Histórias do cara do balcão. escrita por Mestre do Universo dos Vermes


Capítulo 9
Como falar Terassá (e elefantes saltitantes)




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Ah, olá.

Você por aqui?

Não, sério, você por aqui? Sinto te desapontar, mas já te contei minhas melhores histórias, então sinta-se livre para ir embora.

Não? Tudo bem, sempre dá para pensar em algo...

Vejamos... Tio da limpeza, tutor, fazendeiro, ajudante de cozinha, estagiescravo... Não tem muito mais a te contar, mas, se você não for exigente, com certeza arrumo algo legal.

E, se tudo falhar, sempre existe a fofoca para preencher as conversas vazias!

Hm... Que tal a vez que eu trabalhei monitorando câmeras?

É, acho que serve.

"Como eu já disse, foi logo depois da minha breve experiência rural.

Acredite se quiser, mas essa foi mais breve ainda!

Sério, acho que passei no máximo dois dias no cargo.

Não que fosse um cargo muito interessante. Eu só tinha que vigiar as câmeras e, sei lá, garantir que nada anormal acontecesse ou algo assim.

Era chato, sim, mas... Hm... Era melhor do que nada? Eu tinha acabado de voltar da minha 'expulsão', não podia reclamar.

Havia uns caras da segurança que realmente não gostavam de mim. Nem um pouquinho. Eu imagino fortemente que seja porque 'eu' e 'segurança' nunca nos demos muito bem. Sou levemente propenso a acidentes, você sabe...

Enfim, vigiar câmeras, é isso aí, que emocionante... Só não era pior porque espiar a vida alheia sempre foi quase um passatempo para mim.

Fique com isso em mente: trabalhos que não são para você estragam até seus passatempos. Era tão legal, mas, através das câmeras, ficou uma chatice.

Então eu comecei a ver Big Brother.

Isso aí que você leu, por mais absurdo que pareça, juro que é verdade.

Por quê? Bem, se era para ver a vida de alguém, que fosse de pessoas duvidosas num programa manipulativo e sedento por audiência e sem nenhum escrúpulo ou moral. Também conhecido como 'reality show'.

Como Big Brother existe no meio de uma guerra? Francamente, eu não faço ideia e nem quero saber, esses programas loucos por audiência são capazes de tudo! Só sei que foi difícil conectar o sinal do Big Brother nas câmeras, levei um choque no processo e tive que subornar uma moça da sessão de reparos (não a que eu quebrei o celular, chamei uma que não me odeia) para me ajudar.

Valeu muito a pena.

Não pelo Big Brother, francamente eu não dou a mínima para esse programa... Nunca pensei que assistiria por livre e espontânea vontade um dia, mas, ei, a guerra muda as pessoas. O tédio também.

Valeu a pena porque eu queria ver quanto tempo levaria até alguém notar!

Levou bem mais do que eu esperava...

Eu sinceramente esperava que o povo da segurança fosse mais atento, consegui ver uma boa parte do programa antes de repararem!

Muita gente ficou irritada quando descobriu... Não tenho certeza se pelo claro descumprimento das normas ou se só pelo meu mau gosto.

Meu eu do passado também ficaria muito irritado comigo se me visse assistindo Big Brother!

Ah, também tem o detalhe de que, enquanto o reality show estava passando, o prédio ficou tecnicamente sem monitoramento.

Mas, sério, eu não esperava ser demitido depois dessa. Geralmente leva três ou quatro erros idiotas/graves desses para me mandarem embora.

Foi a demissão mais rápida da minha vida! E olha que nisso eu tenho experiência!

Com isso eu aprendi que mau gosto pode ser mais grave que qualquer outro defeito que você possa ter."

É... Eu disse que não era uma história muito interessante.

Nem longa, mas nem se eu quisesse eu podia fazer uma história longa de um emprego que não durou nem dois dias inteiros.

Eu podia te falar da prova do líder que teve no Big Brother, mas, francamente, suspeito que você não dá a mínima para isso.

Além do mais, minha cabeça está doendo. É, é uma droga, obrigado pela preocupação.

Sério, por que existe dor de cabeça?

Aliás, por que temos cérebro?

Sim, eu sei que você deve pensar em responder algo como "para pensar", "para ter ideias", "para raciocinar", "para julgar silenciosamente as outras pessoas", "para não sermos vegetais" ou esses derivados. E eu aceito essa resposta, seja ela qual for, aceito de verdade, então vou mudar a pergunta: por que eu tenho um cérebro?

Ora, vamos lá, eu não penso muito, nem costumo raciocinar muito, não tenho realmente um filtro entre minha cabeça e minha boca para me impedir de falar todas as idiotices que vem à mente... Por que diabos eu tenho um cérebro?

