Histórias do cara do balcão. escrita por Mestre do Universo dos Vermes


Capítulo 15
Política, futebol, religião e outras aleatoriedades.




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O chefe morreu.

É, acho que já te contei isso antes... Mas foi só pra deixar claro mesmo.

O prédio inteiro está falando sobre isso! É a fofoca do momento!

E daí, você pergunta? Bem... Eu não sei, mesmo. Acho que tem algo a ver com ele ser o cara que decidia as estratégias de guerra e tudo o mais...

Agora estamos meio sem direção. "Nós" entre aspas, minha direção é a mesma de sempre: quarto andar, atrás do balcão.

A reunião que fizeram pra anunciar a morte dele foi bem legal. Tinha comida! Mas eu evitei as da lanchonete... A Chef Olga não estava por lá, estranho, né? Ela sempre está supervisionando tudo que envolve comida. Agora que eu penso nisso, não a vejo há um bom tempo... Será que ela foi realocada ou algo assim? Talvez esteja doente?

Bem, menos colheres de pau na minha cabeça. Viva!

Quanto à guerra, bem... Quem liga pra guerra?

Aparentemente, todo mundo. Ou pelo menos todo mundo do alto escalão.

A "boa" notícia é que já havia "sucessores" escolhido. A má é que "sucessores" está no plural.

O chefe tinha duas filhas, todas seguindo os passos dele em "administração" ou seja lá o curso que ele fez para virar chefe.

Pensando agora, existe a opção "gerenciador de guerra" na faculdade?

Ou vai ver é o povo do exército que sobe de patente em épocas de guerra...

Eu sinceramente não faço a menor ideia de como funciona uma guerra, o que é meio estranho considerando que eu vivo em uma há uns cinco anos.

Sei lá... É como viver cinco anos num país e não aprender a língua.

A não ser que essa língua seja Terassá, aí eu super entendo a pessoa não aprender nem em cinco anos.

Mas, ei, sobre o que eu estava falando?

...

Ah! A morte do chefe.

Pois é, não tem muito a dizer: ele morreu, já era, pendurou as chuteiras, foi pro saco, virou presunto (não literalmente), partiu dessa pra melhor, etc e tal.

As duas "candidatas" a chefonas? A filha mais velha, Brenda... Ou era Bárbara? Talvez Bruna. Quem sabe Bianca? Ah! Qual é! Ela disse isso ontem! Enfim, vamos chamá-la de... Ah... Ok, eu não faço ideia de como chamá-la. Ficaremos com "candidata 1" até surgir coisa melhor.

A Candidata 1 tem uns trinta anos, talvez trinta e poucos (é difícil saber, principalmente quando sou eu avaliando! Sou péssimo em chutar idades), e é bastante... É... Ela é muito... Ela tem um belo currículo, até onde eu sei. É discreta, educada, não fala muito, mas, quando fala, sabe o que dizer. Francamente, eu não sei muita coisa sobre ela... É só uma pessoa introvertida normal.

A Candidata B é mais nova que eu, o que realmente me surpreendeu. Pelo que entendi, ela lutou com unhas e dentes pra concorrer à vaga. Eu até dei aula pra ela na minha breve experiência de tutor... Ou melhor, ela me deu aula! A garota é muito esperta! Meio convencida, mas acho que ela conquistou o direito de ser. E, comparando com a arrogância do resto do povo "topo da cadeia alimentar", ela até que está abaixo da média. Será que alguém vai obedecer uma chefe de vinte anos? Ou era dezenove? Eu sei que ela é maior de dezoito... Enfim, veremos o que acontece.

Quem eu prefiro que ganhe? Não acho que importe, não é como se alguém fosse levar minha opinião em conta mesmo.

Talvez as coisas fossem mais fáceis se ainda usássemos o método da realeza de fazer as coisas: o herdeiro mais velho assume a coroa. Mas, já que isso é ultrapassado e tudo o mais, vamos ter que viver com a meritocracia, democracia ou seja lá qual "cracia" se encaixa nesse prédio.

Pelo lado otimista da situação: por causa da súbita "instabilidade política", a Dra Acre não pode usar a nova arminha dela. Isso me alivia porque eu não acho que nada de bom possa vir daquilo. Fala sério, se seu namorado morre em circunstâncias suspeitas, você pode chorar, pode morrer de raiva, pode destratar mais ainda os estagiários, pode armar teorias da conspiração... Mas não devia poder descontar jogando armas químicas/biológicas em seres vivos! É simplesmente injusto!

Tá bom que usar "seres vivos" para definir monstros que passaram milênios sendo considerados "pesadelos de criança" e "coisa da imaginação" é meio esquisito, mas acho que se aplica.

Ou seja, os monstros já estão melhores que os vírus, porque até hoje ninguém sabe dizer se vírus são ou não seres vivos!

Por outro lado, ninguém nunca entrou em guerra contra os vírus... Pelo menos eu espero que não.

A essa altura do campeonato, se alguém disser que vai entrar em guerra contra ursinhos de goma, eu acredito.

