estava no meio dos dois exércitos, não estavam prontos para estarem no meio de uma batalha épica.

"FAZ LOGO A PORCARIA DA PERGUNTA!" gritou Rick.

"Ora, ora. Você realmente está ficando impaciente, não?" perguntou Hemeros "Próxima pergunta... Qual é o seu maior medo?"

A corneta soou novamente. Os exércitos começaram a correr, soltando urros de guerra, prontos para cortar quem estivesse em seu caminho.

"Aranhas." respondeu Rick.

"... F-fantasmas, agora." respondeu Marcos.

"Nada." respondeu Yuurei.

Hemeros lança um olhar desconfiado para o grupo, mas dá o veredito:

"Ninguém mentiu."

O ex-professor estala os dedos, e o mundo se dissolve novamente, mas dessa vez, bem mais rápido do que anteriormente.

Todos os alunos subitamente perdem o chão, e caem em galhos velhos de uma árvore quase morta, logo acima de um pântano.

"Um livro de ficção." explica Hemeros "Nele, tem um pântano onde as árvores crescem sobre puro ácido."

E o ácido cercava todo o pântano. Se alguém caísse, seria o seu fim.

"PRÓXIMA PERGUNTA." grita Hemeros "QUANTO É TRINTA E CINCO MAIS QUARENTA?"

O grupo, se esforçando para não cair dos galhos, grita, em uníssono:

"SETENTA E CINCO!"

Hemeros imediatamente estala os dedos, gritando "NINGUÉM MENTIU", e o mundo se dissolve novamente, fazendo todos caírem dos galhos direto num quente chão arenoso.

Quando o grupo se levanta, percebem que estão cercados de leões dormindo.

Mas Hemeros não parece ligar em acordá-los.

"PRÓXIMA PERGUNTA!"

Os leões despertam, e percebem que algo comestível acabara de invadir seu território.

"QUAL DEUS GREGO COMANDA OS OCEANOS?" grita Hemeros, com fervor.

"POSEIDON!" grita Rick, seguido por Yuurei e Marcos.

Estalar de dedos.

"NINGUÉM MENTIU!"

Enquanto o mundo se dissolvia, o chão embaixo do grupo começa a tremer, até que eles percebem que estão em cima de um trem em movimento. Mas o que estava à frente do trem foi a verdadeira surpresa: Um penhasco enorme, e eles pareciam estar indo direto a ele.

"PRÓXIMA PERGUNTA! 'LER' É UM VERBO?"

Todos gritaram "SIM!", enquanto o trem caía do penhasco, com o grupo gritando feito loucos. A esse ponto, o medo estava pouco a pouco sendo substituído por adrenalina.

Outro estalar de dedos.

"NINGUÉM MENTIU!"

Tudo se dissolve novamente, até o grupo se encontrar em uma antiga cidade. Os residentes os olham com surpresa e temor, enquanto os alunos tentam descobrir onde eles estão.

"Que lugar é esse?!" pergunta Rick.

"Pompéia." responde Hemeros "E o vulcão entrará em erupção a qualquer momento."

O chão começa a tremer.

"PRÓXIMA PERGUNTA! VOCÊS JÁ MENTIRAM ANTES?"

"SIM!" gritam Yuurei e Rick.

Porém, num momento de medo e adrenalina, Marcos acaba pensando demais na pergunta, achando que se respondesse sim, sofreria o castigo do fantasma que odeia mentiras. Então o garoto acaba respondendo "Não".

"MARCOS MENTIU!" gritou Hemeros.

Outro estalar de dedos. Marcos fica para trás, para encarar de perto a destruição de Pompéia.

O chão treme mais do que nunca, mas, subitamente, Rick e Yuurei descobrem que o chão na verdade é um colchão.

Os estudantes olharam ao seu redor. Era uma cama de casal, bem forrada. A casa parecia ser comum. Depois dos lugares onde eles visitaram, aquilo parecia uma pegadinha.

"Seria a casa de um serial killer?" pensou Rick "Ou será que estamos num campo de teste de armas nucleares?"

Mas seus pensamentos são interrompidos por Hemeros, que começa a bater palmas para a dupla que havia sobrado.

"Meus parabéns, vocês dois. Nunca vi gente tão honesta. Mas sei que um de vocês, na verdade, está me enganando. Um de vocês não só não é honesto, mas também é um dos maiores mentirosos que eu já encontrei na vida. Por isso, neste momento, vou fazer perguntas sem parar até que um de vocês minta. Preparados?"

"ISSO NÃO É JUSTO!" gritou Rick.

"Eu digo o que é justo aqui, garoto!" respondeu Hemeros.

