Among Walkers escrita por Andressa Badaró


Capítulo 4
Dia 30 - Samuel


Notas iniciais do capítulo

Oi gente! Cheguei cedo né? xD
Então, só um aviso importante: o conto a seguir é bem diferente dos que eu já postei até agora porém ele é muito importante.
Boa leitura :)



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Acordei suando e assustado.

— Samuel? Tá tudo bem, meu amor? - Perguntou minha esposa

Desde que tudo começou, não consigo dormir direito. É sempre o mesmo sonho: eu estou em uma floresta e ouço meu filho e minha esposa gritando mas eu nunca consigo alcançá-los.

—Nada não, Jo. Só o mesmo sonho de sempre.

Meus dias cada vez são mais difíceis. Passo incansáveis horas pensando em como manter minha família segura em meio esse apocalipse.

Sim, eu ainda tenho esperança que esse inferno acabe.

Tentamos ficar fora de perigo, saqueamos algumas lojas só quando temos certeza que não tem ninguém  dentro dela (sendo vivo ou não) e quando tem sobreviventes, procuramos não parecer nenhum tipo de ameaça a eles. Trocamos alguns itens e até fazemos alguma amizade mas nunca fizemos nenhum tipo de grupo com essas pessoas porque por mais que a maioria delas sejam boas, em um apocalipse elas passam a pensar somente em seus próprios interesses.

Meu filho Pedro gosta de anotar quantos sobreviventes encontramos pelo caminho. Ele diz que o mantém com esperanças. Até agora foram 27, se não me engano.

Avançávamos pela rua e começava a escurecer. Nossa meta do dia já estava completa: tínhamos água e comida que iria durar pelo menos para dois dias. A gente não gostava de carregar muita comida conosco por causa do peso pois não valia a pena.

Havia uma mercearia que a gente sempre passava a noite quando estávamos ela região. Já tínhamos saqueado ela então já não tinha nada.

Entrei primeiro para me certificar que não tinha ninguém e quando vi que estava tudo ok mandei eles entrarem em seguida.

Estávamos nos preparando para dormir quando eu ouvi um barulho de carro.

—Fiquem quietos. -falei para Joana e Pedro.

Entraram três homens e uma mulher fazendo uma algazarra. Falavam alto, riam e saiam chutando as coisas. Peguei a faca que ficava no meu cinto por precaução.

—Bill, olha o que achei - falou a garota levantando uma garrafa de whiskey.

—Boa, Gabi! Guarda que a gente vai usá-la mais tarde - respondeu o cara com uma cicatriz no olho.

Vi que um cara grande começava a se aproximar do balcão. Em um impulso eu pulei para cima dele antes que ele pudesse nos ver. Eu sabia que esses caras não eram gente boa e eu precisava proteger minha família.

Escolha errada.

O cara era extremamente forte e não teve muita dificuldade de me imobilizar.

—Ora, ora, ora. O que temos aqui? -se aproximou o cara com a cicatriz no olho tirando a arma do bolso. - Meu nome é Bill, prazer. E o seu, meu senhor?

Não respondi. Eu não conseguia falar nada porque estava muito frustrado.

—Eu disse: Qual é o seu nome? - perguntou mais uma vez, só que agora apontando a arma para minha cabeça.

— Pai, não! -Saiu o Pedro de trás do balcão e se pôs entre eu e a arma me abraçando. Em seguida saiu Joana chorando.

—Olha, ele não está sozinho. Que ótimo! Gabriela e Julio, peguem os dois. -ordenou Bill aos outros dois amigos que assim o fizeram.

Agora minha mulher e meu filho estavam na minha frente de joelhos e imobilizados.

Eu podia ver o medo em seus olhos.

—Meu nome é Samuel. Por favor, leve tudo que nós temos mas nos deixe em paz. É tudo que pedimos. -supliquei aterrorizado.

—Hmm, Samuel. Nome bíblico, gostei. - ele deu um sorriso que me arrepiou - Então Samuel, eu não gosto quando tentam machucam meus amigos. Essa faca aí é bastante afiada. Imagina se pega no rosto do Julio? Ele ia ficar com a cicatriz igual a minha e não é legal. Então, para ser justo, acho que meus amigos tem direito de revidar, você não acha? - então ele se aproximou de mim com o punho fechado e eu fechei os olhos.

E então ouvi minha mulher gritando.

Quando abri os olhos minha mulher estava com o nariz sangrando e chorando muito.

—Pelo amor de Deus, para com isso. Já te oferecemos tudo o que temos, o que mais você quer? - gritei.

—Ah Samuel, meu querido. A gente só tá se divertindo. - ele ria como se tivesse visto a coisa mais engraçada do mundo.

— Vocês são doentes! Deixa a gente em paz, por favor! O que vocês vão ganhar fazendo isso? - disse Pedro com o desespero estampado no rosto.

—Olha, o menino sabe falar além de chorar. -ele se virou para Pedro então eu gritei e forcei para sair para que ele prestasse atenção em mim ao invés do meu filho. -Tudo bem, você parece entediado. Já sei! Vamos brincar de charada?

—O que? - disse a menina do grupo sem entender muita coisa.

—É simples: vou fazer duas charadas, uma referente a sua mulher e outra referente ao seu filho. Se você errar, eles morrem. Se acertar eles vivem. Capichè?

—Cara, acho que você tá indo longe demais. -disse o cara grandão que tava me segurando.