Guerra, guerra, guerra... Até parece que eu só consigo pensar nesse assunto!

Foi mal mesmo, acho que eu estou muito sem ideias.

Compreendo se quiser ir embora...

Não? Beleza.

Sabia que, em Terassá, não existe uma palavra específica para "guerra"? O sinônimo mais próximo que eles tem é "grande briga", que, por sua vez, é pronunciado de uma forma que parece a mistura de um gato sendo forçado dentro de um saco de farinha de milho com um peixe frito em óleo de mandioca sendo devorado por criancinhas barulhentas gripadas. É um som muito particular... Pelo lado bom, é uma palavra relativamente curta (em comparação com outras palavras do Terassá), então você consegue pronunciá-la sem o risco de perder o fôlego no meio do caminho.

Eu sei, curiosidade inútil... Mas é o melhor que eu posso oferecer agora!

Aliás, até onde eu sei, óleo de mandioca é para cabelos, então, por favor, não frite peixes com ele.

A não ser que você queira muito peixe frito em óleo de mandioca... Mas eu realmente não recomendo.

"Recomendo" é uma palavra engraçada... Parece que eu estou comendo alguma coisa de novo!

Enfim, estou muito mais aleatório que o normal hoje, não?

Foi mal, é só o desespero para manter uma conversa.

Aliás, eu disse que "grande briga" em Terassá é uma boa palavra por não ser muito comprida, certo? Bem... Acho melhor consertar isso. É uma boa palavra porque, além de não ter a pronúncia muito longa, também não é curta demais. Se me perguntarem, eu digo que as palavras curtas em Terassá são mil vezes piores que as palavras compridas.

Por quê? Primeiro, porque tem muitas palavras curtas parecidas com significados completamente diferentes e com a pronúncia completamente "errável". Segundo porque, para cada palavra longa em Terassá, existem umas cinco curtas, então é literalmente mais coisa pra decorar.

Por exemplo: existem umas vinte palavras em Terassá (pelo menos) que tem uma pronúncia muito parecida com a de galhos quebrando (ou ossos quebrando). Se você pronunciar errado e trocar uma por outra, pode ser que sua frase mude de "a noite está agradável hoje, não?" para "o gato queimou meu pé com uma cabra" ou, se você errar mais na pronúncia, "o adolescente antissocial derreteu meu pé-de-cabra". Pessoalmente, acho a segunda mais esquisita, mas, estranhamente, ela seria muito mais aceita socialmente entre os monstros que as outras, seguida pela terceira. Eu realmente não recomendo que você fale a primeira.

Enfim, até onde eu me lembro, existe um motivo para Terassá ser um assunto que afasta as pessoas, então vamos mudá-lo, sim?

Juro que vou parar de te encher com uma língua não falada pela população mundial em geral.

Então... Com o que mais eu posso te encher?

Bem... Vamos pensar...

Os assuntos mais clássicos para falta de assunto são política, religião e futebol. Política: já comentei das novas candidatas a chefe. Religião: eu não dou a mínima. Futebol: eu também não dou a mínima, nunca dei a mínima e, depois da guerra, acho que ninguém mais dá a mínima também.

E, com essa, esgotamos todos os clássicos...

Sério, qual era a graça do futebol? você via um monte de gente correndo atrás de uma bola com um juiz apitando e dando cartões coloridos... Nunca entendi direito as regras do futebol. Isso foi um problema quando me obrigaram a jogar futebol na aula de educação física, eu não sabia o que fazer, então só chutei a canela do menino que estava com a bola.

Educação física nunca foi meu forte... Já usei bola de basquete para jogar queimada (a garota cuja cabeça eu acertei não ficou nada feliz...), tentei quicar bola de futebol e nunca entendia a hora de queimar no "três cortes", nem como a brincadeira funcionava para ser franco. Se o nome da brincadeira é "três cortes", por que eu não podia meter um canivete da bola e cortá-la em três pedaços? Aparentemente, era contra as regras...

Também teve aquela vez que fizemos um "circuito" ou qualquer coisa assim. Eram vários exercícios dispostos em círculo no ginásio. Derrubei um montão de cones e quase caí da cama elástica.

Enfim, não sei como o professor de educação física ainda tinha paciência comigo... Talvez porque eu dei jabuticaba pra ele no dia dos professores. Jabuticabas ajudam muito a minimizar as inimizades!

Ta aí, eu devia dar jabuticabas para a Dra Acre.

Mas, ei, me perdi de novo. Do que estávamos falando?

Deixa eu ver... Política, futebol, terassá, educação física... Não, realmente não me lembro qual era o tema original.

Existia um tema original?

Ah! As candidatas à administração da guerra (ou seja lá o nome da função)

Quer saber? Vamos chamá-las de Branca de Neve e Cachinhos Dourados.

Por quê? Porque sim.

Tá bom, eu sei, "porque sim" não é resposta...

