Histórias do cara do balcão. escrita por Mestre do Universo dos Vermes


Capítulo 7
Galos: despertadores sem botão de soneca.




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Hey!

Bom te ver por aqui.

Acho que eu fiquei te devendo alguma coisa... O que era mesmo?

Ah sim, a vez que me despediram de vez...

Essa não é realmente uma história interessante, afinal, o final é óbvio. Alguém aí tem dúvidas de que eu voltei?

Espero que não, gosto de pensar em você como uma pessoa inteligente.

Enfim, como vai sua vida? Bem, mal, nenhuma das alternativas?

A minha está tranquila, infelizmente o Rogério/Rambo/Roberval acabou morrendo, o que é uma pena, porque eu estava quase completando um mês inteiro sem ele morrer... Ia ser meu recorde pessoal! Então eu fiz o de sempre, um minuto de silêncio, botão de resetar, tentar de novo. Chamei o Valério/Vlad/Viviano para fazer o minuto de silêncio, já que ele faz tanta questão de passar por isso comigo uma vez por mês... O nome do tamagotichi agora é Riollu! Ou era Rump? Talvez Reich? Ah, sei lá, eu nomeei ontem, me dá um desconto! Só sei que ele está bem, vivo e feliz, e espero que ele fique assim por pelo menos um mês e um dia para eu poder finalmente bater um recorde!

A recepcionista começou uma dieta nova, mas não acho que isso vá durar. Pessoalmente, eu acho as idas dela ao banheiro depois das refeições meio suspeitas, mas, ei, não é problema meu, certo? E talvez assim a Sidney/Sienna/Stefanini pare de fazer comentários inconvenientes quanto ao peso dela. Para uma tia da limpeza, ela com certeza se importa mais que a média com a aparência alheia.

Pelo menos os comentários dela são engraçados. Criatividade é tudo!

Bem, chega dessa conversinha, afinal, todos aqui sabem que você veio pela história, não pelas pequenas fofocas triviais que nem são tão boas assim.

Vamos lá:

"Aconteceu mais ou menos depois do meu nono, décimo ou onzézimo emprego, algo assim. Eu já tinha sido estagiário duas vezes, 'ajudante' da cozinha, 'garoto de recados' do prédio, atendente da lanchonete, cozinheiro da lanchonete, ajudante na cafeteria, ajudante na enfermaria, trabalhado no escritório de contabilidade e sido camareiro. Pelo menos que eu me lembre agora... Talvez tenha deixado algo de fora.

Eu já te falei de um ou outro desses, então vou dar um resuminho do que houve com os outros só para matar sua curiosidade, já que eu não quero ninguém interrompendo minha história com perguntas como 'você fez tal coisa?', 'como você foi demitido?', 'como não te demitiram mais cedo?', etc. Não me leve a mal, eu gosto de gente curiosa e tudo o mais, mas eu também gosto de deixar a história fluir. Se, no fim, eu não satisfazer todas as suas dúvidas e curiosidades, bem, aí você pode perguntar.

Ok que talvez eu diga para você voltar outro dia e eu conto o que você quer saber em outra história, mas, se eu não fizesse isso, você voltaria? Vamos, responda com sinceridade. E, bem, eu gosto de garantir suas visitas porque, sinceramente, se não fosse por você eu morreria de tédio aqui.

Do que eu estava falando mesmo? Ah, meus primeiros empregos. Vejamos... Eu cometi tantos erros como estagiário que nem dá para contar, mas acho que os mais 'famosos' foram aquele episódio dos polvos e lagostas nos escritórios, a vez que eu sem querer inundei um andar inteiro, e eu era bem ruim em pegar café também, o que acho que pesou mais na minha demissão que o resto. Como 'garoto de recados', eu errava, trocava, interpretava e confundia quase todo recado, e olha que eu anotava! Alguns eu até conseguia a proeza de passar certo, mas com o adicional da minha interpretação do recado que nunca era muito bem recebida...

Na contabilidade, bem, tudo o que você tem que saber é que matemática nunca foi meu ponto forte, então, sim, eu errei vários e vários cálculos. Não que isso por si só fosse insuportável, mas adicione isso à minha tendência a falar demais e distrair meus 'colegas de trabalho' e a um pequeno episódio de insubordinação no qual eu posso ou não ter feito um comentário não muito pertinente sobre a forma como meu superior passava os fins de semana dele.