Mas então, naquele momento, algo estranho acontece.

"O novato está certo, Hemeros." disse Yuurei, calma e friamente "Não tente nos passar a perna, seu espírito sujo."

Yuurei havia simplesmente mudado toda a sua expressão. Antes, ela parecia uma garota tímida e reservada, mas agora seu rosto estava mais para uma psicopata, pronta para atacar.

"... Yuurei?" perguntou Rick.

"Fique quieto, 'Rick'." respondeu Yuurei "Esse daí é meu. Tente pegá-lo, e eu acabo com a sua raça."

Rick estava sem chão. Sua cabeça girava. E o pior ainda estava por vir.

"Ei, Hemeros." disse Yuurei.

"Volte para o seu lugar, senhorita." respondeu Hemeros.

"Não me venha com essa. Pra um cara que é tão contra mentiras, você não passa de um enganador barato, como todo ser humano e fantasma desse mundo. Eu duvido que você consiga durar um minuto sequer nesse seu jogo estúpido."

"HÁ! Eu, um enganador? Vocês são os vermes que tentaram me passar a perna! Eu aceito o seu desafio, senhorita. Provarei que eu sou mais justo e honesto do que todos vocês combinados."

"Então temos um acordo?" disse Yuurei, enquanto estendia sua mão direita.

"TEMOS!" gritou Hemeros, enquanto apertava a mão de Yuurei.

Porém, Yuurei tinha uma carta na manga. Ou melhor, um anel.

Em sua mão esquerda, um anel vermelho apareceu do nada. Antes de Hemeros poder reagir, Yuurei segurou sua mão e colocou o anel no dedo do fantasma.

Yuurei tinha acabado de prender um espírito, tal como Rick fez com Morgana.

Rick estava sem palavras. Yuurei tinha o controle da situação o tempo todo.

"O QUÊ?" gritou Hemeros "O QUE VOCÊ FEZ? SUA..."

Hemeros tentou atacar Yuurei, estalando seus dedos, tentando prender a garota em um livro.

Mas não funcionou.

"Mas... E-eu... Não estou entendendo!" disse Hemeros.

"Você está preso, otário." explicou Yuurei "Mais um pra minha coleção pessoal, simples assim."

"C-coleção pessoal?" perguntou Rick.

"Vai me dizer que você não sabe pra que servem esses anéis? HAHAHA! Não achei que você fosse tão inexperiente... E eu achando que você sabia de alguma coisa por ter capturado aquela sua... Como ela se chamava mesmo? Morgana?"

"Eu..."

"Eu sou uma necromante, uma nova classe dentro do mundo dos exorcistas. Eu capturo fantasmas para usá-los contra outros fantasmas. Mas, pelo visto, você não é um. O que você tem feito com a Morgana? Levado ela pra passear?"

Rick não tinha resposta. Necromante? Ele não tinha certeza do que o termo significava, mas... Yuurei tinha salvo os dois, não é?

"Eu uso esses espíritos. Sabe, alguns fantasmas, pelo menos os poderosos, têm poderes bem interessantes e úteis. No caso desse cara... Prender pessoas em livros! É uma ótima habilidade. Agora que eu a testei, vejo que vai ser uma ótima adição para o meu pequeno exército."

"Você... ME ENGANOU?" indagou Hemeros, enfurecido.

"Fique quieto." mandou Yuurei, com um olhar tão frio que até Rick começou a tremer.

Hemeros simplesmente parou.

"Eu estava de olho nesse cara faz um tempo... Quando descobri que ele morreu por culpa de uns alunos que mentiram para ele, eu sabia que se eu começasse a mentir sem parar, ele apareceria."

"Então era você?!" perguntou Hemeros.

"A mentirosa? Sim, era eu. Agora libere a tal da Morgana, eu preciso falar com esses dois. E nos mande de volta para a biblioteca, já."

Hemeros parecia que ia estourar uma veia de tão furioso. Mas, por algum motivo, ele obedeceu Yuurei, transportando o trio para a biblioteca, e libertando Morgana.

Morgana estava confusa, parecia que tinha sido perseguida por algo, mas não estava machucada. Rick correu e abraçou sua fantasma, pedindo desculpas por não tê-la libertado antes.

"Awn, que meigo." zombou Yuurei "Você realmente a trata como uma amiga. É de cair o queixo."

"O que você quer dizer com isso?" perguntou Rick, furioso.

"Esqueça." respondeu Yuurei "Ah, obrigado por fazerem o bibliotecário aqui baixar a guarda. Ele não teria sido pego tão facilmente se ele não tivesse vencido alguns rounds."