Bem, a "candidata 1" me lembra da Branca de Neve. Por quê? Porque, pra começar, ela é bem branca. Talvez ela devesse tomar mais sol... Mas, principalmente, porque ela é absolutamente sem graça. Não me entenda mal, eu gosto da Branca de Neve tanto quanto qualquer um... Mas, sejamos sinceros, tudo que ela fez foi chorar para o caçador não matá-la, limpar a casa dos anões em troca de abrigo e passar metade da história deitada num caixão de vidro no meio da floresta.

Aliás, só eu acho meio esquisito o príncipe ver uma garota "morta" num caixão de vidro e ter como primeiro pensamento "uau, que bela moça, vou beijá-la"?

Enfim, a Bianca/Brenda/Bruna/Bárbara/Candidata 1 é tão sem graça quanto a Branca de Neve. As pessoas gostam dela mais por gosta e ela não faz muitas coisas interessantes, mas não é um desperdício total de tempo ler a história. Mas eu nunca a ouvi cantando... Será que os passarinhos a seguiriam por todo lado?

Já a "candidata B" (acho que é Karen... Ou Kamila. Ou Karina. Talvez Katrina. Aliás, nem tenho certeza se é com K ou com C, mas acho que é com K) é mais como a Cachinhos Dourados. Primeiro porque ela é bem nova (em comparação com o resto do povo) e, pelo menos eu acho, bem intrometida. Ela com certeza é o tipo de pessoa que entraria na casa alheia sem pedir licença, comeria a comida da pessoa, reclamaria que está muito quente ou fria, deitaria na cama da pessoa e reclamaria que está muito dura ou mole, mas ainda assim dormiria lá sem nem pedir permissão!

Agora que achamos bons apelidos (fáceis de lembrar!), posso riscar isso da minha lista de coisas a fazer.

É uma bela lista, quer ver?

Coisas a fazer:

(X)Não morrer de tédio;

(X)Apelidar as candidatas a chefonas;

( )Descobrir o vencedor do Big Brother e irritar as pessoas com isso;

(X)Não comer a comida da lanchonete;

( )Alimentar o tamagotchi;

( )Encontrar o tamagotchi;

Fim.

Sim, hoje é um dia muito atarefado. Em geral, a lista termina no quarto item.

Falando nisso, viu um tamagotchi perdido por aí?

Não? Ah... Que pena.

Relaxa, eu vou encontrar! Só espero que ele não tenha morrido de fome até lá...

Talvez eu devesse apagar o primeiro X da lista... Acho que ainda estou sob o risco de morrer de tédio.

Eu poderia fazer uma visita à Dra Acre, mas não acho que seja uma boa.

Eu também poderia visitar o Válter/Vandro/Vander na cafeteria, mas estou com preguiça de sair daqui...

Sei lá, é tão seguro ficar atrás de um balcão.

Talvez eu devesse descer bastante e relembrar meus tempos de faxineiro... Ou praticar terassá, mas aí eu corro um milhão de riscos a minha integridade física, moral e psicológica. Nenhuma das vezes que eu fui "brincar" de falar terassá acabou bem! Numa delas eu acabei tendo que pôr gelo na minha língua por quase três dias para amenizar a dor. Em outra eu engoli um peixe vivo... Daqueles pequenininhos de aquário, e o pior é que o peixe nem era meu.

Nessas horas que gostaria de pedir um livro da biblioteca, mas era a Suçuarana/Siciônide/Serina quem pegava pra mim. Eu que não chego perto do Sr Dragão! Não existe tédio nesse mundo pra me fazer pôr os pés naquela biblioteca de novo!

Eu poderia pegar um livro emprestado com a Dr Acre, mas aí voltamos ao "item um" de "por que eu não vou visitar a Dra Acre".

Enfim, eu não estou mais aguentando ficar aqui, então minhas desculpas, mas eu vou vagar pelo prédio como uma assombração e evitar a morte por tédio.

Morte por tédio é bem parecida com morte por inanição, mas com menos anemia envolvida.

Meu destino? Sétimo andar, sala de reparos.

Por quê? Vou ver se alguma pessoa de bom coração ou pouca paciência aceita piratear sinal pra eu ver a final do Big Brother. Não, eu ainda não gosto do programa, mas eu gosto muito de irritar as pessoas com ele.

Acho uma causa nobre.

E eu falei tanto hoje que acabei nem te contando uma história hoje, né?

Foi mal mesmo.

Acho que estou "aéreo" demais hoje. Mais um pouco e eu nem preciso mais comprar passagem de avião pra viajar! E minha atenção já não é lá essas coisas...

Mas eu te prometo que compenso na próxima!

Eu posso te contar a história do meu primeiro emprego "de verdade", que tal? (Porque estagiescravo não é realmente emprego). Foi ele que me deu meio que um trauma de ternos, qual era a necessidade de usar um terno todo maldito santo dia? Tirando isso, não foi um emprego ruim. Eu tinha até status! Não que eu saiba ao certo pra que serve o status... Eu nem posso comê-lo! Mas ter eu tinha!

Certo? Combinado então! Nos vemos lá!

Big Brother, aí vou eu!


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