Todas as vezes que eu entrei numa cozinha, aconteceu algo ruim relacionado a fogo e isso você já deve saber bem. Quando eu fui ajudante da enfermeira, bem, além de acabar vendo aqueles encontros 'suspeitos' entre ela e a monitora da creche (os quais eu poderia viver muito bem sem saber da existência), eu também aprendi como cuidar de 90% dos problemas do mundo: com gelo, chazinho, analgésico fraco ou um cochilo na maca. Por motivos que eu não entendo, acabei virando 'pseudo psicólogo' do povo que ia lá tratar dor de cabeça/dor de barriga/azia/dor muscular/outros problemas menores. O motivo de eles falarem dos problemas deles pra mim? Não faço ideia, mas garanto que meus 'conselhos' não prestavam. Minha demissão foi uma mistura do aumento no número de adolescentes fazendo coisas erradas (entravam com uma dor de estômago, saíam com ideias para 'planos malignos' ou algo assim.... Eu não sou a melhor das influências) com a raiva da enfermeira depois de o pequeno caso dela ser revelado e, talvez, porque eu tagarelava demais sobre coisas que não devia.

Como camareiro eu só tinha que arrumar as camas (uau, sério? Conte-me mais, Capitão Óbvio) e.... E é isso, arrumar as camas. Pura e simplesmente. Como eu consegui perder um emprego em que tudo que eu precisava fazer era arrumar camas? Olha, essa é uma excelente pergunta! Primeiro, vamos falar mais da arquitetura duvidosa desse prédio: tem dois 'dormitórios', um no primeiro andar, perto da enfermaria, outro no sétimo andar, perto da sala de reparos. Por quê? Não tenho certeza, a resposta óbvia para o da enfermaria é para deixar o povo que precisa descansar fazer isso numa cama decente, mas, sinceramente, eu não faço ideia. Sobre o do sétimo andar, sei menos ainda. Tudo que eu sei é que ninguém usava os dormitórios para dormir.

Para que eles usavam então? Mesmo princípio da sala de estudos, se divertir e se distrair no tempo livre com atividades recreativas com parceiros. No geral, não incomodava ninguém, as paredes eram boas o bastante para o som não se propagar demais e atrapalhar todo mundo e o povo era sensato o bastante para se controlar nesse quesito. Por que isso era um problema então? Fácil, porque eu não estava nem um pouquinho a fim de arrumar as mesmas camas a cada meia hora e, com certeza, nem de trocar os lençóis sujos com substâncias suspeitas. O que eu fiz então? Peguei no pé do povo porque 'cama é pra dormir' e 'se quer fazer isso, faça na sua casa'. Egoísta? Talvez, ainda mais se considerar que muita gente lá dormia no prédio mesmo, mas foi o que eu fiz. Acho que já disse isso antes, mas nunca fique entre as pessoas e as atividades recreativas delas, só vai arrumar inimigos.

Enfim, depois de um verdadeiro malabarismo de funções, o pessoal do RH parece que finalmente desistiu da minha pessoa e conseguiram dar um jeito de me mandar embora. Isso aí, adeus, prédio! Eu fiquei meio chocado também.

Claro que não me deixaram 'desamparado', não podem exatamente só me largar no meio de uma guerra e dizer 'se vira aí', mas me expulsaram do prédio e me mandaram para uma fazenda. Para a fazenda mais ao sul, para ser exato. Por quê? suspeito fortemente que para se livrar de mim, mas, pelo lado bom, eu ainda tinha um emprego! No campo, mas um emprego.

Como foi trabalhar no campo, você pergunta? Bem, de forma resumida: um completo desastre.

Eu não nasci para a vida rural!

Meu 'chefe', vamos dizer assim, era um fazendeiro chamado... Hm... Joel? José? Jerismar? Bem, era algo por aí, você entendeu. Vamos chamá-lo de 'Senhor EPC' para melhor entendimento.

Por que Senhor EPC? Fácil, o 'mantra' dele para tudo que eu fazia de errado era 'esse povo da cidade...' falado num tom bastante julgador e acompanhado de uma explicação de tudo o que eu estava fazendo de errado.

Sim, eu ouvi muito 'esse povo da cidade...' no período nem tão comprido que passei por lá, por isso EPC.

Ah... Memórias...

O Senhor EPC era meio ranzinza, mas, pelo lado bom... Ok, admito que não é muito fácil achar um lado bom, vejamos... Hm, é isso serve: pelo lado bom eu tinha o consolo de que ele era mal humorado com todo mundo, não só comigo! E mesmo que, no geral, a vida campestre e eu não fôssemos muito amigos, aconteceram uma ou duas coisas que valeram a pena a estadia.