A pior parte é que eu só tenho certeza da existência dele quando ele decide se rebelar contra mim e transformar minha cabeça num inferno! Bem, é isso ou alguma espécie desconhecida de minúsculo mico de circo decidiu habitar minha cabeça oca e gosta de, ocasionalmente e sem aviso, tocar tambores e sambar de salto agulha lá dentro. Qual teoria você prefere?

Quem liga para teorias? O que importa é que dói e incomoda.

Mas tudo bem, deve passar logo.

Até lá, vejamos... Sem histórias, resta apelar.

Fofocas.

Conhece alguma boa?

Deixa eu ver se tenho alguma... Hm... Lembra daquela reunião suspeita e provavelmente secreta que os "colarinho branco" fizeram? Tenho 90% de certeza que tinha algo a ver com o Agente Chihuahua. Por quê? Fácil. Ele foi chamado para "falar com o chefe" ou algo assim, e isso não costuma ser coisa boa...

Ele e a Dra. Acre ainda não estão se falando. Não tenho certeza de como me sentir quanto a isso. Por um lado, nenhum deles gosta de mim em absolutamente nenhum nível, então deve ser bom eles estarem separados, já que assim tenho menos chances de arrumar problema. Por outro lado, eles eram um casal esquisito, mas de um jeito bonitinho, como uma salamandra axolote (se você não sabe o que é uma salamandra axolote, é um bicho esquisito, mas bonitinho), e é uma pena estarem brigados. E, por um terceiro lado, eu não devia me meter porque não tenho nada a ver com isso.

Olha, não é que o terceiro lado resolveu as coisas?

Acho que, tecnicamente, o nome da salamandra não é "axolote", está mais para algo como "axolotle"... Sei lá, se você faz questão das coisas bem certinhas, é "axolotl", mas não me peça para pronunciar isso!

Existem tantas coisas difíceis de pronunciar. As pessoas que inventam as palavras deviam ser um pouco mais legais com a gente, pobres mortais incapazes de posicionar a língua em ângulos bizarros, e facilitar um pouco nas palavras.

Algumas coisas são difíceis de pronunciar não porque o nome é complicado, mas porque a frase é um trava língua.

Acho que o mais complicado é dizer "casa suja, chão sujo" rápido cinco vezes.

Todas as palavras são fáceis, mas a frase é um inferno para falar.

Vá em frente, tente, eu sei que você quer.

Também existem línguas que parecem um inferno para pronunciar: russo, por exemplo, ou talvez alemão, ou mandarim, ou hindi... A lista é grande. Acho que a pior língua que eu já vi para se pronunciar é a terassá, abreviação de teratódis glóssa.

Nem tente, você não vai saber que língua é essa nem de onde ela é.... Ah não, espera, eu posso te contar: é a língua dos monstros. Pronto, ficou bem mais simples, não?

"Teratódis glóssa" significa literalmente "língua monstruosa" em grego. Por que grego? Eu não faço ideia, mas parece que a maior parte dos termos que existe vem do grego ou do latim, então não cabe a mim questionar. Se realmente faz questão da resposta, sugiro que procure um gramático, um linguista, um historiador ou qualquer ser humano (ou não humano) que saiba te explicar o motivo.

Talvez tenha algo a ver com Grécia e Roma serem as grandes civilizações da Antiguidade... Enfim, eu não sei, nunca me formei em história e/ou qualquer coisa relacionada à linguagem para saber, só sei que é assim.

Pessoalmente, eu gosto da palavra "terassá", ela é legal de pronunciar... Bem diferente do idioma que representa. Sério, falar terassá é tão complicado que você preferiria queimar sua língua numa chapa bem quente a tentar aprender. Bem, ao menos é como eu me sinto.

Para falar terassá você precisa... Hm... Como eu posso explicar? Acho que o melhor modo de chegar bem perto da pronúncia certa, ou pelo menos ter uma boa noção, é ir até o Google tradutor, escolher uma língua qualquer puramente na sorte (pode até fechar os olhos se quiser), escrever várias palavras aleatórias e tentar pronunciá-las nessa língua. Mas não basta apenas se desdobrar para pronunciar algo que você não sabe falar, tente beber um suco de limão sem açúcar antes de tentar, encher a boca de queijo branco e fingir que está se afogando enquanto fala.

Por quê? Eu não faço ideia, só sei que dá certo. Se você meio que "se afogar em suco bem azedo enquanto está com a boca cheia de queijo" ou pelo menos fingir que está, você consegue pronunciar decentemente o terassá. Você também pode fingir que tem um cara muito improvável tentando te estrangular enquanto você toma um delicioso suco de limão sem açúcar, dá certo do mesmo jeito e elimina a necessidade do queijo, mas você vai ficar com um sotaque meio sulista.

Por que tem que ser uma pessoa improvável te estrangulando na sua imaginação? Para adicionar o tom de surpresa e incredulidade na sua voz. Se quiser minha sugestão, imagine o Justin Bieber, ou a Madre Teresa de Calcutá, ou um pug.... A não ser que eles tenham motivos para te estrangular de verdade, nesse caso é uma péssima ideia.