"Ora, sua..." começou Hemeros, que parou imediatamente quando Yuurei o encarou.

"Eu posso te mandar para o além rapidinho, senhor Hemeros. E do jeito mais doloroso possível, limpando toda a sua alma até que não sobre nada. Espero que você não me responda desse jeito daqui em diante."

Hemeros ficou sem resposta.

"Bem, como eu ia dizendo... Como agradecimento por me ajudarem, deixarei os créditos por terem derrotado esse cara com vocês. Vai ajudar no seu negócio, não é, Rick? Hahaha."

Rick fitava Yuurei, com o olhar mais furioso que ele já tinha feito na vida.

"Não me olhe assim, chuchu. Ninguém se feriu, não é? Ah, por falar nisso... Vou trazer todos de volta, mas não mencionem que eu sou uma necromante para ninguém. Senão..."

"Senão o quê?" perguntou Rick "Eu e a Morgana podemos derrotar vocês num piscar de olhos, você não tem com o quê nos ameaçar."

Rick falava sem pensar, mas tinha a confiança de que poderia dar conta da dupla Yuurei-Hemeros.

"Há. Pense de novo, querido." Yuurei levantou sua mão esquerda, e, gradativamente, quatro outros anéis vermelhos surgiram nos dedos dela, iguais aos que ela usou para prender Hemeros.

Rick engoliu em seco. Não eram dois contra dois, mas seis contra dois. Era uma batalha perdida.

Morgana, que parecia estar em um transe até o momento, volta a si.

"Você... Era a garota que cheirava a morte." explica ela.

"Saber disso não mudaria a sua situação. Agora, vou trazer o povo de volta. Com isso, sua popularidade vai aumentar um pouco mais... Espero que você continue atrás dos peixes pequenos, enquanto eu vou atrás das baleias, meu caro Rick..."

"Mas baleias nem são peixes..." murmura Morgana, sem pensar.

Com um rápido movimento, Hemeros toca a testa de Rick e Morgana, pronto para estalar os dedos.

"Fiquem calados." ordena Yuurei "Você pode achar que isso é uma brincadeira, garota do cabelo branco, mas não é. Vocês só estão agindo como querem porque EU permito. Só estão brincando de caçar fantasmas porque EU permito. Essa cidade agora está sob minha jurisdição. Se eu quiser, posso enfiar os dois na seção das Guerras Mundiais de um livro de história, e deixar ambos lá até que percam sua sanidade. Vocês querem ficar loucos, ou preferem ficar quietos?"

Rick e Morgana não conseguiram dizer uma palavra sequer.

"Ótimo! Bons cachorrinhos, obedecendo à sua dona! Hemeros, traga a velha e os moleques de volta."

Hemeros estala os dedos, e todos os que estavam em livros voltam à biblioteca. Todos parecem em pânico, e mal conseguem falar.

Um dos anéis vermelhos de Yuurei brilham, e uma fantasma parece sair de dentro dele. Ela vestia uma roupa vermelha de gala, com um colar de pérolas. Seus longos cabelos castanhos flutuavam pelo ar.

"Mnemosine, apague as memórias desses três. Apague sua estada nos livros, e também apague as memórias sobre Morgana e Hemeros. Mas deixe o fato de que eles viram um fantasma."

"Com todo prazer, senhorita." respondeu Mnemosine, que começou a tocar nas testas dos alunos e da bibliotecária, excluindo Morgana e Rick.

Quando Socorro, Marcos e Machado voltaram a si, perguntaram para onde havia ido o fantasma.

Yuurei pulou nos braços de Rick, e gritou, na maior felicidade:

"Vocês deviam ter visto! O Rick derrotou o fantasma num golpe só! Ele realmente é um profissional! Ele nos salvou!"

Todo mundo ficou confuso, inclusive Rick, que olhou para baixo para encarar Yuurei, que simplesmente fez um sinal de silêncio com o dedo indicador para Rick.

"Se vocês tiverem problemas com fantasmas, ele é o cara!" continuou Yuurei.

Rick a olha, rancoroso.

Yuurei simplesmente lhe dá uma piscadela, e diz:

"Até mais, colega de classe."

Marcos, Machado e Socorro vem agradecer a Rick, que acaba segurando sua raiva e conversando com o grupo, lhes dando seu telefone.

Após alguns minutos de conversa, Rick sai da biblioteca, e em seguida, da escola.

Morgana olha para Rick, que está vermelho de raiva.

"Você... está bem?" pergunta ela.

"Sim." responde Rick, secamente.

"Então porque está tão bravo?"

Rick para, olha para o alto, e suspira.

"É que agora temos uma rival no ramo de caçadores de fantasmas."