Para começar, eu comprei briga com o galo na manhã seguinte a que cheguei. Ah, não me olhe assim, se um bicho te acordasse no momento que o sol nasce, você também o tomaria como inimigo! Na primeira manhã eu deixei o bicho quieto porque, bem, era a primeira vez e aquilo me pegou de surpresa. Até tentei voltar a dormir, mas, além do galo cantando irritantemente, o Senhor EPC complementou o 'efeito despertador' com um balde de água fria para me arrancar da cama barata.

Foi um primeiro dia de trabalho memorável...

Depois de sair da cama por livre e espontânea pressão, tive um café da manhã rápido, mas reforçado, e fui mandado direto para o campo. Vou dar uma dica: mesmo na guerra as pessoas comem, e alguém tem que plantar e colher essa comida. Foi um dia duro de colher plantas, arar terra, alimentar galinhas (e aquele galo desgraçado também) e até ordenhar umas poucas vacas.

Tá que eu posso ou não ter derrubado uns baldes de leite sem querer quando esbarrei neles, ou confundido a ração das galinhas com o arroz que ia ser para o almoço (ei, grãos são todos iguais!), mas, no geral, foi um bom primeiro dia.

O segundo dia foi bem parecido com esse, com a diferença de eu estar jurando o maldito galo de morte quando ele cantou lá pelas cinco e pouquinho da manhã. Consegui, por algum milagre, me arrastar da cama antes de o Senhor EPC chegar com o balde d'água. Empilhei feno nesse dia e, não me pergunte como, mas aparentemente fiz tudo errado. Sério, nem pergunte, para mim estava tudo certo, empilhado bonitinho e coisa e tal, mas o Senhor EPC me fez repetir tudo e refazer todos os montes.

Ele não me deixou ordenhar vacas dessa vez e me observou de perto enquanto eu alimentava as galinhas e o galo idiota, depois ele me pôs na cozinha para preparar o almoço. O fogão era à lenha, então eu tive que pegar galhos e atear fogo. Você percebe que não acabou bem a partir do momento que fogo entrou na história.

Não, a cozinha não pegou fogo (dessa vez), mas eu cortei o que não devia. Em minha defesa: eu precisava de lenha e não faço ideia de como se maneja um machado ou se tenho força para usar um, então tive que improvisar. O que eu fiz? Peguei umas árvores pequenas que eu conseguia cortar com uma faca grande. Não deram uma lenha muito boa porque ainda estava muito 'verde', vivo e não seco, e não queimou muito bem. A pior parte é que eram mudas de árvores aparentemente importantes para o fazendeiro...

Dessa vez, antes de dormir, eu me esquivei até o armazém da fazenda e revirei o entulho para fazer uma armadilha. Para que uma armadilha, você pergunta? Para o maldito galo que me acordava antes das seis da matina. Achei uma gaiola velha quebrada, uns cobertores descartados (velhos, rasgados, com pulgas, quem liga? O importante é que estavam lá), um martelo quebrado que estava sem o cabo (como quebraram é um mistério) e pregadores de roupa perdidos. Para mim estava perfeito! Ok que não dava para uma armadilha, mas dava para um truque.

Usei aquela ponta do martelo que arranca pregos para arrancar os ferrinhos de sustentação da gaiola quebrada, peguei os cobertores e pregadores e fui de fininho até o galinheiro. Dei um jeito de encaixar as hastes de ferro na entrada do galinheiro, cobri com várias camadas de cobertores/panos rasgados e prendi tudo no lugar com pregadores. Também meti pedaços de pano em qualquer fresta maior que eu achei. Motivo? Primeiro, os ferros faziam uma espécie de grade de prisão, segundo, os panos impediriam a luz do sol de entrar, então o galo acharia que ainda é noite! E, mesmo se não achasse, não passaria das grades.

A boa notícia é que eu consegui dormir até mais tarde, a má é que o fazendeiro também, e ele não queria isso... Além disso, se contar o tempo que eu perdi planejando e montando a prisão escura, acho que nem ganhei tanto tempo de sono a mais. O Senhor EPC me fez desmontar meu projeto de prisão galinácea.

Ah, eu também tive que correr feito um doido pra cima e pra baixo fazendo um milhão de tarefas para 'compensar o tempo perdido'. Se eu, normalmente, já estou propenso a acidentes, eu apressado sou pior ainda! E foi assim que parte da colheita foi arruinada, alguns animais escaparam do curral, uma parte da cerca foi arrebentada e o depósito quase pegou fogo.