Algo que eu realmente não entendo é: se os monstros, já lá na Antiguidade, sabiam grego o bastante para buscar o nome da língua deles no grego, por que eles não continuaram simplesmente falando grego? Tem gente que realmente gosta de complicar...

Você também pode tentar pôr um pequeno peixe vivo na sua boca enquanto fala terassá. Nunca tentei, mas tem gente que diz que ajuda a treinar a pronúncia. É mais ou menos assim: se você conseguir não engolir e nem matar o peixe, você está no caminho certo. Ah, e não esqueça que ele precisa de água para viver, então não pratique por longos períodos sem pausas (e o coloque no aquário nessas pausas!).

Por que eu estou falando de terassá? Não sei, de verdade, eu não sei. Só estava tagarelando por não ter o que dizer e acabamos aqui. Mas, ei, podia ser pior, não? Você podia estar tagarelando com o Sr. Dragão lá na biblioteca. Aquele cara só sabe falar de economia, de política e da inveja que ele "não sente" dos outros (mesmo assim, ele não vai parar de falar das coisas que os outros tem e deviam ser dele).

Ou você podia ter que aturar as fofocas sem graça e comentários maldosos da Serena/Sol/Sabrina. Ela é um amor de pessoa, mas realmente podia controlar um pouco mais a língua...

Pensando bem, quem sou eu para dar esse tipo de conselho?

Voltando às coisas muito difíceis de pronunciar (como o coreano, o polonês ou a palavra "Pneumoultramicroscopicossilicovulcanoconiótico"), já te falei dos nomes dos monstros? Ah, sim, eles tem nomes, caso alguém tenha dúvida. E são coisas monstruosas de falar (piadinha fraca proposital).

Tem o "chefão" dos monstros por exemplo. "Chefão" porque é ele que manda em todos os outros chefes dos monstros e, por tabela, em todo resto dos monstros. Eu não faço ideia se ele é "presidente", "rei", "imperador", "czar", "cacique" ou qualquer outro termo, provavelmente é um termo completamente diferente que só existe na cultura monstro e que eu desconheço, então só chamo de "chefão".

Na verdade eu também o chamo de Anselmo, mas essa é outra história.

Não, o nome dele não é Anselmo. Eu não tenho certeza de como se escreve ou pronuncia o nome dele. Não sei nem quem inventou o nome dele e como esse ser fez essa proeza. Tente fechar os olhos e digitar de 20 a 30 caracteres aleatórios (letras, números, pontuação... Vale qualquer símbolo que exista no seu teclado), ou simplesmente dê alguns murros no seu teclado, se você estiver disposto... Depois tente pronunciar essa coisa formada com minhas dicas de falar terassá. O nome dele deve ser mais ou menos como o resultado dessa experiência.

A parte boa é que, se você não deslocar sua mandíbula, torcer ou morder sua língua ou se engasgar no processo de tentar falar terassá, você provavelmente consegue aprender qualquer outra língua sem muitos problemas.

Mas, ei, eu estava falando do Anselmo, não?

Bem, como você pode imaginar, eu não estava muito a fim de tentar pronunciar o nome dele, nem sabia bem qual título eu podia usar no lugar, então apelei para o clichê de "aquele que não pode ser mencionado".

Depois, descobri que falar "aquele que não pode ser mencionado" era muito longo, chato e cansativo. Então abreviei:

Aquele que Não pode SEr MencionadO.

Eu sei que faltou o L, mas foi o melhor que eu consegui fazer, tá?

O Anselmo parece um cara/criatura de temperamento difícil, pelo que eu ouvi falar... Mas eu já estou te entediando, não? Foi mal, eu sei que nem sou um bom professor de história/português/idiomas para compensar... Juro que vou mudar de assunto para algo mais interessante.

Coisas interessante... Vejamos...

Teve bolo no pote na lanchonete hoje. Foi bem legal.

Ainda não confio na comida de lá, mas isso não me impede de gostar quando tem bolo no pote! Acabou rapidinho... Que pena.

Você percebe que a conversa está ruim e decadente quando precisa apelar para comida...

Acho que só vou encerrar essa agonia logo e parar de fingir que tenho o que dizer.

Foi mal, o balcão não é o lugar mais emocionante ou interessante do mundo, ou desse prédio, o que dá no mesmo no atual cenário geopolítico...

Falei bonito, não? Eu brincava de ser jornalista quando era menor.

Enfim, espero ter algo realmente relevante para te contar na próxima!

Agora vou ali cochilar porque parece que tem mini elefantes fazendo uma competição de saltos ornamentais na minha cabeça.

Elefantes são os únicos mamíferos que não pulam.

Sim, minha dor de cabeça está absurda a esse ponto.

Até.


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