—Calem a porra da boca! Quem é o líder aqui? Se vocês querem sobreviver então as pessoas tem que sentir medo da gente. - Ele disse ensandecido.

Totalmente doente.

—Olha cara, por favor. A gente só quer ir embora, pode ficar com tudo e... - antes que eu terminasse de falar ele me deu uma coronhada na cabeça que me deixou totalmente desnorteado e com os ouvidos zumbindo.

—Mais algum adendo? Não? Então vamos começar! - ele andou em círculos com a mão no queixo como se estivesse pensando. - Ok. Valendo a vida da sua mulher: Por que os loucos nunca estão em casa?

“O que? Isso é sério?”

Eu tentava pensar na resposta mas a dor na minha cabeça me atrapalhava demais

—Três…

Ele tava fazendo contagem regressiva. Eu olhava para o rosto da minha mulher e eu senti medo. Ela balançou a cabeça como se estivesse falando que entendia.

—Dois…

Eu buscava cada vez mais a fundo a resposta e não conseguia pensar no que era. Lágrimas caiam do meu rosto, eu olhei para o meu filho e percebi que ele estava tentando pensar na resposta junto comigo.

—Um…

Olhei para minha mulher mais uma vez e ela sussurrou um “eu te amo”.

Aquilo acabou comigo.

—Acabou seu tempo. A resposta era “porque eles vivem fora de si” - ele começou a rir como um lunático e todos começaram a encará-lo com medo. -Que pena não é mesmo?

Ele se virou, apontou a arma para a cabeça da minha esposa e atirou.

Naquele momento, o mundo começou a parar e eu vi tudo em câmera lenta.

—Bill! Você tá maluco, porra? Isso já foi longe demais! -falou a garota o empurrando.

—Vocês estão me questionando agora? -ele apontou a arma para a garota - Não se esqueça do que eu fiz por vocês, seus merdinhas. Se não fosse por mim, vocês já teriam virado comida de zumbi a muito tempo!

Então todo mundo ficou quieto e recuou.

—Pelo amor de Deus! Por favor, eu te imploro! Eu faço o que você quiser - eu disse me arrastando até seus pés.

—Sai daqui seu velho nojento. -Ele me chutou e eu fui para trás -Vamos continuar porque eu já to sem paciência. Próxima charada valendo a vida do seu filho: O que há no meio do coração?

—Não, por favor - eu soluçava de tanto que já estava chorando.

Um filme se passava na minha cabeça. Tudo que eu fiz durante esse mês para manter minha família a salvo no final não valeu de nada.

—Três…

Ela começou a contar de novo. Preciso pensar rápido. “ O que há no meio do coração?”

—Dois…

—Deus, por favor, me ajuda.- comecei a rezar.

Então veio a minha cabeça: isso é uma charada, então não tem nada a ver com o coração de verdade. Então só pode ser com a palavra.

—Um…

—A letra “a” ! O que tem no meio do coração é a letra “a”! - eu nunca estive tão desesperado na minha vida.

— Hmmm. Muito bem, você acertou. -Ele disse com uma cara bem decepcionada.

Alivio

Foi isso que eu senti no meu coração e vi no rosto de cada um ali presente.

—Mas, quer saber? Eu não tô nem ai. - Bill se virou, apontou a arma para o meu filho e atirou.

Entrei em estado de choque.

Ouvi a menina gritando, alguém questionando por que ele tinha feito isso mas nada estava se formando com clareza na minha mente.

Eu pensei que eu estava em um pesadelo. Eu tentava e tentava acordar mas não funcionava

—Me mata. - sussurrei.

—O que? Você falou alguma coisa porque eu não consegui te ouvir. -disse Bill se agachando e ficando na altura dos meus olhos.

—Me mata, seu filha da puta!

Olhando diretamente para ele vi com clareza a cicatriz que ele tinha no olho.

Aquilo me arrepiou

— Não posso, meu querido Samuel. Quem é que vai passar essa história pra frente?

—Você é doente, não é possível! Por que? Só me fala por que você fez isso tudo se nós não apresentamos risco nenhum? - tentei dizer em meio a soluços.

—Nesse apocalipse só sobrevivem aqueles que são os mais fortes; os mais temidos. E eu, meu amigo,  quero ser reconhecido como o melhor deles. - ele disse com um sorriso como se tivesse aproveitado cada segundo daquilo tudo. -Bem, vamos embora galera.

Eles se retiraram com a cabeça baixa e calados.

Eu fiquei ali.

De frente ao corpo desfalecido do meu filho e da minha esposa senti que meu corpo também já estava sem vida. Peguei minha faca que estava jogada no chão ao meu lado e cortei meus pulsos na vertical. Não foi um esforço tão grande para mim porque naquele momento nem sentir dor eu estava mais sentindo.

Deitei entre seus corpos e pedi desculpas por ter falhado com eles. Comecei a conversar e relembrar dos nosso momentos no passado.

Então, minha visão foi escurecendo e senti uma coisa que desde de que esse apocalipse começou eu não sentia.

Paz


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Notas finais do capítulo

Bem, eu fiquei com bastante dúvida nesse conto porque ele é bem forte. Espero que não esteja forte demais xD
Deem o feedback, sugestões e dúvidas nos comentários. Comentem o que vocês acham que vai acontecer em seguida!
Até a próxima!



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