Ei, eu disse quase!

Aliás, quem diria que algo tão pequeno como esquecer de fechar a porteira do curral pudesse causar tanta confusão? Animais em fuga quebrando cercas e devorando plantações com certeza é uma visão inesquecível! Outra coisa inesquecível é a bronca que ganhei do fazendeiro depois dessa.

No dia seguinte, não cometi nenhum atentado contra aquele galo idiota por motivos de força maior. Nesse caso, 'força maior' representa a certeza de que me encrencaria demais e não conseguiria escapar depois nem com minha experiência em contornar situações ruins. O Senhor EPC estava bem bravo! E um fazendeiro rancoroso não é exatamente um chefe muito legal, então tentei ficar na minha por um tempo.

Tentei.

Depois de dois dias acordando com o sol nascendo, eu já estava cogitando a possibilidade de fugir da fazenda e tentar a sorte nos bosques/ruas escuras e desertas/limites da zona segura. Tá bem, estamos no meio de uma guerra e tudo o mais, mas eu tenho certeza que os monstros não cantariam no meu ouvido às cinco e pouco da manhã!

Mas, antes de tentar essa ideia semi suicida, que eu deixei como plano B, eu tentei calar o galo mais uma vez.

Já aviso logo que essa ideia foi idiota até para os meus padrões, mas, ei, me dá um desconto, eu não estava tendo exatamente boas noites de sono!

O princípio era simples: galos cantam, galinhas não. E se fizesse o galo agir como uma galinha? Então eu pensei em dar estrogênio para o galo, já que é um hormônio feminino e sempre teve aquela história de ração para frangos com estrogênio para engordá-los rápido ou algo assim. O problema? Bem, eu não sei se é porque isso é lenda, se é por causa da guerra ou se o Senhor EPC era só muito moralmente inflexível, mas a ração de lá não tinha hormônios. Nem um pouquinho! E eu não sei exatamente onde comprar ração 'turbinada', então...

Desisti? Claro que não! Só deixei o plano ainda mais ridículo.

O que eu fiz então? Bem... Eu peguei uns panos velhos daquele depósito, procurei os que tinham cores/estampas aceitáveis e costurei um vestidinho que se encaixava no corpo do galo. Sim, eu estou ciente do quão ridículo isso soa, mas eu não gostava de acordar cedo!

Dei meu jeito de enfiar o galo no vestido, peguei uma beterraba para improvisar um batom e até me virei para fazer uma peruca aceitável com palha amarela. Consegui até pintar as unhas do galo! Depois de tudo isso feito, peguei um iô-iô que devia ter uns vinte anos só pela camada de poeira, acho que foi de um dos filhos do fazendeiro ou algo assim, e o balancei de um lado para o outro repetindo 'você é uma galinha'.

Sim, eu tentei hipnotizar o galo, você tinha uma ideia melhor?

Não, o galo não acreditou que ele era uma galinha.

Não, o fazendeiro não gostou da minha ideia de travestir o galo dele.

E eu acabei com mais trabalho pesado porque 'se eu tinha tempo para fazer aquelas coisas, eu tinha tempo para trabalhar'.

Na noite seguinte eu decidi seguir meu plano B e cair fora dali. Sim, deserdar meu posto em busca de ação, aventura e, principalmente, o direito de acordar às oito da manhã. Fugir só não foi muito fácil porque eu tinha que arrumar minhas coisas rápido e não acordar ninguém no processo, nem os animais. Enfim, eu pulei a cerca, tentei não fazer barulho e-

Espera aí, que horas são?"

Ah, essa não.

Eu estou atrasado!

Foi mal, não queria terminar a história assim, mas tenho que sair correndo agora! Juro que te conto o resto depois!

Prometi a Saira/Samira/Seiko que ia jantar com ela hoje e, bem, agora tenho que correr para trocar de roupa e depois correr mais ainda para chegar a tempo.

Será que o Vinci/Volpi/Veron me empresta uma roupa mais 'arrumada'? Parece que o lugar é meio 'chique' e eu não tenho nada assim no meu guarda-roupa! Acho que a última vez que eu usei um terno foi logo depois do meu primeiro estágio e, depois disso, nunca mais! Ô coisinha desconfortável.

O porquê de a Sissy/Sol/Suzy insistir nisso é algo que eu realmente não entendo, mas eu que não vou perder a chance de comida grátis! Ela disse que era por conta dela... Me enfiar num terno vai super valer a pena!

Mas, ei, por que eu ainda estou aqui tagarelando com você? Tenho que correr!

Bye.


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